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Análise do design brasileiro: entre mimese e mestiçagem / PDF

275 Pages·2006·47.879 MB·Portuguese
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-/J^,É - x ,l\ ana, arse d o d es ign b ras ile iro @ 2006 Dijon De Moraes 1' edição - 2006 1" reimpressão - 2009 É proibida a reprodução total ou parcial por quaisquer meios sem autorização escrita da editora EDITORA EDCARD BLUCHER LTDA. Rua Pedroso Alvarenga, 1245 - 4" andar 04531-012-Sáo Paulo, SP- Brasil Fax:(11)3079-2707 Tel.: (11) 3O78-5366 e-mai l: editora@brl ucher.com.br site: www.blucher.com.br lmpresso no Brasil Printed in Brazil lsBN 978-85 -21 2-037 7 -3 Projelo Cráfico e Capa: Diion De Moraes e Márcio Lara Revisão de textos: Juliana Araúio Foto da 4" capa: Clarice Figueiredo E-mail do autor: [email protected] Dados lnternacionais de Catalogação na Publicação (ClP) (Câmara Brasileira do Livro, PS, Brasil) Moraes, Dijon De Análise do design brasileiro : entÍe mimese e mestiçagem / Diion De Moraes. -- São Paulo : Edgard BIucher,2006. Bibliograíia. rsBN 978-85-2 1 2-037 7 -3 1. Design - Brasil 2. Design - História 3. Design - Pesquisa 4. Clobalização 5. lndustrialização - Brasil 6. Multiculturalismo l. Título. 05-6672 cDD-745.44981 índice para catálogo sistemático: 1. Brasil : Design : História 745.44981 2. Design brasileiro : História 745.44981 I , I sumário apresentação 1 prefácio 3 introdução 19 design e mimese no a instituição do design no Brasil e a Brasil influência européia 1a a mimese como modelo no Brasil 3B 1 950-1 960 o racionalismo no design brasileiro 57 do artesanato à indústria 66 um novo país o papel dos militares e das multinacionais B1 industrializado - NPI industrialização e modernidade 97 1960-1970 o design no contexto de uma ndustrial ização forçada 102 i a caminho das teorias teoria da tecnologia alternativa 115 1 970-1 980 teoria da dependência 226 a caminho de um design a caminho de um pensamento plural 145 múltiplo o design no contexto de uma cultura tI heterogênea 154 1 980-1 990 multiculturalismo como aspecto local 166 mestiçagem e design brasileiro 179 a caminho da a globalização como processo histórico 199 globalização de fato a relação local-global 211 990-2000 a globalização e o Brasil 225 1 o impacto e mutação local 236 os números das perdas no Brasil 247 CO]ICIUSãO o laboratório Brasil e o novo design 255 I apresentação O design brasileiro desenvolveu-se durante a segunda metade do século passado, sob forte influência do racionalismo europeu. lsso levou à valorização da qualidade técnica e funcional dos produtos, aliada a uma estética minimalista, de formas geométricas simples e "limpas". Essa orienlaçào nroslrou-se muilo convenienle parà a e« onomia globalizada, facilitando a produção massiíicada e a distribuição de bens padronizados em todo o mundo. As matérias-primas, extraídas quase sempre de países pobres, são processadas e conveftidas em produtos finais em outros países, que podem situar-se no outro lado do globo. A partir disso, são distribuídos para o mercado rnurrdial. Produtos desse tipo geralmente nào possuem a marca cultural de nenhum povo. Eles acabam sendo aceitos por diferentes grupos de cor-rsumidores, devido aos preços competitivos, boa qualidade técnica e estética "asséptica", para não dizer "sem gosto", como os sanduíches das redes mundiais de ía-çÍ foods. Contudo, o nosso gosto pode ser diferente. Nossa preÍerência pode continuar com o pão de queijo, acarajé ou tacacá, apesar de estar cada vez mais reprimida pela globalização. Hoje, os consumidores tornaram-se mais informados e exigentes. Eles procuram não apenas aquilo de que precisam, mas também aquilo de que gostam e amam. lsto é, buscam produtos que lhes proporcionem também enroção eprazer, além da íuncionalidade. Produtos que possuam características tspecííicas e que possam refletir as suas próprias personalidades. lsso, naturalmente, não pode ser proporcionado pelo produto universal, que encerra rinr mÍnimo denominador comum, para não desagradar a nenhuma cultura. L) reverso da medalha é que tal produto também não se identifica com rrenhuma