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ANS Cardio PDF

74 Pages·2007·0.36 MB·Portuguese
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Modelo tecno-assistencial do mercado supletivo, seus atores e a qualidade da assistência - Cardiologia Região Metropolitana de São Paulo Relatório final PROJETO DE CENTRO COLABORADOR DA ANS Fundação Getúlio Vargas – Escola de Administração de Empresas – GV Saúde Pesquisadores principais: Ana Maria Malik; Denise Schout Pesquisadores associados: Marisa Miyagi, Paulo David Scatena, Aline R. Andriolo, Marly Mitiko Kawahara São Paulo, Abril 2007 Índice Resumo............................................................................................................................3 Introdução.......................................................................................................................4 Objetivos .......................................................................................................................24 Material e Métodos.......................................................................................................25 Resultados.....................................................................................................................39 Comentários finais: achado, limitações e novas propostas de pesquisa.......................51 Referência bibliográficas.............................................................................................55 Anexos.............................................................................................................................58 2 Resumo Na perspectiva de identificação de padrões assistenciais no setor de saúde suplementar, o eixo metodológico do projeto foi desenvolvido de forma a descrever os itinerários diagnósticos e terapêuticos para determinado sub-grupo de patologias marcadoras para o processo assistencial e relevantes para o perfil de necessidades da população coberta pela assistência suplementar. Foram selecionadas pela sua prevalência as doenças isquêmicas do coração e, entre elas, o Infarto Agudo do Miocárdio como patologia traçadora. A metodologia utilizada foi qualitativa, com aplicação de questionários semi- estruturados a operadoras, médicos e pacientes por meio de entrevistas. Também foi realizada análise de prontuários em prestadores hospitalares. Para selecionar os prestadores, médicos e pacientes pesquisaram-se dois tipos de bancos de dados secundários: base de dados de óbitos ocorridos no Município de São Paulo e banco de dados da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo com as saídas hospitalares dos prestadores privados (Boletim CIH). Cruzando-se essas bases foi extraída amostra de pacientes internados com o diagnostico de Infarto Agudo do Miocárdio atendidos por prestadores privados na região metropolitana de São Paulo para os anos de 2004 e 2005. Foram revisados os prontuários médicos de amostra de pacientes em prestadores escolhidos para caracterizar a assistência hospitalar nos casos de Infarto Agudo do Miocárdio. Desta maneira, identificou-se padrões assistenciais para as patologias selecionadas, formas de gestão das operadoras e quais os principais conflitos entre os diversos atores no mercado suplementar de saúde da região metropolitana de São Paulo. Unitermos: Planos de pré-pagamento em saúde. Setor privado. Administração de serviços de saúde. Regulação pública. Integralidade da assistência. Linha de cuidado. Pesquisa em serviços de saúde. Assistência médica. São Paulo. 3 Introdução A Constituição Federal de 1988 definiu os princípios de assistência à saúde pela criação do Sistema Único de Saúde (SUS), por meio da Lei Orgânica de 1990, que se propôs à universalidade, integralidade e eqüidade. O processo de regulamentação dos Planos e Seguros Privados de Assistência à Saúde vem se desenrolando desde 1991 (portanto um ano depois do nascimento legal do SUS). Em função dele, o Congresso Nacional aprovou a Lei 9656, em 03 de junho de 1998 (CARVALHO, 2003) e foi criada a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) em 2000. Com isto o tema mercado privado de saúde foi introduzido na agenda governamental (BAHIA, 2001). A lei 9.656/98 estabeleceu um novo patamar no processo de regulação; entretanto há que se aprofundar a natureza dessa regulação, seus avanços e limites, a dimensão da organização desse setor, o financiamento da oferta de serviços, as modalidades assistenciais, suas redes e a complexidade dessas relações visando garantir a assistência à saúde e a produção do cuidado. Desde o início da implantação da regulamentação da assistência médica supletiva no país começaram a ser levantadas questões referentes a sua qualidade, ao seu financiamento e ao real fundamento para sua existência. Pode-se dizer que os setores, público e privado, sempre olharam um para o outro com grande desconfiança, acusando-se mutuamente de oferecer serviços de baixa qualidade e de realizar procedimentos desnecessários, utilizando sem