UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE PSICOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA ANA MARIA DE OLIVEIRA URPIA AMIGOS E AMORES Uma leitura etnopsicológica das trajetórias afetivo-sexuais de duas gerações de universitários Salvador 2014 ANA MARIA DE OLIVEIRA URPIA AMIGOS E AMORES Uma leitura etnopsicológica das trajetórias afetivo-sexuais de duas gerações de universitários Tese apresentada ao Colegiado de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal da Bahia como pré-requisito para a obtenção do título de Doutora em Psicologia Área de concentração: Desenvolvimento Orientadora: Profa. Dra. Sônia Maria Rocha Sampaio Salvador 2014 Ficha catalográfica elaborada por Kátia Rodrigues CRB⁄5 - 973 U78 Urpia, Ana Maria de Oliveira. Amigos e amores: uma leitura etnopsicológica das trajetórias afetivo- sexuais de duas gerações de universitários . ⁄ Ana Maria de Oliveira Urpia. Salvador, 2013. 378 f. Orientadora: Profa. Dra. Sônia Maria Rocha Sampaio Tese (doutorado) – Universidade Federal da Bahia, Instituto de Psicologia, 2013. 1. Etnopsicologia. 2. Universitários/as. 3. Trajetórias Afetivo- Sexuais. 4. Gênero. Geração. I. Sampaio, Sônia Maria Rocha. II. Uni- Versidade Federal da Bahia, Faculdade de Filosofia e Ciências Huma- nas. III. Título. CDD 159 BANCA EXAMINADORA ____________________________________ Profa. Dra. Sônia Maria Rocha Sampaio – Orientadora Universidade Federal da Bahia ____________________________________ Prof. Dr. José Machado Pais Universidade de Lisboa ____________________________________ Profa. Dra. Vera Silvia Facciolla Paiva Universidade de São Paulo ____________________________________ Profa. Dra. Ana Cecília Sousa Bastos Universidade Federal da Bahia ____________________________________ Profa. Dra. Alda Britto da Motta Universidade Federal da Bahia A André, meu amor e meu amigo, sem sua amizade e seu afeto, talvez não fosse possível a concretização deste trabalho. Ao meu filho Simão Pedro, em quem muitas vezes me inspirei para falar de juventude. Aos participantes da pesquisa, que gentilmente me concederam a grata experiência de escutar suas histórias de amor, de amizade e sexualidade juvenis. AGRADECIMENTOS À minha estimada orientadora Sônia Sampaio, pela orientação carinhosa e libertadora, capaz de fornecer, ao mesmo tempo, a autonomia e a segurança que resultou num progressivo processo de autorização como pesquisadora. Ao professor José Machado Pais, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, figura inspiradora e coordenador investigador desta instituição onde tive a oportunidade de fazer o estágio de doutoramento. Guardo as mais acolhedoras lembranças e aprendizados possibilitados por esta interlocução. Ao Observatório da Vida Estudantil, grupo de pesquisa ao qual devo grande parte de minha formação como pesquisadora. Às professoras Ana Cecília, Alda Britto da Motta e Vera Paiva, pelo acolhimento e a disponibilidade para o diálogo. À CAPES, pelas bolsas de pesquisa concedidas no país e no exterior. Ao Programa de Pós-graduação em Psicologia da UFBA, pelo constante acolhimento e, principalmente, pela formação rigorosa. Aos meus filhos, Simão e Nina, pelos muitos momentos em que renunciaram à minha presença a fim de me permitir realizar este desejo e por renovar minha alegria todos os dias. Aos meus irmãos Rita, Kátia e Mário e às minhas sobrinhas Nane e Malu, que me apoiaram e ajudaram na concretização desta tese, mas também no cuidado de meus pais, enquanto estive ausente, respondendo às demandas do fazer pesquisa. Aos meus pais, pelo investimento incondicional em minha educação, base para que hoje eu pudesse chegar aqui, mas também pelo incentivo à continuidade dos estudos. Ao meu amigo e revisor, André Marcílio, pela revisão cuidadosa e competente. Rodin RESUMO URPIA, A. M. de O. Amigos e Amores: uma leitura etnopsicológica das trajetórias afetivo-sexuais de duas gerações de universitários. 2013. 365 f. Tese (Doutorado)- Programa de Pós-graduação em Psicologia. Universidade Federal da Bahia, 201. Esta tese, vinculada aos estudos desenvolvidos no Observatório da Vida Estudantil (OVE- UFBA/UFRB), situa-se numa posição de fronteira entre os estudos psicológicos, sociológicos e antropológicos, e propõe uma etnopsicologia da intimidade afetivo-sexual, abordagem teórico- metodológica em cujo cerne está a noção de multirreferencialidade. A partir desta noção, a Abordagem Etnopsicológica orienta-se, do ponto de vista teórico, pelos estudos interacionistas, particularmente aqueles desenvolvidos na Escola de Chicago, e, mais tarde, reconhecidos sob a denominação de Interacionismo Simbólico; do ponto de vista metodológico, pelas práticas de pesquisa de tipo etnográfico, cujo foco está nas particularidades indexicais das falas dos sujeitos, na compreensão das trilhas interpretativas que estes põem em ação para atuar no seio de suas culturas. Contudo, em função das particularidades do seu objeto de estudo, e das questões de pesquisa formuladas, articulam-se a estes referenciais outros de igual importância, a fim de atender a demanda de leitura da complexidade que o fenômeno em estudo impõe. Desta posição fronteiriça, esta tese desenvolve suas análises norteando-se por três questões de pesquisa: 1) Quais significados são construídos em torno das primeiras experiências amorosas e sexuais, e sob quais condições psicológicas e sociais estas experiências se tornam possíveis conforme seja a posição geracional e de gênero dos sujeitos? 