AMOR, SEXO E GÉNERO

364 Pages·2017·2.72 MB·Portuguese

Departamento de Sociologia

AMOR, SEXO E GÉNERO: TRAJECTÓRIA ÍNTIMAS DOS/AS
JOVENS PARA A VIDA ADULTA

Ana Cristina Marques

Tese especialmente elaborada para a obtenção do grau de
Doutora em Sociologia

Orientadora:
Doutora Anália Torres, Professora Catedrática,
Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas,
Universidade Técnica de Lisboa

Junho de 2014

Departamento de Sociologia

AMOR, SEXO E GÉNERO: TRAJECTÓRIA ÍNTIMAS DOS/AS
JOVENS PARA A VIDA ADULTA

Ana Cristina Marques

Tese especialmente elaborada para a obtenção do grau de
Doutora em Sociologia

Júri
Doutor Victor Sérgio Ferreira, ICS, Investigador Auxiliar, Instituto de Ciências Sociais,
Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal
Doutora Sofia Aboim, ICS, Investigadora Auxiliar, Investigador Auxiliar, Instituto de Ciências
Sociais, Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal
Doutor Miguel Vale de Almeida, Professor Associado, ISCTE Instituto Universitário de Lisboa,
Lisboa, Portugal
Doutor Pedro Vasconcelos, Professor Auxiliar, ISCTE Instituto Universitário de Lisboa, Lisboa,
Portugal
Doutora Maria das Dores Guerreiro, Professora Associada, ISCTE Instituto Universitário de
Lisboa, Lisboa, Portugal
Doutora Anália Torres, Professora Catedrática, Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas,
Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal

Junho, 2014

Agradecimentos

Esta tese é dedicada aos homens da minha vida. Com todos os seus defeitos e qualidades, eles são
essenciais para mim e tenho a sorte de os ter comigo todos os dias, senão fisicamente, pelo menos no
coração.

Ao longo dos últimos 8 anos dediquei-me à realização deste trabalho, tendo contado com o apoio de
algumas pessoas e instituições sem as quais este projeto teria sido muito difícil de realizar.
Assim, agradeço, em primeiro lugar, à FCT que financiou esta pesquisa, e ao CIES-ISCTE-IUL, que me
serviu como instituição de acolhimento. Agradeço ainda ao Instituto Português da Juventude e a um dos
gabinetes de planeamento sexual e familiar juvenil existentes em Leiria, que me permitiram aceder a
alguns/algumas do/as jovens entrevistado/as. Aos três bares (ou seja, aos seus respetivos donos) da região
de Leiria, que me ajudaram, também, no contacto com vário/as jovens, permitindo-me, para além disso,
realizar algumas das entrevistas nos seus espaços, o meu muito obrigada.
O meu obrigada ainda para todo/as o/as amigo/as, pessoas conhecidas e outro/as pessoas que passaram
pela minha vida, no passado e no presente, que me ajudaram a contactar os/as jovens (eu não me esqueço
de quem são!) e que, de uma maneira ou outra, me apoiaram. Uma palavra especial de agradecimento à
Inês, a minha grande companheira desta viagem; à Sofia e à Sara que me ajudaram, sobretudo (mas não
só), nesta fase final; e à Irene, à Lena, à Joanita, e à Tânia, que, estando longe deste mundo, num momento
ou noutro, estiveram lá para me apoiar e me ajudar a fazer esta travessia, nem sempre calma.
Esta tese também não estaria feita sem o apoio da minha família, especialmente dos meus pais, que, tal
como a tanto/as outro/as jovens adultos, em Portugal, financiaram o meu percurso escolar e me deram
guarida até aos meus 30 anos. E que, mesmo após uma juventude rebelde, cheia de experimentações e de
oposição à sua autoridade, nunca me abandonaram e sempre me ajudaram e apoiaram como souberam.
Agradeço, especialmente, à Professora Doutora Anália Torres, que, ao longo daquilo que são já mais de
10 anos, esteve sempre presente, nos bons e nos maus momentos, para aconselhar, orientar e criticar. A ela
devo não só a realização desta tese, mas também a minha iniciação neste mundo da investigação científica
em sociologia. Por tudo isto, estou-lhe para sempre grata.
Os meus agradecimentos vão ainda para o Pedro Moura Ferreira, para a Sofia Santos, para a Cristina
Vieira, para a Rafaella Camolleto, para o Andrew King e para a professora Janet Holland, que antes da
publicação de trabalhos de investigação/artigos em que participaram/realizaram, me deixaram aceder a
essas futuras publicações. À professora Janet Holland agradeço ainda a possibilidade que me deu de passar
dois meses, em finais de 2009, na London South Bank University, e no acompanhamento feito,
i
posteriormente, quer pela leitura crítica de algum working paper ou comunicação que lhe tenha entregue,
ou pelo facto de ter ido assistir a comunicações que fiz, no Reino Unido, onde esteve também presente. Um
muito obrigado e um abraço vão ainda para o Andrew King, que, num momento de grande isolamento
profissional, me acompanhou, ajudando e orientando, dando sugestões e conselhos, e chamando a minha
atenção para algumas questões não antes pensadas e que foram depois seguidas neste trabalho. Não posso
deixar ainda de agradecer à Sahra Gibbon, que, sem ter qualquer obrigação de o fazer, me disponibilizou
tempo para ajudar a acabar de escrever esta tese. Aos/às colegas pertencentes ao grupo: Família, Género e
Intimidade, dirigido pela Professora Doutora Anália Torres, agradeço também as críticas e sugestões feitas
durante as reuniões.
Por fim, um agradecimento muito especial vai para todos/as os/as jovens entrevistados/as, que
disponibilizarem algumas horas das suas vidas para me ajudarem na construção deste trabalho. Sem vocês
este projeto não teria sido realizado. Espero poder ter feito justiça ao que me foi dito e não ter traído
ninguém nas suas histórias, ao ter que cortar, descontextualizar e resumir a riqueza das vidas e das ideias
partilhadas. Da minha parte fica a garantia de que tentei respeitar ao máximo, como por vezes me foi pedido,
tudo o que me foi dito e a tentativa de dar conta da complexidade destas histórias, nem sempre fáceis.

