Robert Gilmore AAlliiccee nnoo PPaaííss ddoo QQuuaannttuumm A física quântica ao alcance de todos SUMÁRIO Prefácio No País do Quantum O Banco Heisenberg O Instituto de Mecânica A Escola de Copenhague A Academia Fermi-Bose Realidade Virtual Átomos no Vácuo O Castelo Rutherford O Baile de Massacarados das Partículas A Piteira Phantástica da Física Experimental Prefácio Na primeira metade do século XX, nossa compreensão do Universo foi virada de pernas para o ar. As antigas teorias clássicas da física foram substituídas por uma nova maneira de olhar o mundo — a mecânica quântica. Esta estava em desacordo, sob vários aspectos, com as idéias da antiga mecânica newtoniana; na verdade, sob vários aspectos, estava em desacordo com nosso senso comum. Entretanto, a coisa mais estranha sobre essas teorias é seu extraordinário sucesso em prever o comportamento observado dos sistemas físicos. Por mais absurda que a mecânica quântica possa nos parecer, esse parece ser o caminho que a Natureza escolheu — logo, temos que nos conformar. Este livro é uma alegoria da física quântica, no sentido dicionarizado de "uma narrativa que descreve um assunto sob o disfarce de outro." O modo pelo qual as coisas se comportam na mecânica quântica parece muito estranho para nossa maneira habitual de pensar e torna-se mais aceitável quando fazemos analogias com situações com as quais estamos mais familiarizados, mesmo quando essas analogias possam ser inexatas. Tais analogias não podem nunca ser uma representação verdadeira da realidade, na medida em que os processos quânticos são de fato bastante diferentes de nossa experiência ordinária. Uma alegoria é uma analogia expandida, ou uma série de analogias. Como tal, este livro segue mais os passos de Pilgrim s Progress ou As viagens de Gulliver do que Alice no País das Maravilhas. Alice parece o modelo mais conveniente, no entanto, quando examinamos o mundo que habitamos. O País do Quantum por onde Alice viaja se parece mais com um parque temático no qual Alice é às vezes uma observadora, ao passo que algumas vezes se comporta como uma espécie de partícula cuja carga elétrica pode variar. Esse País do Quantum mostra os aspectos essenciais do mundo quântico: o mundo que todos nós habitamos. Grande parte da história é pura ficção e os personagens são imaginários embora as notas que descrevem o "mundo real" sejam verdadeiras. Através da narrativa você encontrará muitas afirmações obviamente absurdas e bastante divergentes do senso comum. Em sua maior parte, elas são verdadeiras. Niels Bohr, o pai da mecânica quântica emseus primórdios, é conhecido por ter observado que qualquer um que não tenha ficado aturdido ao pensar na teoria quântica não a compreendeu. Com seriedade, embora... A descrição do mundo proposta pela mecânica quântica é sem dúvida interessante e notável, mas estaríamos seriamente preparados para acreditar que é verdadeira? ( Curiosamente achamos que estamos. Para frisar essa afirmação, ao longo deste livro você encontrará breves notas que enfatizam a importância da mecânica quântica no mundo real. As notas são mais ou menos assim: Essas notas resumem a importância, para o nosso mundo, dos tópicos quânticos encontrados por Alice em cada capítulo. Elas pretendem ser suficientemente não-intrusivas, de modo que você pode ignorá-las enquanto estiver lendo a história das aventuras de Alice, mas se quiser descobrir o real significado dessas aventuras, as notas estão convenientemente próximas. Há também algumas notas longas nos finais de capítulo. Elas esclarecem alguns dos pontos-chave no texto e são assim caracterizadas: Ver nota 1 no final do Capítulo Vários aspectos pelos quais a teoria quântica descreve o mundo podem parecer absurdos à primeira vista — e possivelmente podem assim parecer da segunda, terceira e vigésima quinta vez. E, no entanto, o único jogo na cidade. A antiga mecânica clássica de Newton e seus seguidores é incapaz de dar qualquer ripo de explicação para os átomos e outros microssistemas. A mecânica quântica concorda muito bem com a observação. Os cálculos são frequentemente difíceis e entediantes, mas, onde foram efetuados, se adequaram perfeitamente ao que fora realmente observado. É impossível enfatizar suficientemente o notável sucesso prático da mecânica quântica. Embora o resultado de uma medida possa ser aleatório e imprevisível, as previsões da teoria quântica se ajustam consistentemente aos resultados médios obtidos a partir de muitas medidas. Qualquer observação macroscópica envolverá inúmeros átomos e, portanto, inúmeras observações em escala atômica.De novo veremos que a mecânica quântica é bem-sucedida, na medida em que automaticamente se adequa aos resultados da mecânica clássica para objetos macroscópicos O inverso não é verdadeiro. A teoria quântica foi desenvolvida para explicar observações feitas nos átomos. Desde sua concepção, foi aplicada com sucesso ao núcleo atômico, á interação forte de partículas que provém do núcleo e ao comportamento dos quarks dos quais são compostas. A aplicação da teoria foi estendida por um fator de algo como cem bilhões. Os sistemas considerados tanto diminuíram em tamanho como aumentaram em energia por esse fator. E um longo caminho de extrapolação de uma teoria a partir de sua concepção original, mas até aqui a mecânica quântica parece estar apta a lidar com esses sistemas extremos. Até o ponto em que foi investigada, a mecânica quântica parece sei de aplicabilidade universal. Em uma escala macroscópica, as previsões da teoria quântica perdem seu aspecto aleatório e se adequam àquelas da mecânica clássica, que trabalha muito bem com objetos grandes. Em uma escala microscópica, no