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Ângela Maria da Silva Gomes PDF

272 Pages·2011·8.56 MB·Portuguese
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Universidade Federal de Minas Gerais Departamento de Geografia Ângela Maria da Silva Gomes Rotas e diálogos de saberes da etnobotânica transatlântica negro-africana: TERREIROS, QUILOMBOS, QUINTAIS da Grande BH Minas Gerais - Brasil Julho de 2009 ANGELA MARIA DA SILVA GOMES Rotas e diálogos de saberes da etnobotânica transatlântica negro-africana: TERREIROS, QUILOMBOS, QUINTAIS da Grande BH Tese apresentada ao Programa de Pós- graduação em Geografia, Doutorado em Geografia, do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Geografia. Área de concentração: Organização do Espaço. Orientadora: Prof. Dra. Heloísa Soares de Moura Costa. Belo Horizonte Departamento de Geografia da UFMG 2009 G633r Gomes, Ângela Maria da Silva. 2009 Rotas e diálogos de saberes da etnobotânica transatlântica negro- africana [manuscrito] : terreiros, quilombos, quintais da Grande BH / Ângela Maria da Silva Gomes. – 2009. 220 f. : il. Tese (doutorado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Geociências, 2010. Área de concentração: Organização do espaço. Orientadora: Heloisa Soares de Moura Costa. Bibliografia: f. 212-219. Inclui anexos. 1. Etnobotânica – Teses. 2. Quilombos. – Teses. 3. Candomblé – Teses. I. Costa, Heloisa Soares de Moura. II. Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Geociências. III. Título. CDU: 911.3(815.1) Para Maria Clara e toda a ancestralidade africana AGRADECIMENTOS OLORUM MODUPE Uma nota de agradecimento começa pelos que iniciaram e aceitaram esse desafio: minha orientadora Heloísa Soares de Moura Costa, pela sua perseverança, e coragem de trabalhar com “os saberes invisíveis” da metrópole. Agradeço à banca composta de pessoas que admiro tanto e que são minha referência em cada trecho escrito da minha vida, e que me acompanharam nesta rota: Rafael Sanzio de Araujo dos Anjos, Dalmir Francisco, Heloísa Greco, José Antônio de Deus, Cássio Eduardo Vianna Hissa. Ao Cássio Eduardo Vianna Hissa agradeço, mais uma vez, pela acolhida na Geografia, por compartilhar esse espaço sonhado do diálogo com a arte e com a magia dos quais nascemos todos. Agradeço ao meu Babalorixá Henrique de Oxalá, Olorum Modupé. Logum obo si fu o. Que águas de oxalá te cubram cada vez mais de sabedoria. À minha primeira benzedeira, que me ajudou a aportar do navio negro-africano, à minha mãe Helena e ao meu pai Hélio Gomes, que dizia “que o único bem que podia deixar para seus filhos era o estudo”. Agradeço a toda a minha família, com os quais me reúno em busca do sonho africano de liberdade. Em especial às minhas sobrinhas Vanessa Gomes e Juliana Gomes, que entraram carinhosamente na construção desta tese. À minha família do Omokorins do Ilê de Oxaguian, sem os quais nada disto seria possível. Agradeço a todas as casas de candomblé e a toda a comunidade de santo entrevistada, que transformaram a pesquisa em rituais mágicos de aprendizagem. À Mara, Olorum modupé, pela dedicação, pelo acolhimento, pelo carinho com minha escrita, com minha vida e por carregar a beleza da sabedoria feminina na tradução dos intrigados textos da vida. Em um mundo tão desumano existem pessoas como você que redesenham as possibilidades de oferecer um futuro ao mundo. Modupé. O agradecimento se estende à comunidade quilombola do Sapé, Rodrigues e Marinhos, pela disposição de responder as questões com tanta paciência, em especial, à Lady e ao Antônio Cambão, pelo aconchego do lar e pela irmandade construída. Aos moradores do bairro Havaí, pelos encontros nos quintais, entre curas e magias compartilhadas, em especial à dona Maria Braz e Sr. José Maria : que a humanidade simplesmente aprenda que quando se ganha uma planta estamos diante do dia mais feliz de nossas vidas, como aprendi com vocês. Ao Movimento Negro Unificado, minha primeira escola de humanidade negro- africana, o qual tenho o prazer de compartilhar esses olhares libertários. Meus mestres primeiros, que me ensinaram “que a felicidade do negro é uma felicidade guerreira”: Milton Barbosa, Jorge Posada, Lelia Gozalez (in memorium), Marcos Cardoso, Reginaldo Bispo, Ana Lúcia, Lúcia e Lucimar,Arnaldo,Bela, Eduardo Baleia,Tereza,Purinha e demais militantes do MNU, meus irmãos de navio transatlântico. Aos meus amigos do UNI-BH que contei com o carinho, a solidariedade nos momentos em que as energias se confundiam entre trabalho, tese, vida. Serei sempre grata. Muito obrigada aos que entraram na minha rota e estão comigo até este ponto: André, Rodrigo, Malu, Júlio, Márcia, Guilherme e todos os amigos de trabalho. Agradeço à minha filha e a ela dedico este trabalho, fruto do seu encanto e de um sonho que só se torna possível na luta pela sobrevivência desse transatlântico. Obrigada, minha filha Maria Clara Núbia. Olorum Modupé. Moju ba mi Orum Moju ba mi Aiê Mojuba ba mi ossaim Mojuba baba mi Mojuba ya mi. A gente planta, eu planto, mas, para mim, quem cuida das folhas é Ossain. Aprendi que todas as folhas são sagradas. Aprendi no candomblé. Minha ancestralidade se reencontra no candomblé... Divindade só