2) Que tipo de cenas, interações e self positioning se produzem na esfera das relações amorosas e sexuais ao longo das diferentes trajetórias pessoais e geracionais, confirmando a norma prescritiva ou mostrando suas fissuras? 3) Quais são os elementos psicossociais que funcionam como propulsores ou catalisadores semióticos desses processos de positioning e (re)positioning exigidos dos jovens, quando, por ocasião do ingresso na universidade (ou de outra experiência marcante de vida) experienciam uma ruptura-transição em seus sistemas de significados relativos à esfera da vida afetivo-sexual? Estas questões buscam compreender, em especial, os processos psicológicos de mudança que acompanham as trajetórias amorosas e sexuais dos atores sociais em tempos de juventude, sem negligenciar os contextos ou cenários em que estas são produzidas, nesse caso específico: o cenário atual (representado pelo grupo geracional mais novo – de universitários/as das primeiras décadas dos anos 2000) e o cenário dos anos 1960/1970 (representado pelo grupo geracional mais velho e que viveu a vida universitária em tempos de ditadura militar e “revolução sexual”). A instituição em que a pesquisa se realiza é a Universidade Federal da Bahia (UFBA), onde ambos os grupos geracionais viveram parte de sua juventude, na condição de estudantes. O grupo geracional mais velho é composto por cinco mulheres e três homens, com faixa etária entre 56 e 65 anos de idade, enquanto o grupo geracional mais novo é composto por quatro mulheres e quatro homens, com faixa etária entre 19 e 29 anos de idade. O resultado da pesquisa aponta: primeiro, para a relação indissolúvel entre relações de amizade e relações amorosas e sexuais, fundamentalmente importantes na garantia da demanda de intimidade na juventude; segundo, para a passagem de jovem a estudante como um propulsor de mudanças relevantes nas trajetórias afetivo-sexuais de ambos os grupos geracionais; terceiro, para a permanência de uma clivagem de gênero remodelada, que organiza as trajetórias das mulheres em torno de uma experimentação parcimoniosa e do amor sexualizado em relações, a priori, de longa duração, pelo menos até a primeira desilusão amorosa, e a dos homens em torno da livre e numerosa experimentação sexual até que sintam necessidade de assentar e experienciar uma relação duradoura; quarto, para o fato de que, embora o comportamento juvenil hoje esteja centrado na experimentação, permanece o desejo de algum dia encontrar, se não uma pessoa especial, talvez um relacionamento especial, desde que sejam respeitados os territórios pessoais. Palavras-chave: Etnopsicologia. Universitários/as. Trajetórias Afetivo-Sexuais. Gênero. Geração. ABSTRACT URPIA, A. M. de O. Friends and Lovers: an Ethnopsychological Reading of the Affective-Sexual Trajectories of two Generations of College People. 2014. 365 f. Tese (Doutorado)- Programa de Pós- Graduação em Psicologia. Universidade Federal da Bahia, 2014. This thesis, associated to the studies developed at the Observatory of Students’ Life (Observatório da Vida Estudantil or OVE-UFBA/UFRB), stays in a boundary position amongst sociologic, anthropologic, as well as psychologic studies, and proposes an Ethnopsychology of affective-sexual intimacy, a theoretical methodological approach that encodes the notion of Multi-referentiality. The Ethnopsychological Approach follows, from a theoretical viewpoint, the interactionist studies, particularly the ones carried out at the Chicago School, which were grouped, later on, under the label Symbolic Interactionism. From a methodological perspective, it adopts the research practices of ethnographic type, which focuses on the indexical idiosyncrasies that reside in the subjects’ speech, as well as on the analysis of the interpretive trails that they put into action within the core of their cultures. However, because of the particularities of its object of study (and of the research questions), other theoretical frameworks of equivalent importance had to be used, in order to enable the analysis of the complexity imposed by the phenomenon. From this boundary position, the present work develops its analyses according to three research questions: 1) Which meanings are built concerning first love and sexual experiences, and under which psychological and social conditions do these experiences become possible according to the subject’s generational and gender position? 2) What kind of scenes, interactions and self positioning can be produced in the realm of love and sexual relations along the different personal and generational trajectories, confirming a prescriptive norm or showing its gaps? 3) Which are the psychosocial elements that work as propellers or semiotic catalyzers on those positioning and (re)positioning processes demanded by those youngsters, when, by the time of entering university (or any other outstanding event), they experience a rupture-transition in their systems of meaning concerning affective- sexual life? These questions aim at understanding, especially, the psychological processes of change that take place along love and sex paths of the social actors during youth, without neglecting the contexts or scenarios in which they have been produced, in this specific case: the present-time scenario (represented by the younger generational group – of college students during the first decades of the 21st century) and the scenario of the 1960/1970 decades (represented by the oldest generational group, who lived the college daily life in times of military dictatorship and
Description: