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apocalipse 12 PDF

253 Pages·2017·1.94 MB·Portuguese
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Clodomiro de Sousa e Silva APOCALIPSE 12 UMA LEITURA PARADIGMÁTICA DO PEREGRINAR CRISTÃO Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Teologia da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Teologia. Área de concentração: Teologia Sistemática Orientador: Prof. Dr. Luís Henrique Eloy e Silva Belo Horizonte FAJE – Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia 2017 RESUMO O presente trabalho consiste em um comentário exegético-teológico ao capítulo 12 do livro do Apocalipse (Ap 12), que prioriza as análises sincrônica e narrativa, em vista de se distinguirem os elementos performativos da perícope. O conteúdo subdivide-se em quatro capítulos: o primeiro capítulo reconstitui a história da interpretação de Ap 12, a partir dos comentadores considerados de maior relevância, e os outros três capítulos abordam respectivamente a sintaxe, a semântica e a pragmática do texto. A linha hermenêutica seguida é aquela segundo a qual o escritor do Apocalipse alude a fatos contemporâneos seus, revestindo-os de simbolismo e arrancando-os da sua simples concretude histórica, para fazer deles uma espécie de leitura teológica paradigmática. Em termos gerais, o relato contido em Ap 12 adverte a comunidade de que o Diabo está mais operante do que nunca ao seu redor e que ele move uma guerra violenta contra ela (v. 17) e a incita a resistir-lhe, conscientizando-a de que ela já é vitoriosa no sangue do Cordeiro (v. 11a). O texto é “paradigmático” em dois aspectos: enquanto ensina que a vida do cristão será sempre um misto de perseguição diabólica e de proteção divina (prevalecendo esta) e enquanto propõe aos cristãos de todos os lugares e épocas um modelo de ação (um paradigma), para que se mantenham firmes na prática das virtudes cristãs. PALAVRAS-CHAVE: Apocalipse 12. Leitura. Paradigmática. Peregrinar. Cristão. ABSTRACT The present work consists of an exegetic-theological commentary on chapter 12 of the book of Revelation (Rev 12), which prioritizes the synchronic and narrative analyses, in order to distinguish the performative elements of the pericope. The content is subdivided into four chapters: chapter one reconstructs the history of the interpretation of Rev 12, from the commentators, considered of greater relevance. The other three chapters respectively, address the syntax, the semantics and the pragmatics of the text. The hermeneutic line followed, is that the writer of the Revelation alludes to his contemporaneous facts, coating them with symbolism and drawing them out of their simple historical concreteness, to make them a kind of paradigmatic theological reading. In general terms, the account expressed in Rev 12 warns the community that the Devil is more operative than ever around her. He moves a violent war against her (v. 17). Inciting her to resist him and making her aware that she is already victorious in the blood of the Lamb (verse 11a). The text is “paradigmatic” in two respects: while it teaches that the life of the Christian will always be a mixture of diabolical persecution and divine protection (prevailing this), while proposing to Christians of all places and times a model of action (a paradigm), so that they remain firm in the practice of Christian virtues. KEYWORDS: Revelation 12. Reading. Paradigmatic. Peregrinate. Christian SUMÁRIO INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 7 1 HISTÓRIA DA INTERPRETAÇÃO DE APOCALIPSE 12 ............................................... 11 1.1 Do início do século III a meados do século XX ................................................................. 11 1.2 De meados do século XX ao ano de 1990 .......................................................................... 25 1.3 Retrospectiva de vinte e cinco anos ................................................................................... 47 1.4 Conclusão ........................................................................................................................... 63 2 ANÁLISE LITERÁRIA DE APOCALIPSE 12 ................................................................... 66 2.1 Tradução do texto ............................................................................................................... 66 2.2 Gênero literário do texto..................................................................................................... 78 2.2.1 Definição de “apocalipse” ............................................................................................... 79 2.2.2 Escatologia apocalíptica .................................................................................................. 