ANTIGO TESTAMENTO Desembaraçando Fios... Efraim Sanches Pereira Lins, abril de 2001. SUMÁRIO BUSCANDO O FIO DA MEADA ............................................. 05 O ANTIGO TESTAMENTO .................................................... 07 I - BREVE INTRODUÇÃO GERAL .......................................... 07 1. Língua ......................................................................... 07 2. Cânon.......................................................................... 07 3. A Transmissão do Texto.................................................. 07 4. Hipótese Documental..................................................... 08 5. Os Documentos J, E, D, P............................................... 09 6. Os Nomes de Deus........................................................ 11 7. Gêneros Literários do A.T................................................ 11 O RITO ............................................................................ 21 I - O PENTATEUCO ............................................................ 21 1. Gênesis ....................................................................... 21 2. Êxodo.......................................................................... 22 3. Levítico........................................................................ 23 4. Números...................................................................... 23 5. Deuteronômio............................................................... 23 II - OS ESCRITOS ............................................................. 23 1. Cânticos....................................................................... 24 1.1. Salmos ..................................................................... 24 1.2. Cântico dos Cânticos................................................... 25 1.3. Lamentações ............................................................. 25 2. Sapienciais................................................................... 25 2.1. Jó............................................................................. 26 .2. Provérbios................................................................... 26 2.3. Eclesiástes ................................................................ 27 2.4. Ester ........................................................................ 27 AS NARRATIVAS ............................................................... 28 I - O ISRAEL PRÉ-MONÁRQUICO ......................................... 28 1. O Livro de Josué ........................................................... 28 2. O Livro dos Juízes ......................................................... 29 3. O Livro de Rute............................................................. 30 4. Os Livros de 1 e 2 Samuel.............................................. 30 II - A MONARQUIA EM ISRAEL............................................ 31 1. O Período de Saul (1 Sm 10-31) ..................................... 31 2. Davi: A Instituição do Estado (2 Sm)............................... 32 3. O Reinado de Salomão (1 Rs 1-11).................................. 33 III - A SEPARAÇÃO DO REINO DE ISRAEL (1 Rs 12 - 2 Rs 25).35 2 Israel, Reino do Norte........................................................ 35 2. Judá, Reino do Sul......................................................... 38 IV - O RETORNO DOS EXILADOS NA BABILÔNIA................... 43 1. O Período Persa (Cr,Es,Ne) ............................................. 43 2. O Período Helênico (1-2 Macabeus) ................................. 44 A PROFECIA ..................................................................... 47 I - PROFETAS PRÉ-EXÍLICOS .............................................. 49 1. Amós........................................................................... 49 2. Oséias ......................................................................... 50 3. Isaías .......................................................................... 51 4. Miquéias ...................................................................... 52 5. Naum .......................................................................... 53 6. Sofonias....................................................................... 53 7. Habacuque................................................................... 