Antônio Sérgio Pontes Aguiar Juvenal Galeno: Romantismo e poesia popular em Lendas e Canções Populares (1865) Dissertação de Mestrado Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre pelo Programa de Pós- graduação em História Social da Cultura do Departamento de História da PUC-Rio. Orientador: Prof. Antônio Edmilson Martins Rodrigues Rio de Janeiro Agosto de 2013 Antônio Sérgio Pontes Aguiar Juvenal Galeno: Romantismo e poesia popular em Lendas e Canções Populares (1865) Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre pelo Programa de Pós- Graduação em História Social da Cultura do Departamento de História do Centro de Ciências Sociais da PUC-Rio. Aprovada pela Comissão Examinadora abaixo assinada. Prof. Antonio Edmilson Martins Rodrigues Orientador Departamento de História – PUC-Rio Profª. Flávia Maria Schlee Eyler Departamento de História – PUC-Rio Prof. Henrique Estrada Rodrigues Departamento de História – PUC-Rio Profª Mônica Herz Vice-Decana de Pós-Graduação do Centro de Ciências Sociais PUC-Rio Rio de Janeiro, 22 de agosto de 2013. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem a autorização da universidade, do autor e do orientador. Antônio Sérgio Pontes Aguiar Graduado em História pela Universidade Federal do Ceará (2007-2010), onde foi bolsista do Programa de Educação Tutorial (2008-2010), tendo desenvolvido pesquisas nas áreas de Antropologia Cultural, História das Ideias e Literatura. Participou de diversos Congressos e Seminários nas áreas de Historiografia, História Comparada e História Cultural. Ficha Catalográfica Aguiar, Antônio Sérgio Pontes Juvenal Galeno: romantismo e poesia popular em Lendas e Canções Populares (1865) / Antônio Sérgio Pontes Aguiar; orientador: Antônio Edmilson Martins Rodrigues – 2013. 208 f. : il. (color.) ; 30 cm Dissertação (mestrado)–Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de História, 2013. Inclui bibliografia 1. História – Teses. 2. Romantismo. 3. Cultura popular. 4. Folclore. 5. Nação. 6. Juvenal Galeno. I. Rodrigues, Antônio Edmilson Martins. II. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Departamento de História. III. Título. CDD: 900 Somente quando temos um conceito adequado de arte é que temos um conceito adequado de natureza. (Thomas Bernhard, Extinção) À Germilca e Ada, como se dissesse águas... Agradecimentos À minha mãe e irmã, Germilca e Ada, mulheres que mais amo na vida. Ao meu avô, mais um Antônio nessa vida, por ser o melhor do melhor do mundo. Aos meus grandes amigos Ruben e André (sem vocês eu não seria eu, sério. vocês são demais, caras!), com quem compartilho o entusiasmo de gastar toda a bolsa em sebos, comprando livros, quadrinhos, discos, dvd’s e outras nerdices, tendo que passar do 6º dia útil do mês em diante na completa pindaíba. Ao meu irmãozinho Lucas, que eu vi crescer, mas que cresceu mais do que eu. Ao meu tio Fernando, pelas cervejas belgas, pelos vinhos do Alentejo, as pataniscas de bacalhau, o croquete do bar do Botto, o palmito “guaranítico” do Otto, e tantos outros tours gastronômicos por esse Rio de Janeiro (valeu tio, conseguiu me engordar 10kg). Ao meu tio João, que sabe tocar um violão e conversar como ninguém. Ao meu primo Rodrigo, companheiro dos jogos do Vozão no Castelão e que nunca mais “deu as caras”... apareça! Às amigas cults-hipsters-indies-posers and hypers, Yara, Sâmia e Jamy, que tornam qualquer encontro memorável. À pessoa incrível e linda que é a Dayane, essa carioca, ops, fluminense, que se tornou minha irmãzona e de quem tenho saudade todos os dias quando estou lá onde canta a jandaia. Aos amigos do Rio, pelo acolhimento e as saídas inesquecíveis: Pedro, Felipe, Dani, Cris, Jair, Caio, Raé, Igor, Gota, Angélica, Gabriel, Bia e Mirela. Aos professores da UFC que, desde a época de bolsista do