entanto, as previsões da teoria quântica são consistentemente confirmadas em experimentos. Até mesmo essas previsões, que parecem implicar um retrato absurdo do mundo, estão sustentadas pela evidência experimental. Intrigante mente, como discutido no Capítulo 4, a mecânica quântica parece estar numa estranha posição de se adequar a todas as observações feitas, embora se discuta quais observações podem efetivamente ser feitas. Parece que o mundo é mais estranho do que imaginamos e talvez mais estranho do que possamos imaginar. Enquanto isso, porém, vamos acompanhar Alice em seu início de jornada pelo País do Quantum. Robert Gilmore Alice estava entediada. Todos os seus amigos estavam de férias, visitando os parentes e ela, por causa da chuva, ficou trancada em casa, vendo televisão. Naquela tarde já tinha assistido ao quinto episódio de um curso de introdução ao Esperanto, a um programa de jardinagem e a uma propaganda política. Alice estava entediada de verdade. Olhou para o livro que estava no chão, ao lado da cadeira. Era uma edição de Alice no País das Maravilhas que ela, mais cedo naquele dia, tinha deixado por ali ao acabar de ler. "Não sei por que não pode haver desenhos e programas mais interessantes na televisão", divagava. "Queria ser como a outra Alice. Ela estava entediada e descobriu o caminho para uma terra cheia de seres interessantes e acontecimentos estranhos. Se houvesse algum jeito de encolher para flutuar através da tela da televisão, talvez eu pudesse encontrar várias coisas fascinantes." Frustrada, ela olhava para a tela, onde naquele momento uma imagem do primeiro-ministro dizia que, feitas todas as considerações, as coisas estavam bem melhores do que três anos antes, ainda que nem sempre parecessem assim. Ficou um pouco surpresa ao ver a imagem do rosto do primeiro-ministro se desmanchar devagarinho e se transformar numa névoa de pontinhos brilhantes que dançavam e que pareciam fluir para dentro da TV, como se estivessem chamando por ela. "Puxa", disse Alice, "acho que eles querem que eu os siga!" Levantou-se de um salto e foi em direção à televisão, mas tropeçou no livro que tinha displicentemente largado no chão, e caiu de cabeça. Enquanto caía, espantou-se ao ver a tela ficar enorme, e se surpreendeu cercada pelos pontinhos dançantes que fluíam para dentro da imagem. "Não consigo ver nada com esses pontos dando voltas ao meu redor", pensou. "E como estar perdida numa tempestade de neve. Não consigo nem mesmo ver meus pés. Queria ver so um pouquinho. Não dá nem para saber onde estou." Naquele momento, Alice sentiu seus pés encostarem em algo sólido e se viu sobre uma superfície plana e dura. A sua volta os pontinhos começavam a sumir e ela percebeu que estava cercada por formas indefinidas. Olhou mais de perto para a que estava mais próxima e observou uma figura pequena, da altura da sua cintura, no máximo. Era muito difícil defini-la, pois ficava pulando de um lado para outro e se mexendo tão rápido que mal dava para ver direito. A forma parecia estar carregando algum tipo de bengala, ou talvez um gUarda-chuva fechado, que ficava apontado para cima. "Olá", Alice se apresentou educadamente. "Eu sou a Alice. Posso saber quem você é?" "Sou um elétron", disse a forma. "Sou um elétron spin-para cima. É fácil me distinguir da minha amiga ali, a elétron spin-para baixo, que é obviamente muito diferente de mim." E disse para si mesmo, num tom baixinho, algo que soou como "Vive la différence". Pelo que Alice pôde ver, o outro elétron era quase igual, a não ser pelo guarda-chuva, ou o que quer que fosse aquilo, que apontava para baixo, na direção do chão. Era difícil ter certeza, uma vez que a figura também escava pulando de um lado para outro, tão rapidamente quanto a primeira. "Por favor", disse Alice a seu mais novo conhecido. "Poderia fazer a gentileza de parar por um momento para que eu possa vê-lo com mais clareza?" "Sou bastante gentil", disse o elétron, "mas receio que não haja espaço bastante. Mas vou tentar, de qualquer forma." Assim dizendo, ele começou a diminuir a sua taxa de agitação. Mas quanto mais devagar se movia, mais se expandia para os lados e mais difuso ia ficando. Naquele momento, apesar de não Se mover rapidamente,, ele estava tão indefinido e tão fora de foco que Alice não conseguia vê-lo com mais clareza do que antes. "Isto é o melhor que posso fazer", resfolegou o elétron. "Receio que quanto mais lentamente eu me mover, mais espalhado eu fico. As coisas são assim aqui no País do Quantum: quanto menos espaço você ocupa, mais rápido você tem de se mover, h. uma das regras, e não há nada que eu possa fazer." "Realmente não há espaço para diminuir a velocidade aqui", continuou o companheiro de Alice enquanto recomeçava a pular rapidamente de um lado para outro. "A estação está ficando tão lotada, que preciso ser mais comp.u lo." De fato, no espaço em que Alice se encontrava estava lotado pelas figurinhas que se espremiam uma ao lado da outra, dançando e se movendo febrilmente. Partículas no nível atómico diferem de objetos em escala macroscópica. Elétrons são muito pequenos e não apresentam características particulares, sendo completamente idênticos uns aos outros. De fato, eles têm algum tipo de rotação, apesar de não ser possível dizer exatamente o que é que está em rotação. Uma característica peculiar é que todos os elétrons giram à mesmíssima taxa, não importando em que direção a rotação é medida. A única diferença é que uns giram em uma direção e outros giram em outra direção. Dependendo da sua direção da rotação, os elétrons são conhecidos como spin-para cima ou spin-para baixo.
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