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Antônio Vieira PDF

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Antônio Vieira Outros títulos da coleção perfis brasileiros por Castro Alves, Alberto da Costa e Silva Ronaldo Vainfas Cláudio Manuel da Costa, Laura de Mello e Souza D. Pedro 1, Isabel Lustosa D. Pedro II, José Murilo de Carvalho General Osorio, Francisco Doratioto Getúlio Vargas, Boris Fausto Joaquim Nabuco, Angela Alonso Leila Diniz, Joaquin1 Ferreira dos Santos Nassau, Evaldo Cabral de Mello Rondon, Todd A. Diacon coordenação Elia Caspari e Lilia M. Schwarcz COMPANHIA DAS LETRAS ....................................................................... copyright@ 2011 by Ronaldo Vainfas Grafia atualízada segundo o Acordo Ortogrâfico da Lrngua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009. capa e projeto gráfico warrakloureiro pesquisa iconográfica Lúcia Garcia preparação Silvia Massiininí Carlos Alberto Bárbaro índice ono1nástico Luciano Nlarchiori revisão Antônio Vieira Huendel Viana i'vlárcia Moura Jesuíta do rei Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileir~29-~i.:'.ro, SI', Brasil) Vainfas, Ronaldo Antônio Vieira: jesuíta do rei/ Ronaldo Vainfos. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. (S8N 978-85-359-1944-8 1. fesnftas - Missões - J3nisil - História 2. Vieira, Antônio, 1608-1697 1. Título. n-079n CDD-922.2 parn catálogo sistemático: 1. Jesuítas: Biografia e obra 922.2 [2011] todo~ os direitos desta edição reservados à EDITORA SCHWARCZ LTDA. ru.i .Bandeíra Paulista, 702, cj. 32 04532-002 - São Paulo - SP tel. (u) 3707-3500 fax: (u) 3707-3501 ww w. co n i pan h íadasl et rns .co111. br www.blogdacompanhia.com.br ........................................................... À memória de João Lúcio de Azevedo, maior biógrafo de Antônio Vieira. Para Laura de Mello e Souza, muito querida, pela amizade que completa bodas de prata. -'~ Sumário Introdução 11 1. Nobreza e mulatice 17 2. Vocação inaciana 26 3. Pesadelo holandês 41 4. Paraíso dos pretos 52 5. Sebastianismo encoberto 6z 6. Santo Antônio, luz da Bahia 68 7. Às armas: por qual rei? 76 8. Restauração e joanismo 88 9. Phoenix da Lusitânia 102 10. Diplomata do rei 112 11. Conversa com o rabino 121 12. Comprar Pernambuco 128 13. Exilar o Encoberto 135 14. Débacle na Holanda 142 15. Judas do Papel forte 153 19,. lf.<;ôrripanhía dos judeus 168 ,1,;rríun.fodos inimigos 177 18; Paíaçú no Maranhão 192 19. Trilogia do Quinto Império 208 20. Na teia do Santo Ofício 220 21. Revanche em Roma 238 22. Triste Bahia 255 23. Delenda Palmares 269 24. Pax Christi 282 Cronologia 297 Bibliografia 311 Agradecimentos 321 Introdução Índice onomástico 323 Antônio Vieira se encaixa perfeitamente na coleção Perfis Bra sileiros. Nascido em Lisboa, em 1608, passou a infância e a juventude na Bahia, com breve passagem por Olinda. Foi na Bahia que se formou jesuíta e iniciou sua carreira de orador sacro, missionário e político. Acompanhou todo o drama das conquistas holandesas, seja a tentativa frustrada na Bahia, em 1624-5, seja a tornada de Pernambuco, em 1630; descreveu, nos seus relatórios e cartas, as vitórias e as derrotas portuguesas; pregou sermões em favor da resistência. Depois de longa tem porada no reino, corno conselheiro e diplomata de d. João IV, passou oito anos no Maranhão e Grão-Pará, entre 1653 e 166!, defendendo a liberdade dos índios contra as ambições escrava gistas dos colonos. No final da vida, já septuagenário, voltou à Bahia, onde passou a maior parte do tempo recluso, na casinha inaciana do largo do Tanque, preparando a publicação dos ser mões de sua autoria. Ainda assim, participou de episódios ca pitais: recomendou a repressão do quilombo de Palmares, em - 11 ............................................................................ 