PET, foram fundamentais na minha formação e amadurecimento intelectual: Almir Leal de Oliveira e Antônio Luiz. Ao meu orientador, outro Antonio (Edmilson), pela amizade e pelas preciosas aulas que, sem elas, certamente esse trabalho não teria sido feito. Ao prof. Henrique Estrada, pela serenidade e atenção, cujo curso Histórias Literárias, e seus comentários em minha banca de qualificação, foram de inestimável valia para minha formação enquanto mestrando. Igualmente à professora Flávia, pela cordialidade e o cuidado de me indicar leituras e, assim, elevar o meu trabalho. Aos funcionários do Departamento de História da PUC- RIO, Edna, Moisés e Cláudio, que tornam o ambiente acadêmico mais simpático. Ao CNPq e à PUC-Rio, pelos auxílios concedidos sem os quais este trabalho não poderia ser realizado. Resumo Aguiar, Antônio Sérgio Pontes; Rodrigues, Antônio Edmilson Martins. Juvenal Galeno: Romantismo e poesia popular em Lendas e Canções Populares (1865). Rio de Janeiro, 2013. 208p. Dissertação de Mestrado – Departamento de História, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. A presente dissertação retoma os debates intelectuais e a circulação de ideias que marcaram a vida política e cultural do Brasil após a Independência em 1822, e que se deram no esteio da necessidade de construir um projeto formador da identidade nacional com vistas a garantir a consolidação da Nação e a consciência em seus habitantes de serem parte dela. Pautando as experiências brasileiras iniciais de pensar a Nação, quando esta ainda estava por formar-se, o romantismo teve no Brasil sua “oportunidade histórica”. Nesse sentido, buscamos investigar e debater, partindo do vínculo entre história e literatura, o projeto romântico-pedagógico da produção do poeta popular cearense Juvenal Galeno, sobretudo em sua obra mais significativa Lendas e Canções Populares, de 1865. Galeno percorreu litoral, serra e sertão cearenses, realizando pesquisas etnográficas e coletando dados em busca do volksgeist nacional. Servindo-se das manifestações da cultura popular (tradições, cantigas, linguagem, imagens, versos, lendas, festas, trabalho) e extraindo do seu cotidiano prosaico o que seria “matéria de poesia”, o bardo cearense produziu uma obra a partir do que chamo de “operação literária”, que, ao invés de consistir em mera cópia e registro folclórico da cultura popular, parte dela para, com o engenho da literatura, fazer germinar uma poesia popular cujo alcance compreenda a emancipação do povo da tutela dos que o exploram. A relação do poeta “folclorista” com as instituições e agremiações literárias que pululavam no Ceará na segunda metade do século XIX, tais como o Instituto Histórico, a Academia Cearense de Letras e a Padaria Espiritual, da qual foi padeiro-mor, tem especial destaque em nosso trabalho, uma vez que elucida a prática de seu engajamento em favor das letras e disseminação de novas ideias no Ceará provinciano. Palavras-chave Romantismo; Cultura Popular; Folclore; Nação; Juvenal Galeno. Abstract Aguiar, Antônio Sérgio Pontes; Rodrigues, Antônio Edmilson Martins (Advisor). Juvenal Galeno: Romantism and popular poetry in Lendas e Canções Populares (1865). Rio de Janeiro, 2013. 208p. MSc. Dissertation – Departamento de História, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. This dissertation takes up the intellectual debate and exchange of ideas that marked the political and cultural life of Brazil after independence in 1822, and which happened in the core of the need to build a project to form national identity in order to ensure the consolidation of the Nation and the consciousness of its inhabitants to be part of it. Basing initial Brazilian experiences of thinking nation, when it was yet to be formed, the romanticism in Brazil had a "historic