APLICAÇÃO DA MÉTRICA VALUE AT RISK A ÍNDICES DE BOLSAS DE VALORES DE PAÍSES LATINO-AMERICANOS: UM ESTUDO UTILIZANDO OS MODELOS DE PREVISÃO DE VOLATILIDADE EWMA, EQMA E GARCH APLICAÇÃO DA MÉTRICA VALUE AT RISK A ÍNDICES DE BOLSAS DE VALORES DE PAÍSES LATINO-AMERICANOS: UM ESTUDO UTILIZANDO OS MODELOS DE PREVISÃO DE VOLATILIDADE EWMA, EQMA E GARCH Application of metric Value at Risk the index stock exchanges of Latin American countries: a study using the models forecast EWMA volatility, and GARCH EQMA SILVA, W. V. TARDELLI, M. ROCHA, D. T. DA MAIA, M. Recebimento: 24/11/2009 – Aceite: 09/07/2010 RESUMO: Atualmente, o mercado financeiro vem passando por um mo- mento de grande volatilidade, tornando técnicas de gerenciamento de riscos uma importante ferramenta na tomada de decisões. Deste modo, este artigo tem como objetivo o estudo da métrica Value at Risk, sendo sua volatilidade estimada por três modelos estatísticos: EWMA, EQMA e GARCH. Para avaliação destes modelos foi criada uma carteira teórica com os índices de preços de ações da Argentina, Brasil e México. Os resultados mostraram que o modelo de suavização exponencial foi o mais apropriado para a modelagem da volatilidade, considerando o nível de confiança de 99%, além de possuir grande capacidade dinâmica de se ajustar aos picos de volatilidade e de realizar previsões mais acuradas das perdas. Palavras-chave: Value at Risk. Volatilidade condicional – GARCH. Suaviza- ção exponencial – EWMA. Médias móveis igualmente ponderadas - EQMA. ABSTRACT: Currently, the financial market is undergoing a period of great volatility, making techniques of risk management an important tool in decision making. Thus, this article aims to study the metric Value at Risk, being its PERSPECTIVA, Erechim. v.34, n.126, p. 19-32, junho/2010 19 Wesley Vieira da Silva - Marcelo Tardelli - Daniela Torres da Rocha - Marcos Maia volatility estimated by three statistical models: EWMA, EQMA and GARCH. To evaluate these models a theoretical portfolio with the indexes of stock prices in Argentina, Brazil and Mexico was created. The results showed that the exponential smoothing model was more appropriate for modeling volatility, considering a confidence level of 99%, besides having great dynamic ability to adjust to peaks of volatility and make more accurate predictions of losses Key words: Value at Risk. Conditional volatility - GARCH. Exponential smoothing - EWMA. Equally weighted moving averages - EQMA. Diversas classes de modelos podem ser utilizadas para modelar esta volatilidade. Em particular, os modelos não-lineares Introdução ARCH e GARCH, além do método de su- avização exponencial e de médias móveis, A avaliação de riscos de uma carteira de serão utilizados para estimar a volatilidade ativos financeiros, ou mesmo de índices do de uma carteira teórica dos índices de ações mercado, é o principal objetivo da teoria das bolsas do Brasil, México e Argentina financeira moderna, na qual estes riscos (principais economias da América Latina) são frequentemente medidos em termos de e posteriormente calcular seu valor de risco variação de preço de ativos. As séries fi- (Value at Risk). nanceiras apresentam alta volatilidade além Esta pesquisa encontra-se estruturada em de, geralmente, não serem estacionárias na cinco seções que podem ser descritas da se- média, fazendo-se necessário o uso do cha- guinte forma: a primeira diz respeito à parte mado retorno. introdutória; a segunda trata do referencial A característica de interesse nessas séries teórico; a terceira trata da metodologia usada de retornos é a sua volatilidade, a qual está na pesquisa; a quarta refere-se à apresenta- diretamente associada à variabilidade dos ção e análise dos dados, e a quinta trata das preços de um determinado ativo, ou mesmo considerações finais e recomendações para da oscilação do índice de diversas Bolsas de elaboração de trabalhos futuros. Valores. Então, se os preços ou índices va- riam muito, diz-se que o ativo é muito