necessidade recursos limitados. Uma das premissas com as quais se tem lidado é a necessidade de melhor controle da utilização de recursos pelo setor privado, tendo como objetivo o resultado financeiro, eventualmente levando ao racionamento no acesso aos procedimentos, mais do que a sua racionalização. Para a superação desse cenário impõe-se um novo referencial, assentado no compromisso ético com a vida, com a promoção e a recuperação da saúde (MALTA, 2004). Assim, é de extrema relevância abordar a assistência de forma integrada, articulando-se todos os passos na produção do cuidado e no restabelecimento da saúde. A proposta do presente estudo é mapear a integralidade da assistência pelo acompanhamento da linha do cuidado (projeto terapêutico instituído), como mecanismo adequado para a análise do usuário no seu "percurso assistencial", buscando elementos que revelem com mais clareza a assistência prestada, as interações ocorridas entre o usuário, o prestador e a operadora. 4 Olhando para o mercado em saúde no país, considerando seus participantes (os prestadores individuais e organizacionais, o governo, os fornecedores, os financiadores, as operadoras, a academia e os usuários), é possível perceber uma condição de assimetria de informação. Não se trata de dizer que a posição de um dos atores é mais correta que a do outro, mas sim de reconhecer que, de seus loci institucionais diferentes, eles têm visões de mundo e objetivos distintos. Assim, é de se esperar que os financiadores (no caso as empresas que compram os serviços das operadoras) olhem para suas limitações orçamentárias concretas, quando tomam decisões sobre acesso e/ou formas de financiamento. Não surpreende que os prestadores de assistência (clínicas, hospitais e serviços de apoio) considerem seus custos e sua receita em relação aos diferentes procedimentos que realizam. Parece normal que os profissionais envolvidos diretamente na assistência direta se preocupem com a qualidade da sua atividade, que os fornecedores de equipamentos se interessem pela realização de procedimentos diagnósticos e de terapêutica e realizem estudos que justifiquem sua utilização. Da mesma forma, as operadoras, que atuam como intermediários entre os financiadores e os prestadores de serviços, queiram defender suas margens de ganho. Finalmente, é esperado que os fornecedores de serviços de consultoria se esforcem para convencer os seus clientes do acerto de suas sugestões e que os fornecedores de medicamentos continuem a testar novas drogas em nome da busca constante de cada vez mais saúde e bem estar dos seus usuários. Quanto à academia, por um lado vem desenvolvendo estudos no sentido de descobrir, disseminar e/ou justificar diretrizes de cuidados mais eficazes em relação a cada uma das afecções sobre as quais se debruça, em nome da qualidade na assistência. Por outro, muito mais raramente, busca estabelecer protocolos para levantamento de custos e mudanças na cultura dos profissionais, ou ainda desenvolver pesquisas para analisar o que ocorre nos serviços, tendo em vista seu aprimoramento, pois muito recentemente passou a considerar este como um de seus papéis. O governo brasileiro tem como um dos seus objetivos a universalização do acesso, de maneira a implantar definitivamente o SUS. Uma de suas responsabilidades é o controle da qualidade daquilo que é oferecido à população, seja com financiamento público seja privado. Quanto aos usuários, eles têm seus interesses próprios, entre os quais está, no mínimo, o acesso àquilo que consideram como satisfação de suas demandas, que podem ou não ser definidas como necessidades. 5 Esses referenciais visam à garantia do acesso aos cuidados necessários, o vínculo, a responsabilização por parte da operadora e dos produtores de serviços, para com o usuário, a integralidade da assistência e o monitoramento contínuo dos resultados alcançados, por um processo de trabalho cuidador, e não por uma lógica indutora de consumo (MYNAIO, 1993). Torna-se um desafio para a saúde suplementar incorporar em seu processo assistencial os debates colocados no processo de trabalho, estabelecendo novas vertentes analíticas para avaliar a eficácia e a efetividade do seu papel na prestação de atenção à saúde. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) tem se proposto a discutir novos mecanismos de macro e especialmente de micro-regulação e apontar para o estabelecimento de novos formatos de intervenção (MALTA, 2004). A principio, a principal preocupação dos estudos realizados ou financiados pela ANS era a caracterização do setor de saúde suplementar (segmentação): características de cada operadora e nichos de mercado explorados por cada uma delas. (ANS, 2005). Outros estudos promovidos pela ANS (Modelos Assistenciais e Mecanismos de Regulação) sugerem que a regulação assistencial da saúde suplementar tem grande impacto no resultado final do serviço prestado (o atendimento das necessidades da população beneficiária, de forma integral, resolutiva