54 8. Jeremias ...................................................................... 55 9. Joel ............................................................................. 56 II - OS PROFETAS EXÍLICOS............................................... 56 1. Ezequiel....................................................................... 57 2. Obadias ....................................................................... 58 3. Deutero-Isaías.............................................................. 58 III - OS PROFETAS PÓS-EXÍLICOS ...................................... 59 1. Ageu ........................................................................... 60 2. Zacarias....................................................................... 60 3. Trito-Isaías................................................................... 61 4. Malaquias..................................................................... 61 5. Jonas........................................................................... 62 IV - A APOCALÍPTICA. ....................................................... 62 1. Daniel.......................................................................... 64 V - Sintetizando................................................................ 64 BIBLIOGRAFIA.................................................................. 65 3 BUSCANDO O FIO DA MEADA “...porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana...” 2 Pe 1.21 Todo conhecimento humano provém de observação e pesquisa. Mas nenhuma ciência, por mais sofisticada que seja, existe por si mesma. Ela produz o saber, satisfazendo os pressupostos de quem a utiliza como instrumental. Estudar a Bíblia não é diferente, pois se trata de exercitar um saber e, conseqüentemente, também possui seu pressuposto que, no caso, está explicitado no verso acima. Abordamos o texto sagrado, aceitando-o como a expressão da vontade de Deus para o homem e Sua Revelação! A Bíblia é o instrumento que nos capacita ao compromisso e à prática da vontade divina, com vistas à Construção do Reino de Deus. Ao analisar o Antigo Testamento, necessitamos delimitar o campo de pesquisa. Se desejamos fazer teologia, é preciso compreender o agir de Javé na vida do povo de Israel. Pode ser, no entanto, que a nossa abordagem seja no sentido de conhecer os limites, a veracidade e a antigüidade dos documentos que registram o agir de Javé: então, devemos estudar a Introdução ao Texto Bíblico, para aprender sobre datas, testemunhos e como foi sua transmissão na sociedade israelita. Como, porém, deram-se essas relações e como se desenvolveu a comunidade israelita antiga? Qual foi o processo evolutivo desse grupo, suas origens e sua influência na formação das sociedades do Oriente Médio? Responder esta pergunta nos leva a estudar a História de Israel, sua religião, e a história de seus vizinhos, próximos ou remotos. Usufruir da riqueza que a Bíblia possui requer uma postura abrangente que além de uma visão piedosa e devocional inclui, de forma decisiva, a necessidade de um aprofundamento das perguntas ao texto, sem medo de que as respostas venham modificar ou reformular conceitos estabelecidos, muitos dos quais até sem a devida fundamentação. Esse é um dever de todo cristão, pois que só dessa forma somos edificados e a Palavra se transforma em vida, realizando de maneira mística a comunhão com Deus, sempre acompanhada de orações e meditações. Nosso trabalho deseja repartir aquilo que já se pesquisou e que hoje constitui um patrimônio vasto que inclui análise de manuscritos, artefatos arqueológicos, documentos históricos, personagens e tantas outras coisas que nos ajudam a “dar razão de nossa fé”. Partindo do fato de que o texto já existe, que vem sendo utilizado pela história afora e que nossa motivação para estudá-lo é mais no sentido de buscar subsídio para educar, quer adultos sedentos de conhecimento quer crianças e adolescentes, como abordaríamos conteúdo tão vasto e tão intrincado como este que nos propomos a estudar? Para responder esse questionamento, nos propusemos a buscar uma forma diferente de ler o Antigo Testamento. Nossa preocupação nasceu a partir do convite para participar da XV SAT - Semana de Atualização Teológica, promovida pelo CEBEP (Centro Evangélico 4 Brasileiro de Estudos Pastorais), no período de 27 a 30 de julho de 1995, trabalhando o tema: “Agentes Educadores na Bíblia”. Foi a partir da solicitação do Seminário da 5.