volátil. Usualmente utiliza-se a variância ou o Referencial teórico desvio padrão como uma medida da volati- lidade, no qual sua estimação e previsão são O cálculo do risco tem como objetivo fundamentais tanto para quantificar o risco essencial a mensuração do grau de incerteza de um determinado ativo, quanto para a pre- na obtenção do retorno esperado em uma cificação de produtos financeiros. determinada aplicação financeira, em um Outra característica interessante é que os investimento realizado ou na oscilação do retornos financeiros raramente apresentam índice de ações. Desta forma, estes retornos tendências e sazonalidade, além de, em geral, esperados podem ser classificados como de serem não correlacionados, apresentando baixo, médio e alto risco, nos quais, geral- agrupamentos de volatilidades ao longo do mente, os de baixo risco apresentam maior tempo, bem como, geralmente, não possuin- nível de segurança ao investidor, mas em do uma distribuição incondicional normal. contrapartida costuma ter menor retorno. Já 20 PERSPECTIVA, Erechim. v.34, n.126, p. 19-32, junho/2010 APLICAÇÃO DA MÉTRICA VALUE AT RISK A ÍNDICES DE BOLSAS DE VALORES DE PAÍSES LATINO-AMERICANOS: UM ESTUDO UTILIZANDO OS MODELOS DE PREVISÃO DE VOLATILIDADE EWMA, EQMA E GARCH os de alto risco, por outro lado, podem trazer porações não financeiras acabaram poste- maior retorno, porém com elevado grau in- riormente adotando o VaR, porém, em um certeza, podendo até mesmo trazer prejuízos prazo um pouco mais longo (KIMURA et aos investidores. al., 2009, p. 99-100). Destarte, torna-se de extrema importância Segundo Crouhy (2004), a métrica VaR a disseminação de técnicas de gerenciamento (Valor em Risco) é uma medida de risco que de risco que permitam aos investidores a to- estima o valor financeiro da perda máxima mada de decisão de maneira que o retorno au- de uma carteira para um dado nível de con- ferido seja proporcional ao risco que se esteja fiança e um período de tempo no qual não disposto a assumir, no qual neste contexto, o haja mudança na carteira. Isto permite aos Value at Risk é uma boa alternativa, assunto gerentes dizerem: “Nós estamos X por cento o qual será abordado nas próximas seções. certos que não iremos perder mais do que Y dólares nos próximos N dias” (HULL, 2002). Sendo, conforme Filho (2006), X uma variá- A Métrica Value at Risk vel aleatória que representa um valor; F (x) = X O Value-at-Risk (VaR), ou Valor no Risco, P[X ≤ x] a função de distribuição associada a é uma métrica para gerenciamento de risco ela; e F-1(α) a função inversa de F (x), o VaR x X amplamente utilizada por instituições finan- para o nível de confiança de (1- α) é definido ceiras e por corporações não financeiras em conforme encontra-se a expressão (1). função de suas características e benefícios. Segundo Jorion (2003), “[...] o atributo mais VaR =−F−1(α)=−inf[x|F (x)≥α] importante do VaR é a transparência: um (1−α) X X único número de VaR transmite o risco de (1) perda potencial em termos que podem ser compreendidos por qualquer pessoa”. A figura 1 mostra a função de densidade Um marco histórico para a gestão de de probabilidade dos retornos de uma car- risco foi a divulgação pública na internet teira para um dado período (ex. 1 dia), com do documento denominado Risk Metrics o intervalo de confiança de 95%. O VaR não pela Instituição Financeira J. P. Morgan que informa quanto uma carteira perde em um continha uma versão simplificada do modelo período, mas mostra estatisticamente que no de gerenciamento de riscos adotado na Ins- intervalo de 20 dias, em 1 dia (5% dos dias) tituição com ênfase no cálculo da estimativa as perdas serão maiores que o VaR indicado de VaR. na mesma figura. Em consequência disso, houve grande disseminação da métrica, que acabou se tor- nando o principal parâmetro de risco adotado pelo mercado financeiro, sendo utilizado por várias instituições estrangeiras e, posterior- mente, pelas brasileiras. Por força do Órgão Figura 1 - VaR de