Análise e Dimensionamento de Paredes Resistentes de Betão Armado com Base em Modelos de Escoras e Tirantes Dissertação apresentada para a obtenção do grau de Mestre em Engenharia Civil na Especialidade de Estruturas Autor Jorge Alexandre Reis Prata Galhardo Vieira Orientador Paulo Manuel Mendes Pinheiro da Providência e Costa Ricardo Joel Teixeira Costa Esta dissertação é da exclusiva responsabilidade do seu autor, não tendo sofrido correcções após a defesa em provas públicas. O Departamento de Engenharia Civil da FCTUC declina qualquer responsabilidade pelo uso da informação apresentada Coimbra, Julho, 2014 Análise e dimensionamento de paredes de betão armado com base em modelos de escoras e tirantes AGRADECIMENTOS AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar, quero agradecer aos meus orientadores, Professor Paulo Providência e Costa e Professor Ricardo Costa, pela orientação e por sempre terem estado disponíveis para o esclarecimento de qualquer dúvida, não só no desenvolvimento desta dissertação, mas também durante esta fase da minha formação académica. A todos os meus amigos e colegas de curso agradeço o terem feito parte destes anos e me terem apoiado em todas as situações, especialmente à Joana, por sempre me ter dado confiança. Por último, agradeço à minha família, pela educação, carinho e suporte que sempre me deram, em especial aos meus pais e irmão, sem esquecer os meus avós, por todo o apoio nestes anos de vida académica. Jorge Prata Vieira i Análise e dimensionamento de paredes de betão armado com base em modelos de escoras e tirantes RESUMO RESUMO Com esta dissertação pretende-se abordar a análise e o dimensionamento de paredes resistentes de betão armado, utilizando uma metodologia baseada em modelos de escoras e tirantes. Esta metodologia consiste numa forma prática, fundamentada na mecânica e extremamente intuitiva de dimensionamento de estruturas de betão armado. Este método é recomendado por várias especificações técnicas de betão armado, incluindo a EN 1992, devendo porém notar-se que não cumpre os estados limite de utilização (ELU). Muttoni et al. (1996) fazem, na sua obra, uma apresentação muito simplista de um modelo de escoras e tirantes a aplicar numa parede resistente, não entrando em detalhes sobre os critérios utilizados para o estabelecer ou sobre bases inerentes ao modelo. Pretende-se, com esta dissertação, esclarecer esses mesmo critérios, começando pela identificação das principais características destes elementos estruturais e fazendo uma análise em função das mesmas, sejam elas as dimensões da parede, o número de pisos ou a razão entre ações horizontais e verticais. Seguidamente, será apresentada uma abordagem completa do modelo de escoras e tirantes, incluindo a concepção da “treliça”, a determinação e análise dos campos de esforços, o dimensionamento e verificação de segurança da estrutura e por fim a referência às armaduras necessárias para a solução final. O trabalho é constituído pelas seguintes partes: (i) introdução ao tema abordado; (ii) revisão bibliográfica e do estado de arte sobre o método de escoras e tirantes e paredes resistentes; (iii) Análise do modelo proposto por Muttoni et al. (1996), e apresentação dos procedimentos para a concepção, e dimensionamento desse mesmo modelo para paredes resistentes com n pisos; (iv) apresentação de um caso prático de aplicação do modelo estudado e análise dos resultados obtidos, bem como a realização de verificações de segurança; (v) apreciação final do trabalho realizado e apresentação das conclusões, bem como de sugestões para trabalhos futuros dentro da temática. PALAVRAS-CHAVE Escoras e tirantes, Paredes resistentes, Estados limite últimos, Treliça, Betão Armado Jorge Prata Vieira ii Análise e dimensionamento de paredes de betão armado com base em modelos de escoras e tirantes ABSTRACT ABSTRACT The purpose of this dissertation is to address the analysis and design of reinforced concrete shear walls, using a methodology based on strut and tie models. This methodology is a practical, based on mechanical principles and extremely intuitive way to design reinforced concrete structures. This method is recommended by various technical specifications of reinforced concrete, including EN 1992, however it should be noted that it does not meet the Service Limit States (SLS). Muttoni et al. (1996) do, in their work, a very simplistic presentation of a strut and tie model to design shear walls, not