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Anatomia do lenho de Calyptranthes tricona D. Legrand (Myrtaceae) PDF

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BALDUINIA. n.20,p.21-25, 15-11-2010 ANATOMIA DO LENHO DE CALYPTRANTHES TRICONA D. LEGRAND (MYRTACEAE)t SIDlNEI RODRIGUES DOS SANTOS2 JOSE NEWTON CARDOSO MARCmORI3 RESUMO Foram estudados oscaracteres anatômicos do lenho de Calyptranthes tricona D. Legrand, apartir de mate- rialproveniente doRio Grande doSul. Salientam-se, para aidentificação daespécie: oarranjo doparênquima axial; aausência de cristais ede conteúdos; afreqüência de poros «20/mm2) ede raios (30/mm); eaaltura das séries de parênquima axial (2-8 células). Palavras-chave: Calyptranthes tricona, anatomia da madeira, Myrtaceae. ABSTRACT [Wood anatomy of Calyptranthes tricona D. Legrand (Myrtaceae)]. The wood anatomical features of Calyptranthes tricona D. Legrand were studied, based on specimens from Rio Grande doSul state, Brazil. Tothespecies' recognition showed special importance: theaxial parenchyma arrangement; the absence ofcrystals and organic inclusions; thefrequency ofpores «20/mm2) andrays (30/ mm); and the height ofaxial parenchyma strands (2-8 cel1s). Key words: Calyptranthes tricona, wood anatomy, Myrtaceae. INTRODUÇÃO folhas (Marchiori & Sobral, 1997; Sobral, Calyptranthes tricona éárvore nativa deaté 2003). 15m de altura, de casca lisa, exfoliante e cor No Rio Grande do Sul, o gênero Caly- cinzenta, por vezes com máculas castanhas. ptranthes conta com outras 6espécies (Mattos, Conhecida, popularmente, como guaburiti ou 1983), utilizadas quase exclusivamente como jabuticaba-braba, aespécie ocorre naturalmente lenha (Legrand & Klein, 1971). Com exceção na Argentina eBrasil, do Paraná ao Rio Gran- de Calyptranthes concinna De., estudada por de do Sul. Neste Estado, distribui-se na Flo- Marchiori & Brum (1997), as demais carecem resta Estacional do Alto Uruguai e, eventual- de estudo anatômico detalhado de suas madei- mente, na Encosta Inferior do Nordeste. ras. O presente estudo visa apreencher esta la- Calyptranthes tricona éfacilmente reconheci- cuna, contribuindo para o melhor conhecimen- da pelas inflorescências trifloras, de flores toestrutural dasMirtáceas nativas noRio Gran- sésseis concentradas noápice e,sobretudo, pela de do Sul. abundante presença de tricomas, tanto nas flo- res, como nos ramos novos e face abaxial das REVISÃO DE LITERATURA Com relação àanatomia, sãomuito escassas as referências sobre as madeiras brasileiras de Calyptranthes, notadamente das espécies nati- J Recebido para publicação em 10/10/2009 eaceito para publicação em 20/0112010. vas no Rio Grande do Sul. 2 Biólogo, bolsista do CNPq - Brasil, doutorando do Em estudo de Calyptranthes concinna, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal, Marchiori & Brum (1997) relacionam: Departamento de Ciências Florestais, Universidade Federal de Santa Maria. CEP 97105-900. Santa Maria, porosidade difusa; poros solitários (ll1mm2); RS, Brasil. [email protected] placas de perfuração simples (510 11m);ponto- 3 Engenheiro Florestal, Dr.,bolsista deProdutividade em ações raio-vasculares eparênquimo-vasculares Pesquisa do CNPq, Professor Titular do Departamento de Ciências Florestais, Universidade Federal de Santa ornamentadas; parênquima apotraqueal em sé- Maria, Santa Maria, RS,Brasil. [email protected] ries de 4 - 8 células; raios heterogêneos (24/ 21 mm), com 1- 3células de largura eabundantes 20~m. Os cortes foram tingidos com acridina- conteúdos; epresença de fibrotraqueídeos (999 vermelha, crisoidina e azul-de-astra (Dujardin, ~m). Émencionada, também, aausência decris- 1964), desidratados em série alcoólica-ascen- tais, de espessamentos espiralados e de dente (30%, 50%, 70%, 95% e duas vezes em traqueídeos. álcool absoluto), diafanizados