uma distribuição normal com 95% de Regulador, Banco Central, estabeleceu-se nível de confiança Fonte: Elaboração própria. regras de alocação de capital mínimo reque- rido, com base na busca de harmonização regulatória para gerenciamento de risco de Na figura 1, a distribuição é considerada mercado incorporada posteriormente ao normal, mas, na prática, em séries temporais Acordo da Basileia I de 1988. Outras Cor- financeiras, geralmente verifica-se a presença PERSPECTIVA, Erechim. v.34, n.126, p. 19-32, junho/2010 21 Wesley Vieira da Silva - Marcelo Tardelli - Daniela Torres da Rocha - Marcos Maia de fat tails (caudas gordas). Essa simplifi- e comparar riscos de ativos financeiros de cação pressupondo distribuição normal é naturezas distintas. utilizada como aproximação de forma que Levar em consideração as correlações dos os cálculos do valor em risco sejam sim- ativos é outra característica que deve ser res- plificados. Um problema nessa abordagem saltada em relação ao VaR, uma vez que esta é a possibilidade de se subestimar o VaR, permite que a adição de dois ativos expostos conforme evidencia Filho (2006). a riscos de fontes distintas e inversamente Considerando uma distribuição normal relacionadas possam se autocompensar e for- com o nível de confiança de 95%, o VaR é necer menores estimativas do VaR. O inverso, calculado como 1,65 vez o desvio padrão ativos positivamente relacionados, irá elevar abaixo da média e pode ser interpretado a estimativa do Valor em Risco de forma a como a probabilidade em 5% de acontecer refletir o aumento do risco da carteira. uma perda maior ou igual ao VaR. Segundo Alarcon (2005), existem três Esta métrica é atualmente essencial para limitações a serem consideradas quando da a mensuração de riscos nos bancos, os quais utilização dos modelos VaR: a primeira é a usam níveis de confiança de 99%, conforme suposição de que existe uma relação entre determinação do Bank for International Set- tlements (BIS), em português, Banco para valores do passado e presente com valores Compensações Internacionais. futuros, o que pode não ser verificado uma vez que o mercado pode apresentar compor- Geralmente, os bancos utilizam o período tamento inesperado. A segunda é baseada nas de um dia como horizonte de tempo padrão, considerando a permanência com a carteira simplificações, por exemplo, em termos de inalterada. Entretanto, o BIS requer o cálcu- assumir distribuição normal dos retornos de lo para 10 dias, o qual pode ser obtido pela uma carteira, o que pode distorcer os resulta- multiplicação do valor do Valor em Risco, dos. A última limitação mostra que qualquer para 1 dia, por raiz quadrada de 10, conforme sistema de software é passível de falhar e, mostra Crouhy (2004). por esse motivo, deve ser utilizado de forma Quanto mais elevado for o nível de con- cautelosa, considerando outras informações fiança, menor será a frequência com que que não somente os números. se observam valores maiores que o VaR na Por ser baseado em diferentes parâmetros distribuição de probabilidades dos dados ,com pequenos erros decorrentes de aproxi- históricos de eventos passados e presentes, mações, o cálculo do VaR é impreciso e não e mais difícil será a identificação apropriada faz muito sentido empregar esforço com cál- de eventos extremos (FILHO, 2006). culos muito precisos, uma vez que os dados Segundo Alarcon (2005), uma caracterís- de entrada possuem ruídos (WIENER, 1997). tica importante desta métrica é a sua ampla Segundo Kimura et al. (2008), “convém aceitação entre as instituições financeiras destacar que não existem evidências que pela sua capacidade de aplicação em cartei- demonstrem a superioridade de uma metodo- ras compostas por uma grande variedade de logia sobre a outra. Dependendo dos ativos ativos, o que permite a avaliação relativa de da carteira e das condições de mercado, uma cada fator de risco de mercado e sua agrega- metodologia pode ser superior à outra”. A ção em uma base de análise comum. Como