e com a qualidade necessária). À partir dessa premissa, a Agência pretende realizar mudanças nos modelos assistenciais e nos processos de gestão das operadoras, para torná-los produtores de saúde inseridos no contexto do Sistema de Saúde brasileiro (ANS, 2005). Embora esta ainda não seja uma prática comum, as operadoras podem ser entendidas como gestoras da saúde dos seus beneficiários, ou seja, podem estabelecer ações mais abrangentes, considerando a saúde como um todo, implicando não só a promoção da saúde e a prevenção da doença, mas também a garantia do acesso e a qualidade da assistência ofertada. Visando à garantia dessas práticas pelas operadoras, o Estado precisa intervir na regulação operativa, regulando a relação entre operadora, prestadores de serviços e beneficiários. A regulação do Estado nesse nível deverá ser precedida por um processo de apreensão dessa dimensão, compreendendo como esses mecanismos assistenciais ocorrem no cotidiano. A compreensão e a regulação da assistência supletiva deve considerar as experiências e modelagens produzidas no setor público, com o objetivo de compará-las e assim estabelecer novos conhecimentos. 6 Formas Atuais de Financiamento A nova dinâmica social, produzida pela legislação vigente, trouxe à tona a falsa estabilidade e o forte caráter fetichista existentes na chamada ‘assistência à saúde’ dos planos privados, que enfatizam a assistência curativa. Este setor mergulhou numa agenda de conflitos e reclamos relativos às disputas de interesses entre os diferentes atores. Este cenário está hoje muito influenciado pela mobilização social, que passou a exigir outro tratamento para a questão do sistema privado de atenção à saúde. (ACIOLE et al., 2003). Nesse contexto, é fundamental perceber que o modelo de atenção à saúde está centrado na produção de procedimentos profissionais. Vale ressaltar que a forma de financiamento no setor saúde, seja ele público ou privado, reforça esse modelo, uma vez que remunera por procedimento, tipicamente no modelo fee for service. No setor privado, este quadro é agravado pela utilização de uma tabela de pagamentos que privilegia os procedimentos cirúrgicos. Essa conformação valoriza aqueles invasivos, com utilização de equipamentos e materiais de alto custo. Portanto, o conjunto das intervenções médicas ocupa um lugar central e estratégico entre os atos de cuidar, na modelagem assistencial que atualmente predomina no setor suplementar. Em relatório de pesquisa recentemente publicado (ANS, 2005), as operadoras estudadas exercem pouco ou nenhum controle sobre as atividades dos profissionais, notadamente nas linhas de cuidado investigadas (cardiologia e materno-infantil), ficando as ações empreendidas essencialmente sob responsabilidade do médico assistente. Agentes do Sistema de Saúde Suplementar A regulação pública dos planos privados de saúde busca a construção de novas relações de compartilhamento de riscos envolvidos na prestação de assistência à saúde entre Estado, operadoras de saúde, prestadores de serviço saúde, fornecedores, empresas empregadoras e usuários. É necessário aperfeiçoar os instrumentos já implantados, ampliar a sua efetividade e proceder aos ajustes decorrentes dos impactos do processo na organização e gerenciamento do sistema, de forma a garantir uma melhoria constante 7 e sustentável na assistência à saúde dos usuários, ressaltando que a expansão do setor é requisito indispensável para sua viabilidade futura (BAHIA, 2001). Operadoras de Planos de Saúde: Operadoras de Planos de Assistência à Saúde são as empresas e entidades que atuam no setor de saúde suplementar oferecendo aos consumidores os planos de assistência à saúde. Na visão empreendedora, ao longo do seu processo de evolução, as operadoras de planos de saúde prestaram um grande serviço à população brasileira, permitindo o seu acesso aos serviços de saúde, uma vez que cobriram uma fatia do espaço deixado pela ineficiência, pela ausência efetiva de determinação política e pela incapacidade de financiamento do setor público. Na região sudeste, no início dos anos 80, havia cerca de 15 milhões de clientes dos planos de saúde (exceto os de planos próprios), registrados pela Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge) e pela Federação das Unimeds. Esse número revela a persistência e a consolidação das empresas de planos de saúde como alternativa assistencial para os trabalhadores especializados dessa região (SILVA, 2003). De um setor que atuava livremente sem qualquer interferência governamental, exceto pelos incentivos dados pela compra de serviços pela Previdência Social e pela renúncia fiscal das pessoas físicas e empresas que adquirem planos de saúde, a regulação criou fortes barreiras à entrada e saída das empresas, retirando do mercado cerca de 2.716 operadoras no período 2000 a junho de 2003. Em junho de 2003, 2.313 operadoras permaneciam ativas, porém, o mercado apresentava-se com uma dinâmica de oligopólio, pois, 3,3% das operadoras detinham 52% dos beneficiários (NITÃO, 2004). Além disso, a regulamentação aumentou o acirramento da concorrência entre as empresas do setor, pois as novas regras nivelaram os planos de saúde e trouxeram maiores garantias assistenciais para os beneficiários (SILVA, 2003). O número de beneficiários de planos de saúde permanece estável se compararmos o número captado no cadastro de beneficiários da ANS (36,7 milhões) em 2003, com o suplemento saúde da pesquisa PNAD/IBGE, realizada em 1998 (38,7 milhões). Nesse período, os consumidores representaram o elo mais vulnerável, com pouco controle sobre o acesso aos serviços de saúde e à qualidade da assistência prestada. 