UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE LETRAS ORIENTAIS PROGRAMA DE LITERATURA E CULTURA RUSSA ANA MARIA NOVI HOSHIKAWA Anton Tchékhov e Tennessee Williams: dramaturgias em comparação São Paulo 2015 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE LETRAS ORIENTAIS PROGRAMA DE LITERATURA E CULTURA RUSSA Anton Tchékhov e Tennessee Williams: dramaturgias em comparação Ana Maria Novi Hoshikawa Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Literatura e Cultura Russa do Departamento de Letras Orientais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo como requisito para obtenção do título de Mestre em Literatura e Cultura Russa. Pesquisa desenvolvida com apoio da CAPES De acordo, Orientadora: Profa. Dra. Arlete Orlando Cavaliere Ruesch São Paulo 2015 Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte. Catalogação na Publicação Serviço de Biblioteca e Documentação Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo ______________________________________________________________________ Hoshikawa, Ana Maria Novi H825a Anton Tchékhov e Tennessee Williams: dramaturgias em comparação / Ana Maria Novi Hoshikawa; orientadora Arlete Orlando Cavaliere Ruesch. – São Paulo, 2015. 166 f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Departamento de Letras Orientais. Área de concentração: Literatura e Cultura Russa. 1. Tchékhov, Anton Pávlovitch, 1860-1904. 2. Williams, Tennessee, 1911-1983. 3. Dramaturgia. 4. Teatro Russo. 5. Teatro Americano. I. Ruesch, Arlete Orlando Cavaliere, orient. II. Título 4 FOLHA DE APROVAÇÃO Ana Maria Novi Hoshikawa Anton Tchékhov e Tennessee Williams: dramaturgias em comparação Dissertação de mestrado Apresentada ao Programa de pós-graduação em Literatura e Cultura Russa do Departamento de Letras Orientais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Aprovado em: _____________________________ Banca examinadora: _________________________________________________ Profa. Doutora Arlete Orlando Cavaliere Ruesch Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas Universidade de São Paulo Orientadora Prof. Dr. _____________________________________________________________ Instituição: ___________________________ Assinatura _______________________ Prof. Dr. _____________________________________________________________ Instituição: ___________________________ Assinatura _______________________ 5 AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer a todos os professores do programa de Literatura e Cultura russa por tudo que me ensinaram e em tudo que me inspiraram. Também a todos os demais professores que, através de suas aulas e conversas, muito me ajudaram na pesquisa e na vida. Agradeço especialmente aos professores Maria Sílvia Betti, Mayumi Illari e Bruno Gomide, que contribuíram significativamente à minha pesquisa através de suas muitas sugestões, e aos professores Daniel Aarão e Angelo Segrillo, pela disposição a revisar minhas incursões históricas, oferecendo comentários detalhados para meu aprimoramento. Aos funcionários do departamento de letras orientais também sou grata, especialmente ao Jorge, que sempre me ajudou carinhosamente, aplacando minhas angústias administrativas e corrigindo meus muitos erros burocráticos. Agradeço à CAPES, pelo fomento de minha pesquisa. Sobretudo, sou grata à minha orientadora, Arlete Cavaliere, pela paciência que teve em lidar com meus muitos e-mails e pelo apoio constante que me ofereceu, mesmo nas minhas ambições megalomaníacas. Sempre soube quando me frear, sem me reprimir, lembrando-me da importância de ter foco. Um agradecimento especial vai ao meu pai, minha mãe e ao meu irmão, sem eles, nada teria sido possível. O investimento e aposta em mim foram certamente indispensáveis. Agradeço aos meus colegas da pós, que foram de grande ajuda com suas indicações e com sua experiência, sobretudo Renata Esteves e Rodrigo Nascimento. Aos amigos da vida, também, que escusaram as minhas ausências, apoiaram minha empreitada e souberam quando me arrastar para fora de casa. Especialmente, agradeço ao Daniel, que esteve sempre ao meu lado, pacientemente, acompanhando e discutindo, às vezes à revelia, cada passo dado em minha pesquisa, e que nunca falhou em me apoiar. 6 “Quisera que vocês conseguissem maravilhar-se, isto é, surpreender-se com este fato tão trivial que nos sucede todos os dias no Teatro. Platão faz constar que o conhecimento nasce dessa capacidade para nos surpreendermos, maravilharmos, assombrarmos de que as coisas sejam como são, precisamente como são.” Ortega y Gasset. “Quando lançamos o olhar para trás e contemplamos o passado humano, a primeira coisa que vemos são “ruínas”. A história é mudança e esta mudança tem, à primeira vista, um aspecto negativo que nos produz pena. O que nele nos deprime é ver como a mais rica criação, a vida mais bela encontra na História seu ocaso. A História é uma viagem ao egrégio. Ela nos arrebata aquelas coisas e seres os mais nobres, os mais belos pelos quais nos havíamos interessado, as paixões e os sofrimentos os destruíam: eram transitórios. Tudo parece ser transitório, nada permanece.” Ortega y Gasset. 