ebook img

Anais do XXX Fórum Acadêmico de Letras: 30 anos do movimento de pesquisa na graduação PDF

570 Pages·2019·7.356 MB·Portuguese
Save to my drive
Quick download
Download
Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.

Preview Anais do XXX Fórum Acadêmico de Letras: 30 anos do movimento de pesquisa na graduação

JOSÉ ANTÔNIO VIEIRA SULEMI FABIANO CAMPOS MARIANA APARECIDA DE OLIVEIRA RIBEIRO Organizadores ANAIS DO 30º FÓRUM ACADÊMICO DE LETRAS: 30 anos do movimento de pesquisa na graduação Natal, 2019 Catalogação da Publicação na Fonte. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Biblioteca do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Fórum Acadêmico de Letras (FALE), (30. : 2019 : Natal, Rio Grande do Norte). Anais do XXX Fórum Acadêmico de Letras / organizado por José Antônio Vieira ...[et al.]. – Natal: UFRN, 2019. 589 p. : il. Edição comemorativa do Caderno de pesquisas dos 30 anos do movimento pela pesquisa na graduação. Inclui referências bibliográficas. Evento realizado entre 19 e 21 de junho de 2019. E-book ISBN: 978-85-7993-771-2 1. Letras – Brasil – Evento. 2. Literatura – Brasil – Evento. 3. Pesquisa – Brasil – Evento. 4. Graduação – Letras – Brasil – Evento. I. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. II. Vieira, José Antônio. III. Campos, Sulemi Fabiano. IV. Ribeiro, Mariana Aparecida de Oliveira. V. Título. RN/BS-CCHLA CDU 81’1 Ficha catalográfica elaborada por Heverton Thiago Luiz da Silva – Bibliotecário-Documentalista / CRB 15/710 DIRETORIA – 2018-2010 Presidente - José Antônio Vieira Vice-Presidente – Vanessa Fabíola Silva de Faria Primeira Tesoureira – Mical de Melo Marcelino Segunda Tesoureira - Raina Kathleem Apoliano da Silva Primeira Secretária - Eine Eduarda Samuel Barros Segunda Secretária - Ana Luíza Lisboa Pimenta Formatação e trabalhos técnicos nos anais: Raina Kathleem Apoliano da Silva, Eine Eduarda Samuel Barros e Ana Luíza Lisboa Pimenta Projeto Gráfico Thiago Albuquerque Souza SUMÁRIO EIXO: LITERATURA COMPARADA................................................................................. 7 PARÓDIA E AUTORIA NAS NOVAS CARTAS PORTUGUESAS ................................. 8 A REPRESENTAÇÃO FEMININA EM “A NOIVA INCONSOLÁVEL” E “A BELA E A FERA OU A FERIDA GRANDE DEMAIS” ..................................................................... 17 FLORESCÊNCIAS DA FEMINILIDADE: O DESPERTAR DO DESEJO E SUAS IMPLICAÇÕES NA FORMAÇÃO SUBJETIVA DA MULHER ..................................... 31 “VIÚVA VERMELHA” E A REPRESENTAÇÃO FEMININA NA OBRA DE GEORGE R. R. MARTIN .................................................................................................................... 41 CAMINHOS DA ARTE REVOLUCIONÁRIA: A LITERATURA E O TEATRO COMO INSTRUMENTOS DE TRANSFORMAÇÃO SOCIAL .................................................... 49 UMA ANÁLISE COMPARADA DOS CONTOS “AS FORMIGAS” E “O ENCONTRO” .............................................................................................................................................. 64 EIXO: TEORIA LITERÁRIA ............................................................................................. 72 CAÇADAS À INFÂNCIA: UM ENCONTRO COM A ALTERIDADE NO ESPAÇO MÁGICO DE CAÇADAS DE PEDRINHO ....................................................................... 73 O TORNAR-SE VISÍVEL: A CONSTRUÇÃO DA CRIANÇA EM “CAÇADAS DE PEDRINHO”, DE MONTEIRO LOBATO. ........................................................................ 84 EIXO: LITERATURA, MEMÓRIA E SOCIEDADE ....................................................... 93 NÍSIA FLORESTA E OS PRINCÍPIOS DA ESCRITA FEMININA E FEMINISTA NO NORDESTE BRASILEIRO ................................................................................................ 