ª Região Eclesiástica “Bispo Scilla Franco”, na pessoa do seu diretor Rev. Oswaldo José de Souza, de um trabalho sobre o Antigo Testamento que pudesse ser utilizado no CEL (Curso Especial para Leigos) que resolvemos desenvolver o tema abordado por nós, na XV SAT. Diante da premissa de que o Antigo Testamento é uma realidade acabada, nos dispusemos a transformá-lo em conteúdo pedagógico, dividindo-o em três partes: (1) O que convencionei chamar de Rito (as celebrações, ordenanças, rituais, regras de conduta e de purificação, ensinos sapienciais, princípios litúrgicos, hinos, discussões filosóficas) que se comporia do Pentateuco e dos Livros Sapienciais; (2) Narrativa (pré-monarquia, monarquia dos reinos: unido, dividido, sobrevivente, restaurado após o exílio e quase soberano no período grego) contida nos livros de Josué a 2 Crônicas, e nos apócrifos 1 e 2 Macabeus; e (3) Profecia (ditos proféticos, em todas as épocas em que os homens de Deus existiram e atuaram), compreendendo todos os livros proféticos. Nosso pressuposto é de que o Rito tem características formadoras, pois produz identidade, insere culturalmente. Quando se esgota em suas prerrogativas, necessita, para não ameaçar a sociedade de dissolução, da Profecia, que o contesta e exige reformas. E o papel da Narrativa? É o palco onde a contradição Rito/Profecia acontece. Sem a Narrativa, não há equilíbrio, visto que tanto Rito quanto Profecia, pretextam perfeição e instituição divinas. Portanto, desejamos convidar você, leitor, a iniciar uma caminhada pelas terras e tempos bíblicos, à procura de uma nova dimensão de fé e compromisso com Jesus e o Seu Reino. Rev. Efraim Sanches Pereira Lins, Abril de 2201 5 O ANTIGO TESTAMENTO I - BREVE INTRODUÇÃO GERAL 1. Língua. Em que língua foi escrito o Antigo Testamento? Para responder esta pergunta, não basta olharmos somente para o exemplar acabado que temos hoje. O Antigo Testamento foi escrito em hebraico, contendo alguns textos em aramaico, devido à influência persa. Sobreviveram também livros em grego, ainda que não reconhecidos como canônicos por protestantes e judeus. No entanto, devemos observar que, ainda que a língua fosse o hebraico, os textos contém narrativas que se derivam da sabedoria dos acádios (2250 a.C.), sumérios (2000 a.C.) e egípcios. Derivando o seu conhecimento de fatos antigos dessas civilizações muito anteriores não é de se admirar que termos dessas línguas antigas fossem apropriados e usados no idioma hebreu1. 2. Cânon. A palavra “Cânon” vem de Kanäh, que significa cano. Adquirindo o sentido de “régua, regra, reta”, deu origem à expressão “lista inalterável de escritos normativos para a vida e a fé”. Seu desenvolvimento passou por um longo processo. Sabemos que os Salmos adquiriram poder normativo antes do que outros grupos de escritos, pois eram utilizados como livro nos ofícios sacerdotais nos santuários locais e depois no templo de Jerusalém. Oficialmente, porém, a primeira porção a receber autoridade canônica foi a Torah (O Pentateuco) em cerca de 300 a.C. Todos os grupos de escritos (Os Profetas, Os Escritos, as Narrativas) foram transformados em Cânon no ano 100 d.C., no Concílio de Jâmnia, realizado, naturalmente, pelos judeus, preocupados com o avanço dos textos apocalípticos e o sincretismo religioso. 3. A Transmissão do Texto. Naturalmente, para se transformar em Cânon, o texto percorreu um longo caminho até chegar à condição de livro escrito, circulante e, finalmente, de autoridade espiritual e normativa. 3.1. Tradição Oral: Por muito tempo se questionou a Tradição Oral como sendo uma fonte fidedigna de transmissão do conhecimento. Hoje, já se tem a certeza de que boa parte daquilo que está na Bíblia Hebraica é fruto de uma atividade cultural dos tempos 1Para melhor compreensão disso, consultar: VV. AA. - Escritos do Oriente Antigo e Fontes Bíblicas - Ed. Paulinas - 1986 - São Paulo - págs. 63-67. 6 antigos, qual seja, a de contar para os filhos, histórias ou acontecimentos que ocorreram nos tempos anteriores ao narrador e ao ouvinte. Boa parte do saber, da religião, das tradições, da cultura e da ciência antiga se fez por meio de narrativas passadas de pai para filho, geralmente na forma de poesias. 3.2. Fontes Paralelas: Sabe-se que no Oriente Próximo floresceram, por volta de 2500 a.C., inúmeras literaturas, descobertas a partir do século XVIII da nossa era, por arqueólogos. Estas são de povos como os sumérios, acádios, neobabilônios, hititas, persas, assírios e egípcios. Tais tradições culturais e literárias, das quais algumas sobreviveram em fragmentos, são suficientes para demonstrar a dependência de estilo e de conteúdo nos textos bíblicos hebraicos1. 3.3. Tradição Escrita: Essa diz respeito apenas ao que se produziu na tradição israelita. Assim, existe consenso entre os estudiosos de que Moisés deixou alguns documentos; os santuários locais também preservaram suas tradições; e as tribos, seus aspectos históricos e culturais. Para o texto chegar no que é hoje percorreu o caminho do agrupamento, do ajustamento e da redação de diversas fontes que proveram todo este material. Os agentes dessa grande obra foram, na sua maioria, profetas, sacerdotes e funcionários do Estado, escribas que tinham como função primordial dar forma literária ao conteúdo das tradições orais, paralelas e oriundas da própria comunidade de Israel. Esses momentos de formação do texto são transformados em literatura quando Israel torna-se uma Monarquia estável, ou seja, pelo tempo de Davi e Salomão. Nessa época, 1000/ 900 a.C., já se tem uma sólida classe sacerdotal, nascendo o hebraico como língua literária, e as narrativas, quer orais quer documentais e as influências do mundo da época são transformadas em um único texto. Assim começam os processos redacionais que ficaram conhecidos na ciência da Introdução do Antigo Testamento como a Hipótese Documental. 4. Hipótese Documental (As grandes tradições de Israel). É assim denominada a teoria de que o Pentateuco, e de resto boa parte da Bíblia Hebraica, tenha sido formado por documentos provindos de diferentes épocas e estilos. Essa Hipótese foi denominada de J, E, D, P, pois os documentos identificados possuíam características distintas; J usava mais o nome de Javé; E usava mais a designação Elohim para Deus; D preocupava-se com narrativas históricas, legislativas e de fundamentação teológica da centralidade do culto; P, com as celebrações, genealogias e prescrições cultuais. Esta hipótese surge a partir do texto acabado. É o desejo de saber como se formou o Antigo Testamento. 4.1. Esboço histórico da Hipótese Documental: O primeiro a notar as diferenças de narrativas foi um médico francês chamado Jean Astruc (século XVIII), que sugeriu ter Moisés consultado duas fontes, uma que conhecia Deus como Javé, e outra como Elohim. Depois dele, o estudioso Johann Gottfried Eichhorn escreveu uma Introdução ao Antigo Testamento, publicada em 1780-83, desenvolvendo a hipótese das duas fontes, dividindo o livro todo de Gênesis e o início de Êxodo (caps. 1 e 2). 1A Epopéia de Gilgamesh, por exemplo, que é datada de cerca de 2000 a.C., na qual encontramos um paralelo antecedente da narrativa do dilúvio. Gilgamesh - Rei de Uruk - Ars Poética - 2ªEd. 1992 - São Paulo - págs. 78-84. 7 Wilhelm M. L. De Wette, escrevendo sobre o Deuteronômio (1805), propôs que os textos a respeito da Lei não pudessem ser anteriores à Monarquia, usando como argumento a centralidade do culto, observada em Deuteronômio, acrescentando à lista dos dois documentos mais um: o D. Coube a Julius Wellhausen dar a configuração mais clássica à teoria da Hipótese Documental, nos seus livros “A Composição do Hexateuco” (que inclui Josué), publicado em 1876; e Introdução à História de Israel, publicado em 1878. Hoje, essa teoria possui vários desdobramentos, mas tem sido um importante instrumento para se compreender como foi que o texto Sagrado chegou à forma que conhecemos nos nossos dias. 5. Os Documentos J, E, D, P. 5.1. O Documento Javista: Provavelmente é composto no reinado de Salomão (960/ 930 a.C). Podemos identificá-lo com margem de variação na análise dos livros de Gênesis, Êxodo e Números. Provavelmente, existam também narrativas desta fonte em Josué e Juízes. Não sabemos o nome do escritor. Deixa notar em seus textos uma certa preferência pelas monarquias de Davi e Salomão. Sua característica principal é a de designar o Deus de Israel como Yahweh ou Javé. Assim, ficou denominado como escritor Javista ou simplesmente J. O javista escreveu de Judá, daí a letra J ter dupla referência: Javé e Judá, sua tribo preferida. 5.1.1. Alguns textos característicos: Gn 2.4 a 3.24; 4.1-16; 18.1-15; Êx 1.6-12; 17.1-7; 34.1-28; Nm 10.29-36; 32.1-38; Dt 31.14-23; 34.1-6. 5.1.2. Teologia: O homem é visto como rebelde que quer ser como Deus, tentando subtrair-lhe a soberania, seus pensamentos estão sempre voltados para o mal. A humanidade é preservada da ruína para que Israel primeiramente e, depois, o mundo, possam participar das bênçãos do perdão divino. Apesar de toda a resistência humana, se concretiza a soberania de Deus. Javé aparece como aquele que ouve e atende a voz do homem: Ex. Abraão intercedendo por Sodoma. Embora a intercessão seja individual, a salvação é comunitária. Javé, ao relacionar-se com o homem e se revelar antropomorficamente, ou seja, tomando forma humana, ensina sua transcendência e sua constante presença. Assim, o homem pode decidir-se pelo bem como Abraão; ser paciente e conformado como Isaac; perseverante e esperançoso como Jacó; humilde como José. 5.2. O Documento Eloísta: Depois da divisão do Reino de Israel em Judá, Reino do Sul (capital, Jerusalém), e Israel, Reino do Norte (capital, Samaria), no período de 900-850 d.C., outro escritor contou a narrativa primitiva de Israel. Falava do mesmo conteúdo do Javista. Começou pelos patriarcas e foi até Juízes. Esse escritor escolheu para o Deus de Israel a designação de Elohim para falar de sua atuação antes de Moisés. Assim, é denominado de Eloísta ou E. Esse autor vivia no Israel do Norte, composto principalmente das tribos de Manassés e Efraim. E, portanto, é o representante de Elohim ou de Efraim. 5.2.1. Seus textos característicos são: Gn 20.1-17; 21.9-21; 22.1-19; 31.19-35; 35.16-20; Ex 18.1-8; 18.12-27; Nm 21.21-31. 5.2.2. Teologia: Elohim se revela por meio do sonho. Para que Elohim se comunique com o homem e ele compreenda sua vontade necessário se faz a presença e atuação do profeta. Sua mensagem possui um conteúdo pedagógico, deixando claro que o temor de Elohim produz conhecimento e perfeição moral. 8 5.3. O Documento Sacerdotal: Ao Código Sacerdotal se convencionou designar pela letra (P) que vem do termo alemão Priest (Sacerdote) porque esse Documento se caracteriza por manifestar um grande interesse em prescrições e instituições sacerdotais e cultuais. P é o documento preocupado com árvores genealógicas, com estreitar compreensões antes generalizadas. Exemplo disso é a interpretação da expressão “‘adam” (Adão) que pode significar genericamente a humanidade criada, P confere ao termo o sentido de nome próprio. 5.3.1. Alguns textos do Sacerdotal: Gn 10; Gn 11.10-26; Êx 6.2-7.7; 12.1-20-28; 13.1-16; 16. 5.3.2. Teologia: Esse Documento tem como centro de suas atenções a época de Moisés, pois é o tempo das instituições cultuais. Porém, ele descreve os ritos de sua época projetando-os no período de Moisés, ou seja, cometendo um anacronismo1. Fundamenta suas observações teológicas também nas narrativas dos pactos, conferindo-lhes muita importância, pois, assim, divide a história da salvação em períodos: A criação do mundo, com Adão e Eva; Noé, salvando a humanidade com a arca; Abraão, por meio da circuncisão, tornando-se adorador exclusivo de Javé; e a saída de Israel do Egito, com as prescrições de natureza cultual. 5.4. O Documento Deuteronomista: Esse Documento, denominado (D), foi assim chamado porque manifesta em seu conteúdo a preocupação de fundamentar historicamente por meio de narrativas aspectos da pureza de culto devido a Javé. Assim, é a favor da centralização do culto em Jerusalém, abolindo todas as outras formas de religiosidade; prega o extermínio dos necromantes; proíbe o sacrifício de crianças. O Deuteronomista possui características reformadoras. Ex.: O Livro de Deuteronômio, no Pentateuco! 5.4.1. Alguns textos: Dt 12-26; 31; 32; 33; 34. 