7 HOSHIKAWA, Ana Maria Novi. Anton Tchékhov e Tennessee Williams: dramaturgias em comparação. São Paulo: 2015, 166f. Dissertação (Mestrado em Literatura e Cultura Russa) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. RESUMO O presente trabalho apresenta três possibilidades de comparação entre os textos de Anton Tchékhov e Tennessee Williams: a primeira trata-se de uma comparação formal, que investiga as semelhantes soluções dramatúrgicas encontradas pelos autores em relação à crise do drama, conceito elaborado por Peter Szondi; a segunda possibilidade se concentra sobre as semelhantes posições de classe (conceito de P. Bourdieu) encontradas na história russa e na história americana, que servem como substrato temático às peças analisadas; a terceira e última possibilidade de comparação apresentada está baseada no fenômeno de recepção das peças tchekhovianas nos Estados Unidos, considerando também a vasta repercussão das encenações do Teatro de Arte de Moscou sobre a cena americana. Palavras-chave: Anton Tchékhov; Tennessee Williams; Dramaturgia; Encenação; Teatro Russo; Teatro Americano. 8 HOSHIKAWA, Ana Maria Novi. Anton Chekhov and Tennessee Williams: plays in comparison. São Paulo: 2015, 166f. Dissertação (Mestrado em Literatura e Cultura Russa) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. ABSTRACT This work presents three distinct possibilities of comparison between the texts of Anton Chekhov and Tennessee Williams: the first one is a formal comparison, it investigates the similar dramatic solutions the authors found to drama’s crisis, a concept created by Peter Szondi; the second possibility concentrates over the similarities of class position (P. Bourdieu’s concept) found in Russian and Amercian history, these serve as the thematic substract of the plays’ analysis; the third and last possibility explored is based upon the reception of Chekhov’s plays in the United States, considering the reprecussions of their productions by the Moscow Art Theatre on the American stage. Key words: Anton Chekhov; Tennessee Williams; Dramaturgy; Staging; Russian Theatre; American Theatre. 9 Índice Apresentação: fundamentos metodológicos ....................................................................10 1. O Jardim das Cerejeiras, Lady of Larkspur Lotion e A Strangest Kind of Romance: textos em diálogo..……....................................................................................................18 2. As três Irmãs e Um Bonde Chamado Desejo: contextos em diálogo.........................63 3. Questões de recepção: Tennessee – Stanislávski – Tchékhov....................................99 A pesquisa: uma trajetória .............................................................................................129 Anexos ...........................................................................................................................132 I. Breve comentário e tradução de: O nascimento de uma arte ..................133 II. Reportagens selecionadas do new york times ..........................................146 Referências bibliográficas..............................................................................................159 10 Apresentação: fundamentos metodológicos Following a hunch means trusting an implicit promise for a while and making a step toward describing a phenomenon that remains unknown – one that has aroused our curiosity and, in the case of atmospheres and moods, often envelops and enshrouds us. GUMBRECHT, H.U..1 A epígrafe acima, de maneira geral, resume o percurso do presente trabalho. Seu tema, a investigação de traços tchekhovianos na escrita dramatúrgica do início da carreira de Tennessee Williams, foi sugerido por um palpite (“hunch”), perseguido durante a pesquisa na tentativa de entender como ele havia se formado. Um breve desvio inicial pode elucidar a trajetória da pesquisa aqui apresentada. Com base na (controversa) proposta de Gumbrecht de analisar a literatura a partir do stimmung – ou atmosfera, como tradução mais próxima –, é possível afirmar que o palpite de que Anton Tchékhov e Tennessee Williams guardavam algo similar entre si foi gerado por uma semelhança de atmosferas entre a peça Lady of Larkspur Lotion e os textos de Tchékhov. Não se tratava de uma semelhança visivelmente clara, como conteúdos muito próximos, nem técnicas de escrita que se parecessem, como um estilo linguístico particular, mas um ressoar sutil, inefável e reminiscente de um no outro. A sutileza, mais tarde percebida, estava nas semelhanças entre os escritores, contidas mais em estruturas do que nos elementos em si, ou seja, na forma por meio da qual construíam suas peças e como ela refletia sobre o conteúdo, não no próprio conteúdo. Essas semelhanças estavam também nas confluências de valores que sustentavam essa forma, presentes na cultura ocidental, como, por exemplo, o pressuposto de que o indivíduo não é livre para atuar sobre 1 GUMBRECHT, H.U. Atmosphere, mood, stimmung - On a hidden Potential of Literature. Edição Kindle. Stanford: Stanford University Press, 2012. LOC 302 Tradução: Seguir um palpite significa confiar por um tempo numa promessa implícita e dar um passo rumo à descrição de um fenômeno que permanece desconhecido – um que nos tenha despertado a curiosidade e, no caso de atmosferas e humores, frequentemente nos engole e encobre. (Tradução nossa. Todas as demais traduções presentes nas notas de rodapé são de nossa autoria, a não ser quando indicado o contrário.)
Description: