UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS ÁREA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOLOGIA E LÍNGUA PORTUGUESA SÉRGIO DUARTE JULIÃO DA SILVA Análise e exploração de marcadores discursivos no ensino de Português-Língua Estrangeira (PLE) no Brasil São Paulo 2010 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS PROGRAMA E PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOLOGIA E LÍNGUA PORTUGUESA SÉRGIO DUARTE JULIÃO DA SILVA Análise e exploração de marcadores discursivos no ensino de Português-Língua Estrangeira (PLE) no Brasil Tese apresentada à Área de Pós-Graduação em Filologia e Língua Portuguesa do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, para a obtenção do título de Doutor em Letras. Orientador: Prof. Dr. Reginaldo Pinto de Carvalho. São Paulo 2010 A Maria de Jesus Labrego (in memoriam), “deste-me alturas de incenso”. Agradecimentos Ao Professor Dr. Reginaldo Pinto de Carvalho, meu sincero agradecimento pela orientação e confiança depositada em mim, cedendo-me considerável autonomia e acreditando em meu trabalho desde seu embrião como projeto de dissertação de mestrado. À banca examinadora, pela oportunidade de consolidar este trabalho e aprimorá-lo em investigações futuras. À Professora Dra. Rosane de Sá Amado, que sempre se mostrou disponível e generosa, além de estar executando um trabalho admirável para a consolidação da área de PLE na Universidade de São Paulo. À Professora Dra. Maria Lúcia da Cunha Victório de Oliveira Andrade, por seus preciosos conselhos quando do exame de qualificação. Ao Professor Dr. José Luiz Fiorin, grande mestre, que me apresentou os fascínios da linguística. Às pessoas que permitiram a gravação de seus depoimentos para a constituição dos corpora deste trabalho. Aos profissionais e alunos de PLE com quem trabalhei ao longo destas décadas, por me possibilitarem a experiência necessária à concepção e às reflexões deste trabalho. A meu pai e minha irmã, sem cujo apoio nada disto teria sido absolutamente possível. A Armando Ribeiro Filho, de imensa dignidade e integridade, cuja companhia se faz presente nas vias principais e nos atalhos desta vida. À amiga Marilena De Stefano: nunca há grandes professores se não houver alunos admiráveis. Aos amigos Giselda Fernanda Pereira e Marcelo Bartz, por sempre me presentearem com sua revigorante cumplicidade. A Arnaldo José Calado de Farias, que me fez enxergar a inteligência sem, contudo, despi-la de sensibilidade. A Silvana Maria da Conceição, insubstituível na dedicação que não se mede. E, por fim, ao meu filho Victor, cuja existência tudo resume. “Vale o risco? Vale, se a vocação for cumprida com amor. É preciso se apaixonar pelo ofício, ser feliz nesse ofício. Se em outros aspectos as coisas falham (tantas falham), que ao menos fique a alegria de criar.” Lygia Fagundes Telles, em entrevista a Clarice Lispector Resumo A conversação é fonte de grande parte de nossa noção de ordem social e, além disso, apresenta sua própria ordem e manifesta um senso próprio de estrutura. Ao interagirem através da conversação, as pessoas recorrem a procedimentos regulares através dos quais tornam explícitas as marcas de planejamento de seu discurso e as estratégias de gestão dos turnos de conversação, das relações estabelecidas e da interação verbal em si. A língua, portanto, não pode ser considerada simplesmente um código de comunicação, mas sim um meio através do qual atuam sujeitos que manifestam suas ideias sobre o mundo real e sobre seu próprio mundo interior, expressam seus papéis sociais e sua personalidade em um determinado contexto e, ainda, por mecanismos metalinguísticos, estabelecem relações de coesão e coerência nos seus próprios textos através dos vínculos que a linguagem verbal estabelece com ela mesma. Nesse processo, os marcadores discursivos (MD) exercem papel de extrema importância porque possibilitam e fazem funcionar mecanismos de atuação e manifestação dos sujeitos da enunciação. Entretanto, uma análise atenta dos materiais utilizados para o ensino de Português- Língua Estrangeira (PLE) no Brasil revelará que as situações de conversação a que são expostos os alunos pouco se utilizam desses elementos e processos típicos da interação verbal e acabam por prender-se à sintaxe do português culto escrito. Como resultado – ao contrário de materiais didáticos de outros idiomas como o inglês, o espanhol e o francês, por exemplo – os materiais de PLE incorrem na falha de não equiparem os estrangeiros com ferramentas tais que os possibilitem interagir com falantes de português em situações reais de conversação. Tendo como arcabouço teórico a Análise da Conversação, este trabalho apresenta a importância da presença dos processos da conversação no ensino de língua estrangeira e propõe quatro níveis de exploração dos MD com vistas a construir nos estrangeiros aprendizes de