conceito padrão de mensuração de risco de seguir são brevemente introduzidas as me- mercado, o Value at Risk permite quantificar todologias para cálculo do VaR. 22 PERSPECTIVA, Erechim. v.34, n.126, p. 19-32, junho/2010 APLICAÇÃO DA MÉTRICA VALUE AT RISK A ÍNDICES DE BOLSAS DE VALORES DE PAÍSES LATINO-AMERICANOS: UM ESTUDO UTILIZANDO OS MODELOS DE PREVISÃO DE VOLATILIDADE EWMA, EQMA E GARCH com que o modelo representa os retornos dos ativos observados. Método Não-Paramétrico para o Cálculo do Value at Risk O método Equally Weighted Moving Average (EQMA), ou Médias Móveis Segundo Souza (2004), basicamente Igualmente Ponderadas, considera valores existem dois tipos de métodos para o cálculo passados e presente da série de dados como do VaR: o paramétrico e o não paramétrico. tendo a mesma importância, é sabido que os O método não paramétrico compreende a valores mais recentes da série influenciam abordagem da simulação histórica e simula- mais significativamente os valores futuros do ção de Monte Carlo. O método paramétrico, que os passados, em função disso, para que geralmente, utiliza a abordagem variância- esse método forneça resultados mais signi- covariância e alguns métodos analíticos. ficativos é importante considerar uma faixa Por meio do modelo não paramétrico de de valores extensa no cálculo da média. Na simulação histórica, a avaliação do Valor em prática podem ser utilizados 252 valores, o Risco é feita sem nenhuma assunção especial que representa, em média, um ano de nego- sobre o modelo que rege o comportamento ciações diárias. A variância e a autocorrela- dos retornos, sendo utilizado o percentil ção são calculadas estimadas com base nas experimental da série observada. O método expressões (2) e (3), respectivamente: é facilmente implementável, exigindo pouco esforço computacional, porém possui algu- n mas deficiências. Uma delas é que, quanto σˆ2 = ∑r2 /n (2) t t−i maior o nível de confiança, mais observações i=1 são necessárias para se obter uma previsão segura. Além disso, como essa métrica atribui pesos iguais a todas as observações n anteriores, ela assume que os retornos são ∑r r 1,t−i 2,t−i identicamente distribuídos. Desta forma, ρˆ = i=1 t (3) variações na volatilidade não são captadas n n ∑r2 ∑r2 por esta metodologia. 1,t−i 2,t−i i=1 i=1 Enquanto no outro modelo não paramé- trico, a metodologia de Monte Carlo é usada para gerar séries de retornos aleatórios, a No modelo Exponentially Weighted Mo- partir de um modelo determinado. O VaR ving Average (EWMA), ou Médias Móveis é , então, calculado a partir do percentil da Exponencialmente Ponderadas, vem ao série simulada. encontro da necessidade de se considerarem valores mais recentes da série de dados como Métodos Paramétricos EQMA e EWMA mais significativos para a definição do futuro, Para o Cálculo do Value at Risk em detrimento aos valores mais antigos da série. Vale destacar que as equações (4) e (5), Os modelos paramétricos buscam mode- respectivamente, são utilizadas para o cálculo lar a série de retornos dos ativos observados, da variância e covariância: ajustando-os a uma função de probabilidade, na qual o VaR é calculado de acordo com o percentil desta distribuição. Destarte, a σˆ2 =(1−λ)r2 +λσˆ2 (4) t t−i t−1 qualidade da medida depende do realismo PERSPECTIVA, Erechim. v.34, n.126, p. 19-32, junho/2010 23 Wesley Vieira da Silva - Marcelo Tardelli - Daniela Torres da Rocha - Marcos Maia torno de um ativo não é serialmente correla- σˆ12,t =(1−λ)r1,t−1r2,t−1 +λσˆ12 ,t−1 (5) cionado, mas é dependente, e a dependência de α pode ser representada por uma função t quadrática de seus valores defasados. Um O EWMA, também denominado ali- modelo ARCH (m) pode ser representado samento exponencial, em português, foi pela expressão algébrica (6). bastante disseminado, principalmente, pelo fato ser a metodologia utilizada para esti- a =σε mar volatilidades e correlações constante t t t, no documento Risk Metrics do J. P. Morgan, tornando-o padrão no mercado financeiro e σ2 =α +αa2 +...