going into much detail on the criteria used to establish the model neither the theoretical bases inherent to the model. It is intended with this dissertation to clarify those criteria, starting with the identification of the main characteristics of the structural elements and making an analysis based on those characteristics, whichever the size of the wall, the number of floors or the ratio between horizontal and vertical actions. Subsequently, it will be presented a complete approach to the strut and tie model, including the design of the "truss", the determination and analysis of the stress field, the design and verification of safety of the structure and finally the reference to the detailing of the final solution will be provided. The document consists of the following parts:(i) introduction to the subject; (ii) literature review on the strut and tie method and shear walls; (iii) Analysis of the model proposed by Muttoni et al. (1996), and description of procedures for the design of that model for shear walls with n floors; (iv) presentation of a practical case of application of the model and analysis of results, as well as security verifications; (v) final conclusions of the work as well as suggestions for future developments in the subject. KEY WORDS Strut and tie, Shear Walls, Ultimate limit states, Truss, Reinforced Concrete Jorge Prata Vieira iii Análise e dimensionamento de paredes de betão armado com base em modelos de escoras e tirantes ÍNDICE ÍNDICE AGRADECIMENTOS ................................................................................................................ i RESUMO .................................................................................................................................... ii ABSTRACT ............................................................................................................................. iii ÍNDICE DE FIGURAS ............................................................................................................. vi ÍNDICE DE QUADROS ........................................................................................................... ix SIMBOLOGIA ........................................................................................................................... x ABREVIATURAS .................................................................................................................... xi 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 1 1.1 Considerações gerais ..................................................................................................... 1 1.2 Objectivos e motivação para a dissertação .................................................................... 2 1.3 Organização da dissertação ........................................................................................... 2 2 ESTADO DA ARTE ............................................................................................................ 3 2.1 Introdução ...................................................................................................................... 3 2.2 Enquadramento Histórico .............................................................................................. 3 2.3 Enquadramento Normativo ............................................................................................ 4 2.4 Conceitos Teóricos Inerentes ao Método de Escoras e Tirantes ................................... 4 2.4.1 Teoremas Limite da Plasticidade ............................................................................ 4 2.4.2 Campos de Tensões e Trajetórias de Carga ............................................................ 5 2.4.3 Principio de Saint-Venant ....................................................................................... 6 2.5 Tipificação genérica de modelos ................................................................................... 6 2.5.1 Escoras de Betão ..................................................................................................... 7 2.5.2 Tirantes ................................................................................................................... 9 2.5.3 Nós .......................................................................................................................... 9 2.6 Paredes Resistentes ...................................................................................................... 