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Análise do Perfil Sócio-Econômico Cultural dos Ingressantes na Unicamp (1987-1994): Democratização ou Elitização? PDF

69 Pages·1997·0.34 MB·Portuguese
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Análise do perfil sócio- econômico-cultural dos ingressantes na UNICAMP (1987-1994): democratização ou DOCUMENTO elitização DE TRABALHO 2 / 97 Lara Andréa Crivelo Bezzon Universidade Paulista Pesquisadora do Núcleo de Políticas Públicas Universidade Estadual de Campinas NUPES Núcleo de Pesquisas sobre Ensino Superior Universidade de São Paulo Análise do perfil sócio-econômico-cultural dos ingressantes na UNICAMP (1987-1994): democratização ou elitização. Lara Andréa Crivelo Bezzon Universidade Paulista Núcleo de Políticas Públicas Universidade Estadual de Campinas Núcleo de Pesquisas sobre Ensino Superior da Universidade de São Paulo Apresentação* O presente estudo pretende traçar o perfil do aluno que compõe os cursos oferecidos pela Universidade Estadual de Campinas. Sendo a Unicamp uma Universidade Pública de muito prestígio, interessa a todos e à sociedade em geral, conhecer o perfil dos profissionais que estão sendo formados por ela** . O tema é altamente relevante no momento em que se discute o ensino pago nas Universidades Públicas e os exames finais dos cursos superiores. Pretendemos também oferecer subsídios para análises mais concretas do perfil dos alunos da Unicamp e colaborar com a formulação de políticas internas da Universidade, além de oferecer elementos para a reflexão sobre o papel da Universidade no país. A partir do perfil sócio-econômico-cultural dos ingressantes na Unicamp durante o período de 1987/1994, pretende-se examinar se há ou não um processo de elitização na escolha de determinados cursos oferecidos pela Universidade. Desenvolvimento da pesquisa Para identificarmos a "elite universitária" construimos um índice a partir de um levantamento estatístico, feito com informações sócio-econômico-culturais dos ingressantes na Universidade entre 1987 a 1994. Iniciamos analisando os dados referentes a 1987, por ser este o ano em que a Unicamp realizou seu primeiro vestibular independente da FUVEST. O período analisado foi de oito anos de vestibular. Nosso objetivo era descobrir como é que se comportam os dados referentes aos cursos com maior número de alunos elitizados, todos os anos. Será que a ordem de elitização destes cursos se altera nestes oito anos? Ou será que os dez mais elitizados apenas trocam de posição entre si e continuam a ser os mais elitizados sempre? Que tipo de fatores externos à universidade contribuem para esta alteração? O contexto econômico e social do país como um todo, é responsável por algum tipo de modificação desta elite dentro da universidade? * Trabalho apresentado na Universidade Estadual de Campinas, para obtenção do título de Mestre em Sociologia. ** Agradeço a Professora Gilda Portugal Gouvêa e a Professora Regina Moran pelo apoio e orientação deste trabalho. Agradeço em especial ao CONVEST/Unicamp, que forneceu o material necessário para a realização deste trabalho. A Unicamp oferece atualmente 39 cursos, sendo 25 em período diurno e 14 em período noturno1. Os mesmos assim se distribuem conforme as áreas do conhecimento: Exatas 16; Tecnologia 4; Ciências Humanas 8; Artes 4; Biologia72. Tomando como referência o "Questinário Sócio-Cultural" composto por 62 questões, respondido por todos os alunos que se inscrevem em setembro para prestar vestibular da Unicamp, foram selecionadas questões mais diretamente ligadas aos objetivos pretendidos, isto é, informações mais detalhadas sobre o nível sócio-econômico dos alunos. Trabalhamos apenas com os dados dos alunos aprovados no vestibular de cada ano proposto e com aqueles efetivamente matriculados. As questões são as seguintes: -Em que tipo de estabelecimento de ensino você cursou o 1º grau ? -Em que tipo de estabelecimento de ensino você cursou o 2º grau ? -Qual a renda total mensal de sua família? -Qual o nível de instrução de sua mãe? -Qual o nível de instrução de seu pai? -A que categoria pertence a ocupação de seu pai? -Você exerce alguma atividade remunerada? Para cada uma das questões escolhidas temos uma justificativa que legitima a escolha feita. Ao efetuarmos a escolha tínhamos como hipótese que o tipo de escola que fez o 1º e o 2º grau (Pública ou Privada) é um dado que irá nos fornecer o grau de elitização dos ingressantes pois, supomos que os filhos das classes pouco privilegiadas freqüentem escolas públicas e que destes, os poucos que vão para uma escola particular o fazem somente a partir do 2º grau. Mesmo assim, nossa hipótese é de que se ingressam em uma Universidade pública, geralmente escolhem um curso de menor prestígio social. Renda Familiar é outro fator importante para nossa pesquisa, porém, sozinho, não nos diz muita coisa, já que temos como objetivo fazer uma análise multideterminada. Pierre Bourdieu (1979) considera que um dos indicadores mais importantes para medir o fenômeno capital cultural é o grau de instrução dos antepassados do indivíduo, daí, consideramos que a variável ocupação do pai teria também um caráter fundamental nesta análise, pois, o cargo assumido por ele pode refletir seu grau de instrução. Outra hipótese que tínhamos é que os cursos mais elitizados geralmente seriam aqueles escolhidos por quem tem pais com grau de instrução mais elevado e entendemos que as influências familiares são poderosas na definição da carreira pelos jovens. Daí a maior procura por cursos como engenharias e medicina, que são cursos de maior demanda no vestibular e tradicionalmente de maior status na sociedade. Assim, falar em elitização dos cursos, não significa simplesmente dizer que um determinado curso é mais elitizado por apresentar uma alta porcentagem de alunos com renda familiar acima de 40 salários mínimos. Neste contexto a análise da variável instrução dos pais, refletirá o grau de urbanização das famílias e portanto o peso do capital cultural dos indivíduos que compõem os cursos da Unicamp, o que também pode indicar a elitização de um curso. 1 Os cursos de período noturno da Unicamp passaram a existir somente a partir de 1992. 2 Dados do ano de 1994. 2 Já a variável "atividade remunerada", permite-nos levantar como hipótese que em cursos mais elitizados teremos menos alunos trabalhadores e os poucos que porventura trabalham podem estar desempenhando atividades em negócios próprios de sua família ou por desejo de independência. Os dados tabulados por áreas e cursos fornecidos pelo CONVEST3, foram ordenados através da análise de correspondência e análise fatorial. Assim chamamos neste trabalho de cursos mais elitizados, os cursos cujos alunos obtiveram as primeiras colocações nos coeficientes estatísticos mencionados, onde se observa desde o tipo de escola que fez o 1º grau até renda familiar do aluno. Devemos, no entanto, chamar a atenção para o fato que "curso de elite" ou "mais elitizado" nem sempre tem a ver com curso mais concorrido ou cursos de maior demanda. Na maioria das vezes os cursos cujos alunos são mais elitizados não são diferentes dos cursos de maior demanda, porém há exceções. Mesmo as profissões de maior status diante da sociedade podem revestir-se de uma auréola idealizada, em função de conjunturas econômicas, políticas e sociais, que são passageiras e isto nos remete às ilusões do mercado de trabalho. Outra ilusão deste mercado de trabalho são as chamadas "profissões da moda". Um exemplo disto muito bem utilizado por Whitaker é que em 1975, quando o Brasil assinou o acordo nuclear com a Alemanha, os adolescentes que faziam o curso colegial começaram a falar em Física Nuclear, numa completa desinformação do que seja a graduação em Física: "aquela época, pensava-se, talvez, num imenso litoral povoado com gigantescos reatores, onde os físicos (todos 'nucleares') teriam apenas que bater à porta para conseguir empregos. Não