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Anatomia de uma Revolução PDF

474 Pages·2.673 MB·Portuguese
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DADOS DE ODINRIGHT Sobre a obra: A presente obra é disponibilizada pela equipe eLivros e seus diversos parceiros, com o objetivo de oferecer conteúdo para uso parcial em pesquisas e estudos acadêmicos, bem como o simples teste da qualidade da obra, com o fim exclusivo de compra futura. É expressamente proibida e totalmente repudíavel a venda, aluguel, ou quaisquer uso comercial do presente conteúdo. Sobre nós: O eLivros e seus parceiros disponibilizam conteúdo de dominio publico e propriedade intelectual de forma totalmente gratuita, por acreditar que o conhecimento e a educação devem ser acessíveis e livres a toda e qualquer pessoa. Você pode encontrar mais obras em nosso site: eLivros. Como posso contribuir? 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(+351) 21 427 22 01 © 2017, António Barreto e Publicações Dom Quixote Todos os direitos reservados de acordo com a legislação em vigor www.dquixote.leya.com www.leya.pt Este livro segue a grafia anterior ao Novo Acordo Ortográfico de 1990. ANTÓNIO BARRETO ANATOMIA DE UMA REVOLUÇÃO A R A P EFORMA GRÁRIA EM ORTUGAL 1974-1976 P R E F Á C I O por Maria de Fátima Bonifácio Este livro – Anatomia de Uma Revolução. A reforma agrária em Portugal, 1974-1976 – é certamente um dos livros mais importantes que se escreveram em Portugal depois do 25 de Abril de 1974. Publicado em 1987, logo na altura fez-se em torno dele um silêncio total. Ninguém comentou e os poucos que o terão lido não se pronunciaram publicamente. O livro, entretanto, levou sumiço: nem por encomenda se encontra nas livrarias, e a editora, Publicações Europa-América, faliu ou desapareceu há meia dúzia de anos, após uma lenta agonia desencadeada em 2004 pela morte do seu fundador e animador, Lyon de Castro. Em suma: o livro, misteriosamente, eclipsou-se quase logo que apareceu e muito pouca gente terá dado por ele. Não é fácil explicar o que terá motivado este fenómeno bizarro. António Barreto conduz a narrativa desde Abril de 1974 até Julho de 1976; termina-a, portanto, antes de ser nomeado ministro da Agricultura e Pescas em 5 de Novembro de 1976, no I Governo Constitucional presidido por Mário Soares, e também muito antes de elaborar a para sempre chamada “Lei Barreto”, aprovada pelo Parlamento na madrugada de 22 de Julho de 1977, da qual se comemora este ano o quadragésimo aniversário. O livro, que agora se reedita, não é um relatório, não é um ensaio, não é uma justificação pessoal, não é autobiográfico, não é de memórias – é um estudo muito sólido resultante de um longo trabalho de investigação muito sério, que cumpre todas as regras do cânone académico: a pertinência do tema é incontestável, as alegações apoiam-se em fontes devidamente referenciadas em notas de pé de página, e no final, além da habitual bibliografia, deparamos com uma longa e detalhada explicação “sobre as fontes e os métodos” utilizados na pesquisa – desde documentação arquivística até entrevistas e inquéritos. Com efeito, a Anatomia de Uma Revolução constitui, com as necessárias adaptações e devidamente condensada, a versão portuguesa da tese de doutoramento defendida por António Barreto em 1984 na Faculdade de Ciências Económicas e Sociais da Universidade de Genebra1. O livro traz a marca inconfundível do sociólogo, com a particularidade, porém, do recurso ao género narrativo, que não é usual na disciplina. É que, sem dispensar a “análise dos antecedentes imediatos assim como das estruturas sociais e agrárias” pré-existentes, o estudo centra-se principalmente no processo revolucionário que se desenrolou na ZIRA2 entre 1974, ano da revolução de Abril que abriu as portas à “legitimidade revolucionária”, e 1976, ano em que o regime democrático se consolidou e abriu as portas ao triunfo da legitimidade democrática e do Estado de Direito. No País inteiro, mas sobretudo no Alentejo, aqueles dois anos foram dos mais convulsos. Acontecimentos, mudanças e ocorrências inesperadas, sucedendo-se a ritmo vertiginoso, conjugaram-se para gerar uma espécie de movimento permanente e acção constante, em que sobressaíram múltiplos protagonistas, individuais e colectivos, de que muitos apenas se salientaram fugazmente como figurantes transitórios, e muitos outros, decerto mais discretos, actuaram em permanência como vanguarda impulsionadora e condutora do processo revolucionário alentejano. Um processo revolucionário, por definição, não é algo de estático e abstracto. É o produto da acção concreta de homens concretos, que se traduz em factos e acontecimentos concretos. Ora a narrativa é a forma literária privilegiada para abordar este tipo de objecto: “um processo social e político […] muito rico em acontecimentos e mudanças”. Por outras palavras: António Barreto narra e portanto interpreta uma história que era, na altura em que a escreveu, “uma espécie de história contemporânea […] um pouco de história do presente”. Por isso nos deparamos com um texto acessível e fluente, expurgado do jargão académico desnecessário, que se lê agradavelmente. A Anatomia de Uma Revolução conta-nos como o Partido Comunista