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Amor Mágico PDF

286 Pages·2016·1.06 MB·Portuguese
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A Alquimia do Amor Amanda Quick Traduzido e corrigido por Projeto_romances [email protected] Revisado por Ana Paula A Alquimia do Amor (Mystique) Amanda Quick Este Livro faz parte do Projeto_Romances, sem fins lucrativos e de fãs para fãs. A comercialização deste produto é estritamente proibida Projeto Romances 1 A Alquimia do Amor Amanda Quick Capítulo 1 Alice se orgulhava de sua inteligência e de ter recebido uma boa educação lógica. Era uma dama que nunca tinha dado muito crédito às lendas. Mas era porque jamais tinha precisado que uma lenda a ajudasse até pouco tempo atrás. Essa noite, desejava acreditar e, de fato, havia uma lenda vivente sentada à cabeceira da mesa, no salão do Lingwood Manor, a propriedade familiar. O sombrio cavalheiro ao que chamavam Hugh o Implacável, jantava sopa de legumes e salsicha de porco, como se fosse um homem comum. Alice deduziu que até uma lenda tinha que comer. Essa ideia prática lhe deu ânimos enquanto descia as escadas da torre. Colocou o seu melhor vestido para tão importante ocasião, feito de veludo verde escuro, e debruado com cinta de seda. Tinha o cabelo preso com uma fina rede de contas de ouro que tinha sido de sua mãe, e fixado com uma delicado presilha de metal dourado. E calçava sandálias de couro verde. Alice não podia estar mais disposta para sair ao encontro de uma lenda. Entretanto, a cena com que se deparou ao final das escadas, a fez vacilar. Talvez Hugh o Implacável comesse como um homem qualquer, mas aí terminava a semelhança. Percorreu-a um pequeno estremecimento, em parte de temor, em parte de expectativa. Todas as lendas eram perigosas, e sir Hugh não era a exceção. Deteve-se no último degrau, as saias presas com as mãos, e contemplou inquieta o salão lotado. Sentiu uma sensação de irrealidade e, por um momento, imaginou que tinha entrado na oficina de um feiticeiro. Embora estevesse cheio de gente, no recinto reinava uma estranha quietude. O ar era pesado, como carregado de sombrias maravilhas e lúgubres advertências. Ninguém se movia, nem os criados. O harpa do trovador silenciou. Os cães se escondiam sob as mesas largas, sem fazer caso dos ossos que estavam no chão. Os cavalheiros e soldados sentados nos bancos pareciam feitos de pedra. As chamas do salão principal se agitavam inutilmente para as sombras que pareciam mexer e turvar o ambiente. Era como se tivessem lançado um feitiço sobre o salão, antes familiar, convertendo-o em um lugar estranho e antinatural. "Não teria que me surpreender –pensou Alice-. Hugh o Implacável tem uma reputação mais aterradora que a de qualquer mago." Projeto Romances 2 A Alquimia do Amor Amanda Quick No final das contas, este era o homem em cuja espada estava gravada, conforme diziam, a expressão Provocadora de Tormentas. Alice contemplou as feições obscurecidas do Hugh através de todo o salão, e se convenceu de três coisas com total certeza. A primeira, que as tempestades mais perigosas eram as que se agitavam dentro do indivíduo, e não as que lhe atribuíam à espada. A segunda, que continha os ventos sinistros que uivavam dentro dele com vontade inflexível e decisão férrea.A terceira, que soube em um único olhar, foi que Hugh sabia como usar essa reputação em seu próprio benefício. Embora na aparência era um convidado, dominava a todos os presentes no salão. -É lady Alice? Hugh falou do fundo dessas sombras opressivas, e sua voz soou como se viesse do fundo de um profundo lago, no interior de uma cova muito profunda. Os rumores que o precediam não exageravam. O sombrio cavalheiro estava vestido totalmente de negro, sem adornos, nem bordados. Túnica, cinturão, botas... toda da cor de uma noite sem estrelas. -Eu sou Alice, meu senhor. -Fez uma profunda reverência, pois as boas maneiras nunca fariam mal à própria causa. Quando ergueu a cabeça, viu Hugh olhando-a, fascinado - Ordenou que me buscassem, senhor. -Sim, senhora. Por favor, aproxime-se para que possamos falar. -Não era