em xilol e mon- Para Calyptranthes langsdorffii, Barros etai. tados em lâminas permanentes, usando-se (2001) referem, entre outros aspectos: Entellan como meio de montagem. porosidade difusa; poros exclusivamente soli- Para as lâminas de macerado, adotou-se o tários (5/mm2), com conteúdo marrom; placas método de Franklin, modificado (Kraus & de perfuração simples (667 ~m); parênquima Arduin, 1997),coloração dapasta com safranina apotraqueal difuso-em-agregados, em linhas 1% emontagem em lâminas permanentes, com tangenciais e em séries de 4 a 11células; raios Entellan. heterogêneos (18/mm), com 1 - 3 células de A descrição microscópica da madeira ba- largura; e presença de fibrotraqueídeos (1284 seou-se nas recomendações do IAWA ~m). Merecem destaque, ainda, aocorrência de Committee (1989). No caso dapercentagem dos traqueídeos e de cristais no parênquima axial. tecidos, foram realizadas 600 determinações ao Para o gênero, Metcalfe &Chalk (1972) ci- acaso, com auxílio de contador de laboratório, tam: vasos pequenos, solitários eem ocasionais conforme proposto por Marchiori (1980). Afre- múltiplos de 2- 3,por vezes com freqüência de qüência de poros foi obtida de forma indireta, a 40- 100/mm2; raios de 4- 6células de largura, partir de um quadrado de área conhecida com 1- 3 fileiras marginais de células eretas, superposto a fotomicrografias de seção trans- por vezes com freqüência inferior a 13/mm; e versal da madeira. As medições foram realiza- parênquima paratraqueal aliforme atéconfluen- das em microscópio Car1Zeiss, com ocular de te, em algumas espécies. escala graduada, no Laboratório de Anatomia da Madeira da Universidade Federal de Santa MATERIAL E MÉTODOS Maria. Nas características quantitativas, os nú- Omaterial emestudo consiste de uma amos- meros entre parênteses equivalem aos valores tra de madeira, coletada na mata ciliar do rio mínimos e máximos observados. O valor que dasAntas, nomunicípio de Nova Roma do Sul, acompanha a média é o desvio padrão. As Rio Grande do Sul.Aamostra de madeira eres- fotomicrografias foram tomadas em microscó- pectiva exsicata botânica foram incorporadas à pio Olympus cx40, equipado com câmera digi- Xiloteca eHerbário do Departamento de Ciên- tal Olympus Camedia c3000. cias Florestais (HDCF) da Universidade Fede- ral de Santa Maria, com o número 6089. DESCRIÇÃO ANATÔMICA Do material lenhoso foram extraídos três Anéis decrescimento: distintos, delimitados corpos de prova (3x3x3 cm) da parte mais ex- por fina camada de fibras radialmente estreitas terna do lenho, próxima ao câmbio, orientados no lenho tardio (Figura 1A,B). para obtenção de cortes nos planos transversal, Vasos: pouco numerosos anumerosos (17 ± longitudinal radial elongitudinal tangencial. Um 5 (12 - 25 poros/mm2), ocupando 7 ± 2 % do outro bloquinho foi também retirado, com vis- volume da madeira. Conteúdo de coloração es- tas àmaceração. cura, muito escasso. Porosidade difusa. Vasos Os corpos de prova foram amolecidos por exclusivamente solitários, de seção circular a fervura em água e seccionados em micrótomo oval, pequenos (70 ± 17 (37,5 - 105) ~m), de de deslizamento, regulado para a obtenção de paredes espessas (4,2 ± 0,8 (2,5 - 6,2) ~m) e cortes anatômicos com espessura nominal de sem padrão definido de organização (Figura 22 1A,B). Elementos vasculares de comprimento (4,2 ± 0,6 (3,1 - 5,6) Ilm) (Figura 1B). Fibras médio (487 ± 117,6 (320 - 790) Ilm), com pla- septadas, fibras gelatinosas e espessamentos cas de perfuração simples, oblíquas atransver- espiralados, ausentes. Traqueídeos vasicên- sais, e apêndices geralmente em ambas as ex- tricos, presentes. tremidades. Espessamentos espiralados, ausen- Outros caracteres: variantes cambiais, tubos tes. Pontoações intervasculares alternas, circu- laticíferos e taniníferos, canais intercelulares, lares (5,8 ± 0,4 (5,1 - 6,1) Ilm), com abertura máculas, células oleíferas ou mucilaginosas, em fenda inclusa, ornamentada (Figura 1D). estratificação e cristais, ausentes. Pontoações raio-vasculares com bordas distin- tas, semelhantes às intervasculares, embora ANÁLISE DA ESTRUTURA ANATÔMICA menores (3,3 ±0,3 (3,1 - 3,6) Ilm) erestritas ou A estrutura anatômica de Calyptranthes não às células marginais de raios. tricona reúne características típicas para ocon- Parênquima axial: muito distinto das fibras, junto das Myrtaceae, segundo autores como ocupando 16 ± 3,6 % do volume da madeira; Record &Hess (1949), Metcalfe &Chalk (1972) apotraqueal difuso, difuso-em-agregados e em eVliet & Baas (1984). É o caso da porosidade curtos segmentos tangencias com 1- 4 células difusa, dos poros solitários, dos elementos de largura, por vezes unilaterais, menos vasculares de comprimento médio, das placas comumente paratraqueal escasso (Figura 1A,B). de perfuração simples, das ponto ações Sériesparenquirnáticas de431±99,9(260- 610) intervasculares alternas e ornamentadas, do Ilm de altura e(2)4- 8células (Figura 1F). parênquima predominantemente apotraqueal e Raios: muito numerosos (30 ± 4 (25 - 36 seriado, dos raios heterogêneos e estreitos, das raios/mm), ocupando 19,5 ± 3,3 % do volume fibras de comprimento médio, com pontoações da madeira. Raios heterocelulares com células areoladas, e dos traqueídeos vasicêntricos. procumbentes, na parte multisseriada, e 1- 11, A respeito das referências de Metcalfe & mais comumente 2- 4fileiras marginais de cé- Chalk (1972) para ogênero, cabe salientar dife- lulas eretas ouquase exclusivamente eretas (Fi- renças no tocante à freqüência de poros, bem gura 1e). Raios estreitos, com 1- 3 células de como na largura efreqüência de raios. Na espé- largura, predominantemente unisseriados (Figu- cie em estudo, osporos sãomenos numerosos e ra 1E,F). Os multisseriados, de 406 ± 162 (150 os raios mais estreitos e frequentes. Sobre este - 840) Ilm de altura e 8- 23, mais comumente último aspecto, cabe frizar a sua importância 10- 17células; com parte multisseriada geral- na aidentificação deMirtáceas nativas, pois em mente mais curta do que as margens poucas espécies observam-se valores inferiores unisseriadas. Os unisseriados, de 239,2 ± 151,7 a 30/mm2, destacando-se, entre outras: (60 - 630) Ilm de altura e 1 - 12, mais Calyptranthes concinna, Eugenia involucrata freqüentemente 2- 6células. Raios axialmente e Campomanesia xanthocarpa. fusionados, escassos. Células radiais de pare- Com relação ao referido por Barros et ai. des disjuntas, presentes. Raios agregados, in- (2001) para Calyptranthes langsdorffii, asdife- clusões minerais, células envolventes e células renças mais importantes dizem respeito à fre- perfuradas, ausentes. qüência de poros ede raios, bem como àaltura Fibras: com pontoações distintamente das séries de parênquima; no material em estu- areoladas, nas faces radiais e tangenciais da do, osvalores observados ficaram acima eabai- parede, representando 57,3 ± 5,3 % do volume xo, respectivamente, dos fornecidos pelos refe- da madeira; de comprimento médio (1064 ± ridos autores. Eles também referem apresença 106,8 (860 - 1270) Ilm), com 15,8 ± 1,9(13,7- de cristais noparênquima axial, caráter não ob- 20) Ilm de largura e paredes finas a espessas servado na espécie em estudo, bem como em 23 FIGURA 1-Fotomicrografias damadeira de Calyptranthes tricona. A-Seção transversal, mostrando porosidade difusa, poros exclusivamente solitários eparênquima apotraqueal difuso, difuso-em-agregados eemcurtos segmentos tangenciais (seta). B-Mesma seção, em maior aumento, com destaque para olimite de anel de crescimento (cc), fibras de paredes finas aespessas earranjo do parênquima axial. C- Aspecto geral de raio heterogêneo, com células procurnbentes, no corpo central, emargens decélulas quase exclusivamente eretas (seção longitudinal radial). D- Detalhe daseção radial, mostrando vasocom pontoações intervasculares alternas (seta). E-Raios com 1-3células delargura esériedeparênquirna axial (seta), em seção longitudinal tangencial. F - Mesmos aspectos e plano anatômico da foto anterior, com maior aumento. 