Alex Hubbe Análise morfológica craniana de Xenarthra atuais e extintos: inferências evolutivas e funcionais Skull morphological analysis of extant and extinct Xenarthra: evolutionary and functional inferences São Paulo 2013 1 Alex Hubbe Análise morfológica craniana de Xenarthra atuais e extintos: inferências evolutivas e funcionais Extant and extinct Xenarthran skull morphological analysis: evolutionary and functional inferences Tese apresentada ao Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, para a obtenção de Título de Doutor em Ciências, na Área de Genética e Biologia Evolutiva Orientador(a): Gabriel Marroig São Paulo 2013 2 Hubbe, Alex Análise morfológica craniana de Xenarthra atuais e extintos: inferências evolutivas e funcionais 267 páginas Tese (Doutorado) - Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo. Departamento de Genética e Biologia Evolutiva. 1. Genética quantitativa 2. Seleção natural 3. Modularidade I. Universidade de São Paulo. Instituto de Biociências. Departamento de Genética e Biologia Evolutiva. Comissão Julgadora : Prof(a). Dr(a). Prof(a). Dr(a). Prof(a). Dr(a). Prof(a). Dr(a). Prof(a). Dr(a). Orientador(a) 3 Cantar e cantar e cantar A beleza de ser um eterno aprendiz! Gonzaguinha , Eterno Aprendiz 4 Agradecimentos Ao longo da minha trajetória acadêmica passei a nutrir cada vez mais prazer pela leitura dos agradecimentos de trabalhos científicos, especialmente de teses e dissertações, mas também de artigos. Acho que eles me ajudam a lembrar que por traz dos textos, por vezes bastante complexos, existe um ser humano... Muitas destas pessoas, além de cientistas de qualidade são capazes de redigir agradecimentos belíssimos e emocionantes. Gostaria de ter a inspiração ou mesmo a habilidade literária para produzir um agradecimento grandioso, que gerasse, em outras pessoas, o mesmo tipo de sentimento que tenho ao ler os agradecimentos alheios. De qualquer forma, gostaria que as pessoas lessem meus agradecimentos pensando que se eu fosse um Charles Darwin ou um Graciliano Ramos, dentre tantas outras pessoas talentosas, expressaria de forma muito calorosa e elegante o meu mais sincero obrigado! Tendo esclarecido isto, agradeço: Ao Gabriel Marroig pela orientação, pela preocupação e pela incrível clareza ao explicar coisas por vezes tão complexas para mim. Um especial obrigado por dividir comigo parte do seu colossal conhecimento sobre evolução e genética quantitativa. Ao Walter Neves, por encarar o início desta empreitada. Ao assessor FAPESP pelas valiosas contribuições para a melhoria do meu trabalho. Não teria chegado aqui se não fosse a valiosa companhia dos integrantes do LEM. Ousaria dizer que não existe lugar mais favorável no planeta ao desenvolvimento de uma tese do que o LEM. Tanto os integrantes atuais (Harley, Ogro, Pato, Lugar, Aninha, Paulinha, Papete, Monique, Edgar, Tafinha, Dani e Wally) quanto os passados (Arthur, Fino e Leila) foram vitais para o meu trabalho. À FAPESP, CAPES e Field Museum's visiting scholar program pelas bolsas concedidas. À Dra. Regina Netto, entre outros motivos, pela ajuda na solicitação da bolsa sanduiche CAPES. Aos funcionários que tanto ajudaram na hora de resolver as burocracias acadêmicas: Helenice, Deise, Helder e Erika. Ao Tony Barnosky por ser o responsável pelo meu estágio sanduiche. Aos queridos amigos de dentro e de fora da biologia. Aos responsáveis pelo curso introdutório do R, Paulo Inácio, Alexandre e Rodrigo. Seus ensinamentos encurtaram muitas distâncias! 