opportunity". In this sense, we investigate and discuss, based on the relationship between history and literature, the romantic and pedagogical production of the popular poet Juvenal Galeno (born in Ceará, northeast Brazil), especially in his most significant work Lendas e Canções Populares (Legends and Folk Songs), 1865. Galeno traveled through coast, mountain and backcountry of Ceará, conducting ethnographic research and collecting data in search of national Volksgeist. Using the manifestations of popular culture (traditions, songs, language, images, lines, legends, festivals, work) and extracting of their daily prosaic which would be "matter of poetry," Juvenal Galeno produced a work from which we call "literary operation" which, rather than simply copying and recording folklore of popular culture, uses this concept to germinate a popular poetry whose range is the emancipation of the people from the tutelage of those who exploit them. The relation of the "folklorist" poet with literary institutions and associations that had existed in Ceará in the second half of the nineteenth century, such as the Institute of History, Academy of Ceará and Padaria Espiritual, which he was the “chief baker”, has a special focus, since it elucidates the practice of his engagement in favor of letters and dissemination of new ideas in Ceará provincial. Keywords Romanticism; Popular Culture; Folklore; Nation; Juvenal Galeno. Sumário Introdução 11 1. Cultura Romântica 1.1. O romantismo na história moderna em movimento 16 1.2. Um romantismo à brasileira 44 1.3. Cultura Popular: breves apontamentos 67 2. “E assim cumprirei minha missão”: Romantismo, folclore e poesia popular em Lendas e Canções Populares (1865) 2.1. História deste livro 74 2.2. A poesia do filho presente 104 3. Juvenal Galeno: o outro poeta armado do século XIX 128 Conclusão 182 Anexos 185 Fontes e Bibliografia 194 Lista de Figuras Figura 1 - Imagem da capa do tomo primeiro da revista Nitheroy, 1836. 55 Figura 2 – Planta de Fortaleza e Subúrbios (1875), de Adolfo Herbster. 169 Comparada às grandes literaturas, a nossa é pobre e fraca. Mas é ela, e não outra, que nos exprime. Se não for amada, não revelará a sua mensagem; e se não a amarmos, ninguém o fará por nós. Se não lermos as obras que as compõem, ninguém as tomará do esquecimento, descaso ou incompreensão. Ninguém, além de nós, poderá dar vida a essas tentativas muitas vezes débeis, outras vezes fortes, sempre tocantes, em que homens do passado, no fundo de uma terra inculta, em meio a uma aclimação penosa da cultura europeia, procuravam estilizar para nós, seus descendentes, os sentimentos que experimentavam, as observações que faziam – dos quais se formaram os nossos. (Antonio Cândido, 1993, p. 10) Esses livros de Juvenal Galeno guardam todo o seu tempo. Homens, mulheres, hábitos, amores, tristezas, alimentos, caminhos, desgraças, mistérios, amarguras, todos os personagens foram apanhados quando se moviam e a mão do gigante mágico escondeu-se nos livros, para que vivessem sempre. Com eles trouxe um pedaço do céu e um pedaço do mar. E também uma provisão de estrelas, de luares, de ventanias, as boiadas lentas, o fio melódico do aboio, a vegetação típica, o cavalo russinho, a vaca Graciosa, cães, caças, assombrações, ternuras. Tudo juntou, mantendo o ambiente vital transportado, lacrou para os futuros olhos do Brasil. (Luiz Da Camara Cascudo em conferência lida na Casa de Juvenal Galeno, 27 de Setembro de 1949) Não sou o condor dos Andes A revoar arrojado, Nem águia que faz seu ninho Sobre o cimo acantilado, Nem gênio que sobe às nuvens Para cantar inspirado. Mas sou o bardo das selvas, Que canto junto à viola Cantigas que o povo alegra E muitas vezes consola. (Juvenal Galeno)
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