o 1 9 3 Ano 1 . 'N.º 10 ADMINISTRADOR-Valenlmo de Sd (f. !\[. U. T.::,.) EDITOR - Armando Lopes (F. S. U. L.) PROPRH~DADl~-SocIEDADE NACIONAL EDITORA, L'l'D.ª (Em orj?anização) REDACÇÃO. E ADMINISTRAÇÃO Rua do Sol a Santa Catarina, 40-A, 1_" COMPOSIÇÃO E IMPRESSÃO Tipografia lngleza, L.da - Rua EugenlO dos Santos, 118 - LISBOA A..SSIN"" .A.' I"LTR..A.S (Cada serie de 10 numeros) C o:n.ti:n.e:n.te e Ilho.a, 10$ 00 P rov-i:n.cia.s Lrltra..mari:n.as 15$00 E stra.:n.geiro .. !.20 $ 00 1'l"u.meZ.o a.vu.lao E5$C>C> DR. AMARAL PYRRAIT A.RTHUR OE' CAMPOS FIGUE!RA ADVOGADO M~DICO Ru3 Nova do Alm;ida, 54, :.<> CoNSULT OR.10 : Rua Anchieta TELEF. C. 3024 LISBOA tISBOA ":" [ste numero foi visa~o ~ela Comissão ~e Censura Puhh REVISTA QUINZENAL ORGÃO DA JUNTA ESCOLAR DE LISBOA DO INTEGRALISMO LUSITANO Ret11ct11 •llnclJal-Antonio do Amaral Pprrail (F. D. U. L.) Lisboa, 10 de Janeiro de 1930 ~~ Ç'.,.~---- ~ 1 ~A~~~~ CARIDAOE DE PATRIA SE bem entendo o proposito dos organisadores de este fasciculo da Po/Jlú:a, pretendem eles ajuntar materiais para o estudo da perso nalidade excepcional de Antonio Sardinha. Sendo assim, creio que o melhor modo de contribuir para o conhecimento intimo do po deroso animador do nacionalismo português é ainda acordando a sua voz que o podemos achar. Antes que o tempo espalhe e leve as folhas das suas cartas, impõe se o trabalho ele as coligir. Não faltarão a ele, - penso, - os devotados amigos que chamaram a si o encargo nobilissimo de ordenar e publicar os escritos de quem tão apaixonadamente revelou a cousciencia intele ctual da jU\·eutude do seu tempo. O epistolario de Antonio Sardinha deve ser o feixo da obra em que a sua vida se consumiu. Ahi se verá, talvez mais pura, a chama da fé que o trazia abrazado. 'rodos os sentimentos se confundiam, no seu coração, num s6 amor. As alegrias mais ternas, os afectos mais meigos, ser\'iam-lhe sempre para justificar e exaltar a sua paixão nacionalista. Nas cartas que me escreveu - e guardo preciosamente, porque nelas ficou a con\'ersar comigo - essa forma de ser alcança prespectivas unicas. Antonio Sardinha não sabia separar a sua viela da vida da Nação. E se tão cêdo se extinguiu, não é errado dizer que lhe rasgaram a carne as feridas da Pátria! Esse sonho exaltado libra as asas e palpita nas cartas que vou abrir. Em maio de 1911 ainda Sardinha sacrificava aos idolos da Revo lução. Já por êsse tempo se formavam na Galiza os nuclcos que haviam de <lar batalha á nova republica. Ao fim de cada tarde anunciava-se a revolta libertadora para a manhã seguinte. As férias da Pascoa tinham terminado, e como a prometida revo lução se não desse, Sardinha escrevia-me de Monforte, num gracejo que não escondia o contentamento ... . . . •Resigno-me, pois, a voltar a Coimbra com a Republica Portuguesa, quando me estava annunciado só voltar com o reino de Portugal ! Esperei, esperei, e se me descuido acontecia-me como aos sebastinnistns ! Eh, Luis ! Em má hora te meteste a privações! Em má hora armaste em Bandnrra ! E caíste em ir para o exilio, coutando voltares triumphante, com D. Paiva á frente, comandando a gloriosa milicia ! Surriada, Luis, surriada ! Dr. J'i.nfonio 8ardinha POLITICA Meio ano depois (23 de janeiro de 1912) já era outro o tom das suas palavras: Meu querido Luis: Tu tens sido o maior dos ingratos! Nem uma palavra te mereci ainda, nunca uma lembrança tua chegou até mim a assegurar-me que tu eras o mesmo de sempre, - o companheiro amoravel, a creatura doce, que tanto valias á gente nas horas tristes duma vida vasissíma ! O teu silencio eu fujo de interpreta-lo co1110 uma falta de confiança; mas, pensando bem, desde que sei que tu s6 a mi11t me exceptuas, dos antigos