5 Aos curadores e aos responsáveis pelas coleções visitadas, assim como aos alunos/estagiários que muito me ajudaram no labiríntico mundo das várias gavetas dos muitos armários perdidos em quase infinitos corredores das coleções dos diversos museus visitados: Judith Galkin, Robert Voss e Eileen Westwig (AMNH); Maureen Flannery e Alicia Goode (CAS); Alejandra Rojas, Richard Fariña e Daniel Hernández (FC); William Simpson, Bruce Patterson e Stephanie Ware (FMNH); Sueli Aguiar e José Abílio Ohana (MPEG); Mary Thompson (IMNH); Jim Dines e Xiaoming Wang (LACM); John Harris e Aisling Farrell (LACMHC); Alejandro Kramarz e Davi Flores (MACN); Castor Cartelle, Luciano Vilaboim e André Vasconcelos (MCN-PUC-MG); Tomaz Aguzzoli e Daniela Sanfelice (MCNRGS); Itatí Olivares e Marcelo Reguero (MLP); Solange Bermudez, Ana Laura e Andrés (MMC); Andrés Rinderknecht, Enrique Gonzalez, Anita e Victor Scarabino (MNHN); Leandro de Oliveira e Stella Franco (MNRJ); Jim Patton e Chris Conroy (MVZ); Tomaz Aguzzoli e Daniela Sanfelice (MCNRGS); Andy Currant, Louise Tomsett e Paula Jenkins (NHM); Pat Holroyd (UCMP); Candace McCaffery, Richard Hulbert, Bruce MacFadden, David Reed e Kyle Finn (UF); Michael Brett-Surman, Darrin Lunde e Linda Gordon (USNM); Mário de Vivo, Juliana Gualda e Fábio Nascimento (MZUSP). Além disso me beneficie das coleções particulares de Mauro Teixeira e Paulo Aurrichio. Durante minhas idas e vindas a todas estas coleções e cidades tive apoio de diversas pessoas (companhia, risadas, caronas, passeios, casa, comida, dicas...), as quais gostaria de agradecer imensamente. Gostaria também de agradecer bons amigos que contribuíram direta ou indiretamente ao longo do doutoramento. Vamos aos nomes: Sílvia Pavan, Pedro Peloso, David Candiani, Nancy Lo Man Hun, Bruce Lander, Howell Thomas, Mariela Castro, Beethoven Piló, Gepeto Muller, Thais Lavagnolli, Tony Barnosky, Susumu Tomiya, Kaitlin Maguire, Allison Stegner, Emily Lindsey, Marc Carrasco, Donald Grayson, Felipe, Rui Murrieta, Rodrigo, Charles, Ian, o povo do 01N, Thiago Quental, Leonardo Pacheco, Ivan Nunes, Marco Antônio Ribeiro, Ana Almeida e Lu, Roberta Damasceno, Zé Wly, Ângela Ribeiro, Jon Fong, Jay McEntee, Mike e Gabi. Especial obrigado a Nadia de Moraes, ao Ángel Miño-Boilini, ao Abílio Ohana, ao Jim Patton e a Flávia Miranda pelas construtivas discussões relacionadas aos queridos Xenarthra e ao Arthur Porto por me ensinar como coletar os marcos anatômicos. Ao meu irmão (Mark), pelas sempre importantes contribuições. Evidentemente a minha mãe (Verônica), pai (Klaus) e irmã (Kaká) por propiciarem o ambiente perfeito para eu poder virar um doutor. Por último, mas não menos importante, agradeço imensamente e do fundo do meu coração à minha paixão, Oli, que leu com muito afinco cada letra desta tese. Se o texto ficou compreensível, devo isto em grande parte a você! 6 Acho muito provável ter esquecido de agradecer alguém (mas espero que não...). Para você, esquecido, minhas desculpas e meu muito obrigado! 7 Índice Introdução Geral 09 Capítulo I. Padrões e magnitudes das relações morfológicas cranianas de Xenarthra atuais e extintos 34 Capítulo II. Diversificação morfológica craniana dos Xenarthra: deriva genética versus seleção natural 115 Capítulo III. Magnitude geral de integração e padrão da modularidade craniana dos Xenarthra 149 Capítulo IV. A dieta e a extinção dos Xenarthra fósseis do Quaternário Tardio 200 Conclusões Gerais 241 Resumo 243 Abstract 245 Anexos 247 8 Introdução Geral O interesse formal pela história natural remonta aos Sumérios, há mais de 5000 mil anos atrás. No entanto, foram os gregos que fundaram as ciências naturais, entre os séculos V e IV a.C.. Eles iniciaram a longa trajetória de estudos relacionados à vida na Terra, como mostram os trabalhos dos filósofos Aristóteles e Theophractus (Huxley, 2007). Apesar