94 A IMPORTÂNCIA DA REPRESENTATIVIDADE NEGRA NA LITERATURA INFANTIL ......................................................................................................................... 101 A COLETIVIDADE SUBJETIVA EM "CENTRAL DO BRASIL .................................. 108 A REPRESENTAÇÃO DO FEMINISMO NA OBRA DE DOM CASMURRO. ............ 115 EIXO: ANÁLISE DO DISCURSO .................................................................................... 124 IDENTIDADE PROFISSIONAL DOCENTE: ANÁLISE DE RELATÓRIOS DE ESTÁGIO .......................................................................................................................... 125 VOZES EM CONFLITO NO DESEJO FEMININO: DISCURSO RELIGIOSO E SEXUALIDADE EM “A PARANÓICA”, DE CASSANDRA RIOS. ............................. 135 A CONSTRUÇÃO DO ETHOS FEMININO NAS ELEIÇÕES DE 2018 DO RN .......... 146 O FOGO QUE NASCE DE DENTRO DELAS: UM OLHAR SOBRE A VOZ DO DESEJO FEMININO EM “FOGO (SÓ PARA HOMENS)”, DE ADELAIDE CARRARO .......... 162 O ASSUJEITAMENTO FEMININO CINGIDO NO DISCURSO IDEOLÓGICO NA CRÔNICA DA REVISTA BULA E EM ANÚNCIO PUBLICITÁRIO .......................... 177 EIXO: TEXTO, GÊNERO E ENSINO ............................................................................. 186 EDGAR ALLAN POE E MACHADO DE ASSIS EM SALA DE AULA: A FORMAÇÃO DO LEITOR NA EDUCAÇÃO BÁSICA ......................................................................... 187 PERFIL DAS PROPOSTAS DE INTERVENÇÃO EM REDAÇÕES NOTA MIL DO ENEM (2013-2017): O DESVELAMENTO DE UM PADRÃO...................................... 201 EIXO: LEITURA E ESCRITA .......................................................................................... 213 ENSINO DE LEITURA NO ENSINO FUNDAMENTAL: PERSPECTIVAS DE ABORDAGEM NO LD DE LÍNGUA PORTUGUESA................................................... 214 O LIVRO “PORTUGUÊS-LINGUAGENS” E AS ATIVIDADES DE LEITURA PROPOSTAS PARA O ENSINO FUNDAMENTAL ...................................................... 225 OS FATORES DE TEXTUALIDADE PRAGMÁTICOS NO SLOGAN DE CAMPANHA DO PRESIDENTE JAIR BOLSONARO .......................................................................... 235 LETRAMENTO LITERÁRIO: AS ESTRATÉGIAS DO ENSINO DE LITERATURA COMO INSTRUMENTO PARA A CONSTRUÇÃO DO ALUNO COMO LEITOR DE TEXTOS LITERÁRIOS .................................................................................................... 245 A EFETIVAÇÃO DA LEITURA POR MEIO DOS GÊNEROS TEXTUAIS ................. 256 O TRABALHO COM A ESCRITA NO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE AS PRODUÇÕES BRASILEIRAS E PERUANAS ............. 263 CONHECIMENTOS LINGUÍSTICOS MOBILIZADOS EM TEXTOS PRODUZIDOS EM CONTEXTOS MULTICULTURAIS ......................................................................... 278 EIXO: LINGUÍSTICA APLICADA AO ENSINO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA..... 306 PROPOSTA DE PLANO DE AULA: O ENSINO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA PARA ALUNOS COM DIFERENTES TIPOS DE RECEPTORES DE MEMÓRIA SENSORIAL ............................................................................................................................................ 307 EIXO: ANÁLISE TEXTUAL DO DISCURSO ................................................................ 320 USO DE OPERADORES ARGUMENTATIVOS EM REPORTAGENS: O CASO DO IMPEACHMENT NAS REVISTAS VEJA E CARTA CAPITAL .................................. 321 UMA ANÁLISE DO ÁLBUM ARTPOP DE LADY GAGA, À LUZ DA INTERTEXTUALIDADE ................................................................................................. 335 EIXO: MORFOSSINTAXE................................................................................................ 345 PROPOSTA DE TRADUÇÃO COMENTADA PARA O PERVIGILIUM VENERIS ... 346 EIXO: SOCIOLINGUÍSTICA ........................................................................................... 