uma petição-. Tenho entendido que você tem em seu poder algo que me pertence. Era o momento que Alice tinha estado esperando. Levantou-se lentamente depois do gracioso gesto de submissão. Avançou entre as filas de largas mesas, esforçando-se por recordar tudo o que tinha averiguado sobre o Hugh nos últimos três dias. No melhor dos casos, a informação era escassa e se apoiava, mais que nada, em intrigas e mitos. Não lhe bastava esse conhecimento. Tinha querido saber mais porque muitas coisas dependiam de como tratasse esse homem nos próximos minutos. . Mas o tempo tinha terminado. Teria que aproveitar ao máximo os dados fragmentados que conseguiu reunir entre os falatórios que percorriam a aldeia e o salão do tio. O suave murmúrio de suas saias sobre as tábuas do chão e o ranger do fogo foi o único som que se ouviu no grande recinto. Sobre o lugar pendia uma atmosfera de terror e excitação. Projeto Romances 3 A Alquimia do Amor Amanda Quick Alice lançou um olhar a seu tio, sir Ralf, que estava sentado junto ao perigoso hóspede. A cabeça calva do tio tinha um filete de suor. A figura roliça, embelezada com uma túnica de cor escura que enfatizava o corpo gordo, estava perdida nas sombras que pareciam emanar do Hugh. Uma das mãos gordinhas de Ralf, carregada de anéis, rodeava uma jarra de cerveja, mas não bebia. Pelas atitudes altissonantes e fanfarronas do tio, Alice sabia que estava ansioso ao ponto de sentir um puro terror. Os joviais primos da Alice, Gervase e William, também estavam assustados. Sentados rígidos a uma das mesas mais baixas, tinham os olhos fixos em Alice. A moça percebia o desespero, e entendia o motivo. Frente a eles, com semblante sério, estavam sentados os homens do Hugh, endurecidos nas batalhas, enquanto que o fogo fazia brilhar os punhos de suas espadas. Alice tinha a missão de aplacar Hugh. Dependia dela que essa noite não corresse sangue. Todos sabiam por que Hugh o Implacável tinha ido ao Lingwood Hall. Só os habitantes sabiam que o que procurava não estava ali, e o que fazia tremer os joelhos de todos era a possível reação do sujeito quando se inteirasse da novidade. Decidiu-se que Alice teria que lhe explicar a situação. Nos últimos três dias, desde que se soube que o aterrador cavalheiro se aproximava, Ralf se queixava em voz alta perante todos, de que o desastre iminente seria culpa apenas de Alice. O tio insistia em que a sobrinha tinha que se encarregar do peso de tratar de convencer Hugh de não destruir o feudo em retalhação. Alice sabia que seu tio estava furioso com ela. Também sabia que estava muito assustado... e tinha razão. Lingwood Manor contava com um pequeno e matizado contingente de homens armados, mas que em seu interior eram mas bem granjeiros que guerreiros. Faltava-lhes experiência e instrução apropriadas. Não era nenhum segredo que a propriedade seria incapaz de resistir a um possível assalto do legendário Hugh o Implacável. Em menos tempo que tem contado, ele e seus homens converteriam o lugar em ruínas. Ninguém achou estranho que Ralf esperasse que a sobrinha assumisse a responsabilidade de acalmar Hugh. Mais até: quase todos ficariam supresos se tal não tivesse ocorrido. No feudo, todos sabiam que Alice não era fácil de intimidar, nem por uma lenda. Projeto Romances 4 A Alquimia do Amor Amanda Quick Aos vinte e três anos, era uma mulher com idéias próprias, e poucas vezes vacilava em mostrá-las. Sabia que seu tio se queixava de que fosse tão decidida e que, a suas costas, chamava-a de bruxa, salvo quando necessitava de algumas das poções que preparava a moça para aliviar as articulações doloridas. Alice se considerava resolvida mas não tola: tinha consciência dos perigos desse momento. Mas também sabia que a chegada do Hugh significava uma oportunidade que não podia perder. Se não, ela e seu irmão ficariam presos para sempre em Lingwood Manor. Deteve-se frente à cabeceira da mesa e olhou ao homem carrancudo, sentado na melhor cadeira de carvalho esculpida do salão. Dizia-se que, até sob a melhor luz, Hugh o Implacável não tinha aparência agradável, mas essa noite, a combinação de