imaginavam os problemas ecológicos resultantes nem percebiam que o tal acordo visava nos empurrar a sucata e o lixo atômico que a maior consciência do povo alemão recusava"(Whitaker, 1986:26). Imaginamos que os resultados gerais desta pesquisa não só sugerirão perfis diferenciados para candidatos a diferentes cursos da Universidade, como apontarão para diferenças de capital cultural. Um outro dado muito interessante de se observar e que de uma certa forma reflete o peso do capital cultural dos alunos na procura pelos cursos é a variação das médias das notas da redação comparado aos cursos de maior demanda e fazendo um cruzamento com os cursos mais elitizados. Com isto poderemos entender melhor a relação que o capital cultural tem com a maior elitização dos cursos, o que será feito a seguir. 3 Comissão Permanente para o Vestibular da Unicamp 3 A construção histórica da imagem da Unicamp A pedra fundamental do campus da Universidade Estadual de Campinas, então U.E.C., foi lançada no dia 5 de outubro de 1966. Entretanto, a universidade já existia no papel desde 1962, quando o governo do Estado determinou que se instalasse em Campinas uma Faculdade de Medicina. Ela seria o embrião da nova universidade. A Unicamp é fruto de um processo de interiorização do ensino superior iniciado no Estado de São Paulo, em 1948, com o propósito de atender à crescente demanda de alunos que, todos os anos, dirigia-se à capital em busca de formação universitária. O projeto de fundação da Unicamp prendia-se às necessidades de pessoal qualificado que atendesse às exigências do processo de industrialização do país, uma universidade que desse ênfase à pesquisa tecnológica e que mantivesse vinculação sólida ao setor produtivo. Acrescente-se a isso que: "havia um projeto de interiorização das indústrias de bens de capital e de bens de consumo durável e à época era o Estado de São Paulo que detinha cerca de 40% da capacidade industrial do país. Por outro lado, Campinas e Região foram fortemente afetados por esse processo de interiorização, sendo que o crescimento industrial a partir da década de 60 foi tal que tornou-se a mais importante atividade econômica do município"(Lima, 1989: p 32) Criada a Universidade pela Lei 7.655 de 28 de dezembro de 1962, ela manteve-se funcionando precariamente nos anos seguintes apenas com a Faculdade de Medicina e devido a isso, recebia duras críticas do Conselho Estadual de Educação (CEE), que cogitou limitá-la à referida unidade. Seu planejamento como Universidade - organismo composto de várias Faculdades e Institutos - deu-se somente a partir de setembro de 1965, quando o CEE nomeou uma "Comissão Organizadora da Universidade" que foi encarregada de estudar a sua viabilidade. O início dos trabalhos desta Comissão marcou também o princípio da participação do Prof. Zeferino Vaz e de professores de diversas áreas na organização da instituição (Meneghel, 1994: p 145). A presença na reitoria do Professor Zeferino Vaz, figura que se confunde com o nome da Unicamp, faz com que se pergunte se teria sido diferente o caminho da Universidade não fosse a presença dele. A atuação do Prof. Zeferino Vaz à frente da Comissão que organizou a Unicamp foi decisiva para os rumos que ela iria tomar nos primeiros anos da sua implantação, o que é possível compreender se recuperarmos a trajetória percorrida por ele até aquele momento: após haver concluído sua graduação na escola Paulista de Medicina, Zeferino Vaz ingressou na carreira acadêmica, tornando-se pesquisador do Instituto Biológico, em São Paulo. Poucos anos depois foi para a recém-fundada Universidade de São Paulo, onde se tornou diretor da Faculdade de Medicina Veterinária - o que lhe valeu experiência na área administrativa e, também, conhecimento das necessidades e dos anseios de um pesquisador. Nos anos 50 empenhou-se - valendo-se de sua experiência anterior - na criação da Faculdade de Medicina 4 de Ribeirão Preto (USP), onde formou um campus moderno, nos