1691; reprovou as reformas administrativas da capitania de São suporte financeiro elos judeus era essencial à guerra de restau Paulo, em 1695, que favoreciam a escravização dos índios. No ração. Vieira foi o primeiro a desafiar a Inquisição portuguesa mesmo ano escreveu sobre a passagem de um corneta pelos em campo aberto. Ganhou algumas batalhas, perdeu outras céus baianos. Morreu lúcido, em 1697. - foi mesmo processado pelo Santo Ofício, após a morte ele Este brevíssimo panorama sobre as três fases de Vieira no de d. joão IV, por pregar nada menos que a ressurreição elo Brasil - a juventude na Bahia, a maturidade no Maranhão, a monarca para encabeçar o Quinto Império do Mundo. velhice outra vez na Bahia - comprova sua importância corno Este livro busca mostrar o perfil c·ombativo de Vieira, personagem atuante no Brasil colonial. E suas duas últimas enquanto político do Paço, em contraste com seu conserva ações, nos anos 1690, urna contra os quilornbolas de Palmares, dorismo social, ideólogo das hierarquias tradicionais, tanto outra favorável aos índios de São Paulo, dão exemplo perfeito na Colônia corno na Metrópole. Vieira sempre se opôs às de sua atuação na Colônia. De um lado, defesa intransigen sedições em defesa das hierarquias e da ordem, sustentando te da catequese jesuítica e da liberdade dos nativos; de outro, sempre que aos dominados não cabia senão obedecer a seus apologia da escravidão africana, sobre o que pregou sermões senhores, por mais injustos e tirânicos que fossem. Em con excepcionais, inclusive na irmandade de Nossa Senhora do trapartida, consolava os oprimidos em suas pregações, quer os Rosário dos Pretos. No primeiro caso, Vieira foi adversário ela pobres elo reino, quer os escravos do Brasil, acenando com a escravidão; no segundo, ideólogo da sociedade escravista. glória celeste após a morte. No entanto, o leitor constatará que, apesar elo engaja No decorrer do livro, o leitor ficará face a face com as mento em questões cruciais da colonização portuguqsa no grandes questões do século XVII, pois Antônio Vieira partici Brasil, Vieira considerava a Colônia um desterro, uma sepul pou ele muitas delas, na Europa e no Brasil, em fases inter tura. Não na juventude, quando desabrochou para a vid\l reli caladas. A narrativa busca reconstituir, por meio de breves giosa e política, suas grandes vocações, senão nas fases poste capítulos, a vida do polêmico jesuíta desde o nascimento, em riores, depois ele conhecer o brilho da Corte lisboeta, a partir Lisboa, até sua morte, na Bahia de Todos-os-Santos. No en ele 1641. Foi nessa encruzilhada dos anos 1640 que Vieira se tanto, cada capítulo aborda uma questão, um problema, um afirmou enquanto maior pregador português do século XVII. dilema histórico de alcance mais geral. Admirado por muitos. Odiado também. Os capítulos ele 1 a 7 tratam da história de Vieira entre Duas de suas grandes causas serão esmiuçadas aqui. A 1608 e 1641, examinando suas origens familiares, sua forma primeira foi a luta pela legitimação do reinado de d. joão IV, o ção jesuítica na Bahia, seu papel como pregador em face da duque de Bragança, líder da restauração portuguesa que pôs escravidão africana e do perigo holandês, até sua partida para termo à dominação espanhola em Portugal. Boa parte de sua Lisboa, integrando a comitiva do governo encarregada de ju obra profética, corno veremos, foi escrita a favor do rei que rar fidelidade ao novo rei d. joão IV. restaurou a soberania portuguesa. A segunda foi a defesa dos Os capítulos