português uma real competência comunicativa e sociocultural. Palavras-chave: Português Língua Estrangeira (PLE), Análise da Conversação, marcadores discursivos, língua falada, ensino de língua estrangeira, linguística aplicada. Abstract A great deal of our sense of social order stems from conversation, which in turn has its own order and works according to its own rules of structure. As they interact through conversation, people resort to regular procedures to produce explicit marks of discourse planning along with strategies for managing turn-taking, established relationships and oral interaction itself. Therefore, language should not be considered merely as a communication code, but rather a means through which subjects can play an active role while manifesting their ideas about the real world and their own inner world, and expressing their social roles and personality within a given framework. These subjects also engage in metalinguistic mechanisms to create cohesion and coherence relationships as oral language refers to itself in discourse. Discourse markers play a fundamental role in this process because they enable subjects to act and manifest their own selves while producing utterances. However, a close look at the materials currently used for teaching Portuguese as a Foreign Language (PFL) will show that the conversation instances to which PFL students are exposed seldom use these elements and processes so typical of oral interaction. As opposed to other foreign language materials such as English, Spanish and French, PFL materials tend to insist on forms that reflect educated written Portuguese syntax. As a result, PFL material fail to provide foreigners with useful tools to interact with Portuguese speakers in real conversation. This paper highlights the importance of exploring conversation in foreign language teaching on the basis of Conversation Analysis theories. It also suggests four levels in which discourse markers can be explored in order to enable PFL students to build up effective communicative and sociocultural competence. Key words: Portuguese as a Foreign Language (PFL), Conversation Analysis, discourse markers, spoken language, foreign language teaching, applied linguistics. ANÁLISE E EXPLORAÇÃO DE MARCADORES DISCURSIVOS NO ENSINO DE PORTUGUÊS-LÍNGUA ESTRANGEIRA (PLE) NO BRASIL Sumário Introdução 1 1. Justificativa 1 2. Fundamentação teórica 4 3. Objetivos e procedimentos metodológicos 6 Capítulo 1 - O Português Falado (PF) e o Português Língua Estrangeira (PLE) 9 1.1 Estudos e abordagens do PF 9 1.2 Histórico e tendências do PLE 14 1.3 A presença e a importância do PF no ensino de PLE 20 Capítulo 2 - Fundamentos teóricos 23 2.1 Abordagens linguísticas pré-funcionalistas 23 2.2 Funcionalismo, pragmática e o estudo das conversações 35 2.2.1 “Por que a linguagem é como é?” – o funcionalismo de Halliday 36 2.2.2 Desdobramentos das investigações funcionalistas 41 2.2.3 A guinada pragmática e o estudo das conversações 44 2.3 A Análise da Conversação e os MD 49 2.4 As competências 62 Capítulo 3 – Marcadores Discursivos (MD) 67 3.1 Texto, contexto e MD na interação 67 3.2 Traços definidores dos MD 79 3.2.1 Procedimentos metodológicos 79 3.2.2 Variáveis consideradas e seus traços 81 3.2.3 Traços caracterizadores dos MD 82 3.3 Articulação tópica e orientação da interação: língua em ação 85 3.4 Os MD nos procedimentos de formulação 95 3.4.1 Hesitação 98 3.4.2 Interrupção 102 3.4.3 Repetição 110 3.4.4 Correção 113 3.4.5 Parafraseamento 118 3.4.6 Parentetização 121 3.4.7 Tematização e rematização 128 3.4.8 Referenciação 130 3.5 Os MD nas marcas de subjetividade 135 3.6 Os MD sob o viés cultural e ideológico 142 Capítulo 4 - Os MD no ensino de língua estrangeira 152 4.1 Considerações sobre o ensino de língua estrangeira 152 4.1.1 Panorama histórico do ensino de língua estrangeira 158 4.1.2 O culto e o popular 174 4.1.3 A questão da interculturalidade 183 4.1.4 Interlíngua 189 4.2 A exploração dos MD no ensino de língua estrangeira 191 4.2.1 Os MD no ensino do inglês 191 4.2.2 Os MD no ensino de espanhol 207 4.2.3 Os MD no ensino de francês 217 4.2.4 Os MD no ensino de PLE 229 4.3 MD no ensino de PLE x MD no ensino de línguas estrangeiras 240 Capítulo 5 - Níveis de exploração dos MD no ensino de PLE 244 5.1 Exploração dos MD no nível fonético-fonológico 263 5.2 Exploração dos MD no nível morfossintático 276 5.3 Exploração dos MD no nível léxico-semântico 287 5.3.1 Conceptualização 290 5.3.2 Semiotização e lexemização 291 5.4 Exploração dos MD no nível discursivo 300 Conclusão 310 Referências bibliográficas 316 Anexos 1 Critérios para transcrição 335 2 Entrevistas com brasileiros 336 3 Lista dos MD do corpus compartilhado do Projeto NURC/Brasil 346 4 Subjuntivo à paulista 347 5 Entrevistas com estrangeiros, com transcrição fonética 348
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