+α a2 (6) t 0 1 t−1 m t−m sendo bastante utilizado pelas instituições financeiras. Onde ع é uma sequência de variáveis Uma importante característica deste mo- t aleatórias independentes e identicamente delo é a propriedade de modelar a memória distribuídas com média zero e variância de curto prazo da volatilidade, pois o fator de 1, α >0, e α>0 para todo i > 0. Na prática decaimento λ constante nas expressões (4) e 0 i pressupõe-se que ع assuma distribuição nor- (5), respectivamente, representa um fator de t mal, t-Student ou distribuição generalizada de associado à memória de curto prazo, sendo erro. Observando-se a estrutura do modelo, que a ideia do modelo é justamente identificar percebe-se que grandes choques do passado o λ que melhor modele a memória de curto implicam grande variância. Isto significa que prazo do ativo ou mercado como um todo grandes choques tendem a ser seguidos por (KIMURA et al., 2008, p. 192-194). outros grandes choques. Segundo Tsay (2005), a volatilidade não Modelos ARCH e GARCH Para pode ser observada diretamente dos dados Estimação da Volatilidade dos de retorno, uma vez que existe somente uma Retornos observação em um dia de pregão. Se forem considerados dados intradiários (retorno de Os modelos Autoregressive Conditional 15 minutos ou frequências maiores) é pos- Heteroskedastic (ARCH), ou em português, sível o cálculo da volatilidade diária, mas Heteroscedasticidade Condicional Autore- será necessária uma análise cuidadosa dos gressiva, são ferramentas usadas para mode- dados uma vez que dados de alta frequência lar a volatilidade do retorno de um ativo e são possuem pouca informação sobre a volatili- exemplos de modelos de heterocedasticidade dade diária. condicional. Embora não seja diretamente observável, A volatilidade tem sua utilidade em vá- a volatilidade apresenta os seguintes com- rias aplicações financeiras (precificação de portamentos comuns em séries de retornos opções, alocação de recursos em estruturas de ativos: de variância mínima) e, neste artigo, será utilizada como parâmetro no cálculo do valor • o agrupamento de volatilidade pode ser em risco de uma carteira de títulos. alto para alguns períodos e baixo para outros períodos; O modelo ARCH, em português (Hetero- cedasticidade Condicional Autoregressiva), • evolui de maneira contínua ao longo de Engle (1982), modela a volatilidade e do tempo, sendo raras as ocorrências apoia-se na ideia de que o resíduo α do re- de saltos; t 24 PERSPECTIVA, Erechim. v.34, n.126, p. 19-32, junho/2010 APLICAÇÃO DA MÉTRICA VALUE AT RISK A ÍNDICES DE BOLSAS DE VALORES DE PAÍSES LATINO-AMERICANOS: UM ESTUDO UTILIZANDO OS MODELOS DE PREVISÃO DE VOLATILIDADE EWMA, EQMA E GARCH • não diverge para o infinito – as varia- T ções ficam restritas a uma faixa de va- ∑r2r2 lores (o que significa que a volatilidade t t−1 t=2 é estatisticamente estacionária); T ∑r4 • tem comportamento diferenciado na t reação a um retorno significativamente t=2 (7) positivo e um retorno significativamente negativo (comportamento este conheci- A significância estatística do coeficiente do como efeito de alavancagem). de correlação de primeira ordem pode ser medida a partir do teste de hipóteses de Box- Estas características têm sido o foco dos Pierce (LM). O teste de Box-Pierce é uma modelos de previsão de volatilidade e a forma de teste do Multiplicador de Lagrange diferença de um modelo está na capacidade (LM), e assintoticamente, é uma variável do de capturar um ou outro comportamento (ex: tipo qui-quadrado com 1 grau de liberdade, modelo EGARCH para capturar o efeito de para o caso de correlação de primeira ordem alavancagem). e, por consequência, seu valor crítico a 1% é As alterações no comportamento da igual a 6,635. A equação (8) expressa o teste variância dos erros de uma série de dados é de hipóteses de Box-Pierce para ordem p, característica frequentemente encontrada em em que T é o tamanho da amostra e φ(n)² a séries temporais