24 Calyptranthes concinna, investigada por KRAUS, J.E.; ARDUIN, M. Manual básico de mé- Marchiori & Brum (1997). todos em Morfologia Vegetal. Rio de Janeiro: Muito semelhantes entre si, Calyptranthes EDUR, 1997. 198 p. LEGRAND, D.; KLEIN, R.M. Mirtáceas. 6. tricona eCalyptranthes concinna diferem, prin- Calyptranthes Sw. In: REITZ, P.R. Flora Ilus- cipalmente, pelo arranjo do parênquima axial. trada Catarinense. Itajaí, Santa Catarina, 1971. Na última destas espécies, não seobserva opa- p.494-552. drão em curtos segmentos tangenciais. Este ca- MARCHIORI, J.N.C. Estudo anatômico do xilema ráter, aliás, étido como importante, sob oponto secundário de algumas espécies dos gêneros de vista taxonômico, por sua ocorrência mais Acacia e Mimosa, nativas no Estado do Rio restrita na faIlliua (Wiedenbrug, 1948; Vliet & Grande do Sul. 1980. 186f. Dissertação Baas, 1984; Dias-Leme etal., 1995; Soffiatti & (Mestrado emEngenharia Florestal) -Universi- Angyalossy-Alfonso, 1999). Outro aspecto de dade Federal do Paraná, Curitiba, 1980. MARCHlüRI, J.N.C.; BRUM, E.T. Anatomia da eventual utilidade para a separação das espéci- madeira do guamirim-facho, Calyptranthes es é a presença de conteúdos em raios: concinna De. (Myrtaceae). Ciência Rural, Santa Calyptranthes concinna apresenta abundante Maria, v.27,n. 2,p. 217-222,1997. conteúdo, aocontrário de Calyptranthes tricona. MARCHIORI, J.N.C., SOBRAL, M. Dendrologia Das características qualitativas, revestem-se dasAngiospermas: Myrtales. Santa Maria: Edi- de importância para a identificação da espécie tora UFSM, 1997.304 p. em estudo, o arranjo do parênquima axial, bem MATTOS, J. R. Mirtaceae do Rio Grande do Sul. como a ausência de cristais e de conteúdos na Roessléria, Porto Alegre, v.5, n. 2,p. 171-359, madeira. Dos aspectos quantitativos, salientam- 1983. se a freqüência de poros e raios, bem como a METCALFE, C.R.; CHALK, L. Anatomy of the Dicotyledons. Oxford: Clarendon Press, 1972. altura das séries de parênquima axial. 1500 p. RECORD, S.J.; HESS R.W. Timbers of the New REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS World.New Haven: YaleUniversity Press, 1949. BARROS, C.F.;CALLADO, e.H.; MARCON, M.L.; 640 p. COSTA, C.o.; CUNHA, M.; LIMA, H.R.P.; SOBRAL, M. Afamz1ia Myrtaceae no Rio Grande MARQUETE, O.Madeiras daMata Atlântica: do Sul. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2003. anatomia do lenho de espécies ocorrentes nos 216 p. remanescentes florestais do estado do Rio de SOFFIATTI, P.;ALFONSO, Y.A.Estudo anatômico Janeiro, Brasil. Rio deJaneiro: Instituto dePes- comparativo do lenho eda casca de duas espé- quisas Jardim Botânico doRio deJaneiro, 2001. cies de Eugenia L. (Myrtaceae). Revista Brasi- 94 p. leira deBotânica, São Paulo, v.22, n.2,p. 175- DIAS-LEME, e.L.; GASSON, P.;LUGHADA, E.N. 184, 1999. Wood anatomy offour Myrtaceae genera in the VLIET, o.J.C. van; BAAS, P.Wood anatomy and subtribe Myrciinae from South America. IAWA classification of the Myrtales. Annals of the Bulletin, v. 16,p. 87-95, 1995. Missouri Botanical Garden, n. 71, p. 783-800, DUJARDIN, E.P. Eine neue Holz- 1984. Zellulosenfaerbung. Mikrokosmos, n. 53, p.94, WIEDENBRUG, W.Maderas chilenas: contribución 1964. asuanatornía eidentificación. Lilloa, Tucuman, IAWA COMMITTEE. IAWA list of microscopic n. 16,p. 263-375, 1948. features for hardwood identification. IAWA Bulletin., v. 10,n. 3, p. 218-359, 1989. 25

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