camaradas, - que a todos dizes de ti, que a todos contas a tua saudade, eu, francamente, não posso deixar de vh na atitude cerrada em que para mim te mantens um signal de duvida, quando não de excomunhão! Tens sido um ingrato, Luis ! E se porveiitura pelo teu cspirito te passa a idéa feia de que eu te reneguei, oh, meu amigo, prefiro antes que me cuides um suspeito do que um misero judas! Não! A minha alma depurou-se de certas excrecencias indignas de mim, - de todos os que se elevam nas asas dum sonho alto, insaciavel. Eu hoje, na solidão da minha stepe, vivo a sós comigo, com a braza inquieta que me devora. Elia me queimou as impurezas em que me aba· fava, não ba já odio nem paixão vil, estreita, que me possa inflamar. Apartei os olhos da vergonha que me cerca e acastellei-mc na sagrada religião da Esperança. Como te repudiar?• A' vista de tantos estragos, a ilusão antiga entrava a esboroar-se. Adivinha-se, na melancolia desta carta, o conflito em que a alma de Sardinha se debate. «II est sans doute difficile de changer, au cours de sa vie, les doctrines qu'on a découvertes dans l' atmosphêre intellectuel de sa jeunesse,» notou algures Henrique Massis. A atmosfera intelectual, em que o espirita de Antonio Sardinha desabrochara, era agora batida por ventos contrários, e sob a tempestade, que se desencadeou, tudo se desmoronava em Portugal. Antonio Sardinha viu-se só, entre escombros. E na soledade ardente que o envolveu, as vozes da courela natal chegavam a ele, murmuravam lhe ao ouvido inquieto o segredo da criação, e deixavam.no ficar sus. penso, a rever o que tinha sido ... A vida negava o que ele aprendera. Palavras, definições, sistemas, como eram diferentes do uso que lhes dera! SLtbm~teu então a duro exame tudo o que seduzira a sua imaginação juvenil. E conformando a sensi· bilidade ao ritmo das coisas eternas que o cercavam, um outro homem acordava em si. Tocado do entusiasmo, lirico. que outra vez o feria, escreveu·mc: cQueridissimo Luis: Escrevo-te em vinte e quatro de abril, em vespera do Senhor San-1\Iarcos, um dos quatro que disseram da vida de Jesus e padrinho dos bois e dos Ooieiros de toda a Cristandade. Amanham, perto d'aqui, uuma engalanada cnnidinha, ó. hora da missa, por entre os fieis, um novilho de dois annos entrará pela nave acima até ao altar-m6r. •Entra, :Marcos t.: - lhe gritaram POLI'fICA os mordomos da festa, que com varinhas o irâm tangendo, que o animal se poluiria se as mãos humanas o tocassem. cEntra, Marcos!> E junto aos degraus do taberna culo, com as hastes enastradas de fitas e de hcrvas de cheiro, a rez, em vez de tombar sob o cutelo sagrado, em nome da verdade receberá a benção da Igreja e nos cornos se lhe cantará o Evangelho do dia. "Entra, Marcos!• E o engelhado Topsius que habitava dentro de mim acaba de descobrir que essa festa, que o Cbristiauismo conservou e santificou, tem raizes milenarias, descende da festa do Touro que uma civilisação pré-àrica bronzifera, espalhou por toda a Europa. Mr. Homais rir-se-ia da ingenua solenidade e aproveitar-lhe-ia a origem para atacar a pobreza creadora do Christianismo e a mentira das Religiões. Eu, como homem que estudo, solidifico com o fado a minha crença vendo nele um sinal claro dessa curva ascencional do homem primitivo para a Perfeição, que é Deus . .itntra, Marcos!