81 2.2.3 Linguagem apocalíptica .................................................................................................. 82 2.2.4 Apocalipse de João .......................................................................................................... 83 2.2.5 Conclusão ........................................................................................................................ 85 2.3 Estrutura literária do Apocalipse ........................................................................................ 86 2.3.1 Introdução e conclusão do Apocalipse ............................................................................ 87 2.3.2 Matéria do Apocalipse: ἃ δεῖ γελέζζαη ἐλ ηάρεη (Ap 1,1; 22,6) ...................................... 88 2.3.3 Quatro setenários ............................................................................................................. 89 2.3.4 Teofania tempestuosa: ἀζηξαπαὶ θαὶ θσλαὶ θαὶ βξνληαί (Ap 4,5; 8,5; 11,19; 16,18-21) .................................................................................................................................................. 90 2.3.5 Experiência de João ἐλ πλεύκαηη (Ap 1,10; 4,2; 17,3; 21,10) ......................................... 91 2.3.6 O livro com sete selos e o livrinho aberto ....................................................................... 92 2.3.7 Estrutura literária de Ap 12,1–22,5 ................................................................................. 95 2.3.8 Conclusão ........................................................................................................................ 98 2.4 Delimitação da perícope ..................................................................................................... 99 2.4.1 Contexto remoto ............................................................................................................ 100 2.4.2 Contexto imediato ......................................................................................................... 105 2.4.3 Conclusão ...................................................................................................................... 108 2.5 Estrutura do texto ............................................................................................................. 109 2.6 Conclusão ......................................................................................................................... 115 3 COMENTÁRIO EXEGÉTICO A APOCALIPSE 12 ......................................................... 117 3.1 Premissa hermenêutica ..................................................................................................... 117 3.2 O filho da mulher vence o dragão (vv. 1-6) ..................................................................... 120 3.2.1 Apresentação da mulher (vv. 1-2) ................................................................................. 120 3.2.2 Apresentação do dragão (vv. 3-4a)................................................................................ 130 3.2.3 Momento desencadeante: o dragão se pôs diante da mulher que estava por dar à luz, para lhe devorar o filho (v. 4b) ....................................................................................................... 136 3.2.4 A mulher deu à luz um filho macho (v. 5a) .................................................................. 137 3.2.5 Apresentação do filho macho (v. 5b) ............................................................................ 138 3.2.6 Desenlace do confronto entre o filho e o dragão: o filho foi arrebatado para o trono de Deus (v. 5c) ............................................................................................................................ 140 3.2.7 Prolepse do v. 14: a mulher fugiu para o deserto onde tem um lugar preparado por Deus (v. 6) ....................................................................................................................................... 141 3.3 Miguel e os seus anjos vencem o dragão (vv. 7-12) ........................................................ 142 3.3.1 Miguel e os seus anjos a guerrear com o dragão e os seus anjos (vv. 7-8) ................... 143 3.3.2 Desenlace do confronto entre Miguel e o dragão: o dragão e os seus anjos foram lançados para a terra (v. 9) ..................................................................................................... 145 3.3.3 Uma grande voz entoa um hino de vitória (vv. 10-12) ................................................. 149 3.4 A mulher vence o dragão e ele persegue o restante da sua semente (vv. 13-18) ............. 160 3.4.1 Quando o dragão viu que foi lançado para a terra, passou a perseguir a mulher (v. 13) ................................................................................................................................................ 