358 O PORTUGUÊS ESCRITO: UMA ANÁLISE DAS MARCAS DE ORALIDADE NA CONSTRUÇÃO DO TEXTO DE ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL MAIOR 359 A ABORDAGEM DA VARIAÇÃO HISTÓRICA DA LÍNGUA PORTUGUESA NO LIVRO DIDÁTICO DO ENSINO MÉDIO NO ANO DE 2018 ....................................... 365 EIXO: FONÉTICA E FONOLOGIA ................................................................................ 381 A VARIAÇÃO DIATÓPICA: UMA REFLEXÃO SOBRE O PRECONCEITO LINGUÍSTICO ATRELADO ÀS VARIEDADES DO PORTUGUÊS BRASILEIRO ... 382 CASOS DE APÓCOPE NA EVOLUÇÃO DO LATIM PARA O PORTUGUÊS BRASILEIRO .................................................................................................................... 389 BETACISMO: UM FENÔMENO DEGENERATIVO METAPLASMO DE ALTERNÂNCIA DOS FONEMAS /V/ E /B/................................................................... 398 ROTACISMO EM ATAQUE COMPLEXO..................................................................... 411 METAPLASMO DE NASALIZAÇÃO NA LÍNGUA PORTUGUESA: DO CLÁSSICO AO CONTEMPORÂNEO ................................................................................................. 421 A VARIAÇÃO DIASTRÁTICA PRESENTE NA FALA DE MORADORES DA ZONA RURAL DO MUNICÍPIO DE BOM LUGAR- MA ......................................................... 429 VARIAÇÃO FONOLÓGICA: SUPRESSÃO DE SOM NA FALA DE DISCENTES DA EDUCAÇÃO DO CAMPO DA UFMA, CAMPUS DE BACABAL – MA ..................... 441 29º FALE .............................................................................................................................. 453 OS EFEITOS DAS NOVAS TECNOLOGIAS NO AMBIENTE DA SALA DE AULA 454 O PRECONCEITO RACIAL NOS DITADOS POPULARES BRASILEIROS: UMA ANÁLISE DISCURSIVA ................................................................................................. 465 RAMÓN E FRANCISCO: CONTRAPOSIÇÕES DISCURSIVAS A RESPEITO.......... 475 DA EUTANÁSIA NO FILME MAR ADENTRO. ............................................................. 475 MAFALDA E SUSANITA: O CONFLITO ENTRE A DESNATURALIZAÇÃO E A NATURALIZAÇÃO DOS DISCURSOS SOBRE A MULHER. ..................................... 483 UMA ANÁLISE DISCURSIVA SOBRE A SUBMISSÃO DA MULHER E A LEI MARIA DA PENHA ....................................................................................................................... 492 ESCRITA E ORALIDADE: REFLEXÕES SOBRE O PROCESSO DE MONOTONGAÇÃO ......................................................................................................... 501 A DITADURA DA BELEZA NA SOCIEDADE BRASILEIRA: UMA ANÁLISE DO DISCURSO PRESENTE NAS PROPAGANDAS DAS HAVAIANAS .......................... 513 O LIVRO DE RECEITA E O DISCURSO DE SUBMISSÃO DA MULHER ................ 525 A LEITURA DOS ALUNOS DO 1º ANO DO ENSINO MÉDIO DA ESCOLA “CENTRO DE ENSINO DO ESTADO DO CEARÁ” ATRAVÉS DE DESCRITORES DE LEITURA DE LINGUA PORTUGUESA .......................................................................................... 533 A HETEROGENEIDADE ENUNCIATIVA PRESENTE EM UM TEXTO JORNALÍSTICO SOBRE EDUCAÇÃO .......................................................................... 550 CONSIDERAÇÕES ACERCA DA CONSTRUÇÃO DO DISCURSO DE OBJETIFICAÇÃO DA MULHER NO SERTANEJO UNIVERSITÁRIO ...................... 560 EIXO: LITERATURA COMPARADA 7 PARÓDIA E AUTORIA NAS NOVAS CARTAS PORTUGUESAS Lucas José de Mello Lopes1 RESUMO: Marco na literatura portuguesa do século XX, a obra Novas Cartas Portuguesas (1972), escrita a seis mãos por Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, estabelece um diálogo paródico com as Cartas Portuguesas¸ obra de autoria misteriosa que cristalizou, no imaginário português, um ideal de mulher submissa e abnegada emergente da figura da Soror Mariana Alcoforado, sujeito enunciador das cartas que, na clausura de um convento, sofre por um amante que a abandonou. Na