13 3 ANÁLISE DE PAREDES RESISTENTES ....................................................................... 14 3.1 Princípios base apresentados por Muttoni e colaboradores ......................................... 14 3.1.1 Partindo das “Deep Beams” .................................................................................. 14 3.1.2 Aproveitamento do material ................................................................................. 15 3.1.3 Formas de “Redireccionamento” das Cargas ....................................................... 16 3.1.4 Parede Resistente com n Pisos .............................................................................. 22 3.2 Desenvolvimento do Modelo ....................................................................................... 28 3.2.1 Evolução – antes do reforço ................................................................................. 28 3.2.2 Evolução – após reforço ....................................................................................... 32 Jorge Prata Vieira iv Análise e dimensionamento de paredes de betão armado com base em modelos de escoras e tirantes ÍNDICE 4 ANÁLISE E RESULTADOS ............................................................................................. 35 4.1 Introdução .................................................................................................................... 35 4.2 Definição do Modelo ................................................................................................... 35 4.2.1 Dimensões e esquema de cargas de cada piso ...................................................... 35 4.2.2 Previsão da evolução da excentricidade e consequente necessidade de reforço .. 36 4.2.3 Fase Pré-Reforço .................................................................................................. 37 4.2.4 Fase pós-reforço ................................................................................................... 43 4.3 Análise dos Resultados e Verificações ........................................................................ 50 4.3.1 Cálculo dos esforços na estrutura ......................................................................... 50 4.3.2 Verificação de segurança dos nós mais condicionantes ....................................... 53 4.3.3 Nota sobre disposição da armadura ...................................................................... 56 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 59 5.1 Conclusões ................................................................................................................... 59 5.2 Trabalhos Futuros ........................................................................................................ 60 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 61 ANEXO A - QUADROS DA MODELAÇÃO EM ROBOT (AUTODESK) ..................... A-1 ANEXO B - VERIFICAÇÃO DA REGIÃO NODAL (CÁLCULOS) ............................... B-1 ANEXO C - DISTRIBUIÇÃO DAS FORÇAS PELOS NÓS DO MET ............................... C-1 Jorge Prata Vieira v Análise e dimensionamento de paredes de betão armado com base em modelos de escoras e tirantes ÍNDICE DE FIGURAS ÍNDICE DE FIGURAS Figura 2.1 - Modelo de escoras e tirantes, numa viga parede, construído a partir da trajetória de carga; adaptado de Meirinhos (2008) 5 Figura 2.2 - Campo de tensões axiais provocado numa peça prismática por três sistemas de forças diferentes, mas com igual resultante (Silva, 2004) 6 Figura 2.3 – Exemplos de modelos de escoras e tirantes e correspondentes campos de tensões (Schlaich et al., 1987) 7 Figura 2.4 - Campos de compressão: a) leque; b) garrafa; c) prismática (Schlaich et al., 1987) 8 Figura 2.5 - a) escora sujeita a tensões de compressão transversais b) escora sujeita a tensões de tração transversais; adaptado de EC2 (CEN, 2010) 8 Figura 2.6 - Classificação de nós (ACI-318, 2002) 10 Figura 2.7 - Exemplos de nós 1 (Schlaich et al., 1987) 10 Figura 2.8 - Exemplos de nós 2 (Schlaich et al., 1987) 11 Figura 2.9 - Nó hidrostático e não-hidrostático (Thompson, 2002) 11 Figura 2.10 - Nó hidrostático, adaptado de (ACI-318, 2002) 12 Figura 2.11 - Edifício com paredes resistentes, sujeito a forças horizontais: a) piso tipo; b) fachada; c) vista lateral, adaptado de (Nilson et al., 2010) 13 Figura 3.1 - Paredes carregadas verticalmente e os seus campos de tensões; adaptado de Muttoni et al. (1996) 14 Figura 3.2 - Cálculo de a 15 lim