da extensa história de pesquisas envolvendo a vida como tema central, o conceito “evolução” é relativamente recente. Até o século XIX, a ideia melhor aceita era a da imutabilidade dos seres vivos, sendo toda a vida criada por Deus. Opiniões que iam contra essa visão de mundo eram fortemente reprimidas ou desencorajadas pela igreja (Grayson, 1984; Futuyma, 1998; Huxley, 2007). Entre os séculos XVIII e XIX, alguns naturalistas foram pioneiros ao propor ideias que desafiavam esse olhar dogmático sobre a vida (Futuyma, 1998; Huxley, 2007; Pigliucci, 2007). No entanto, coube a Charles Darwin e Alfred Wallace (Darwin e Wallace, 1858; Darwin, 1859), somente no início da segunda metade do século XIX, propor um dos mecanismos fundamentais pelo qual os seres vivos evoluem: a seleção natural, que mudou para sempre a forma como a humanidade enxerga a vida. No entanto, os conceitos propostos pelos dois naturalistas não foram aceitos de imediato. O clero e os leigos viam esta ideia como um ataque a religião. Entre os cientistas, uma parcela deles não acreditava na seleção natural devido a sua visão religiosa. Outra parte não concebia que o processo de seleção natural, agindo sobre a diversidade das populações, seria capaz de gerar mudanças importantes. Até as primeiras décadas do século XX, a grande maioria da comunidade científica refutava a ideia de seleção natural (Futuyma, 1998). As principais teorias que eram contrárias à visão darwiniana de evolução embasavam seus argumentos na evidência paleontológica e na genética mendeliana. Segundo alguns pesquisadores, o registro paleontológico, que permite observar as mudanças que ocorrem no 9 nível da espécie ou acima dele (macroevolução) e não somente as mudanças que ocorrem em populações ou dentro de espécies (microevolução), não estavam de acordo com as previsões de Darwin e Wallace, de que a evolução das espécies ocorria de forma lenta e gradual. Após a redescoberta dos trabalhos de Gregor Mendel no início do século XX, alguns cientistas diziam que os princípios da genética mendeliana também não corroboravam a evolução lenta e gradual decorrente da seleção natural (Futuyma, 1998). Contudo, na primeira metade do século XX, Ronald Fisher, Sewall Wright, John Haldane, Theodosius Dobzansky, Ernst Mayr, George Simpson, entre outros cientistas, integraram e conciliaram a teoria da seleção natural à genética mendeliana e à paleontologia. A união dessas três vertentes do conhecimento ficou conhecida como síntese evolutiva moderna (Futuyma, 1998). Além da seleção natural, outro importante mecanismo de evolução, proposto na primeira metade do século XX, integra esta síntese: a deriva genética, pela qual as populações evoluem através de variações aleatórias na frequência dos alelos devido ao tamanho populacional finito (Hagedoorn e Hagedoorn – Vorstheuvel La Brand, 1921; Wright, 1931; Wallace, 2004). Após a sua concepção, a síntese moderna passou a ser o paradigma vigente (Futuyma, 1998; Pigliucci, 2007). A partir dela, a biologia evolutiva desenvolveu-se sob um arcabouço teórico cada vez mais sólido. Neste contexto, floresceu a genética quantitativa. Ela permite compreender os processos microevolutivos que moldaram as estruturas fenotípicas definidas por caracteres contínuos, em oposição aos qualitativos. Esses caracteres são, por sua vez, geralmente determinados por vários genes de efeito pequeno (Falconer e MacKay, 1996). Além disso, através dela é possível acessar as consequências evolutivas da arquitetura genética na evolução dos fenótipos (Marroig et al., 2009; Porto et al., 2009). A base teórica da genética quantitativa 10
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