padrões dos existentes nas universidades norte-americanas. De acordo com as exigências de um dos financiadores do projeto, a Fundação Rockefeller, a FMRP foi dotada de regime de tempo integral para os docentes e semi-internato para os alunos, o currículo foi moldado às necessidades da atuação do profissional, houve uma inovação na estrutura didático-científica, foi dada ênfase à pesquisa etc. Com o golpe militar de 1964, Zeferino Vaz tornou-se o reitor-interventor da Universidade de Brasília; nesta ocasião pode conhecer com profundidade as inovações propostas para a UnB, adquirindo a percepção de Universidade como um todo integrado devido à convivência de todas as ciências e das artes em um mesmo campus. Isto possibilitou- lhe perceber a importância da formação humanista no aluno universitário, visão que ainda não obtivera em suas passagens por São Paulo e Ribeirão Preto. Tendo sido também presidente do CEE, Zeferino Vaz conhecia a fundo os processos burocráticos e os problemas do ensino superior no país, além de carregar consigo a experiência e o trânsito político exigido pelo cargo. Ou seja: ao ser nomeado o presidente da Comissão Organizadora da Universidade de Campinas em 1965 ele acumulara um conhecimento na área de administração do ensino superior que lhe possibilitava impulsionar a Unicamp, em termos de implantação e funcionamento, como poucos no país teriam condições de fazer. Nessa ocasião, inícios do regime militar, Zeferino Vaz foi "responsável por atos repressivos e destituições dentro da UnB, no entanto permitiu que a Unicamp se transformasse num porto seguro para a intelectualidade contrária ao regime, fazendo da Unicamp uma Universidade crítica"(Germano, 1990: p 228). As universidades brasileiras, em geral, foram palco de invasões e intervenções do Governo Federal. Os reitores passaram a ser nomeados e muitos pesquisadores foram demitidos ou viram-se obrigados a se demitir ou mesmo a deixar o país. Zeferino Vaz aproveitou-se do momento de enfraquecimento dos meios universitários, da ausência de grandes nomes que foram expulsos pelo regime e da difícil situação que enfrentava a USP, a maior universidade do país, procurando manter, dentro da Unicamp, um certo grau de liberdade que permitisse atrair a intelectualidade insatisfeita. Contratou muitos professores de renome no exterior, e também trouxe de volta ao país muitos dos grandes nomes1 que haviam se afastado. Entre os anos de 68 e 69, com grande acesso a verbas estaduais, a universidade se dedicou à compra de equipamentos sofisticados e à contratação de cientistas brasileiros e 1 Inst. de Física- Prof. Dr. Marcello Damy de Sousa Santos, César Lattes; Inst. Química- Prof. Dr. Giusepp Cillento; IMECC - Prof. Dr. Rubem Murillo Marques; Inst. Biologia - Prof. Dr.Walter Hadler; Eng. Elétrica - Prof. Dr. José F. Valverde; Eng. Alimentos - Prof. Dr.André Tazelho; Medicina - Antônio Augusto de Almeida; IFCH - Prof. Dr. Fausto Castilho; Eng. Genética - Friedcrich Gustav Brieger; Eng. Civil - Prof. Dr. Pedro Siqueira; Odontologia - Plínio A. de Moraes; C. Humanas - Prof João Manoel Cardoso de Mello e Luis Gonzaga Belluzzo, entre outros. 5 estrangeiros de renome, como César Lates, Sérgio Porto e Gleb Wataghin entre outros. Desta forma, a Unicamp se firma rapidamente como importante polo depesquisa e produção. Em termos de recursos humanos e tecnológicos, o principal objetivo da Unicamp era conseguir os melhores nomes do mundo científico porque pagava salários compatíveis com os das melhores universidades norte-americanas e acima das demais universidades estrangeiras, de forma que podia buscar fora do país cientistas estrangeiros e cientistas nacionais que haviam emigrado. Já em 1971, 50% do corpo docente era composto por doutores, em regime de Dedicação Integral. A quase ausência de conturbação política aliada à relativa tranquilidade do interior paulista, e mais a perspectiva de iniciar um projeto de Universidade não sujeito à ingerência do