ebook img

ANATOMIA DO ANTICRISTO Narrativa arquetípica no filme de Lars von Trier PDF

183 Pages·2013·3.33 MB·Portuguese
Save to my drive
Quick download
Download
Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.

Preview ANATOMIA DO ANTICRISTO Narrativa arquetípica no filme de Lars von Trier

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA PUC-SP RICARDO TIEZZI ANATOMIA DO ANTICRISTO Narrativa arquetípica no filme de Lars von Trier MESTRADO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO SÃO PAULO 2013 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA PUC-SP RICARDO TIEZZI ANATOMIA DO ANTICRISTO Narrativa arquetípica no filme de Lars von Trier MESTRADO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO Dissertação apresentada à Banca Exami- nadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências da Religião, sob orientação do Professor Doutor Luiz Felipe Pondé. SÃO PAULO 2013 BANCA EXAMINADORA ______________________________________ ______________________________________ ______________________________________ Para a Kelly e o Leo, pelos abraços matinais, cafés da tarde e todas essas coisas que dão sentido à vida. AGRADECIMENTOS À Capes, pelo auxílio a esta dissertação. Ao meu irmão Sergio Tiezzi, apoio de todas as horas. Aos amigos Daniel De Thomaz e Vinicius Benigno, pela leitura atenta, comentários pertinentes e debates esclarecedores. Ao amigo Ricardo Grynzspan, pela ajuda precisa e fundamental. Aos meus colegas de curso Rodrigo Petronio e Flavia Ariello, por estarmos juntos na mesma caminhada. Aos meus colegas de grupo Nemes, pelos diálogos estimulantes. Aos professores Pedro Lima Vasconcellos e Fernando Londoño, pelo conhecimento transmitido. Ao professor João Décio Passos, pelas decisivas contribuições para a clareza e organi- zação do trabalho. À professora Vera Lucia Bastazin, pelo estímulo, comentários e por compartilhar seu interesse pelo trabalho. Ao professor e orientador Luiz Felipe Pondé, pelo principal ensinamento, que é a co- ragem de pensar. RESUMO Este trabalho é uma análise do filme Anticristo, de Lars von Trier, a partir da crítica arquetípica proposta por Northrop Frye. A hipótese é a de que o filme recorre a pa- drões narrativos cuja matriz é bíblica para organizar sua narrativa. O primeiro capítulo aborda o filme e a obra do diretor. No segundo capítulo, a primei- ra etapa consiste em definir o que arquétipo significa em literatura, apresentando os autores que trabalharam com o conceito. Em seguida, é apresentada nossa teoria principal na obra do crítico canadense Northrop Frye. O terceiro capítulo, por fim, é uma leitura do filme a partir de três eixos: gênero, no qual se discute a tragédia no Anticristo; modo, no qual a narrativa do filme é percebida em sua tensão entre as nar- rativas realista e mítica; e imagens, no qual se destacam padrões imagéticos do filme em relação à poética vertical, à mulher e a relação erótica e à natureza e o jardim. palavras-chave: cinema, Bíblia, arquétipo, crítica arquetípica, narrativa cinemato- gráfica, Lars von Trier, Anticristo, Northrop Frye. ABSTRACT This work is an analysis of the film Antichrist, by Lars von Trier, from the archetypal criticism proposed by Northrop Frye. The hypothesis is that the film uses narrative patterns whose matrix is biblical to organize his narrative. The first chapter deals with the film and the work of the director. In the second chap- ter, the first step is to define what archetype means in literature, with authors who have worked with the concept. Then our main theory is presented in the work of the Canadian critic Northrop Frye. The third chapter, finally, is an analysis of the film from three different approaches: gender, in which we discuss the tragedy in Anti- christ; mode, in which the narrative of the film is perceived in the tension between the realistic and mythic narratives; and images, in which patterns of imagery stand out from the film in relation to vertical poetic, to the woman and the erotic relation- ship and to the nature and the garden. key-words: cinema, Bible, archetype, archetypal criticism, narrative film, Lars von Trier, Antichrist, Northrop Frye. SUMÁRIO Introdução ..................................................................................................................................... 9 Cap. I O Anticristo do celuloide ........................................................................................................ 15 1.1. Trilogias de choque .......................................................................................................... 19 1.2. O filme de uma mente doente ...................................................................................... 32 Cap. II Arquétipos narrativos ............................................................................................................. 36 2.1. Em busca das essências .................................................................................................. 39 2.2. A ciência dos arquétipos................................................................................................. 51 2.3. Afinidades imagéticas ...................................................................................................... 53 2.4. As formas do desejo ......................................................................................................... 57 2.5. Imagens demoníacas ....................................................................................................... 64 2.6. O espiritual e o poético ................................................................................................... 66 2.7. O grande código da arte .................................................................................................. 68 Cap. III O Eden demoníaco .................................................................................................................... 73 Parte 1: Gênero Tragédia, gênero da queda ...................................................................... 75 1.1. A morte da tragédia .......................................................................................................... 77 1.2. A permanência da tragédia ........................................................................................... 79 1.3. As transformações da tragédia .................................................................................... 80 1.4. O caos reina .......................................................................................................................... 85 1.5. Tragédia e ironia ................................................................................................................ 93 Parte 2: Modo A natureza é a igreja de Satã ................................................................... 98 2.1. Os rastros do Mal ............................................................................................................. 101 2.2. A balança do Mal .............................................................................................................. 107 2.3. A representação do Mal ................................................................................................ 111 Parte 3: Imagens Do Anticristo à Bíblia ................................................................................ 115 3.1. Poética vertical ................................................................................................................. 117 3.2. A mulher e a relação erótica ....................................................................................... 129 3.3. A natureza e o jardim ..................................................................................................... 143 Conclusão.................................................................................................................................... 156 Anexo ........................................................................................................................................... 160 Referências ................................................................................................................................ 173 INTRODUÇÃO USAR O CINEMA para falar de religião é raro. Usar a religião para falar de cinema é quase uma anomalia teórica. A resistência vale até para filmes que gritam temas e vocabulá- rio religioso desde o título, como Anticristo, O Sétimo Selo e Árvore da Vida. No pano- rama instaurado pela modernidade o saber religioso está em baixa. Invocar Deus, o Mal, o Pecado ou categorias semelhantes na crítica cinematográfica provoca descon- fiança sobre o crítico. O status do conhecimento sério pertence a outras disciplinas. E o que significa usar a religião para falar de cinema? Para responder, é necessária uma breve digressão. Na minha experiência profissional como roteirista de cinema e televisão um fenôme- no é frequente na criação coletiva. Nas salas dos escritores – local onde um grupo de abnegados tenta dar vida à próxima série de TV ou, pelo menos, falhar em comunhão – tão logo surja uma ideia, de bate pronto alguém aponta que ideia semelhante já foi utilizada em outro programa. Um terceiro lembra que a mesma ideia foi usada com frequência no passado, e o literato do time explica que se trata de um tema corrente em literatura. As associações prosseguem, tornando evidente o fato de estarmos di- ante de um padrão. Dependendo da perspicácia dos membros da sala, uma ideia jo- gada na roda pode gerar uma rede de afinidades que recua até Homero. Os fracos de espírito desistiriam, por acharem que serão mais um elo de uma cadeia de plágios infinitos. Os que têm mais experiência narrativa sabem que estão diante de um mode- lo que ecoa por muitas narrativas, o que implica um alto grau de universalidade. 9 De tanto ver o fenômeno se repetir, me ocorreu se a teia de relações que surge empi- ricamente poderia vir a ser sistematizada. Ao descobrir a obra do crítico literário ca- nadense Northrop Frye percebi que ele já havia destacado esse “processo que ocorre inconscientemente em todas as nossas leituras”.1 Para tornar o processo consciente, propõe um método: “Na crítica mítica, quando examinamos o tema ou desenho global de uma ficção, devemos isolar aquele aspecto da ficção que é convencional e conside- rado comum a todas as obras da mesma categoria”.2 Em sua obra, Frye estabeleceu um dinâmico quadro de relações entre obras literárias a partir de seu núcleo central. Esse núcleo é o mito, com seus motivos e temas ele- mentares que são os arquétipos. Ao longo de suas investigações, o autor apontou a Bíblia como mito central, que deu contorno ao imaginário ocidental. Sua hipótese governante é, portanto, que a Bíblia é a matriz da literatura. A estrutura e as imagens do livro sagrado são herdadas e transformadas pela literatura, a partir de determina- dos princípios que veremos no capítulo 2. A crítica arquetípica de Frye se configura então como um fecundo referencial para a leitura e análise do filme Anticristo, de Lars Von Trier, a partir da estrutura e das ima- gens que vêm da Bíblia. Apesar de o cinema ser uma arte da imagem – imagem que se apresenta com vigoro- sa grandeza diante do espectador – na teoria cinematográfica, observa o crítico Ru- bens Machado Jr., prevalece o debate sobre o enredo, o absurdo de uma dada reviravolta na trama, a ética, a ideologia ou o temperamento de um personagem. Enfim, é paradoxal encontrarmos em tudo aquilo que se enxergou nos filmes tão pouco do que deveras fosse experiência consciente da visão.3 Filmes contam histórias, mas o fazem com o poder das imagens. Cineastas como Fel- lini se identificaram mais como pintores do que como escritores. Eisenstein, o mestre do cinema soviético, se interessou pelo que ele chamou de dramaturgia plástica do cinema, o “processo de organizar imagens no sentimento e na mente do espectador”.4 1 Anatomia da crítica, p. 102. 2 Fábulas de identidade, p. 42. 3 “Os filmes que não vimos”. In: J. AUMONT, O Olhar Interminável: cinema e pintura. p.9. 4 O sentido do filme, p. 21. 10

Description:
1995, assinado por Trier e seus colegas cineastas Thomas Vinterberg, Kristian Le- vring e Søren Kragh-Jacobsen, permite, num dado momento, inverter o ponto de vista. Abandonar o fio ta Hannibal Lecter, vamos para uma sequência em que a poética da descida é muito acentuada. Na prisão
See more

The list of books you might like

Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.