delas. Assim, esses produtos falham em não atender aos requisitos nclividuais, num mundo em que as pessoas estão ávidas para manifestar :. iLras individr-ralidades. Emoç-ão e prazer, ou seja, aquilo que as pessoas 1 ru gostam e "curtem", dependem de muitos fatores, inclusive aqueles de natureza cultural. O livro de Dijon De Moraes, ao trazer a questão cultural para os domínios do design brasileiro, certamente contribuirá para enriquecê-lo. Produtos culturalmente adaptados facilitam a sua identiÍicaçào com os usuários, por possuírem um "tempero" próprio, o "cheiro" de algo que nos pareça familiar e aconchegante, podendo, assim, aumentar o prazer e a auto-estima dos consumidores. Além disso, podem contribuir Para o aproveitamento mais adequado e valorização da nossa rica variedade de matérias-primas, como as pedras preciosas coloridas, fi bras vegetais e madeiras alternativas da Amazônia. Esta interessante obra surge no momento oportuno, podendo indicar um novo rumo para o design brasileiro, refletindo toda a nossa imensa riqueza cultural, múltipla e colorida, como uma pintura do Di Cavalcanti. Ela merece ser lida pelos designers, professores, pesquisadores, empresários e todos aqueles que se preocupam com o desenvolvimento do design. Nenhuma pessoa conseguirá ficar indiÍerente após a sua leitura. Itiro lida Brasília 2 ffiilllililllil t rat I prefácio : o Brasil como modelo do mundo* : : É dificil para nós, europeus, refletir sobre a histírria da cultura brasileira, 1-rois temos sempre a tentação de interpretar o Brasil como um territóricr e.xenp/ar lsto porque os episírdios de sua história têm. em pafticular, o seu significado também em outros locais, ou seja, em outras nacÕes e para outras pessoas. E é como se o Brasilfosse uma espécie de laboratório que produzisse I r-nr-ritas histórias para outros países, sendo que cada um deles possui asua : prcipria chave de interpretação. I Assim sendo, se estende no Brasil uma tradiçã o de desapropriaçãocla :Lra história, muitas vezes construída por uma série cle ser-rticlos oriuncjos, sobretudo, da Europa. Esta, de fato, indaga a tranta brasileira, principalrnente no que diz respeito às questões a ela pertinentes, e nas quais o f3rasil entra tr somente como fornecedor de preciosas metáforas. ) A contribuição que ofereço, neste prefácio, se insere, ceftamente, nessa tradicão, na qual o Brasil, não obstante ser visto como um país real, é encarado sobretudo como uma categoria c.ultura/, que fornece inÍormacões importantes n o momento em que refletimos sobre os modelos de cultura européia. Se cle tato é difícil falar da história e da cultura sul-americana como um fenômeno rsr.,lado da história e da cultura da Europa, da mesma Íorma é impossível ialar de Europa sem considerar o caso brasileiro como sua parte integrante. Esta relação assim tão estreita teve origem no domÍnio de portugal e Espanha sobre as colônias sul-americanas, que durou longo tempo; mas ela se desenvolveu, substancialmente, em seguida, com a influência que a própria rr-r ltura sul-americana exerceu sobre a nossa cultura antiga e moderna. + O original Íoi escrito em italiano e a traducão é do autor. 3 flffi frfiillriii A violência, mas também as utopias e os ideais que a Europa exportou produziram não somente distorções locais, mas ainda uma imagem refletida (e rebatida) da Europa, que, retornando à origem, modificou, de qualquer modo, a idéia que nós, europeus, temos de nós mesmos. Não foi por acaso que Dijon De Moraes, autor deste livro, desenvolveu a sua pesquisa de doutorado sobre a análise, o percurso e a história do design brasileiro, junto à Faculdade de Design da universidade politécnico de Milão, fazendo com que, por mais de três anos, entre 1999 e2003, o Colégio dos DocenÍe-ç do doutorado acompanhasse uma pesquisa sobre um país tão distante do design italiano, mas tão próximo do contexto atual da cultura européia do projeto. o atual interesse pelo Brasil deriva de muitos fatores, entre eles, o de ser um país artiíicial, mas também um país dotado de uma fortíssima identidade étnica (que resulta dessa artificialidade). o Brasil é aincja um exemplo dos