financeiras e é denominada autocorrelação de ordem n. heterocedasticidade. Nesse tipo de série temporal, a heteroce- p dasticidade apresenta-se a partir de grandes Q =T∑ϕ(n)2 (8) (pequenos) retornos absolutos seguidos por n=1 outros grandes (pequenos) retornos. Isto significa que existem períodos que mostram agrupamentos de alta (baixa) volatilidade e O teste de hipóteses de Box-Pierce é estes podem ser observados em séries diárias simples em relação à programação compu- e semanais, de ações, commodities e câmbio. tacional, mas não tão robusto em termos de resultado. Devem-se considerar outras me- Alguns coeficientes de correlação e o con- didas estatísticas no sentido de confirmar o junto dos quatro primeiros momentos (média, resultado desse teste. Em uma situação hipo- variância, assimetria e curtose) da estatística, tética na qual se verifica assimetria negativa podem ajudar a identificar o modelo GARCH e extremo excesso de curtose, é provável que que melhor captura o comportamento da série o resultado do teste esteja sendo influenciado temporal. por outliers extremamente negativos que Segundo Alexander (2005), por conse- induzem uma baixa autocorrelação. quência do agrupamento observa-se uma forte Outro aspecto a ser considerado na iden- autocorrelação dos retornos ao quadrado, o tificação do modelo está relacionado com a que pode ser verificado, calculando-se o assimetria presente nas séries, e essa carac- coeficiente de correlação de primeira ordem terística pode ser verificada pelo coeficiente dos retornos ao quadrado como mostrado na de autocorrelação de primeira ordem entre equação (7). os retornos defasados e os retornos corren- tes ao quadrado tal como pode ser visto na equação (9). PERSPECTIVA, Erechim. v.34, n.126, p. 19-32, junho/2010 25 Wesley Vieira da Silva - Marcelo Tardelli - Daniela Torres da Rocha - Marcos Maia generalized auto regressive conditional ∑T r2r (9) heteroskedastic (GARCH). Ao modelo foi t t−1 adicionada uma variável para capturar o t=2 comportamento da variância condicional em T T ∑r4∑r2 separado. Para uma série de logaritmos de t t−1 retornos rt, onde at = rt - µt seja o resíduo no t=2 t=2 a tempo t. t o modelo GARCH (m, s) pode Caso se obtenha um resultado negativo ser expresso a partir da equação (10). para o coeficiente supracitado e o teste de hipóteses de Box-Pierce for estatisticamen- a =σε t t t, te diferente de zero, conclui-se que existe assimetria no agrupamento, a qual não será m s σ2 =α +∑αa2 +∑βσ2 capturada por modelos GARCH simétricos. t 0 i t−i j t−j (10) i=1 j=1 Como desvantagens dos modelos ARCH pode-se destacar: • Assume que choques positivos e negati- onde (ع) é uma sequência de variáveis aleató- t vos têm o mesmo efeito sobre a volatili- rias independentes e identicamente distribuí- dade, pois ele depende do quadrado do das com média zero e variância igual a 1, α > 0 choque anterior; mas na prática é sabido 0, α≥ 0, β≥ 0 e ∑ Max (m;s) (α+β)<1. É importante i j i-t i i que as séries financeiras respondem de explicitar que α=0 para i > m, β=0 para j > s i j formas diferentes ante choques negati- e α β implica que a variância incondicional i + i vos e positivos, pois o agrupamento de de α é finita, e a variância incondicional t volatilidade pode ser alto para alguns evolui ao longo do tempo. períodos e baixo para outros períodos; De acordo com Jorion (2003), “o modelo • É restritivo uma vez que o beta da equa- GARCH pressupõe que a variância dos re- ção deve assumir valores no intervalo tornos siga um processo previsível. A vari- [0, 1/3], se a série tem curtose finita. ância condicional depende da inovação mais Na prática, essa restrição dificulta a recente e, também da variância condicional modelagem com muitos parâmetros e anterior”. limita a habilidade dos modelos ARCH Em questões de desvantagens, os modelos em capturar excesso de curtose; GARCH sofrem da mesma deficiência que os • Não fornece informações sobre o que modelos ARCH, uma vez que não diferencia gerou