de 8 a 17, abordam a fase de apogeu de cristãos-novos contra a Inquisição, seja por convicções reli Vieira, enquanto principal conselheiro do rei, entre 1641 e giosas, corno veremos, seja porque Vieira considerava que o 1653. É neles que o leitor encontrará Antônio Vieira desafian- 12 13 do o Santo Ofício, estreitando alianças com os cristãos-novos hoje é motivo de controvérsia. Mas uma opinião sobre Antônio do reino e os judeus no exílio, buscando apoios políticos para Vieira, até onde sei, é consensual, e posso resumi-la citando o Portugal no exterior, negociando a paz com a Holanda em maior poeta português de todos os tempos, Fernando Pessoa, Haia, traçando planos para derrotar a Espanha, sugerindo ao que definiu nosso personagem como "o imperador da língua rei a entrega de Pernambuco aos holandeses. portuguesa". Vale a pena conhecer de perto esse "imperador". O capítulo 18 abrange os anos de Vieira no Maranhão, entre 1653 e 166r, sua atuação como supervisor da missão je suítica no Norte, o combate sem tréguas que moveu contra os colonos escravagistas, os textos que escreveu prognosticando a ressurreição de d. João rv, falecido em 1656. Do capítulo 19 ao 21 tem-se o Vieira de volta à Corte, metendo-se outra vez na política palaciana, mas logo proces sado pelo Santo Ofício por causa de seus escritos proféticos, tidos como heterodoxos. Abarca o período que vai de 166r a 1680, incluindo a análise do processo inquisitorial, da sen tença, da reabilitação do jesuíta e de sua transferência para Roma, onde buscou uma revanche em grande estilo contra os inimigos inquisidores. 1 Os capítulos 22 e 23 tratam dos últimos anos de Vieira, outra vez na Bahia, onde preparou a publicação dos se1mões e -~ meteu-se em novas confusões com o governador e com os pró- prios colegas da Companhia de Jesus, sem deixar de externar opinião decisiva sobre como pôr fim ao quilombo de Palmares. O derradeiro capítulo, Pax Christi, funciona como epí logo, no qual realizo um balanço crítico sobre as mil faces do principal jesuíta luso-brasileiro. É com grande satisfação que apresento ao leitor este per fil de Antônio Vieira, sem a pretensão de oferecer i;n;iis uma biografia do personagem que, vale dizer, foi e é objeto de vasta bibliografia produzida no campo da história e da crítica lite rária. Vieira foi homem polêmico na sua própria época, e até 14 Nobreza 1. e mulatice A primeira biografia de Antônio Vieira foi publicada em 1746, no final elo reinado de d. João v. Seu autor foi o jesuíta André ele Barros (1675-1754) - membro ela Real Academia de His tória Portuguesa, criada pelo rei em 1720 -, estimulado pelo ' ·~ quarto conde ela Ericeira, d. Francisco Xavier ele Menezes, e por d. Antônio Caetano de Souza, religioso teatino, isto é, pro fesso na ordem elos clérigos de São Caetano de Tiene. Um elos objetivos da Real Academia era reconstituir a biografia elos grandes personagens da história portuguesa, quer pela gran deza de suas linhagens, quer pelos serviços prestados à Coroa. Em sua Vida do apostólico padre Antônio Vieira, André de Barros incluiu o biografado entre os grandes de Portugal, "glória de nossa Nação", "ilustre imortal da Companhia de Jesus". Tratando-se ele obra encomiástica, André de Barros esforçou-se por realçar a "nobre e venturosa" ascendência de Vieira, passados então quase cinquenta anos de sua morte, destacando que seu pai fora fidalgo da Casa Real. À falta po- rém de outras evidências para comprovar a nobre ascendên mais precisas sobre a ascendência de nosso personagem, cuja cia do biografado, André de Barros saiu-se com esta: "para família, em verdade, nada tinha de nobre ou aristocrática. serem contados