se apoderou do Alentejo. A revolução alentejana é um fruto da revolução de Abril, e o território alentejano abeirou-se do estatuto de um estado dentro do Estado. Esta é uma das teses do livro. Outra é de que a massa do proletariado alentejano, chamada sazonalmente a semear ou ceifar nos latifúndios e nas herdades, nunca tinha estado interessada na posse ou propriedade da terra; a suma e única prioridade desses assalariados miseráveis consistia na segurança do emprego e portanto do salário. O slogan sempre repetido – «a terra a quem a trabalha» – não fazia para eles grande sentido. A solução encontrada pelos sindicatos comunistas foi a aplicação do modelo colectivista das Unidades Colectivas de Produção (UCP), uma réplica fiel do kolkhoz soviético. Graças ao crédito abundantemente concedido pelo Estado, as UCP garantiam as duas coisas – emprego permanente e salário todo o ano. Este é apenas um dos aspectos sob os quais a cooperação do Estado foi vital; sem ela, a revolução alentejana não teria sido possível. E o Estado cooperou porque tanto centralmente como localmente, todas as instâncias de decisão tinham sido rapidamente ocupadas por militantes comunistas. Antes de desencadear a conquista da terra, lutou-se e conquistou-se o poder de Estado; consumou-se a “ocupação institucional”. Dominado o aparelho de Estado, não foi difícil reunir as peças que comporiam o dispositivo revolucionário: “a força, o dinheiro, a legalidade, a hierarquia administrativa, os meios de comunicação e a mobilidade”3. Durante os governos de Vasco Gonçalves, não só as ocupações foram legalizadas, como foram legisladas as expropriações e as nacionalizações. Afirma Barreto: “Tudo foi feito na prática, e quase tudo na lei, com vista a uma expropriação geral da terra, ou da sua maior parte.”4 Os responsáveis máximos não se coibiram de incentivar a apropriação de terras privadas. “Os principais actos revolucionários nascem no governo, nas assembleias militares e nos quartéis.” Algumas leis de 1975 sobre a reforma agrária assemelham-se a “panfletos políticos” em que a população e os trabalhadores alentejanos são exortados a dar livre curso às suas iniciativas. Não menos importante, os revolucionários estavam seguros do apoio político do MFA bem como da protecção militar, no terreno, das operações de ocupação. Por vezes verificou-se até muito mais do que protecção: o quartel de Vendas Novas, cujos soldados ostentavam nas boinas a efígie de Che Guevara, chegou a lançar no terreno “brigadas de ocupação” ou “brigadas da reforma agrária”. Outra das teses do livro é a de que, ao contrário do mito que se espalhou, não foram ocupados latifúndios incultos ou terras abandonadas à natureza selvagem. Estas não tiveram procura; dariam muito trabalho a arrotear e a cultivar. O ministro da Agricultura de Vasco Gonçalves, Oliveira Baptista (26.3.75 a 19.9.75), distribuiu conselhos e indicou critérios: “«Deve-se começar pelas melhores terras»”; deve-se liquidar “«o poder social e económico dos grandes proprietários»”; deve-se ficar com tudo: “«as árvores e meios de produção, todo o equipamento que lá estiver»”; deve-se “«acabar com o latifúndio e com o pequeno agricultor. Não podemos admitir que a reforma agrária faça novos pequenos patrões»”5. O regime agrário do Alentejo, a extrema polarização social, a ancestral miséria e a terrível insegurança dos assalariados rurais criaram, muito compreensivelmente, as condições para uma total receptividade ao tipo de exortações acima exemplificadas. O Estado, o MFA, o Partido Comunista e os sindicatos exerceram sem dúvida um papel determinante. Mas este facto não invalida a genuinidade da mobilização e combatividade dos milhares de trabalhadores que em dois anos se apropriaram de mais de um milhão de hectares de terras privadas, entre herdades capitalistas e latifúndios, e organizaram mais de 600 UCP. Para esta massa de assalariados, trabalhar a terra não era muito diferente de assentar tijolos ou preparar betão armado. Não assim para o camponês, o pequeno ou médio agricultor. Para este, o trabalho da terra possui uma específica dimensão religiosa; liga entre si o homem, a terra, a natureza, os animais, a família, os vizinhos, a comunidade, e para os crentes liga até o homem com Deus. Ao voltar-se contra camponeses, pequenos e médios agricultores, a revolução alentejana alienou apoios, forjou uma barreira de inimigos e cavou o seu próprio isolamento social. Mais: fez tocar o alarme nas regiões do Centro e Norte do País, cujos camponeses e agricultores, proprietários ou rendeiros geralmente modestos, se sentiram directamente ameaçados e reagiram com violência, não lhes tendo faltado a solidariedade das populações urbanas. O Alentejo isolou-se do restante conjunto nacional. Tendo-se desenvolvido com considerável autonomia, nem por isso a revolução alentejana era impermeável aos efeitos do refluxo da revolução mais geral que foi a de Abril de 1974. Este refluxo, provocado pelo sentimento, cada vez mais generalizado no País, de que as liberdades públicas e individuais estavam ameaçadas, conduziu à “meia contra-revolução” de 25 de Novembro de 1975, que teve o apoio conjugado dos partidos políticos

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