autoritarismo do regime de exceção que dominava o país e violentava o sistema de ensino superior, serviram de forte atrativo para professores e pesquisadores, alguns dos quais estavam fora da universidade e às vezes fora do país - por motivo de divergências políticas com o regime militar. Para eles, Campinas foi um refúgio contra a perseguição política que se instalou dentro das Universidades brasileiras, um lugar onde seria possível "respirar" um ambiente políticamente saudável, trabalhar à distância dos perigos da época e produzir sossegadamente. Apenas isto bastava para alguns dos reconhecidamente competentes professores que vieram para a Unicamp, já cansados dos anos da ditadura. A eles a Reitoria assegurou essa tranquilidade política. Dadas as circunstâncias histórico-políticas do momento, Zeferino Vaz pode exercitar sua personalidade centralizadora, conduzindo hegemonicamente as organizações a desenvolverem sistemas de poder concentrado em uma autoridade absoluta. Provavelmente nos dias de hoje, Zeferino Vaz não conseguiria manifestar plenamente a sua personalidade, pois a comunidade universitária certamente reagiria contra o seu estilo. Para prevenir eventuais fatos políticos tão comuns quanto indesejáveis na época, Zeferino Vaz colocava-se publicamente como um defensor da prática da verdade científica. Na busca dessa verdade, não poderia haver restrições e, em seu nome, justificar-se-ía toda a liberdade acadêmica. Procurava afirmar-se como um defensor da ciência, com autoridade máxima para decidir autonomamente sobre o que convinha ou não à Universidade em meio à difícil situação política que pouco espaço deixava para tanto. Dizia: "Não quero saber qual é a ideologia do professor. Apenas não admito que ele utilize a Universidade para fazer pregação ideológica. Um professor de política, por exemplo, tem que fazer a exposição de todas as correntes ideológicas. Mas, uma exposição honesta, clara, sincera, rigorosamente científica, de todas as doutrinas. O que ele não pode é usar a sua cátedra para doutrinar. Por isso, não quero saber da ideologia do professor, não penetro na sua consciência. E não admiti nunca que invadissem a Unicamp para deter qualquer professor em razão de ideologia política"2. 2 Vaz, Zeferino "A Universidade e a economia brasileira". Revista Tibiriçá, Ano V, n. 9, julho/dezembro de 1978. 6 José Willington Germano (1990) considera que somente o fato de o Professor Zeferino Vaz ter tido livre trânsito entre os militares e ter assim conseguido recursos para implementar seu projeto, não explica o êxito da universidade. Este se ligaria também ao vínculo que desde o início foi mantido com o setor empresarial. A Universidade foi tratada por Zeferino Vaz como uma empresa, e os vínculos com o setor industrial só vieram reforçar essa nova imagem de universidade. Ele procurou afastar qualquer ameaça de gastos supérfluos e por essa razão os prédios foram construídos como se fossem barracões de uma fábrica, pretendendo-se eliminar de início as consequências funestas da burocratização, postulando a autonomia dos departamentos. Ao tratar a Universidade como uma empresa esperava-se dela retornos e esses vieram na forma de atendimento à comunidade: nas áreas médicas desenvolveram-se programas de prevenção ao câncer, de atendimento à mulher e à criança, convênios com a Secretaria Estadual de Saúde e INPS; na área de apoio às empresas a Universidade dava assistência gratuita a mais de 500 pequenas empresas no interior paulista e assessoria administrativa e gerencial à pequena e média empresa no projeto iniciado em 1969. Com o tempo, a Unicamp ganharia a imagem de Universidade tecnológica, conquistando assim o respeito da comunidade acadêmica nacional, espaço nos meios de comunicação e a admiração da opinião pública. Esse período inicial de construção da Unicamp, entre os anos de 1970 e 1975, foi marcado pela revolução tecnológica gerada pela microeletrônica, cujos resultados concretos apareciam nas