chamas e sombras conferia a suas feições o aspecto ameaçador do diabo. Tinha o cabelo mais negro que o corvo, penteado, caiam em ondas sobre a fronte. Os olhos, de um estranho matiz dourado ambarino, brilhavam de inteligência e impiedade. Era evidente como tinha conquistado o apelido de Implacável. Alice soube imediatamente que esse homem não se deteria diante de nada para obter seus fins. Embora sentisse um calafrio, a decisão da Alice não vacilou. -Lady Alice, decepcionou-me que preferisse não comer conosco -disse Hugh lentamente-. Disseram-me que você fiscalizou a preparação. -Sim, milorde. -Dedicou-lhe seu sorriso mais luminoso. Um dos dados que conseguiu descobrir foi que ao Hugh gostava dos pratos bem preparados. Estava segura de que a comida tinha estado além de toda crítica-. Gostou? -Interessante pergunta. -Pensou um momento, como se fosse um problema de filosofia ou de lógica-. Não encontrei problemas no sabor nem na variedade de pratos. Confesso que comi até me fartar. O sorriso da Alice se evaporou. Irritaram-na a mesura das palavras e a óbvia falta de entusiasmo. Esse dia, tinha passado horas nas cozinhas controlando os preparativos do banquete. -Alegra-me saber que não encontrou nenhum problema nos pratos, milorde. Pela extremidade do olho percebeu que seu tio se encolhia diante do tom cortante da sobrinha. -Não, não havia nada de mau na comida --concedeu o cavalheiro--. Mas devo admitir que quando uma pessoa se inteira de que a pessoa que fiscalizou os Projeto Romances 5 A Alquimia do Amor Amanda Quick preparativos decide não comê-la, não pode descartar a possibilidade de que haja veneno. -Veneno! - indignou-se. -A mera idéia de acrescentar condimento à comida, não é assim? Ralf se encolheu como se Hugh acabasse de tirar a espada. De onde estavam os criados emergiu uma exclamação de horror. Os soldados se mexeram, inquietos. Alguns dos cavalheiros colocaram as mãos nos punhos das espadas. Gervase e William pareciam a ponto de adoecer. -Não, milorde -apressou-se a balbuciar Ralf-, asseguro-lhe que não há o menor motivo para suspeitar que minha sobrinha possa ter envenenado a sua comida, eu juro, senhor, por minha honra, ela não seria capaz de fazer algo assim. -Como ainda estou aqui, e muito bem depois de ter jantado soberbamente, inclino-me a estar de acordo com você --disse Hugh-. Mas não pode deixar de entender minha cautela, diante dessas circunstâncias. -E que circunstâncias seriam essas, milorde? -perguntou Alice. Quando o tom de Alice passou de cortante a grosseiro, viu que Ralf fechava com força os olhos, desesperado. Ela não tinha a culpa de que a conversação não tivesse começado com um tom amigavél. Quem lhe infundiu antagonismo foi Hugh, não ela. Veneno, caramba! Como se pudesse ocorrer-lhe semelhante coisa! Teria podido usar uma das receitas mais insalubres de sua mãe só como último recurso e, se um de seus informantes a tivesse convencido de que Hugh era estúpido, cruel, um tipo brutal, carente de inteligência. "E até nessas condições -pensou, cada vez mais indignada-, não me ocorreria matá-lo." Limitaria-se a usar uma das preparações inofensivas cujo único efeito seria deixar a ele e a seus homens tão sonolentos ou nauseados que fossem incapazes de matar aos habitantes da casa a sangue frio. Hugh observou a Alice. E então, como se lhe lesse os pensamentos, sua boca desenhou um sorriso perverso que não tinha nem um pingo de bondade, só uma grande ironia -Senhora, culpa-me por ser cauteloso? Recentemente soube que você estuda textos antigos. É bem sabido que os antigos tinham grande inclinação para os venenos. Além disso, inteirei-me de que sua própria mãe era uma perita nas ervas estranhas e pouco comuns. -Senhor, como se atreve? -Já estava furiosa, e esqueceu qualquer idéia de tratar a esse homem com cuidado e circunspeção-. Sou estudiosa, não Projeto Romances 6 A Alquimia do Amor Amanda Quick envenenadora. Estudo matérias de filosofia natural, não de magia negra. Em efeito, minha mãe era uma perita herbanária e grande curadora. Mas jamais teria usado suas habilidades para machucar a ninguém. -Certamente, alivia-me