~ E hoje as .ladainhas saem pelos campos - safam - a rogar ao Ceu pelo renovo primaveril, pela messe que se aformosêa, pelos fructos que des pontam. Como Portugal estara lindo! - exclamava na tua carta a tua nostalgia. Como Portugal está lindo e como elle te manda saudades, meu amigo! Floresce o rosmaninho, a planta que soalha as igrejas em Quinta-feira de Eudoenças e que, assistindo à scena do Cal vario, perpetuou na sua auterissima floro sangue inocente do cordeiro. •Como Portugal está lindo! E quando eu olho o tapete das searas que ante os meus olhos se desenrolam por dez leguas infinitas, eu penso naquele romance de Melchior de Vogl1é, - les morts qui parle11t. A verdadeira França, ai ! não é a que se estorce e debate no Palácio Ilourbon, - não é a que governa e se divide em programas politicos irrealizaveis e perturbadores, mas a que trabalha e canta sempre, - aquella que encolhe os bombros na ignorancia do 1101110·/"'õ/ú:us que aleilôa, aquella cuja seiva eterna dá filhos á Patria e dinheiros á bolsa sôfrega do Estado. Lembras-te? •Ah, meu amigo, como nesta hora má é bom sonhar, trazer por entre as coisas simples a alma excruciada. Abatidos os pendões que uos separaram e empurram para um agonisar sem gloria, - em nós os que amamos e sentimos se recolhe e toma expressão a consciencia, a dignidade nacional. Conservemo-la, traduza-se em paginas que a vinculem, - eis o que cumpre fazer, querido amiiio ! Por isso a alma se levantou com as asas mais foitas na mauham abençoada em que a tua carta 'me contou de ti e dos teus projectos.~ E acrescentava algumas linhas abaixo ... . . . •Penso em conquistar prosa e vou agmentando a minha bagagem de Topsius. E' que sinto em mim qualidades de historiador e é ai que melhor serviço poderei dispensar á nossa pobre terra.• Não se enganou. Os erros de historia emendados por Antonio Sar dinha são, talvez, a parte mais nova e mais uti1 dos livros que nos deixou. 'rerminava essa carta por este modo ... 4 POLITICA· ... •Ha mais de um anuo que não nos vemos. Tas tu para as ferias de Pascoa e cu foi á estação. Levavas o RimOOud que tanto tempo namoraras. Lembro-me ou não?• Tambem eu me lembro. O livro de Artbur Rimbaud, a que Sardinha se refere, estivera por longo tempo exposto numa das montras da Livra ria do França Amado, junto da Enquéte .rur la MonarcluC, de Carlos l\faurras. Passa vamos horas a couversar ali. E recordo até que brincando com o republicanismo de Sardinha, eu lhe mostrava o exemplo do com panheiro dilecto de João Moréas, do discípulo amado de Anatólio France que levantava na mão firme a lança de Minerva contra os dragões da Democracia. · Eu andava por longe. Terminadas as correrias pelas veigas de Chaves, fui com vagar subindo até á meiga Flandres. Ahi me chegou, datada de 30 de Dezembro de 1912, a seguinte carta, tão sentida que não se lê de olhos enchutos: cl\Ieu querido expatriado: já sabes naturalmente por outros aquilo que só por mim devias saber. Mas eu andei mezes sem novas tuas e só aí por setembro tornaram aparecer postaes, contando-me com a tua saudade a vibração amiga duma alma que tanto se identificou com a minha na arrancada dos mesmos sonhos, nos entusiasmos da mesma mocidade. Marcavam-me esses postaes o roteiro da tua vida errante, não te podia eu alcançar com a noticia alvoroçada que o meu coração te guardava. Chegaram enfim' letras annunciando-me o enraizamento. O quoticlianismo da vida com os seus mil e um tropeços impediram-me então do cumprimento do gostoso dever. Abraço-te, pedindo-te desculpas, e deixa que eu sinta a tua alegria na alegria com que te digo que me casei. Casei-me no dia 28 de agosto, Nosso Senhor teve um sorriso de pae para com o casalinho e um bispo nos deitou a sua benção. Casei. E unindo-me a quem será ao longo da minha existencia um motivo constante de inspiração e confiança, eu alevantei um hino de certeza 110 futuro, ganhei a imortalidade, acendendo o fogo dum lar. Dos amigos - dos raros - só o bom Hipólito me acompanhou. Aos outros, presentes na comoção com que os evocara, um vento mau os dispersara, levara-os para longe ao acaso a cegueira criminosa do nosso tempo. E ao entrar no ninho que entretecera, eu alembrei-me de Vocês, ao Deus-dará sob ceus estrangeiros, ouvindo aquellas falas que a gente não entende e que já o bom Froilão do A/fagw1e amaldiçoava porpôrem doença na alma e no corpo do des}:!'raçado que as escutasse, empurrado para fóra da vila natal. Eu. alenthrei-me de vocês e apertei-os todos nos meus votos, envolvi-os llll. minha felicidade, ó companheiros amora veis duma hôa hora que não torna! •Casei-me, Luis, -é verdade! Mas com que tristeza, ao entrar no meu lar, eu reparei que levava as mãos vazias, que os meus vinte e cinco annos não tiabam como os vossos a grandeza duma abhegação, a aureola dum sacrificio. E admirei vos, admirei.te! Vós sois no nihilismo moral que nos abafa o fermento sagrado que ha-de levedar uma Patria. De cá vos saudo, como te saudei no momento su· premo em que deixava de ser um ponto, u.ma pausa, para me tornar o anel duma cadeia infinita. ·P'Ol1 T!CA cCorri depois o nosso Portugal e Já estive em Chaves rezando com minha mulher sobre a campa raza dos Martires Bendito sangue, que foi uma sementeira de milagre! "'Recordas-te, I,uís de um dia me dizeres na tua casa, ao fim da geropiga e entremeiando um cavaco com a senhora Tbereza (passei a \"alpassos, - a terra della) que o erro jacobino havia de morrer em mim, por incompativel com a sin ceridade que cu lhe consagrava, e que os meus olhos se abririam para as verdades eternas? Pois, meu amigo, meu Irmão, lêstc fundo na minha alma e com alegria te conto a minha conversão à Monarquia e ao Catholicismo, - as unicas limi tações que o homem, sem perda de dignidade e orgulho, pode ainda aceitar. E eu abençôo, eu abençôo esb Republica tragico-comica que me vacinou a tempo pela JiçãQ da experiencia, que livrou a minha existencia dum desvio fatal. Rapazes, saibam lá que em Portugal a crença monárquica propera, saibam que, se repudia mos a miseria part.idaria dos bandos antigos, muito mais repudiamos a oligarquia criminosa que nos escorcha ! A Monarquia que venha reinstalar a paz neste pobre paiz, que se reorgauizem os fundamentos sociaes por um acto de inteligencia e força, senão pulvcrisar-nos-emos numa vergonhosa derrocada! «Conta-me, conta-me de ti, Amigo, dize-me se a minha esperança não me ilude. .. • Não, a esperança não o iludiu. As gerações que vieram depois da nossa, comnosco barraram o caminho á mentira de.mocratica, e a iute. ligencia portuguesa, livre de extranhas excrecencias, afirma.se e con. fessa-se publicamente. Antonio Sardinha entregou·se ao apostolado novo com fervor nunca visto. E êlc, que sentia como ninguem os encantos da Tradição e dela tirava os mais belos motivos literarios para os seus versos e os mais nobres estimulos para a sua acção politica, anunciava.me assim o seu primeiro estudo nacionalista: «Meu querido Luis: Escrevo-te em vespera de S. joão,- do S. joão da agua-santa, com a hcrva-serpentina cantando à meia-noite a trova suspirosa, e as lindas moiras encantadas estendendo ao caminheiro da borda das fontes os la vrados cantaros de prata. Escrevo-te em vespera de S. João, d'alma toda embe bida no misterio do solsticio, desabrochando em rosas de fogo sob os pés chagados do grande filho de Isabel. Oiço como que crescer as raizcs cm estremecimentos sagrados. E a tradição da Raça passa-me, inteira, completa, deantc das pupilas semi-cerradas para a penumbra doce! Sam as •alvoradas>, é o sono de S. João, é o jogo das canas mai-lo o alferes da bandeira, pessoa de bôa christandadc, com o gonfalão desdobrado por entre as raparigas, - é a .. senhora Camara•, de capa e varas nobres, reverenciando o Baptista gloridso. Ah, meu Amigo, como não bas-de tu ser lembrado pelo meu coração, - pobre despaisado, que mais do que nunca te sentes enraizado, na religiosidade calma deste momento, como nas espiraes da evocação não aparecerá o teu vulto miudinho, com alguma coisa da tristeza divina de Anto, com muito de D. Gil Valadares, - tu que conhecestes os peri&os da POLITICA guerra e aprendes agora o vario saber em vila alheia, falando falas alheias?! Eu lembro-te, meu Amigo, e deixa que de longe te deseje a paz e te ofereça os bolos de S. João aquele que a paz conhece e que em S. joão acredita com a fidelidade dum cat61ico que se esforça por sê-lo! O bem esteja contigo mais a graça de Deus K osso Senhor ! cVi rimas tuas, Irmão, na <Alma Portuguesa>, que vem trazer uma nota viva de Esperança á minha Esperança sempre viva. Na hora em que escrevia da minha fé sobre os moços portuguêses, nessa hora a bôa mensageira me entra pela casa adentro numa aleluia consoladora. Não me enganara eu, - não! e ainda-bem que o integralismo lusitanista adquire para a consciencia da nossa geração o alto se11tido crcador que com ele mora e nele lateja em frêmitos fortes de vida! Eu trabalho, - não num poema, meu Amigo, mas num farto livro viril, - «A verdade portuguêsa•, que é a sistematisação do que se pode, em realidade, considerar como pr6prio e original, como progressivo e expontaneo, na nossa maneira de ser colectiva. E. o misticismo da Raça que eu ali procuro corporisar, sam os prejuizos inimigos da nossa. historia que ali se denunciam e desbaratam, é a revisão das possibilidades organisadoras do genio nacional, o minucioso exame de consciencia da nossa epoca que já leva ele vencida cosmopolitismos e theorisações sociais para se reconciliar de novo com essas duas grandes verdades que sam o Catboli cismo e a Monarquia. Tu verás depois e contigo veram os bons camaradas que tam distantes e com espirito tam alevantado se agrupam em torno do guião lusi tanista, como lábaro dum amanham melhor. A palida tendencia estética do «Tron&o rn•ereúlo• desdobra-se naquelas paginas quentes em amplos motivos de disciplina e resnrgimento. E o que me anima mais é que um ambiente se dispõe, favoravel, unico. O neoromantismo que se desprende das almas em embulição, sedentas de equilibrio e certeza, tende a polarisar-se por todo o lado 110 sentido duma justa integração localista, a crise bistorica que o nosso pais atravessa reveste de exigencias imperiosas o que noutras condições bem poderia ser apenas para a mocidade culta uma pacifica atitude psicologica. Hoje a Acção reclama-nos e, como outr6ra em tempos de misticismo militante, não é o convento que Deus nos aponta, querido Amigo, é a Obra social, - a redenção das massas deschristianisadas, a metodisação catholica da necessidade sindicalista, a devolução:\ indissolubilidade familiar, - todo o vasto campo do resgato sacrosanto dos outros! Por isso, tu de ves voltar, voltar um dia, que bem perto andará, com a linda bandeira exilada e com os pioneiros do mesmo sonho, servires a gloria do Senhor, trabalhando pelo teu semelhante, ensinando-o a amar e a esperar. A Alma Portugw::a, a que Sardinha alude nesta formosa carta, era uma revista de estudantes, em que alguns rapazes, exilados na Bclgica depois de terem experimentado as armas contra os soldados da Repu blica, ousadamente se propunham modificar a mentalidade fossil da gente do seu país. Ahi se abriu pela primeira vez o pendão do Integralismo Lu sitano e se proclamou a doutrina reparadora da Patria em ruínas. O neo ro111autúmo era o assumpto finalmente versado pelo melhor companheiro que lá tive: Domingos de Gusmão Araujo.
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