obra paródica, as Três Marias – como ficaram conhecidas as autoras – rasuram o mito estabelecido pelo texto primeiro, ressignificando motivos presentes neste com vistas a fundar um novo paradigma relacionado à experiência feminina. Sob essa ótica, este trabalho objetiva, em primeiro lugar, evidenciar algumas pontes estabelecidas entre as duas obras, expondo eventuais marcas do discurso parodiado distorcidas no texto parodiador, para, em segundo lugar, elucidar o novo paradigma fundado no último. Para tal, faz-se uma pesquisa de cunho bibliográfico, elegendo-se como base teórica as noções bakhtinianas de Paródia e Autoria, exploradas a partir de releituras da obra do pensador russo. Ao final do trabalho, constatou-se que as Novas Cartas Portuguesas se apropriam intertextualmente de dois temas básicos das Cartas Portuguesas: a paixão e a escrita. Esses motivos, entretanto, são reorientados pelas autoras, passando de um exercício do eu para o outro, ou seja, de Mariana para o seu amante (como era posto no texto primeiro), para um exercício do eu para o eu, mais especificamente, da mulher para si mesma, na (re)construção de sua experiência histórica no mundo. Partindo dessa corrosão inicial, as autoras estabelecem uma voz criadora feminista que sustenta axiologicamente o ato estético concebido por elas, voz coletiva que não permanece sozinha no texto, mas que abre espaço para outras com as quais ela dividirá o espaço discursivo. Nessa polifonia, encontra-se uma Mariana Alcoforado que questiona a sua condição - embora não se liberte dela -, vozes femininas que a sucedem na história e vozes masculinas que endossam o discurso patriarcal. Desse conflito de vozes, emerge uma obra que não só rompe com estruturas formais da literatura, mas também põe à prova a máquina patriarcal e ditatorial vigente na sociedade portuguesa à época da publicação. Palavras-chave: novas cartas portuguesas; paródia; autoria. 1 - INTRODUÇÃO “De Mariana tirámos o mote, de nós mesmas o motivo, o mosto, a métrica dos dias.” (BARRENO, HORTA, COSTA, 2014, p.67) As Cartas Portuguesas [1669] constituem um corpus literário envolto em mistérios que talvez nunca sejam solucionados, sendo o principal deles o de sua autoria. Quanto a essa 1 Graduando em Letras – Português/Inglês pela Universidade Potiguar (UnP) e em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Email: [email protected]. 8 questão, duas grandes teses circulam entre os estudos da obra: a primeira assume que as cartas foram realmente escritas pela Soror Mariana Alcoforado, sujeito enunciador dos textos epistolares; a segunda, que foram elaboradas por Gabriel de Guilleragues, um jornalista e diplomata francês. A adoção de uma dessas perspectivas afeta totalmente a maneira de se compreender a obra do século XVII, que, se lida a partir da primeira tese, é abarcada como um discurso real, e, se lida a partir da segunda, como um discurso ficcional. Sendo ficção ou realidade, a figura de Mariana estabelecida textualmente ecoou pelo imaginário português através dos séculos, sedimentando um ideal de feminilidade que perpassa submissão e abnegação, condizente, portanto, com a ordem patriarcal vigente nas terras lusitanas. A freira se tornou um mito cultural nacional que, anos mais tarde, serviria de base para uma das grandes obras do século XX: as Novas Cartas Portuguesas [1972], escritas a seis mãos por Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa. A obra das Três Marias estabelece um diálogo paródico com as Cartas Portuguesas. A paródia, constituindo-se como um dos modus operandi da literatura na pós-modernidade, pauta-se na recriação de textos anteriores, “dando à luz um novo enfoque, que esvazia o [texto] primeiro, mostrando o inconformismo de quem não se submete a modelos sacralizadores, pois, ao recusar e esvaziar o discurso primeiro através de uma leitura