sabê-lo. -Eu tampouco tenho intenções de matar pessoas -continuou Alice-. Nem sequer a hóspedes grosseiros, ingratos como você, milorde. A Jarra de cerveja tremeu na mão de Ralf. -Alice, pelo amor de Deus, cale-se. A sobrinha não lhe fez caso e olhou ao Hugh com olhos entreabertos. -Pode estar seguro de que nunca em minha vida matei ninguém, senhor. Mas, não é uma afirmação que se possa fazer com respeito a você. O silêncio mortal se quebrou pelas exclamações cheias de horror de vários dos presentes. Ralf gemeu e colocou a cabeça entre as mãos. Gervase e William estavam chocados. Hugh era o único no salão que permanecia imperturbável. Contemplou Alice com expressão pensativa: -Temo que esteja certa, senhora –disse em tom suave-. Não posso afirmar isso. A simplicidade da admissão teve para Alice o efeito de ter se chocado contra uma parede de tijolos. interrompeu-se de repente. Piscou e recuperou o equilíbrio. -Sim, bom, aí está. Os olhos ambarinos brilharam de curiosidade. –Senhora, onde estamos, exatamente? Enchendo-se de atitude, Ralf tratou de deter a espiral descendente da conversação. Levantou a cabeça, secou-se a fronte na manga da túnica, e olhou ao Hugh com expressão de súplica: -Senhor, rogo-lhe entenda que minha sobrinha não quis ofendê-lo. O aludido compôs uma expressão dúbia. -Não? -Claro que não -exclamou Ralf-. Não há motivos para suspeitar dela só porque preferiu não jantar conosco. Para falar a verdade, Alice nunca janta aqui no salão principal, com o resto dos habitantes da casa. -Que estranho -murmurou Hugh. Alice tamborilou com a ponta da sandália. - Senhores, estamos perdendo o tempo. Hugh lançou um olhar para Ralf. -Afirma que... bem, prefere a solidão de seu próprio quarto -apressou-se a explicar Ralf. -E, por que? Projeto Romances 7 A Alquimia do Amor Amanda Quick Hugh se concentrou outra vez em Alice. Ralf resmungou: -Diz que, para ela, aqui no salão principal o nível... bem... do discurso intelectual, como o chama, é muito pobre. -Entendo. Ralf lançou a sua sobrinha um olhar hostil, acalorando-se com uma antiga queixa. -Ao que parece, a conversação que sustentam na mesa os cavaleiros honestos, de corações rebeldes não é elevada o bastante para as exigências de milady. Hugh ergueu as sobrancelhas. -Como? A lady Alice não gosta de ouvir detalhes da prática matinal de tiro dos homens nem dos êxitos na caça? Ralf suspirou: -Não, milord, lamento dizer que não manifesta interesse em tais assuntos. Em minha opinião, minha sobrinha é o exemplo perfeito para mostrar a estupidez de educar às mulheres. As deixam obstinadas. Faze-as acreditar que deveriam vestir calças. O pior é que gera ingratidão e falta de respeito pelos pobres, desventurados homens encarregados de protege-las, que têm a triste responsabilidade de alimentá-las e as vesti-las. Zangada, Alice lhe lançou um olhar fulminante. -Tio, isso é mentira. Sabe bem que estou muito agradecida pelo amparo que brindou a meu irmão e a mim. Onde estaríamos se não fosse por você? Ralf se indignou. -Vamos, Alice, já é suficiente. -Direi onde estaríamos Benedict e eu se não tivesse sido por seu generoso amparo. Estaríamos sentados em nosso próprio salão, jantando em nossa mesa. -Pelo sangue dos Santos, Alice, ficou louca? -Olhou-a com crescente horror- Não é momento de discutir esse assunto. -Certo. -Esboçou um sorriso amargo-. Mudaremos de assunto. Prefere que falemos de como calculou tudo para gastar o pouco que restava de minha herança que eu consegui preservar, depois que deu a propriedade de meu pai a seu filho? -Maldição, não é uma mulher de hábitos baratos. -Por um momento, a inquietação do Ralf pela presença do Hugh cedeu passo à larga lista de queixas que tinha contra Alice- Esse último livro que quis comprar custou mais que um bom cão de caça. Projeto Romances 8 A Alquimia do Amor Amanda Quick -Era um importante escrito do bispo Marbode do Rennes -replicou Alice-. Estabelece as propriedades de todas as gemas e pedras, e foi uma compra excelente. -Ah, sim? -resmungou Ralf-. Bom, me deixe dizer no que outra coisa se poderia ter gasto melhor essa