esses ditosos progenitores [d e Antônio Vieira J Vieira nasceu em 6 de fevereiro de 1608, em casa locali entre os da mais elevada graduação, bastavam as qualidades zada à rua dos Cônegos, Lisboa, uma ruela que começa na rua de tão ilustre filho". do Recolhimento e termina no atual beco do Leão, arruamento André de Barros abandonou os critérios de comprovação sem saída, como todos os becos. A rua ficava na parte alta da ci de nobreza vigentes na época e afirmou que a maior prova da dade, na freguesia do Castelo de São Jorge, perto da Sé. É uma ilustre ascendência de Vieira residia nele mesmo. Se os pais parte da Lisboa velha, com suas casinhas modestas enfileiradas não fossem verdadeiramente nobres, paciência, a vida do filho entre ladeiras, escadarias e becos, umas grudadas nas outras, era suficiente para nobilitá-los! O critério de nobilitação usa portas baixas de madeira, calçamento irregular de pedras. A do pelo biógrafo para enaltecer a origem de seu biografado, nobreza portuguesa de Lisboa não morava naquelas cercanias. o próprio Vieira endossaria em um de seus sermões: "A ver O avô paterno de Vieira chamava-se Baltazar Vieira dadeira fidalguia é a ação; o que fazeis, isso sois, nada mais". Ravasco, natural de Moura, no distrito alentejano de Beja. Em Vida do padre Vieira, incluída em suas Obras póstu Antônio Vieira dizia desconhecer o ofício desse avô, provavel mas, editadas em 1865, e publicada como livro independente mente um criado muito subalterno dos condes de Unhão, casa em 1891, o segundo grande biógrafo de Vieira, político, escri aristocrática fundada em 1586, mais tarde elevada à categoria tor e jornalista maranhense João Francisco Lisboa (18i2-63), de grandeza, o máximo status de que poderia desfrutar uma preferiu deixar de lado o problema das origens do jesuíta, família de nobreza em Portugal. Os condes de Unhão tinham limitando-se aí a indicar a data de nascimento e o nome dos senhorio na vizinhança de Santarém, no Ribatejo, e residiam pais: Cristóvão Vieira Ravasco e d. Maria de Azevedo. político no palácio da Quinta de Chavões, em Cartaxo, região produ liberal que viveu intensamente o processo de constru~ão do tora de excelente vinho. Império do Brasil, João Francisco Lisboa julgou as origens de Cristóvão Vieira Ravasco, filho de Baltazar Vieira Ra Vieira um assunto de menor importância. vasco e pai de Antônio Vieira, nasceu em Santarém, provavel Pelo menos duas outras biografias foram escritas ao lon mente nos domínios do primeiro conde de Unhão, Fernão Te go do século XIX, mas não acrescentaram grande coisa sobre les de Menezes. A exemplo do pai, Cristóvão serviu por algum a ascendência de Vieira. As novidades apareceram na obra do tempo ao conde, foi soldado nas armadas do rei, mas ascendeu grande historiador português João Lúcio de Azevedo, autor de na escala social. Letrado, embora não tenha cursado a univer História de Antônio Vieira, publicada em dois volumes, respec sidade, passou a viver em Lisboa como escrivão do desembar tivamente em 1918 e 1921. Valeu-se de documentos até então go dos agravos, seção da Casa de Suplicação, um dos três prin inéditos, inclusive as fontes inquisitoriais relacionad_as ao per cipais tribunais seculares do reino, ao lado elo Desembargo sonagem, de modo que a historiografia sobre a vida de Antô do Paço e ela Mesa da Consciência e Ordens. É provável que nio Vieira pode ser dividida entre a que veio antes e depois da o conde de Unhão tenha facilitado a vida de Cristóvão, pois obra de João Lúcio. É nela que se pode encontrar informações foi um dos que aderiu a Filipe II, em 1580, no início da União

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