tem relação com a diversidade. Qualquer um pode sentir esta energia, independente de religião. Para mim não é só o homem quem cuida das plantas, para mim que sou do candomblé, não é só o homem. Somos a alavanca que conduz, para que as ervas perpetuem. A gente planta, mas tem que ter a energia, tem que ter a volta do axé ... Agradar a natureza. (Babalorixá Henrique de Oxalá, 2009). RESUMO O tráfico de africanos no Atlântico representou não só o traslado de pessoas, mas também de saberes que promoveram o intercâmbio entre culturas e plantas na diáspora. Saberes etnobotânicos e práticas sociais diversas que se manifestam no transcurso da história do Atlântico Negro, seja na fitoterapia, na agroecologia, ou nas expressões de religiosidade de matriz africana, como o candomblé. Traça-se uma rota cultural, do transatlântico África-Brasil, desses saberes etnobotânicos, do período escravista até a atualidade, em diferentes territorialidades, desde os terreiros de candomblé, os quilombos até os quintais de vilas e favelas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Busca-se compreender as aproximações da cultura nagô, banto com o Brasil, dentro de Minas Gerais, tendo a etnobotânica como base epistemológica e de contextualização política. Levantam-se significações, sistemas de curas, a botânica litúrgica negra- africana a partir dos saberes das plantas produzidos nos terreiros de candomblé, nos quilombos, e nos quintais urbanos de vilas e favelas. Analisa-se a construção e a sobrevivência dos saberes tradicionais de matriz africana nagô e banto, em termos do patrimônio ecológico e cultural. A hipótese dessa pesquisa é que, mesmo diante do paradigma moderno, de (des)territorialização dos saberes etnobotânicos negro-africanos, produzidos pelos sujeitos sociais na diáspora africana, haveria processos de territorialização a partir da produção de saberes complexos das plantas, capazes de produzir novas racionalidades. Desenvolve-se uma reflexão sobre as condições de apropriação cultural da ciência moderna, sobre a apropriação econômica dos saberes tradicionais da etnobotânica, as estratégias autogestionárias, em contextos mais amplos de justiça ambiental. Palavras-chave: etnobotânica negro-africana, Atlântico Negro, territorialidades, quilombos, quintais, candomblé. ABSTRACT African slave trade in the Atlantic represented not only people on the move, but also of knowledge that promoted culture and plants exchange in the diaspora. Ethnbotany knowledge and different social practices that appeared in the historical movement in the Black Atlantic, either in phytotherapy, agroecology or religiosity expressions of the African matrix such as the candomblé. It is possible to delineate a cultural route of the transatlantic Africa-Brazil, of this ethnobotany knowledge, since the slavery period up to present times, in different territorialities, starting in the candomblé terreiros, the quilombos, to the urban backyards in the villas and slums (favelas), in the Metropolitan Region of Belo Horizonte (RMBH). One seeks to understand the affinities of the Yoruba and Bantu cultures and Brazil, inside Minas Gerais, having the ethnobotany as the epistemological basis and political contextualization. Meanings, healing systems, the black-African liturgical botany were searched, beginning with the knowledge of plants produced in candomblé terreiros, in the quilombos and in the urban backyards in vilages and slums. Construction and survival of traditional knowledge of Yoruba and Bantu matrix, in terms of ecological and cultural heritage. This research hypothesis is that even faced with modern paradigm of deterritorialization of black-African ethnobothanical knowledge produced by the social subjects of the African diaspora, there would be territorialization caused by production of complex knowledge of plants, building new rationalities. A reflexion about the cultural appropriation (or borrowing) of modern science and appropriation of traditional knowledge in ethnobotany, as well the strategies self, in broader contexts of environmental justice is also developed. Key-Words: black-African ethnobotany, black Atlantic, territorialities, quilombos, (urban) backyards, candomblé. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................... 13 Saberes e sabores: a leitura que antecede a escrita ............................................................................... 14 Na rota da pesquisa ................................................................................................................................. 16 Caminhos metodológicos ......................................................................................................................... 18 Pesquisando os saberes .......................................................................................................................... 20 A escolha da área e dos sujeitos da pesquisa ......................................................................................... 21 1. Migrações, alteridade e ciência ........................................................................................................ 