8 Respaldadas pela ótica dos direitos dos consumidores e defesa da autonomia médica, as políticas governamentais se direcionam para também garantir os interesses dos clientes dos planos, impedindo as restrições ao atendimento e, portanto, a negação da utilização de procedimentos. As ações geradas por essa política diferem do controle da seleção de riscos, que é até aceita pelos consumidores, desde que incluída com clareza nos contratos (BAHIA, 2001). Poder Público: O Estado Brasileiro esteve afastado por muito tempo do seu papel regulador nas atividades iniciais da saúde suplementar, devido ao seu envolvimento na evolução da reforma do Sistema Público de Saúde.. Outro problema, pelo pouco desenvolvimento do setor de saúde suplementar entre as políticas públicas do setor, é que os processos, as informações, a análise econômica e, em especial, os resultados da qualidade da assistência prestada eram muito pouco conhecidos pelo Ministério da Saúde (MS). Dessa forma, uma grande parcela da base de dados e das informações do setor de saúde no Brasil, até 2007, contemplam apenas os números e as correspondentes análises dos serviços realizados pelo setor público, desconsiderando a situação e os resultados das ações de saúde que são prestadas a aproximadamente um quarto da população brasileira (NITÃO, 2004). Os embates sobre a regulamentação pública se estenderam para dentro do aparelho do Estado: enquanto o Ministério da Fazenda defendia uma regulação governamental de menor intensidade apor meio da SUSEP, onde o centro era a regulação econômica e financeira, o MS defendia uma ação mais efetiva do Estado, colocando a regulação também sobre o aspecto assistencial. O modelo da regulação bipartite, feita pela SUSEP e pelo MS, se arrastou até a criação da ANS, como um órgão regulador único, saindo vitoriosa a tese do Ministério da Saúde (MALTA, 2004). A Agência de Saúde Suplementar (ANS) foi criada com autonomia orçamentária e decisória e se assemelha às demais agências reguladoras quanto à estrutura organizacional e autonomia (MALTA, 2004). Prestadores de Serviços: 9 Atendidos nos seus interesses mais imediatos, notadamente pela progressiva redução no número dos pacientes particulares (chamados out of pocket) e pela crescente deterioração do seu relacionamento com a área pública, os prestadores de serviços médicos buscaram compor uma associação forte e firme com as operadoras de planos de saúde. Pesquisa desenvolvida pela Escola Nacional de Saúde Pública em 1995 aponta que 75% a 90% dos médicos declararam depender diretamente dos convênios para manter suas atividades em consultório (NITÃO, 2004). É importante observar que nos contratos entre operadoras de planos de saúde e prestadores de serviços os aspectos de qualidade assistencial não são o foco principal da relação. O maior determinante sempre foi a capacidade de vendas que o credenciamento de um prestador de serviços possa gerar para a operadora de planos de saúde e, especialmente, a sua tabela de preços. Por outro lado, a adoção do credenciamento dos mesmos provedores de serviços como estratégia para a organização das sub-redes, para cada tipo de plano, tem como conseqüência uma homogeneização dos produtos, determinada, na prática, pelos provedores de serviços e não pelas operadoras. Fornecedores: Com base nas informações do Sistema de Informações de Produtos da ANS, o poder dos fornecedores é maior nos planos individuais e nos coletivos por adesão do que nos coletivos com patrocínio (nos quais o empregador arca com parcela ou com a integralidade do pagamento dos custos do benefício). Ou seja, quanto mais livre a utilização dos serviços maior o custo assistencial. O sistema de informações, no entanto, não permite identificar o poder dos fornecedores em relação ao tipo de rede, se contratada, terceirizada ou própria. O estímulo à formalização de contratos dos serviços profissionais, da rede de diagnose e terapia e hospitalares aponta que os fornecedores terão seu poder ampliado com a regulação da sua relação com as empresas, o que contribuirá para o aperfeiçoamento da estruturação do setor, ao mesmo tempo em que exigirá o desenvolvimento de novas habilidades gerenciais das empresas para mantê-las lucrativas (NITÃO, 2004). Organização da Categoria Médica 10

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