Figura 3.3 - Estudo da largura do leque de compressão 17 Figura 3.4 - Estudo do efeito de uma força horizontal no leque de compressões – casos limite 17 Jorge Prata Vieira vi Análise e dimensionamento de paredes de betão armado com base em modelos de escoras e tirantes ÍNDICE DE FIGURAS Figura 3.5 – Relação H/V e o seu efeito em a 18 Figura 3.7 - Paredes resistentes sujeitas a esforço vertical e de corte – Casos limite sem reforço vertical 20 Figura 3.8 - Paredes resistentes sujeitas apenas a esforço de corte e seus campos de tensão, a) reforço concentrado e b) reforço distribuído 21 Figura 3.9 - Efeito do reforço vertical na resultante de forças e campo de tensão 21 Figura 3.10 – Esquema do efeito do reforço vertical nas resultantes de forças 22 Figura 3.11 - Parede resistente de vários pisos, forças resultantes e campos de tensões, adaptado de Muttoni et al. (1996) 23 Figura 3.12 – Carregamento aplicado ao longo dos pisos da parede 24 Figura 3.13 – Forças existentes na face superior de cada um dos pisos 24 Figura 3.14 – Forças atuantes num piso n - genericamente 25 Figura 3.15 – Excentricidade no topo e na base de um piso n 25 Figura 3.16 – Estudo do efeito de um reforço vertical - 1 26 Figura 3.17 – Estudo do efeito de um reforço vertical - 2 26 Figura 3.18 – Forma geométrica de determinar T 27 Figura 3.19 – Barras simplesmente apoiadas sujeitas a par de forças H e V 28 Figura 3.20 – Fase pré-reforço, adaptado de Muttoni et al. (1996) 29 Figura 3.21 – Larguras de influência que permitem determinar a posição do novo ponto 30 Figura 3.22 - Larguras de influência que permitem determinar a posição do novo ponto – junção 30 Figura 3.23 – Efeito das componentes horizontal e vertical na resultante da soma de duas forças A e B - 1 31 Figura 3.24 - Efeito das componentes horizontal e vertical na resultante da soma de duas forças A e B - 2 31 Figura 3.25 Efeito das componentes horizontal e vertical na resultante da soma de duas forças A e B – 3 32 Jorge Prata Vieira vii Análise e dimensionamento de paredes de betão armado com base em modelos de escoras e tirantes ÍNDICE DE FIGURAS Figura 3.26 – Fase após-reforço, adaptado de Muttoni et al. (1996) 32 Figura 3.27 – Padrão do MET – fase após reforço 33 Figura 4.1 –Esquema de cargas a aplicar a cada piso e suas dimensões 35 Figura 4.2 – Evolução da excentricidade da RFE 37 Figura 4.3 – Distribuição das forças verticais no 1º Piso 38 Figura 4.4 - Distribuição das forças verticais no 2º Piso 40 Figura 4.5 - Distribuição das forças verticais no 3º Piso 42 Figura 4.6 - Distribuição das forças verticais no 4º Piso 44 Figura 4.7 – Trajetória de cargas a descarregar nos pontos de descarga 44 Figura 4.8 – Relações geométricas para a determinação de a e b 46 Figura 4.9 – a) estrutura modelada no Robot Structural Analysis, b) Diagrama de esforços Axiais 51 Figura 4.10 – “Triângulo hidráulico” de um nó do tipo CCT – relações geométricas 53 Figura 4.11 – Esquematização do espaço ocupado pelas regiões nodais dos nós nos 61, 62 e 63 55 Figura 12 – Representação de parte de um corte transversal, feito junto ao limite esquerdo da parede, distâncias em metros 58 Jorge Prata Vieira viii Análise e dimensionamento de paredes de betão armado com base em modelos de escoras e tirantes ÍNDICE DE QUADROS ÍNDICE DE QUADROS Quadro 3.1 - Características dos betões 16 Quadro 3.2 - Estimativas do valor de a para diferentes betões 16 Quadro 4.1 – Evolução da excentricidade e necessidade de reforço 36 Quadro 4.2 – Resultante simples – Nó A 38 Quadro 4.3 – Resultante simples – Nó B 39 Quadro 4.4 - Resultante simples – Nó C 40 Quadro 4.5 - Resultante simples – Nó D 41 Quadro 4.6 - Resultante do tipo junção – Nó E + F 41 Quadro 4.7 - Resultante simples – Nó G 42 Quadro 4.8 - Resultante do tipo junção – Nó H + I 43 Quadro 4.9 – Dados geométricos 48 Quadro 4.10 – Estimativa do valor de T e verificações 48 Quadro 4.11 – Posicionamento dos pontos K, D ,D e D e seus δ 49 1 2 3 Quadro 4.12 – Cargas - Robot Structural Analysis 52 Quadro 4.13 – Reacções de apoio - Robot Structural Analysis 52 Quadro 4.14 – Esforços dos elementos que convergem na região nodal 55 Quadro 4.15 – Dimensões que definem as regiões nodais 55 Quadro A-1 – Coordenadas dos pontos do modelo de escoras e tirantes - Robot A-1 Quadro A - 2 – Esforços Axiais e tipo de barra – Robot (1) A-2 Quadro B – 1 –Verificações de Segurança – Região Nodal B-1 Jorge Prata Vieira ix
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