máquinas, equipamentos e instrumentos produzidos pelos países avançados, de elevado desempenho e qualidade, possibilitados pela substituição de componentes mecânicos e elétricos por componentes eletrônicos. Idéias desenvolvimentistas eram consideradas como de "vanguarda" e foi esse vanguardismo que projetou a Unicamp. Foi exatamente na Física do Estado Sólido e Ciência dos Materiais, especificamente na Física de Semicondutores e nas engenharias correlatas que ela se notabilizou (Lima, 1989: p123). A escolha estratégica de lançar a Unicamp nos meios acadêmicos brasileiros como uma Universidade voltada preponderantemente para a Ciência e a Tecnologia aplicáveis ao setor produtivo, além de oportuna naqueles tempos, contava com o consentimento de parte significativa dos membros da comunidade docente convencida por argumentos adicionais: primeiro, que não havia nenhuma universidade no mundo que fosse boa em todas as áreas. Portanto, a Unicamp deveria gerar no seu início uma competência muito específica em determinada área. Segundo, ela deveria criar uma imagem externa para ganhar prestígio e notoriedade, e, por esta via, atrair recursos para as demais áreas. Os argumentos foram convincentes e, observando a Unicamp de hoje, pode-se dizer que a estratégia foi bem sucedida. 7 O papel do empresário também foi muito forte, tanto que antes da inauguração, em 1967, Zeferino Vaz, reuniu-se com empresários da região, para a definição do perfil dos cursos tecnológicos, estreitando a relação da universidade com o setor produtivo (Germano, 1990: p 101). A preocupação do governo neste período era direcionar o ensino superior para adequá- lo à política desenvolvimentista. Neste sentido, a Universidade seria uma forma de superar o problema do subdesenvolvimento com o auxílio de técnicas modernas de administração e gerência. Com os recursos fartos de que dispunha, quer se originassem do Governo Estadual ou Federal, a Universidade adquiriu equipamentos de primeira ordem, tendo mesmo adquirido o único computador de grande porte da América Latina; além disso equipou as bibliotecas e fomentou a pesquisa. Segundo Lima (1989), a Unicamp, por intermédio de seu reitor, antecipou-se aos acontecimentos e firmou-se como Universidade conceituada. A imagem de "Universidade Tecnológica" conquistou para a Unicamp o respeito da comunidade acadêmica nacional, concedeu espaços nos meios de comunicação e admiração da opinião pública. O certo é que o nome Unicamp foi se firmando cada vez mais, à custa ou não de uma campanha de "marketing" publicitário. É de se notar a ampla divulgação que a imprensa local dava a todas as ocorrências relativas à Universidade: viagens de professores ao exterior, compra de equipamentos, inauguração de prédios, defesas de teses, entre outros. Concebida a universidade como um modelo de empresa de produção visando a racionalidade das atividades-meio, a Reitoria não se permitia o luxo de ter em cada Instituto ou Faculdade seções de pessoal, de orçamento, de tesouraria, de expediente, de arquivo, de compras, de almoxarifado, de transportes, de alunos, de biblioteca, existindo apenas um serviço centralizado de cada uma destas atividades atendendo à toda a organização. Durante a gestão de Zeferino Vaz, este sistema pôde ser operado eficazmente. Mas é preciso reconhecer que Zeferino Vaz possuía atributos pessoais que lhe garantiam uma grande competência para exercer esse poder discricionário em pról de fins das instituições, o que tornou funcionalmente positivo tal exercício de autoridade. Era o paradigma do que se costuma denominar de "déspota esclarecido". Ou seja, a capacidade de tomar conta de tudo com proficiência; tomar as decisões certas nos momentos certos sem deixar que algo escapasse. Incorporação de valores oriundos da cultura do ITA, como disciplina de trabalho e seriedade profissional, também demonstra ter sido um aspecto muito importante para o início da Unicamp. 8

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