161 3.4.2 Desenlace do confronto entre a mulher e o dragão: foram dadas à mulher as duas asas da grande águia, para que voe para o deserto (v. 14) .................................................................. 162 3.4.3 Analepse do v. 13b: a serpente (dragão) vomitou água como um rio para arrastar a mulher, que foi socorrida pela terra (vv. 15-16)..................................................................... 168 3.4.4 Conclusão do relato: o dragão foi fazer guerra aos remanescentes (v. 17) ................... 172 3.4.5 Novo momento desencadeante: o dragão se pôs sobre a areia do mar (v. 18) .............. 178 3.5 Conclusão ......................................................................................................................... 179 4 DIRETIVA DE APOCALIPSE 12 ..................................................................................... 182 4.1 Fundamentação teórica ..................................................................................................... 182 4.1.1 Texto e comunicação ..................................................................................................... 183 4.1.2 Comunicação escrita...................................................................................................... 184 4.1.3 Teoria dos atos linguísticos ........................................................................................... 187 4.1.4 Abordagem pragmalinguística ...................................................................................... 189 4.1.5 Conclusão ...................................................................................................................... 195 4.2 Caminho do leitor de Ap 12 ............................................................................................. 196 4.2.1 Cabeçalho (Ap 1,1-3) .................................................................................................... 196 4.2.2 Prescrito (Ap 1,4-5a) ..................................................................................................... 198 4.2.3 Proêmio (Ap 1,5b-8) ..................................................................................................... 201 4.2.4 Contextualização da visão (Ap 1,9-10a) ....................................................................... 205 4.2.5 Perspectiva terrena da visão: “as coisas que são” (Ap 1,10b–3,22) .............................. 207 4.2.6. Perspectiva celeste da visão: “as coisas que estão por acontecer” (Ap 4,1–22,5) ....... 213 4.2.7 Conclusão ...................................................................................................................... 222 4.3 Conduta sugerida por Ap 12 ............................................................................................. 225 4.3.1 Atributos e ações de alguns personagens ...................................................................... 225 4.3.2 Desenlaces dos confrontos (vv. 5c.6.9.14) .................................................................... 230 4.3.3 Hino de vitória (vv. 10-12) ............................................................................................ 232 4.4 Conclusão ......................................................................................................................... 234 CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 236 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 242 INTRODUÇÃO O conteúdo exposto a seguir resulta do desejo de colaboração na interpretação do capítulo 12 do Apocalipse (Ap 12). O trabalho realiza-se na forma de um comentário exegético-teológico ao texto, com base nas análises sincrônica e narrativa, em vista de se distinguirem os seus elementos performativos. A centralidade e a importância capital dessa passagem bíblica têm sido continuamente ressaltadas nos comentários ao Apocalipse. Ela também tem desafiado o gênio interpretativo dos comentadores, desde os tempos da Patrística até os dias atuais. Em dois milênios de cristianismo, a literatura produzida em torno de Ap 12 é bastante diversificada, expressando vários pontos de vista sobre o mesmo objeto. Cada comentador, ao propor a própria interpretação, evidencia um aspecto particular da perícope, que é uma das páginas mais difíceis do Novo Testamento. As dificuldades que ela encerra a tornam, porém, um instrumento privilegiado de avaliação dos diferentes sistemas de interpretação do Apocalipse. O simbolismo, que ocupa um posto central no Apocalipse, constitui o primeiro obstáculo com o qual o pesquisador da obra se depara. Para que se compreenda o Apocalipse, é necessário que se interpretem os seus símbolos. Porém, quase sempre, o símbolo não possui significado unívoco, podendo evocar realidades diversas ou ainda contraditórias. Outro elemento que dificulta a interpretação