5.4.2. Teologia: O D valoriza a Torah, utilizada pelo sacerdote para instruir. Ela não só é instrumento de educação, mas normatiza a vida do indivíduo e da sociedade. O Deuteronomista se interessa pela legislação. Tanto que o cumprimento da Lei, expressa na Torah, capacita a comunidade a possuir e a permanecer na Terra da Promessa. É o documento da Eleição. Javé escolheu Israel como seu povo e lhe deu a posse da terra. A importância da Eleição para o Deuteronomista é vital pois ela é a causa do desejo de relacionamento entre a divindade e a nação. Javé é único Deus, ponto fundamental na teologia de D. Não existem outros deuses! Sendo assim, não pode haver outros lugares de culto: O Templo de Jerusalém é o único lugar onde esta divindade única deve ser adorada! 6. Os Nomes de Deus. Deus é conhecido no Antigo Testamento sob vários nomes. Isto se deve ao desenvolvimento da fé e do conhecimento gradativo das ações de Javé, que se revela aos pais de formas e nomes diferentes. Não pretendemos esgotar o assunto, mesmo porque alguns termos provocam certa controvérsia quanto à sua origem. Mas desejamos apenas relacionar os principais designativos de Deus. 6.1 - : Iahweh (Javé).- Esse é considerado o mais sagrado dos nomes. Provém da raiz HAYAH, que significa ser, existir; esta palavra é raiz também de EVA. Javé, portanto, significa fazer existir, dar vida, criar. Este nome foi revelado a Moisés, quando da presença 1Anacronismo: Narrar um fato ou coisas atuais como se tivessem acontecido em período remoto. Ex.- Falar de Monarquia em Israel quando ainda estamos no tempo de Moisés (Gn 36.31; 40.15; 50.10ss). 9 de Deus na sarça ardente, segundo Êx 3.14. O termo Adonai é utilizado, hoje, para substituir o nome mais sagrado. Adonai significa “Senhor” e ocorre algumas vezes no texto bíblico; 6.2 - : El, Elohim (deus, deuses).- Essa palavra, com sua correspondente plural, designa a divindade. No Gênesis (1.26-27), quando da criação do homem, ela aparece e pode ser vista como a presença de todo o panteão divino convocado para participar do ato da Criação; 6.3 - : Elyon.- Designa a divindade como o Altíssimo, o que não pode ser alcançado, visto nem tocado pelo homem. Está tão inatingível que pode ser considerado a fortaleza inexpugnável. Uma das ocorrências bíblicas encontra-se no Sl 91.1; 6.4.- : Shaday.- O “Onipotente”, mas não somente isso; também “aquele que alimenta, cuida, abençoa”. Esses significados vêm da raiz SHAD que literalmente designa os seios maternos, sendo a fonte de alimento, de vida, de carinho, de amor. DAD possui o mesmo sentido: seios, leite, vida. Assim, Shaday é aquele que pode tudo, inclusive, manter a vida existindo, alimentando- a e cuidando dela. Existem outros termos que designam Deus no AT. Porém, são derivados desses quatro principais. 7. Gêneros Literários do Antigo Testamento. Existe uma grande variedade de modos de falar e de gêneros literários empregados nos livros bíblicos. Suas raízes são encontradas nas antigas tradições do Antigo Oriente, decorrentes de formas vétero-orientais, pré-israelíticas e por concepções que surgiram na Palestina sob a influência da fé em Javé. Esses gêneros estão presentes em toda a literatura mesopotâmica, egípcia e palestina. Conscientes de que o texto bíblico sofre a influência de seu tempo, é preciso levar essa informação em conta ao estudarmos as formas de registro e transmissão desse texto. Muitos gêneros literários dos livros históricos ou jurídicos de Israel não são tipicamente veterotestamentários, mas vétero- orientais. 7.1-: Os gêneros normativos a) Expressões do cotidiano. · O nascimento de uma criança era motivo para serem compostas sentenças por parte dos pais e parentes. As expressões, tais como “Tu tens um filho” Gn 35,17, criava o direito familiar de sucessão. · Em Gn 2,23, lemos que do “lado” do homem foi a mulher retirada. Era uma fórmula para atribuir importância ao casamento. Naturalmente, o divórcio também está contemplado nas fórmulas do cotidiano, registrada em Os 2,4: “Ela não é minha mulher e eu já não sou seu marido”. · Na ocasião da morte, uma fórmula usual era a registrada em Jó 1,21: “O Senhor deu, o Senhor tomou. Bendito seja o nome de Javé!” · Outras máximas estão ligadas à comunidade, tais como as listas sobre as tribos, nas bênçãos de Jacó e Moisés, Gn 49;Dt 33, nas quais os chefes têm seus atributos ou nomes comparados a animais ou situações de vida do cotidiano. A fórmulas tribais constituem a expressão de um temperamento zombeteiro e bem-humorado das tribos no Israel seminômade. 10
Description: