UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA MESTRADO EM PSICOLOGIA ALICE DE ALENCAR ARRAES CANUTO (Re)visitando personagens, cenários e vozes: nas tramas sobre o “sujeito” do feminismo no Blogueiras Feministas Belo Horizonte 2016 ii ALICE DE ALENCAR ARRAES CANUTO (Re)visitando personagens, cenários e vozes: nas tramas sobre o “sujeito” do feminismo no Blogueiras Feministas Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do título de Mestra em Psicologia. Área de concentração: Psicologia Social. Linha de Pesquisa: Política, Participação Social e Processos de Identificação. Orientadora: Profa. Dra. Claudia Mayorga. Belo Horizonte 2016 iii 150 Canuto, Alice C235r (Re)visitando personagens, cenários e vozes [manuscrito] : nas tramas sobre o “sujeito” do feminismo no Blogueiras Feministas. / Alice 2016 Canuto. - 2016. 188 f.: il. Orientadora: Claudia Mayorga. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Inclui bibliografia. 1. Psicologia – Teses. 2. Feminismo - Teses. 3. Identidade - Teses. 4. Psicologia social - Teses. I. Mayorga, Claudia . II. Universidade Federal de Minas Gerais. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. III. Título. iv v à Lenise por amar manjericão como eu e me lembrar todos os dias do que, de fato, importa. ao meu pai, Andrada e à minha mãe, Cida por transformarem manhãs de bocejos em pãezinhos franceses com manteiga saídos do forno, como quem nos dissesse: “ao acordarem, não se esqueçam de aquecer os corações”. à Elisa, minha irmã e à memória de minha irmã, Aline porque quando a implacável escuridão da noite chegou vocês me apresentaram as estrelas. vi Agradecimentos A escrita de uma dissertação não é tarefa fácil. Exige de nós longos momentos solitários, e paradoxalmente, reúne muitas pessoas queridas – que às vezes saem dos livros, às vezes se presentificam no abraço apertado. Escrevê-la só se tornou possível pelas companhias diversificadas que me acompanharam até aqui. Com a ajuda de muitas mãos, vozes, chamadas à distância e outros carinhos essa dissertação foi escrita, e eu não poderia deixar de registrá-las. Às blogueiras feministas, que ousaram escrever e pronunciar seus nomes. Obrigada pelos encorajamentos e inspirações diárias. Sem vocês esse trabalho não faria o menor sentido. Agradeço especialmente à Bia Cardoso pela disponibilidade e desejo em dialogar. À Claudia Mayorga que, antes de me conhecer pessoalmente, topou me orientar. Agradeço a confiança e o acolhimento. Sem as nossas discussões no Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão Conexões de Saberes e sem sua leitura cuidadosa, esse trabalho não seria possível. Obrigada por tornar a pesquisa mais instigante e desafiadora. Aos professores Emerson Rasera e Luciana Kind pelo aceite em participarem da banca. À Lu Costa, por ter sido tão presente, tão amiga, tão constante. Obrigada pelas horas de caminhada, alongamento, açaí e almoços fora da Universidade. Sem você minhas memórias de Belo Horizonte não teriam o sabor da comidinha da sua mãe e as caras e bocas que aprendi a fazer com você para as selfies. Juntas compartilhamos brigadeiros, filmes franceses, saturno na sétima casa, parcerias e muitas risadas no meio do caminho. Ao Rick, por ter sido meu companheiro de trabalho, de vida e de gargalhadas em horas inapropriadas. Encontrei em você a ternura que às vezes a gente esquece na estrada. Obrigada por ter tornado os dias mais divertidos, por ter propiciado discussões inusitadas e profundas sobre questões existenciais pós-balada de sábado, nessa mistura maravilhosa de sol em câncer, ascendente em sagitário e lua em gêmeos! A todas/os as/os integrantes do Núcleo Conexões de Saberes que contribuíram substancialmente para meus deslocamentos e para minha formação pessoal, teórica e política. Especialmente à Lu Souza, ao Paulo, à Geíse, à Tayane, à Aninha, à Thalita, à Luana, à Daniela, ao André, à Letícia, à Olívia, à Marina Passos, à Ju Tolentino, ao Robinho e à Silvia. Agradeço também o encontro maravilhoso com a profa. Jaileila, a quem sou profundamente grata pelas discussões, pela elegância, carinho e entusiasmo. vii À turma do mestrado, especialmente à Dri, à Suely, ao Onair, à Lu Costa, à Janaína, à Carla, à Cris García, à Cris Siqueira, ao Santhiago, ao Geraldo e ao Álvaro. Vou sentir saudades das nossas discussões metodológicas, epistemológicas e dos nossos saraus de poesia! Obrigada por tornarem o percurso do mestrado menos sofrido. Às amigas/os queridas/os de longa data, que nas chamadas à distância se fizeram presentes: Raíssa, Biel, Paulinha, Amandinha, Renathinha, Larissa, Dani e Sandra Mara. Obrigada por me darem a certeza de que ainda jogaremos canastra juntas e aprontaremos altos mal feitos depois dos oitenta. À Mari, Carla, Pri, Naiara, Gabi e Cecília, que carinhosamente eram chamadas por mim e pelo Rick como “as meninas do Trajetórias” ou “as nossas meninas”. Obrigada a vocês pela oportunidade de construirmos juntas, um espaço de leituras, discussões, trocas de conhecimento, experiências, indignações e boas risadas também. Ao Núcleo de Estudos e Pesquisas Construção de Fatos Sociais (NEPSI), que desde 2009 tem contribuído para minha formação afetivo-teórica-política. Obrigada especialmente à Lenise, que sempre esteve comigo, desde os meus primeiros passos. Também agradeço ao Adriel, à Dani, ao Marcelo, à Thaís, à Sirlei, ao José e à Ana Terra. A toda a minha família, especialmente à minha vó Niula, vovó sagitariana que vive nos forrós e dança a noite inteira que é para o sangue nunca esfriar. Maravilhosa! Obrigada também ao Tio Marcelo, à Fabíola, à Marcelinha, à Jú e ao afilhado mais amado do mundo, o Dudu. Porque vocês trazem a festa no corpo! À Jeyce, por toda amizade, carinho e companheirismo. Só tenho a agradecer muito a você e à Marcelinha (e toda a sua família) por já serem parte da nossa família há uns bons anos (e espero que isso nunca mude!). A vida é muito melhor com vocês por perto! A toda a família da Lenise: à Dona Heleni, ao Leo amado, ao Marcos, ao Antônio, à Dirce, à Marise, ao Leon e às pequenas grandes Manu e Camila. Aos sempre queridos Joana Plaza e Cláudio Pedrosa. À minha professora querida de astrologia, Mônica Machado Matta-Auler. Obrigada por me lembrar de que os astros têm muito a nos ensinar. À Flávia e ao Fabrício por terem me ajudado com todas as burocracias da vida universitária. À FAPEMIG pela bolsa de mestrado que tornou possível a escrita deste trabalho. viii O movimento de liberação das mulheres - o feminismo - é um texto que se desenvolve, não uma tese. É uma linha melódica, não uma marcha militar. É uma inspiração, a inspiração de um sopro. O feminismo se respira mais do que se enuncia. De tanto dar o último suspiro, ele renasce. (...). O feminismo nunca sucumbiu diante da ilusão dos “grandes” relatos, mas foi e permanece urdido por relatos que pretendem irrigar a teoria e a prática, toda teoria inovadora não será, antes de tudo, uma ficção? Toda aventura do espírito não será a passagem do registro das facções ao registro da ficção? A ficção tem relação com o verbo fazer: ela imagina e faz ao mesmo tempo. (...). Esses tempos de latência, esses aparentes parênteses, esses momentos de percursos subterrâneos das fontes, esses bivaques, são parte integrante de uma vida singular ou de um movimento coletivo. Eles deixam chance para a aproximação do novo e de recém-chegadas, de recém- chegados. É então - por uma suspensão momentânea do discurso - que a necessidade do canto se impõe na palavra. Esse momento faz apelo à criação. Françoise Collin, 1994. ix RESUMO Canuto, A. (2016). (Re)visitando personagens, cenários e vozes: nas tramas sobre o “sujeito” do feminismo no Blogueiras Feministas. Dissertação de Mestrado. Departamento de Psicologia, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. O presente trabalho busca investigar como tem se configurado a produção de um “sujeito” do feminismo. Até a virada do milênio as discussões conceituais acerca do “sujeito” do feminismo encontravam lugar nas obras clássicas ou em circuitos restritos da produção de conhecimento. No entanto, com o advento da internet, tais debates começaram a adentrar outras esferas ganhando “novos” cenários, personagens e vozes. Tomando como ponto de partida as contribuições das teóricas feministas: Simone de Beauvoir, bell hooks, Monique Wittig e Judith Butler, elejo como contexto para análise, o blog Blogueiras Feministas. A proposta teórica metodológica se ancora nas leituras feministas e na perspectiva do Construcionismo Social. Com o intuito de explorar os sentidos produzidos sobre “mulheres” como “sujeito” do feminismo, duas perguntas norteiam esse estudo: como diferentes vozes, argumentos e posicionamentos têm articulado ao longo do tempo uma rede de sentidos sobre “mulheres” do feminismo? Como essa articulação tem se configurado em conflitos em relação à noção de “sujeitos” “mais” ou “menos” feministas na contemporaneidade? O corpus da pesquisa é composto por posts e comentários do Blogueiras Feministas. O foco da pesquisa dirige-se à análise das vozes e dos repertórios interpretativos. Três grandes narrativas despontam no material analisado: da participação das mulheres negras, das trans e das empregadas domésticas no feminismo. As análises indicam que diferentes perspectivas feministas disputam a noção de um “sujeito” do feminismo, refletidos em tensões e controvérsias sobre quem seria o tal “sujeito”. Nas disputas sobre a legitimidade de um suposto “sujeito” feminista os posts indicam uma discrepância nas formas de enunciação e nos regimes de visibilidade entre mulheres trans, negras e empregadas domésticas. Enquanto o debate trans e o debate racial sinalizam mais solidariedade, o debate das empregadas domésticas não parece suscitar a mesma aliança ou mobilização afetiva/política. Palavras chave: feminismo, identidade, construcionismo social, psicologia social. x ABSTRACT Canuto, A. (2016). (Re)visiting characters, backgrounds and voices: the threads on the “subject” of feminism in Blogueiras Feministas. Master’s Thesis. Departament of Psychology. Faculty of Philosophy and Human Sciences. Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. This study aims to investigate how the production of a “subject” of feminism has been set. Until the millennium conceptual discussions about the “subject” of feminism found place in the classics or in restricted circuits of knowledge production. However, with the advent of internet, such debates began to enter other realms winning “new” scenarios, characters and voices. Taking as a starting point the contributions of feminist theorists: Simone de Beauvoir, bell hooks, Monique Wittig and Judith Butler, I elect as a context for analysis, the blog Blogueiras Feministas. The methodological theoretical proposal is anchored in feminist readings and the Social Construccionism perspective. In order to explore the meanings produced about “women” and “subject” of feminism, two questions guide this study: how different voices, arguments and positions have articulated over the time a network’s sense on “women” of feminism? How this articulation has been set up in conflicts in relation to the notion of “more” or “less” feminists “subjects” nowadays? The corpus of research consists of posts and comments from Blogueiras Feministas. The focus of the research addresses the analysis of voices and interpretative repertoires. Three major narratives emerge in the material analyzed: the participation of black, trans and domestic workers women in feminism. The analyzes indicate that different feminist perspectives dispute the notion of a “subject” of feminism, reflected in tensions and disputes about who would be such “subject”. Over the disputes about the legitimacy of a supposed “subject” feminist, the posts indicate a discrepancy in the enunciation forms and in the visibility arrangements among black, trans and domestic workers women. While the trans debate and racial debate signal more solidarity, the debate of domestic workers do not appear to raise the same alliance or mobilization affective/politics. Keywords: feminism, identity, social construccionism, social psychology.
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