do Apocalipse é a sua composição literária: visões que se repetem sem que seja possível perceber com tanta clareza o progresso do pensamento; visões que se sucedem sem uma clara ligação lógica e até mesmo aparentes contradições entre as visões. Essas e outras características do Apocalipse talvez contribuam, de forma significativa, para que haja em circulação relativamente poucos comentários exegéticos à obra. A tendência atual entre os comentadores do Apocalipse tem sido abordar o capítulo 12 apenas de passagem, como um componente do comentário geral, embora muitos reconheçam que a perícope introduz a seção central do livro (12,1–15,4). Parece que a narrativa de Ap 12 possui um sentido mais globalizante e universal do que o restante do Apocalipse, pois apresenta uma espécie de “versão renovada” da história das origens. Pelo visto, o escritor apocalíptico intentou retratar no capítulo 12 a sua visão da Igreja como um todo, em todos os tempos e contextos, com os seus desafios e as suas esperanças. A esse capítulo aplicam-se com bastante propriedade as palavras de John Collins: “Os cristãos de todos os séculos até o 7 presente se voltaram para esse livro [o Apocalipse] para encontrar símbolos para expressar suas esperanças e medos fundamentais”1. Os comentários ao Apocalipse geralmente dão mais atenção ao contexto existencial no qual surgiu o escrito, para haurir daí o significado das suas imagens, do que ao alcance atual da mensagem. Às vezes, tem-se a impressão de que as visões apocalípticas falam realmente apenas aos contemporâneos de João, restando ao leitor atual aprender com o passado. Outras vezes, a discussão se perde em um intrincado de teorias sobre a origem das visões, sem que haja um interesse maior por aquilo que o texto busca incutir no leitor. Um comentário a um texto bíblico deve tratar do contexto existencial e da problemática textual, mas com o olhar voltado para o presente2. Afinal, a passagem da exegese à vida é necessária, a ponto de constituir uma verificação da validade de uma linha exegética. A tarefa da exegese não cessa depois que se apontaram as fontes, se definiram as formas ou se explicaram os processos literários. Para além de tudo isso, o objetivo do trabalho do exegeta terá sido alcançado quando ele tiver esclarecido o sentido do texto bíblico como Palavra atual de Deus3. O presente trabalho subdivide-se em quatro capítulos, sendo o primeiro deles dedicado à apresentação do status quaestionis. O capítulo reconstitui a história da interpretação de Ap 12 em três etapas: 1) do início do século III a meados do século XX; 2) de meados do século XX ao ano de 1990 e 3) uma retrospectiva de vinte e cinco anos (entre 1991 e 2015). A formulação das duas primeiras etapas conta especialmente com a contribuição de Pierre Prigent e Pavol Farkas. Além de recorrer diretamente às obras dos dois autores, a pesquisa também desce às suas fontes principais, sonda os seus resenhistas e utiliza outras obras voltadas ao assunto. O material que entra na composição da terceira etapa compreende principalmente publicações que tratam especificamente da perícope em discussão ou que lhe dão algum destaque. Devido ao caráter sintético e particular da apresentação, a preferência é dada às abordagens de cunho estritamente exegético-teológico. Dentre essas, os artigos e as teses recebem uma atenção especial, embora se dê também algum espaço aos comentários gerais ao Apocalipse mais comumente citados pelos diversos autores. 1 COLLINS, John J. A imaginação apocalíptica: uma introdução à literatura apocalíptica judaica. São Paulo: Paulus, 2010. p. 396. 2 “Isso pressupõe um esforço hermenêutico que visa discernir através do condicionamento histórico os pontos essenciais da mensagem” (PONTIFÍCIA COMISSÃO BÍBLICA. A Interpretação da Bíblia na Igreja, IV, 1.) 3 Ibid, III, C, 1. 8 O segundo capítulo traz a análise literária de Ap 12 que inclui: 1) tradução do texto; 2) gênero literário do texto; 3) estrutura literária do Apocalipse; 4) delimitação da perícope e 5) estrutura do texto. A tradução busca refletir, na medida do possível, as nuanças do texto grego quanto ao vocabulário e aos tempos e modos verbais. A perícope é traduzida dentro de um esquema que evidencia os personagens principais do relato e os seus atributos e ações. A investigação conduzida acerca do gênero literário do texto contempla uma definição do gênero denominado “apocalíptico” (em âmbitos judeu e cristão), uma discussão a respeito da escatologia e da linguagem apocalípticas e algumas observações referentes às peculiaridades do Apocalipse. A estrutura geral proposta para o Apocalipse, que se fundamenta em indícios literários fornecidos pelo escrito, distingue na parte central do livro (Ap 1,9–22,5) duas unidades principais: a perspectiva terrena da visão (Ap 1,10b–3,22) e a perspectiva