30 1.1. Caminhando sobre pontes e pinguelas: fluxos e refluxos ................................................................. 31 1.2. Desterritorialização e re-territorialização: migrações e migrantes .................................................... 32 1.2.1. Migrações forçadas e movimentos compulsórios ................................................................... 34 1.2.2. Diáspora africana enquanto metáfora e condição .................................................................. 38 1.2.3. Os discursos: da territorialização à (re)territorialização – identidade e racismo ..................... 42 1.2.4. Rotas transmarítimas, fronteiras culturais ............................................................................... 45 2. Rotas: entre povos, falares e folhas ................................................................................................. 48 2.1. Aproximações: origem dos africanos e os saberes das plantas ....................................................... 52 2.2. Minas Gerais: africanos e suas línguas ............................................................................................ 61 2.3. No Oceano Atlântico: tantos falares, tantos iorubas e bantos .......................................................... 66 2.3.1. Os falares banto ...................................................................................................................... 68 3. Colonialismo, natureza e ciência ...................................................................................................... 74 3.1. O desafio da biodiversidade e da diversidade cultural ...................................................................... 79 3.2. Plantas, saberes e migrações ........................................................................................................... 84 4. Plantas: entre a cura e a magia e o feitiço do racismo ................................................................... 94 4.1. Entre plantas e ritos: a etnobotânica ................................................................................................. 96 4.2. Fluxo e refluxo: as plantas no transatlântico negro ........................................................................... 105 4.3. Plantas, podas e conduções: ciência, magia e exterioridades modernas ......................................... 108 4.4. As cidades e segregação étnica ....................................................................................................... 112 4.5. O racismo: uma condição para a segregação étnica e epistemológica ............................................ 114 4.6. Territorialidades invisíveis e segregadas das cidades ...................................................................... 118 4.7. Planejamento moderno e planejamento possível: os saberes dos quintais ...................................... 123 4.8. Territorialidades e direitos ................................................................................................................. 125 5. As plantas das territorialidades: terreiros, quilombos e quintais ................................................. 131 5.1. Caminhando pelas rotas culturais de plantas ................................................................................... 134 5.1.1. Os terreiros de candomblé: folhas e mitos .............................................................................. 137 5.1.2. Quilombos: as comunidades quilombolas de Marinhos, Sapé e Rodrigues ........................... 142 5.1.3. Quintais ................................................................................................................................... 145 5.2. A memória das plantas: saberes, sabores e curas ........................................................................... 146 5.3. Terreiros, quilombos e quintais: a diversidade biológica e a diversidade dos mitos ......................... 152 5.4. Três tambores: transatlântico negro .................................................................................................. 155 5.5. Caminhando pelas rotas ................................................................................................................... 163 5.6. Aproximações e comparações .......................................................................................................... 180 5.7. Comparações e diferenciações ......................................................................................................... 190 5.8. Os significados .................................................................................................................................. 195 5.9. Os mitos: almas, orixás e inkisis ....................................................................................................... 197 5.10. A (des)territorialização e a re-territorialização ................................................................................. 201

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Gomes, Ângela Maria da Silva. Rotas e diálogos de saberes da etnobotânica transatlântica negro- africana [manuscrito] : terreiros, quilombos,
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