Description:Um dos maiores escritores contemporâneos, o argentino Ricardo Piglia volta à ficção treze anos depois de Dinheiro queimado com este romance noir ambientado no pampa argentino. O jornalista Emilio Renzi, já conhecido de outros livros de Piglia, investiga o assassinato do misterioso Tony Durán. A investigação policial é o ponto de partida para um retrato das contradições da vida rural argentina dos anos 1970. Autor de romances marcantes como Respiração artificial, de 1980, e Dinheiro queimado, de 1997, Ricardo Piglia lança agora Alvo noturno. Recebido com entusiasmo pela crítica, poucos meses depois de publicado o novo romance recebeu o importante prêmio literário venezuelano Rómulo Gallegos. Piglia passou a última década dando pistas do texto ficcional em que estava trabalhando — principalmente pistas falsas. Supostamente, a obra estaria sendo escrita a partir do diário que o escritor mantém desde 1957. Contaria a história do personagem Emilio Renzi no ano de 1982, tendo como pano de fundo a Guerra das Malvinas. Porém, as mudanças foram significativas. Alvo noturno não é nada disso: com exceção de Emilio Renzi, ainda presente na trama, nada persiste do que havia sido anunciado. Trata-se, por assim dizer, de um romance policial-social. A ação, que se passa num povoado do pampa argentino nos anos da ditadura militar — de que ficou a herança traumática com que o país se debate até hoje —, ilumina com a agudeza característica de Piglia a organização corrompida da sociedade rural, caracterizada pela autoridade inconteste dos que mandam, pela impunidade de seus crimes e pela perversidade das relações pessoais. A trama gira ao redor de Tony Durán, porto-riquenho de Nova Jersey. A razão da ida daquele moreno elegante, sedutor, de passado duvidoso, para o lugarejo argentino é obscura: dizem que mantinha um caso amoroso com as gêmeas Belladona, as belas Ada e Sofía, filhas do mandachuva local. Outras hipóteses falam em especulação, lavagem de dinheiro, e até um rumoroso caso homossexual. Assunto predileto do povoado, um dia Tony aparece morto em seu quarto de hotel. A investigação desnudará pouco a pouco uma sociedade paralisada pela lógica da violência e do poder. Enviado por seu jornal, Emilio Renzi chega de Buenos Aires para escrever a matéria — que o jornalista pretende transformar num amplo painel social. Para isso, ao lado do comissário Croce, investiga as arqueologias familiares e desconstrói os papéis dos protagonistas: ora seres destruidores, ora indivíduos inermes diante do poderio do sistema validado pelo Estado: uma sociedade em que é impossível sonhar, como evidencia o destino de Luca Belladona, que pagará sua resistência e sua utopia com a solidão extrema.