celeste (Ap 4,1–22,5). A perícope é delimitada a partir do confronto entre o texto e o seu contexto. Finalmente, a passagem é estruturada especialmente com base em critérios narrativos (destacando-se a alternância do espaço narrativo entre a terra e o céu) e estilísticos. O terceiro capítulo, no qual se investiga a semântica de Ap 12, é a parte principal do trabalho. A exegese proposta ali tem em conta, de maneira especial, o caráter simbólico e narrativo da perícope. Por isso, a estrutura do comentário exegético reproduz a estrutura que o segundo capítulo propõe para o texto. Antes, porém, de se investigar a semântica textual, expõem-se algumas premissas hermenêuticas que visam a prestar esclarecimentos sobre o estilo do escritor e o perfil do leitor do Apocalipse. Busca-se compreender o significado geral do relato, analisando-se detalhadamente cada cena, quadro, “nó” narrativo, desenlace e personagem do drama. Na base de tal análise encontram-se dois pressupostos: a forma atual do texto data da segunda metade do século I e a imagética do relato é colhida diretamente da literatura judaica e cristã, sobretudo do Antigo Testamento. À primeira vista, tem-se a impressão de que a narrativa de Ap 12 não alude simplesmente a fatos circunscritos a uma situação local ou momentânea, mas a acontecimentos que abrangem o todo da história da salvação. Assim, o comentário exegético procura responder a essa questão fundamental. O quarto capítulo indaga a respeito da diretiva de Ap 12 ou, em outros termos, focaliza os objetivos e propósitos da passagem. A pesquisa realiza-se na forma de uma abordagem pragmática do texto, levando-se em consideração os dados sintáticos e semânticos colhidos do segundo e terceiro capítulos. O capítulo conta com um tópico introdutório, que tem por principal objetivo estabelecer um embasamento teórico à análise de um texto bíblico em perspectiva comunicativa e pragmática. O referido tópico orienta-se pelas conclusões de alguns renomados exegetas que têm se dedicado, nas três últimas décadas, à missão de 9 escrever as primeiras páginas da pragmalinguística em âmbito bíblico. Logo a seguir, traça-se o caminho do leitor de Ap 12, isto é, busca-se compreender como o leitor é construído ao longo do relato que precede a perícope, especialmente os eventos para os quais ele é preparado e as expectativas nele geradas. A investigação articula-se ali de acordo com o esquema proposto no segundo capítulo para a estrutura literária do Apocalipse. Por último, examina-se o modelo de conduta sugerido por Ap 12 a partir de três elementos em especial: os personagens principais com seus atributos e ações, os desenlaces dos confrontos (vv. 5c.6.9.14) e o hino de vitória entoado no céu (vv. 10-12). Nota-se que Ap 12 segue, com todo o contexto literário anterior (Ap 1–11), exortando o leitor a se tornar o “vencedor”, fazendo-se testemunha fiel de Jesus até a morte. O comentário exegético não pretende dar aos elementos simbólicos do relato uma interpretação unívoca e definitiva. Aliás, dificilmente se conseguiria realizar tal proeza em relação à linguagem do Apocalipse. O que se está afirmando ilustra-se bem já no primeiro elemento da narrativa: “uma mulher vestida do sol”, um sinal apocalíptico cujas tentativas de interpretação ou de identificação (Israel, Igreja, Maria, Jerusalém, a constelação de Virgem, Ísis e outras) sempre deixam alguma pergunta sem resposta. Além disso, esta investigação não se aplicará a um possível enfoque mariológico do texto, apesar de se reconhecer a sua importância, mas perseguirá bem mais o seu ensinamento eclesial. Nos últimos anos, a tendência entre os principais comentadores do Apocalipse tem sido considerar que o livro está imbuído, simultaneamente, de uma escatologia: 1) presente, uma vez que os fatos descritos ali recapitulam os acontecimentos essenciais da Igreja em todas as épocas; 2) atual, pois a parusia está próxima, em sentido semítico, e o mundo que virá penetra este mundo já desde a Ressurreição de Cristo e 3) futura, já que se fala de um devir temporal próprio e verdadeiro. A exegese praticada neste trabalho orienta-se por essa tríplice coordenada hermenêutica. O relato de Ap 12 exerce uma função paradigmática, porque ascende até o nível do atemporal, para depois descer à realidade cotidiana. No primeiro nível, o céu, a vitória de Cristo é fato consumado e causa de alegria (v. 12). No segundo nível, a terra, lugar profundamente instável e de tentações, a vitória consumada no céu deve manifestar-se no testemunho dos que desprezam a vida até a morte (v. 11). 10

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do Apocalipse (Ap 12), que prioriza as análises sincrônica e narrativa, em vista de se distinguirem os litteraires de Saint Jean. In: PONTIFICIA
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