soma. -Basta. Hugh tomou sua taça com uma mão grande e bem formada. Embora o gesto fosse mínimo, ao vir das profundidades do vasto poço de quietude que o rodeava, sobressaltou a Alice, que retrocedeu um passo sem querer. Ralf se apressou a esconder qualquer outra acusação que queria lhe fazer. Alice se ruborizou, zangada e envergonhada da estúpida discussão. "Como se não tivéssemos questões mais importantes que tratar -pensou-. Este caráter feroz é minha ruína." Por um instante, perguntou-se com certa inveja como teria obtido Hugh um domínio tão grande de seu próprio temperamento. Pois não hávia dúvida de que o continha com mão de ferro. Era uma das características que o faziam tão perigoso Quando a olhou, os olhos do Hugh refletiam as chamas da lareira. -Vamos interromper esta disputa familiar que, sem dúvida, é de longa data. Não tenho tempo nem paciência para resolvê-la. Lady Alice, sabe para que vim aqui esta noite? -Sim, milorde. -Decidiu que não tinha sentido lhe dar voltas à questão-. Buscar a pedra verde. -Estive atrás da pista desse maldito cristal a mais de uma semana, senhora. No Clydemere me inteirei de que a tinha comprado um jovem cavalheiro de Lingwood Hall. -De fato, assim foi, milord -disse Alice com vivacidade. Estava tão impaciente por resolver o assunto como ele. -Para você? -Correto. Meu primo Gervase descobriu que um vendedor a tinha na Feira do Verão do Clydemere. -Viu que, ao ouvi-la mencionar, Gervase se sobressaltava-. Meu primo sabia que eu acharia a pedra muito interessante, e teve a gentileza de me traze-la. -Disseram-lhe que, depois, encontraram o vendedor com a garganta cortada? -perguntou Hugh, com tom indiferente. A boca de Alice secou. -Não, senhor. É evidente que Gervase não estava informado da tragédia. Projeto Romances 9 A Alquimia do Amor Amanda Quick -Assim parece. O cavalheiro lançou ao Gervase um olhar de caçador. Gervase abriu e fechou a boca duas vezes, até que conseguiu dizer: -Juro que não sabia quão perigoso era o cristal, senhor. Não era muito caro, e acreditei que seria divertido para Alice. É muito aficionada às pedras pouco comuns e coisas assim. -O cristal verde não tem nada de divertido. -Hugh veio um pouco para frente, modificando o desenho de luzes e sombras sobre suas feições rudes, que se tornaram mais demoníacas-. Para falar a verdade, quanto mais o persigo, menos divertido me parece. Alice franziu o cenho quando algo lhe ocorreu. -Está seguro de que a morte do vendedor estava relacionada com o cristal, milorde? Hugh a olhou como se lhe tivesse perguntado se saía o sol pela manhã. -Dúvida de minha palavra? -Não, claro que não. -Abafou um pequeno gemido. Os homens eram tão suscetíveis no que se referia a suas capacidades lógicas É que não vejo a relação entre a pedra verde e o assassinato de um vendedor. -Sério? -Sim. Até onde sei, a pedra verde não é especialmente atrativa nem valiosa. De verdade, em comparação, é um cristal bem feio. -Certamente, aprecio sua opinião de perita. Alice não fez caso da ironia, pois sua mente avançava seguindo a lógica do problema. -Admito que um ladrão cruel poderia ter assassinado para obter a pedra se tivesse a impressão equivocada de que tinha valor. Mas, na realidade, era bastante enganosa, pois do contrário Gervase jamais a teria comprado. Além disso, por que teriam que assassinar o pobre comerciante quando já tinha vendido a pedra? Não tem sentido. -Em semelhante situação, o assassinato é muito lógico tratando de cobrir os rastros -disse Hugo com muita suavidade-. Asseguro-lhe que homens mataram e foram assassinados por motivos muito menores. -Sim, pode ser. -Apoiou o cotovelo na mão e tamborilou com os dedos no queixo-. Por todos os Santos, juro que os homens são muito hábeis para fazer uso de violência desnecessária. -Costuma acontecer -admitiu Hugh. -De todos os modos, salvo que tenha evidência concreta que assinale uma relação clara entre o assassinato do comerciante e o cristal verde, não sei como pode chegar à conclusão certa de que há uma relação, senhor. Projeto Romances 10

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