corrosiva, o parodiador funda um novo paradigma.” (FLORES, 2000, p.78-79). Tendo em mente essa noção de paródia, que dessacraliza mitos e propõe novas perspectivas, surgem alguns questionamentos pertinentes à relação entre as duas obras supracitadas: de que maneira se constitui o diálogo entre elas? Que novo paradigma é fundado pelas Três Marias? Este trabalho parte dessas perguntas e objetiva, em primeiro lugar, evidenciar algumas pontes estabelecidas entre as duas obras, expondo eventuais marcas do discurso parodiado distorcidas no texto parodiador, para, em segundo lugar, elucidar o novo paradigma fundado no último. Para tal, faz-se uma análise comparativa entre as duas obras, utilizando-se como base teórica os estudos de Bakhtin sobre paródia (a partir da obra Do mito ao romance: uma leitura do evangelho segundo Saramago, de Conceição Flores) e autoria (à luz do verbete Autor/Autoria, de Carlos Alberto Faraco, presente no livro Bakhtin: conceitos-chave, organizado por Beth Brait). O trabalho encontra-se dividido em duas seções: na primeira, colocam-se em xeque os elementos das Cartas Portuguesas que são distorcidos pelas Três Marias; na segunda, analisa-se a questão da autoria no texto, com foco na multiplicidade de vozes e no novo enfoque trazido na obra parodiadora. 9 2 “DE MARIANA, TIRAMOS O MOTE...” Nomeia-se esta seção com o início de uma frase das Três Marias que escancara o diálogo estabelecido entre os dois textos aqui analisados. Como as próprias autoras afirmam, é de Mariana, isto é, das Cartas Portuguesas, que elas tiram o mote da nova obra; nesse sentido, analisam-se aqui os motivos que compõem esse mote, ou seja, que elementos servem de ponte entre as duas obras. O diálogo entre as Cartas Portuguesas e as Novas Cartas Portuguesas se inicia, obviamente, no título, mas se mostra ainda mais evidente na Primeira Carta I, o texto que abre o “romance”2 e, em tese, justifica a empreitada a ser realizada pelas autoras: Pois que toda literatura é uma longa carta a um interlocutor invisível, presente, possível ou futura paixão que liquidamos, alimentamos ou procuramos. [...] Só de nostalgias faremos uma irmandade e um convento, Soror Mariana das cinco cartas. Só de vinganças, faremos um Outubro, um Maio, e novo mês para cobrir o calendário. E de nós, o que faremos? (BARRENO, COSTA, HORTA, 2014, p.3) O livro se abre com uma conjunção, ligando o que vem a seguir com o que veio antes. As autoras apresentam a literatura como uma longa carta, estabelecendo que ela presume um interlocutor e, por que não, uma resposta. Resta claro, por isso, que o leitor tem em mãos uma obra que, em se constituindo como literatura, já é uma resposta a um texto antecedente e, como veremos mais à frente, a toda uma ideologia que perpassa o texto das Cartas Portuguesas. Ao final dessa primeira carta (o fato de ser um texto epistolar evidencia o diálogo formal entre os dois textos), as interlocutoras evidenciam que estão se endereçando à Mariana das cinco cartas, explicitando o diálogo com a enunciadora da obra primeira. Interessante ressaltar que, para Bakhtin, “Na paródia, ecoam as palavras dos primeiros, mas é sua ressonância distorcida que irá determinar o novo enfoque.” (FLORES, 2000, p.80). Assim, os motivos que movimentam o texto parodiado aparecem no texto parodiador com as marcas de corrosão deixadas pelo novo autor, produzindo novos significados para temas já explorados. Nesse sentido, ao estabelecer que “Só de vinganças, faremos um Outubro [...]”, as 2 Tomar-se-á a obra como romance, considerando a desconstrução que o gênero vem passando na pós- modernidade, com a ruptura da estrutura tradicional estabelecida no século XVIII. 10

See more

The list of books you might like

Most books are stored in the elastic cloud where traffic is expensive. For this reason, we have a limit on daily download.