efeitos negativos da globalização e, ao mesmo tempo, dos excessos negativos do /oca/ismq mas contemporaneamente é testemunha das possibilidades positivas e negativas de ambos estes fatores. Um país pobre, que é uma das maiores potências econômicas do mundo. Um país com Íorte identidade, mas uma identidade evasiva, ambígua, misteriosa, Íruto de uma grande nação híbricla e mulata, onde a maioria é constituícla de um conjunto de minorias. País otimista, feliz, mas também triste e angustiado. o caso Brasil pode ser interpretado de diferentes maneiras, porque é constituído de diversos níveis de leitura: podemos dizer, então, que no Brasil se encontra aquilo que nele conseguimos inserir, e nele se pode buscar aquilo que procuramos. Assim, em seguida, nós procuraremos colocar (mais uma vez) o Brasil dentro de questões que talvez digam respeito à sua própria realidade somente de forma parcial. São as questões referentes ao design e ao projeto no início do século XX. Buscamos então, no passado e na atualidade desse país, testemunhos úteis para uma reflexão mais vasta sobre o seu Íuturo e também o nosso. Então podemos dizer: o Brasil como modelo do mundo, porque jun- tos espaço literário, mas também um fenômeno histórico extremamente complexo, caracterizado por uma fofie presença multiétnica e multirracial, produzem um equilíbrio cultural em contínua transformação. 4 ,ü.-Õ- - A hibridização entre várias ramificações européias, africanas e rndígenas proporcionou um processo de sincretismo que conhecemos, em que não somente se misturaram religiões (catolicismo, protestantismo, magismo e animismo), mas idéias muito diferentes sobre a modernidade se confrontaram. Na Amórica Latina, de fato, as minorias brancas sempre conservaram uma forte dependência cultural da Europa e viram o Brasil somente como um Iocal ideal para Iiberar a sua própria criatividade instintiva; como os italianos Lina Bo Bardi e Roberto sambonet, que viram neste país um estímulo as suas próprias vocações extrovertidas. --: outros europeus viram o Brasil, ao contrário/ como ocasião extraor- dinária para realizar uma nova e diíerente idéia de modernidade, alternativa a aquela européia; porém sempre uma modernidade pensada em locais ) diíerentes aos do Brasil e, de fato, desvinculada da real potencialidacle -a inovadora deste país. Outros ainda elaboraram, na América do Sul, um conceito ideal de Europa, vista como uma pátria distante, a Atenas de uma modernidade pura e absoluta, produtora de ordem racional e de formas perfeitas. propriamente esta visão purista do modernoÍoi por muito tempo proposta na América do Sul como modelo de sua redenção e de seu futuro, contribuindo para construir um modelo de desenvolvimento rnuitas vezes distorcido e até punitivo. Assim, nos países latino-americanos, se elaborou um modelo irreal ce modernidade. Um modelo que, no caso do argentino Tomás Maldonado, terminou paradoxalmente por inÍluenciar a própria Europa, no momento em lue, nos anos sessenta, através da direção da Escola de Ulm na Alemanha 1956-1968), ele transportou a sua visão à Europa, propondo-lhe a hipótese ,Je uma reíundação da modernidade na Razão. Uma refundação que Íoi proposta no momento de máximo desenvolvimento da complexidade e das ,:ontradições da sociedade e do mercado europeu. Tratava-se então de uma modernidade utópica, mas genial, que a Europa destruída da guerra e da falência ce suas raízes humanistas, sufocada entre os dois blocos da Guerra Fria, adotou, na esperança de exercer sua autonomia e um novo papel, portador de uma profecia de ordem e de equilíbrio universal. 