as variações nas séries financei- um choque negativo de um positivo e, como ras. É simplesmente uma forma de des- foi observado por Tsay (2005), o mercado crever o comportamento da variância reage de forma diferenciada a esses eventos. condicional; • É possível que o modelo superestime a volatilidade, porque responde lenta- Metodologia mente a grandes choques da série de retornos. Caracterização da Pesquisa Com a intenção de resolver o problema Este trabalho pode ser caracterizado como de excesso de parâmetros do modelo ARCH, uma pesquisa aplicada que objetiva gerar Bollerslev (1986) propôs uma extensão co- conhecimentos para aplicação prática e di- nhecida como modelo ARCH generalizado, rigidos à solução de problemas específicos. 26 PERSPECTIVA, Erechim. v.34, n.126, p. 19-32, junho/2010 APLICAÇÃO DA MÉTRICA VALUE AT RISK A ÍNDICES DE BOLSAS DE VALORES DE PAÍSES LATINO-AMERICANOS: UM ESTUDO UTILIZANDO OS MODELOS DE PREVISÃO DE VOLATILIDADE EWMA, EQMA E GARCH O tipo de amostragem utilizada é o não teira hipotética, calculada posteriormente a probabilístico por conveniência e intencional estimativa máxima de perda com o nível de que, segundo Hair Jr. et al. (2005), este tipo confiança de 99% no horizonte de tempo de de amostragem não permite ao pesquisador, um dia, conforme requerido no acordo de contudo, extrapolar os dados, visto que não Basileia II para risco de mercado, e verifica- se conta com um número de casos suficien- do o percentual de exceções em relação ou te ou suporte estatístico para tal, deve ficar realizado, ou seja, no qual a perda da carteira circunscrito ao evento analisado. foi maior que a perda prevista pelos métodos. O estudo apresentado é de natureza des- critiva, pois tem o objetivo de analisar os Apresentação e análise dos dados coletados a partir do estudo das carac- terísticas das variáveis coletadas. Segundo resultados Gil (2002), a pesquisa descritiva estabelece Os modelos de volatilidade para cálculo relações entre variáveis a partir da descrição das características de determinado fenômeno do VaR foram aplicados aos índices das ou população. Bolsas de Valores MERVAL (Argentina), IPC (México) e IBOVESPA (Brasil) em Quanto aos procedimentos técnicos utili- zados, o delineamento desta pesquisa é não função da grande representatividade desses experimental ou ex-post facto. Não sendo países em termos de Produto Interno Bruto possível manipular os dados e não haven- da América Latina. do controle sobre as variáveis estudadas, Foram obtidos os dados diários (levando- pois trata de fenômenos já ocorridos, esse se em conta os dias em que houve pregão delineamento considera constatações exclu- nos três países) do período de 23/03/2001 a sivamente correlacionais entre as variáveis 14/7/2009. Para a realização do backtesting estudadas (GIL, 2002). foi utilizada uma janela de observação equi- valente as 450 últimas observações, que equi- Coleta dos Dados valem ao período de 10/8/2007 a 14/07/2009. Na análise, foram consideradas as séries A figura 2 demonstra o comportamento da históricas de retornos dos índices de preços série histórica dos retornos obtidos, com des- de ações dos países com maior representati- taque para o evento do agravamento da crise vidade do mercado de capitais da América financeiro nos EUA, principal agrupamento Latina, isto é: México (Índice de Preços e de alta volatilidade da série: Cotações - IPC); Brasil (Índice da Bolsa de Valores de São Paulo - IBOVESPA); e Argentina (Mercado de Valores de Buenos 2200%% Aires - MERVAL), os quais abrangem o pe- 1155%% rcpíoroendgsoãi dode.e rA a2ds3 os/sé0 rs3io/e2ms0 te0en1mt eap otoésr a1di4isa /f0so 7er/ma2m0 q0 uo9eb, thsideoanusdv oea RetornodaCarteira(%)RetornodaCarteira(%)11000505%%%%%% --55%% partir do site da Internet Yahoo Finance, e AAggrraavvaammeennttoo ddaa ccrriissee nnooss EEUUAA --1100%% formam a carteira teórica de índices de preços de ações a ser analisado. --1155%%10/8/0710/8/07 10/9/0710/9/07 10/10/0710/10/07 10/11/0710/11/07 