Londres, Junho de 2014

Ana Cristina Marques

ii
Resumo: Amor, sexo e género: trajetórias íntimas do/as jovens para a
vida adulta

Baseada em entrevistas semiestruturadas, realizadas a 60 jovens-adultos, com idades compreendidas
entre os 18 e os 29 anos, residentes em Leiria, Portugal, e pertencentes a diferentes posições sociais, este
trabalho analisa as trajetórias intimas de um conjunto de jovens e a sua articulação com transição para a
vida adulta, tomando em especial atenção as representações, valores e normas que orientam as práticas e
os relacionamentos sexuais e/ou amorosos dos/as jovens, e os contextos, redes e posições sociais em que
estes/as se inserem. Argumenta-se, assim, que os conhecimentos sobre sexualidade e a construção das
identidades sexuais e de género dos/as jovens são apreendidos e feitos a partir de múltiplos espaços de
socialização, como a família, os/as amigos/as, os/as parceiros/as e/ou os média e as novas tecnologias da
informação, que podem transmitir informações contraditórias e/ou ter diferentes campos de possibilidades;
sendo que, neste contexto, os/as jovens, criam os seus artesanatos das ideias (Almeida, 2013). Por
conseguinte, os/as jovens tendem a ter práticas e representações da sexualidade diversas, múltiplas e,
frequentemente, contraditórias, usando diferentes guiões sexuais, existentes na sociedade (romântico,
essencialista, hedonista...), de acordo com as suas posições e circunstâncias sociais, os seus encontros
interpessoais, e as possibilidades que estes admitem a um nível intrapsíquico. Simultaneamente, defende-
se que o domínio da intimidade, e especificamente da sexualidade, não é insignificante para as transições
dos/as jovens para a vida adulta. Intimidade, afetividade, sexualidade e género têm implicações, quer em
termos práticos quer em termos de expectativas, no modo como os/as jovens vivem este período das suas
vidas, especialmente no que diz respeito à saída de casa dos pais, à entrada em conjugalidade e/ou à entrada
em parentalidade. Por fim, sublinha-se a importância dos aspetos íntimos e relacionais, por exemplo ao
nível dos relacionamentos familiares, de amizade, sexuais e/ou amorosos e de parentalidade, contra os
“riscos” do mundo individualizado das sociedades ocidentais contemporâneas.

Palavras-chave: Intimidade, sexualidade, género, jovens-adultos, transição para a vida adulta
iii
iv
Abstract: Love, sex and gender: young adults’ intimate trajectories into
adulthood

Based on semi-structured interviews with 60 young people, aged 18-29 years old, living in Leiria,
Portugal, and belonging to different social backgrounds, this work analyses the intimate paths of a group
of young people and its articulation with their transitions into adulthood, taking into special attention the
representations, values and norms that guide young people’s sexual and/or love practices and relationships,
and the contexts, networks and social positions in which they are immersed. Thus, it’s argued that young
people’s knowledge about sexuality and their construction of sexual and gender identities is based in
multiple socialization spaces, as the family, friends, partners, media and the new information technologies,
that can transmit contradictory information and/or have different possibility fields. In these contexts young
people create their own patchwork of ideas (Almeida, 2013). Thereafter, young people tend to have diverse,
multiple and, often, contradictory practices and representations of sexuality; drawing on different sexual
scripts that exist in society (romantic, essentialist, hedonist...) according to their social circumstances and
positioning, their interpersonal encounters, and the possibilities they admit at an intra-psychic level.
Simultaneously, it’s argued that the domain of intimacy, namely sexuality, it’s not trivial for young people’s
transitions into adulthood. Intimacy, affection, sexuality and gender have practical implications in their
lifestyles and/or may affect young their expectations, especially concerning leaving home, conjugality
and/or parenthood. Finally, the importance of intimacy and the relational aspects of life are underlined, e.g.
in terms of family relations, friendship, sexual and love relationships and parenthood, against the “risks” of
the individualized world, of contemporary western societies.

Key-words: Intimacy, sexuality, gender, young adults, transition into adulthood
v