5 Este modelo ideal, fundado sobre uma aliança entre ciência e projekt, foi o fruto da contaminação entre a distante América do Sul, a Escola de Frankfurt e a esperança política européia. Urna utopia que se consoliclou também no Brasil, como modelo único, de referência para a diclática do seu design. lsso a partir da Ír-rndação, em 1963, da ESDr - Escola superior de Desenho lndustrial, no Rio de Janeiro, defensora da ortodoxi a ulminiana e do seu modelo didático, quase uma espécie de protetoraclo cultura/, desvinculado da realidade brasileira, mas por isso mesmo cle difícil remoção. Neste sentido, então, alguns modelos teóricos elaborados na Europa influenciaram a r:ultura do projeto brasileiro, mas, da mesma Íorma, algumas hipóteses sobre a Eurropa elaboradas na América do sul terminaram por influenciar a idéia que o velho continente fez dele mesmo. No caso Brasil, teve também Lrma componente mais específica, derivada da imagem da naÍureza tropir,-alcomo cenário e pano de fundo cJe muitos projetos modernos. Refiro-me de rnodo parlicular à influência que alguns projetos de oscar Nierneyer tiveram sobre o seu mestre Le corbusier, fascinado pela idéia do seu amigo brasileiro da cidade do ír-rturo integrada em um verde equatorial. Trata-se de uma natureza idea/, diíerente, mas símile àquela antiga selva ainda não tocada pelo progresso, onde os filósofos iluministas colocavam o bom selvagem. Le corbusier imaginou as suas unité d,Abitation, e ainda hoje muitos ambientalistas europeus fazem referência a este mundo de palmas, frutos e praias, quando descrevem os territórios a serem recuperados da poluição da civilização industrial. Por muito tempo na Eurrpa, a natureza selvagemque servia de Íundo aos projetistas modernos Íoi uma natureza brasileira, como um jardim ideal desenhado por Burle Marx. Uma natureza selvagem, descontaminacla, florida e perfumada, que havia circundado, como uma grunde cirancla, a cidade reformada e ordenada pelo processo de industrialização moclerno. Uma natureza otimista, vital, muito distante dos Tristes kripicos descritos pelo pai da antropologia, Claude Levy-strauss, onde se desenrola a vida insensata e desesperada dos índios, imersos nos grandes e avariados verc.les cla Amazônia. 6 L.d t-1/, Assim, durante os anos cinqüenta e sessenta, acontecia esta curiosa I rle troca: o Brasil usava uma idéia (impossível) de ntodernidade ortocloxa de -l .rL] origem européia, e a Europa usava uma idéia (literária) sobre natureza 1 ,-], , heterodoxa de origem brasileira. Então, durante o século XX, estes dois fl(rf. continentes Íizeram sempre referênr,ias a modelos recíprocos e aproximativos, 1 ,t ,1,1 usando a geografia cultural ao entrelaçar as suas culturas de projeto de ,'e I nranei ra imprevisÍvel. i,il Durante os anos sessenta e setenta, num contexto de grande inte- resse político e cultural pelas cluestões dos países em desenvolvimento, e 'pa na trilha do que poderíamos chamar de a esperança alimentar da Liga dos -' a: Países não Alinhados, nasciam, em todo o mundo, iniciativas políticas e L]1 i f culturais que procuravam contrastar os eÍeitos devastadores daquilo que se chamou a teoria da dependênc'ia. ia Com esse termo, se indicava a existência de um pro.esso de depaupe- 1l t, ramento ec-onômir.o e cultural dos países em desenvolvimento, produzido .rLt r pela instituição de empresas multinacionais, sobretudo nos países do Ét continente latino-americano. As rnultinacionais, de Íato, transpo(ando as t.:là suas tecnologias e desfrutando da mão-de-obra barata local, ativavam um crescente processo de dependência, que destruía as possibrilidades de auto- suficiência e de autonomia política no âmbito local. t) a\ o designer alemão cui Bonsiepe, colega de Tomás Maldonaclo em ,tl Ulm, intuiu que o design poderia ser um valioso instrumento cle deÍesa cla 'll , autonomia, porque poderia ser a base de uma regeneração original dos rnodelos de desenvolvimento local e, principalmente, se propor como estratégia e diferencial para a valorização da tecnologia. cui Bonsiepe se transferiu, por um período de doze anos, para o Brasil (hoje vive entre llr Florianópolis e Rio de Janeiro, onde ensina e trabalha), atuancio em um vasto ,a l piano governativo de diíusão do design. :la 1lr Nesses mesmos anos, no contexto de participação direta do design :la no terreno das grandes disputas políticas, Victor papanek elaborou a sua ai Íascinante teoria sobre a tecnologia alternativa, como proposta para os países e do Têrceiro Mundo, entre eles o Brasil. Esta teoria propunha a elaboração cle a. um modelo de desenvolvimento autônomo, baseado nos descartes da 7

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