10/12/0710/12/07 10/1/0810/1/08 10/2/0810/2/08 10/3/0810/3/08 10/4/0810/4/08 10/5/0810/5/08 10/6/0810/6/08 10/7/0810/7/08 10/8/0810/8/08 10/9/0810/9/08 10/10/0810/10/08 10/11/0810/11/08 10/12/0810/12/08 10/1/0910/1/09 10/2/0910/2/09 10/3/0910/3/09 10/4/0910/4/09 10/5/0910/5/09 10/6/0910/6/09 10/7/0910/7/09 Para o período em estudo foram geradas Figura 2 - Retorno da Carteira Teórica de Índices de Ações previsões de volatilidade diárias para a car- Fonte: Dados da Pesquisa. PERSPECTIVA, Erechim. v.34, n.126, p. 19-32, junho/2010 27 Wesley Vieira da Silva - Marcelo Tardelli - Daniela Torres da Rocha - Marcos Maia Para obter a quantidade de vezes em que Backtesting do Modelo Estimado ocorreram violações do modelo, foi conta- bilizado o número de vezes em que o retorno Denomina-se backtesting o termo genéri- negativo superou a estimativa de perda máxi- co atribuído a um procedimento, por meio do ma calculada pelo VaR dentro do alcance da qual é efetuada uma avaliação, considerando janela, composta por 450 observações para os dados reais obtidos posteriormente aos cada um dos métodos. fatos ocorridos, com o objetivo de checar se Nas figuras 3, 4 e 5, respectivamente, são o modelo está adequado. apresentados os resultados do VaR calculados No caso específico do VaR, este procedi- a partir das métricas EQMA, EWMA e GAR- mento é utilizado para avaliar se as estimati- CH, respectivamente, versus os retornos reais vas de perda máxima geradas a partir do VaR efetivamente ocorridos na carteira (marcada estão adequadas à carteira e às condições a mercado) no período do estudo. do mercado. O backtesting mais simples en- Por meio destes gráficos é possível volve a mera comparação entre os valores de constatar as violações dos limites ocorridos, perda máxima estimados pelo VaR, antes da observando os momentos em que os retornos ocorrência do fato para o horizonte de tempo negativos da linha “carteira” extrapolam as em questão (1 dia no caso de nosso estudo) e percentagens de perdas máximas estimada a perda real ocorrida na carteira. por cada uma das metodologias. O procedimento consiste na comparação 20% do resultado real L na data t com a estima- 1 1 15% tiva de perda máxima VaR que foi realizada 10% 1 5% na data t (como em qualquer procedimento 0% 0. -5% estatístico é importante realizar esta compa- -10% -15% ração por período de tempo razoável, como Carteira VaR (EQMA) por exemplo: 100 ou 1.000 dias). Nos casos Figura 3 - Value at Risk Estimado a Partir do EQMA em que as perdas reais L superarem as Fonte: Dados da Pesquisa. 1 perdas máximas estimadas VaR considera- 1 se que ocorreu uma violação do modelo. Na figura 3, pode-se observar a partir do As violações são esperadas, porém, desde cálculo realizado por meio da metodologia que a quantidade contabilizada não supere EQMA, que as estimativas de perdas tende- a quantidade máxima que é esperada de ram a permanecer constantes (sem oscilações acordo com o intervalo de confiança cujas bruscas), a despeito das altas oscilações estimativas foram feitas (KIMURA et al., (choques) ocorridas nos momentos de maior 2009, p. 153-155). volatilidade. Fundamentado no que foi explanado an- Percebe-se que, desde o início da série teriormente, com a finalidade de comparar os histórica, o método não demonstrou ter boa resultados reais com as estimativas de VaR capacidade de prever as perdas ocorridas. geradas pelo modelo, o teste realizado neste Posteriormente ao período de maior vola- estudo consistiu em comparar o retorno real tilidade (outubro de 2008), as estimativas (L ) da carteira (marcada a mercado) na data apresentadas se tornaram demasiadamente 1 anterior (t ) com as estimativas de VaR (L ) pessimistas, não demonstrando boa capaci- 0 1 da data t calculadas através de cada um dos dade de ajuste à dinâmica das condições pos- 0 teriores e, por consequência, superestimando métodos. 28 PERSPECTIVA, Erechim. v.34, n.126, p. 19-32, junho/2010
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