Patrick tem treze anos, mas não fez o bar mitzvah. Seu pai, Nicolas, desistiu da cardiologia para se tornar oftalmologista. Sua mãe, Mônica, é hostilizada pela sogra por não ter sobrenome judeu. Marquinhos, seu tio, guarda segredos. Seu bisavô, no caixão ao lado, tentou, mas não conseguiu falar uma palavra de apoio para a mulher com quem dividiu a vida. Nesta família, o silêncio é uma herança passada de pai para filho, enquanto histórias se repetem e se modificam em lembranças que nem sempre são fieis à realidade, mas ainda assim – ou por isso mesmo – são únicas. Flávio Izhaki, em seu segundo romance, alterna seis vozes para dar conta de quatro gerações marcadas por laços frágeis, silêncios palpáveis, abraços automáticos e rituais esvaziados pelo tempo. A morte de Natan é o último ato de mortes anteriores, resultado de existências desbotadas. Amanhã não tem ninguém fala sobre relações familiares, tradições que se perdem e o tempo que o relógio não marca, com uma dose equilibrada de lirismo e frieza, cumplicidade e estranhamento.