ALEXANDRE AKSAKOF ANIMISMO E ESPIRITISMO Alexandre Aksakof Conteúdo resumido Obra clássica do eminente sábio russo, em resposta às idéias antiespíritas de alguns filósofos e cientistas, em particular o filósofo alemão Dr. Eduardo von Hartmann. Aksakof rebate com argumentos insofismáveis as hipóteses da “força nervosa“, da “alucinação” e do “inconsciente”, tão manipuladas e repisadas pelos contestadores dos nossos dias. Disseca a realidade dos fatos anímicos, atribuíveis inegavelmente à força da mente, distinguindo-a da realística ação dos Espíritos nas atividades essencialmente mediúnicas. Esta obra encerra inúmeros fatos recolhidos em todo o mundo, de vários sábios da época, e na qual bom número é também devido às observações e experiências do próprio autor. Animismo e Espiritismo foi por muitos estudiosos considerada “a obra mais importante e mais completa que se escreveu acerca do Espiritismo do ponto de vista científico e filosófico”. 1 ÍNDICE - Prefácio da tradução francesa - Prefácio da edição alemã - Introdução Resumo histórico das teorias antiespiríticas “The Daimonion”, de Oldfield; “Filosofia dos Agentes misteriosos”, de Rogers; “Discussão”, de Brittan e Richmond; “Mistérios modernos explicados e desmascarados”, de Mahan; “Mary Jane”, de Guppy; “Da força, etc.”, de Bray; “Estados de superatividade do sistema nervoso, etc.”, de Collyer: “Spiritualism”, de Hammond; Carpenter e Cox; “Mesas girantes”, por Agenor de Gasparin; “As mesas falantes”,por Thury; “Estudos experimentais”, por Chevillard; “Ensaio sobre a humanidade póstuma”, por D'Assier CAPÍTULO I - Fenômenos de materialização Insuficiência, no ponto de vista dos fatos, da hipótese alucinatória emitida pelo Doutor Hartmann. Materialização de objetos escapando à percepção pelos sentidos. Fotografia transcendente. - Experiências do Senhor Beattie. - Fotografias obtidas pelos Srs. Guppy, Parkes, Russel, Slater, Williams, Hudson, Reimers, Damiani. - Fotografia transcendente de mão humana, obtida pelo professor Wagner, em São-Petersburgo. - Fotografias de formas humanas, obtidas por Slater. - Experiências de Mumler. - Noticia do British Journal of Photography. - Descrição das gravuras juntas. - Testemunho de B. Murray e Moses Dow. - Carta do professor Gunnin. - Fotografias transcendentes de duplos. - Exame do Senhor Jay Hartman, em Cincinnati. Materialização e desmaterialização de objetos acessíveis aos nossos sentidos. Demonstração desse principio pelos fatos compreendidos sob a denominação de “penetração da matéria”. - Transportes e desaparecimento de objetos. Desdobramento de objetos inanimados. A. - Materialização e desmaterialização de objetos inanimados. Fazendas. - Demonstração por meio das fotografias transcendentes. - Experiência do Senhor Clifford Smith. - Materialização de fazendas por Katie King na presença de testemunhas. - Mediunidade de flores para a materialização de flores. - Produção de uma planta sob os olhos dos assistentes. - Materialização de metais pela mediunidade de um metal. B. - Materialização e desmaterialização de formas humanas. - Incompatibilidade lógica da teoria da alucinação do Doutor Hartmann com a sua teoria da força nervosa. Demonstração do caráter não alucinatório de uma materialização por: 1° - Testemunho visual simultâneo de muitas pessoas. 2° - Testemunho visual e tátil, simultâneo, de muitas pessoas. 3° - Produção de efeitos físicos. 2 4° - Produção de efeitos físicos duradouros. 5° - Escrita direta. 6° - Impressões de mãos materializadas. C- Efeitos produzidos sobre a forma materializada (coloração, etc.). D - Reprodução de formas materializadas, por moldagens em gesso. - Experiências do Senhor Denton; experiências concludentes por meio de um cofre fechado; outros exemplos de moldagens de formas materializadas, com o auxílio de parafina: I. O médium está isolado; o agente oculto fica invisível. - Experiências dos Srs. Reimers e Oxley. II. O médium está perante os assistentes, o agente oculto ficando invisível. - Experiências do Senhor Ashton com a Srta. Fairlamb; experiência do Senhor Friese com o Senhor Eglinton; experiência com o Senhor Eglinton perante uma comissão; reprodução plástica de um membro desdobrado do médium. III O agente oculto é visível, o médium está isolado Experiência do Senhor Adshead com a Srta. Wood. IV. O fantasma e o médium são simultaneamente visíveis aos espectadores. - Experiência do Senhor Ashton com a Srta. Fairlamb. E - Fotografia de formas materializadas. a) O médium é visível; a figura materializada é invisível ao olho, mas aparece na placa fotográfica. b) O médium é invisível; o fantasma é invisível e reproduzido pela fotografia. c) O médium e o fantasma são vistos ao mesmo tempo; apenas o último é fotografado; - fotografias de Katie King obtidas pelo Senhor Harrison e pelo senhor Crookes. d) O médium e o fantasma são ambos visíveis e fotografados ao mesmo tempo. - Testemunho dos Srs. Crookes, Russel, Burns, da Sra. Luísa Noosworthy, do Doutor Hitchman. - Experiências do Senhor Aksakof com o Senhor Eglinton. e) O médium e o fantasma são invisíveis; a fotografia produz-se às escuras. - Experiências dos senhores Bullet, Reimers, Aksakof. - Experiências de pesada das formas materializadas. - Insuficiência da teoria alucinatória do Doutor Hartmann no ponto de vista teórico. CAPÍTULO II - Os fenômenos físicos - As experiências dos Srs. Hera, Varley e Hering demonstram que a força mediúnica não tem afinidade alguma com a eletricidade.- Contradições do Doutor Hartmann. CAPÍTULO III - Da natureza do agente inteligente que se manifesta nos fenômenos do Espiritismo 3 Exame do principio fundamental do Espiritismo; ele apresenta fenômenos cuja causa deve ser procurada fora do médium? 1.- Manifestações que são contrárias à vontade do médium. - Diversos exemplos; - experiências notáveis do Senhor Dexter; - exemplo notável no começo do movimento espírita; - o caso do Reverendo E. Phelps; exemplo de combustão espontânea de objetos, a este da Rússia: narração do Senhor Schtchapov. 2. - Manifestações que são contrárias às convicções do médium. - O testemunho do Senhor A. (Oxon); - experiências dos Professores Wagner e Hare. 3. - Manifestações contrárias ao caráter e aos sentimentos do médium. 4. - Comunicações cuja natureza está acima do nível intelectual do médium. - Obras de Hudson Tuttle e de Davis; - acabamento do romance de Dickens Edwin Drood por intervenção mediúnica; - experiências do Senhor Barkas: respostas de improviso a assuntos científicos; - o caso do general Drayson: informações astronômicas. 5. - Mediunidade das crianças de mama e das crianças muito novas. - Os jovens Cooper e Attwood; - escrita do pequeno Jencken, na idade de cinco anos e meio; - escrita da filha do barão Seymour Kirkup, na idade de nove dias; - escrita em ardósia por Essie Mott, na idade de dois anos. 6. - Médiuns falando línguas que lhes são desconhecidas. - Opinião do Senhor Ennemoser; - testemunho do juiz Edmonds; - o falar em diversas línguas desconhecidas aos médiuns; - comunicações feitas por meio de sinais telegráficos; - execução de trechos de música por um menino que não tinha recebido instrução musical alguma; - a filha do senador Tallmage. 7. - Diversos fenômenos de um gênero misto-composto. - Um caso curioso observado pelo Autor. 8. - Comunicação de fatos desconhecidos do médium e dos assistentes. a) A visão às escuras e em lugares fechados. - Experiências do Autor, em um circulo íntimo; - experiências do Senhor Crookes; - testemunho do Senhor A. (Oxon). b) Fatos conhecidos independentemente dos órgãos que servem habitualmente à percepção. - Experiências pessoais do Autor: o adágio de Cardoso. c) Comunicação de fatos desconhecidos das pessoas que tomam parte na sessão, e que não podem ser explicados pela transmissão de pensamentos, em razão das condições especiais nas quais essas comunicações são dadas. - O caso da jovem Emma Strammi; informação do falecimento de Duvanel; - Srta. Laura, filha do juiz Edmonds; - outros casos referidos pelo juiz Edmonds; - conferência do general Drayson; - o artigo do Doutor Davey; - relatório do capitão Drisko sobre os incidentes aos quais o Harry Booth deve sua salvação; - uma senhora traída pela prancheta. 9. - Comunicações provenientes de pessoas completamente desconhecidas quer dos médiuns, quer dos assistentes. 4 - Comunicação do Espírito de John Chamberlain, atestada por doze testemunhas; - o “Message Department” do Banner of Light; - a comunicação do Espírito de Abraão Florentino, em Londres, confirmada em Nova-Iorque; - manifestação de Anastácia Perelyguine. 10. - Transmissão de comunicações a grande distância. - Fatos referidos pelo Professor Hare; - mensagem transmitida em Lowell, Mass., à Atlanta, Geo. (à distância de 1.000 milhas); - transmissão de uma mensagem sem indicação precisa do destinatário. 11. - Transporte de objetos a grandes distâncias. - Transporte de uma fotografia de Londres a Lowestoft; - transporte de agulhas de fazer tricot à distância de 20 léguas inglesas; - experiências de Zollner, Crookes, Olcott e Cooper. 12. – Materializações - Citação errônea do Doutor Janisch pelo Doutor Hartmann; - as três hipóteses possíveis. CAPÍTULO IV - A hipótese dos Espíritos A. - ANIMISMO - Ação extracorpórea do homem vivo, como que formando a transição ao Espiritismo. I. - Ação extracorpórea do homem vivo, comportando efeitos psíquicos (fenômenos da telepatia - transmissão de impressões à distância). - Experiência da jovem Pribitkoff; - fato comunicado pelo Senhor W. Solovioff; - mensagens mediúnicas da jovem Sofia Swoboda (444); - experiências do Senhor Th. Everitt e de Miss Florence Marryat; - mensagens provenientes de pessoas vivas; - fatos comunicados pelo juiz Edmonds e Senhor Aksakof. II. - Ação extracorpórea do homem vivo, sob forma de efeitos físicos (fenômenos telecinéticos - deslocamento de objetos à distância). - Fatos observados pela Senhora de Morgan, pela jovem Perty, Spicer,etc. III. - Ação extracorpórea do homem vivo, traduzindo-se pela aparição de sua própria imagem (fenômenos telepáticos - aparição à distância). - Aparições de duplos; - alucinações telepáticas; - o caso da jovem Emília Sagée; - fotografias de duplos; - comunicações dadas por duplos. IV. - Ação extracorpórea do homem vivo manifestando sob a forma da aparição de sua imagem com certos atributos de corporeidade (fenômenos teleplásticos - formação de corpos materializados). - Duplos materializados: os Davenports. - Srta. Fay. - Florence Cook; - verificação dos duplos pelo meio de impressões e de moldagens; - experiências do Senhor Crookes com o médium Home; - fato comunicado pelo Doutor Kousnetzoff; - o magnetizador H.E. Lewis; - o fantasma de um homem vivo batendo na porta; - a narração do Doutor Wyld; - o duplo do Rev. Th. Benning; - aparição do Senhor Wilson (referida pelo Doutor Britten); - uma moça alemã, achando-se na América, aparece a seus pais, na Alemanha; - um navio salvo pela aparição de um de seus passageiros em outro navio. B. - O ESPIRITISMO - Ação mediúnica de um homem morto; desenvolvimento ulterior do Animismo. - Conteúdo intelectual dos fenômenos; - causas anímicas e espiríticas; - verificação da personalidade; - a distinção entre a “personalidade” e a “individualidade”, como devendo servir de chave para a compreensão dos fenômenos espiríticos. 5 I. - Identidade da personalidade de um morto verificada por comunicações em sua língua materna, desconhecida do médium. - Exemplos tirados dos escritos do juiz Edmonds, da Senhora Turner. Hardinge Britten. II.-Verificação da personalidade de um morto por comunicações dadas no estilo característico do morto, ou por expressões particulares, que lhe eram familiares - recebidas na ausência de pessoas que conheciam o morto. - O romance inacabado de Charles Dickens; - comunicação do príncipe Sch., recebida pela jovem Bárbara. Pribitkoff; - comunicação transmitida por D. Home. III. - Identidade da personalidade de um morto desconhecido do médium, verificada por comunicações dadas em escrita idêntica à que era conhecida durante a sua vida. A grafologia; - comunicação de Stella, mulher do Senhor Livermore; - as doze mensagens de John Quincy Adams; o caso do Doutor Nichols; - a escrita direta; - narração do Senhor J.J. Owen e testemunho da Senhora Burchett; - experiência do Senhor Smart com o médium Spriggs; - experiência pessoal do Autor. IV. - Identidade da personalidade de um morto verificada por uma comunicação proveniente dele, contendo um conjunto de pormenores relativo à sua vida, e recebida na ausência de qualquer pessoa que conhecera o morto. -Testemunho de Robert Dale Owen: Violeta. V. - Identidade da personalidade de um morto verificada pela comunicação de fatos que só puderam ser conhecidos pelo próprio morto e que somente ele pôde comunicar. - O testamento do barão Korff; - exemplo citado por R. Dale Owen; - “Schoura”; - um fato observado pelo Autor. VI.-Identidade da personalidade verificada por comunicações que não são espontâneas, como as que precedem, porém provocadas por apelos diretos ao morto e recebidas na ausência de pessoas que conheciam esse último. - Observações do Doutor Wolfe sobre a leitura de cartas fechadas, pelo Senhor Mansfield; - insuficiência das hipóteses apresentadas pelo Doutor Hartmann para explicar a leitura dos pensamentos e a clarividência; - testemunhos do Reverendo Samuel Watson; - experiências de escrita direta, instituída pelo Senhor Colby com o Senhor Watkins, médium; - experiência curiosa com o médium Powell. VII. - Identidade do morto verificada por comunicações recebidas na ausência de qualquer pessoa que o tivesse conhecido, e que revelam certos estados psíquicos ou provocam sensações físicas, próprias do morto. - Comunicações de pessoas mortas em estado de desequilíbrio mental; - dores físicas de que tinha sofrido o morto, experimentadas pelo médium; - lei hipotética das manifestações. VIII. - Identidade da personalidade de um morto atestada pela aparição de sua forma terrestre. A) Aparição de um morto atestada pela visão mental do médium na ausência de pessoas que conhecem o morto Exemplo tirado da experiência pessoal do Autor. B) Aparição de um morto atestada pela visão mental do médium e, simultaneamente, pela fotografia transcendente ou pela fotografia só, na ausência de pessoas que conhecem o morto. - Exemplos referidos pelo Senhor A. (Oxon), pela Sra. Conant, Moses Dow, A. R. Wallace, e pelo Senhor Johnstone 6 Casos citados pelo Doutor Thomson, pelo Senhor Dow, pelo Senhor Evans e pelo Senhor Snipe. C) Aparição da forma terrestre de um morto materializada, com provas de ordem intelectual em apoio. Testemunho do Professor Wagner; - de que modo à semelhança não é uma prova de identidade; - fatos referidos pelo Senhor J. Sherman e pelo Senhor Livermore; - cessação das manifestações em conseqüência da materialização; - o elemento de mistificação. Considerações finais A prova absoluta da identidade de um Espírito, no ponto de vista objetivo, é uma impossibilidade; - importância das provas subjetivas; - confusão, em relação ao Espiritismo, das idéias: espírito, tempo, espaço. As hipóteses espiríticas segundo o Senhor Hartmann (222). - refutação das dificuldades que o Senhor Hartmann opõe à “hipótese da inspiração”; - as pretensões da hipótese dos Espíritos não estão em contradição com o sistema filosófico do Doutor Hartmann; - os problemas do Espiritismo e do Animismo considerados como ramos da psicologia experimental; - a filosofia monisticas *Notas de Rodapé Prefácio da Tradução Francesa (1) A obra que apresentamos ao público não foi escrita com o intuito especial de defender a causa espírita, mas, sim, para preservar essa doutrina dos ataques sérios a que no futuro ficaria indubitavelmente exposta, desde que os fatos sobre os quais se baseia sejam admitidos pela Ciência. A leitura deste livro produzirá certamente impressão profunda no espírito de todos aqueles que se preocupam com o problema da vida e meditam sobre os destinos humanos. Sem dúvida os espíritas só encontrarão aqui a confirmação, cientificamente formulada, de suas crenças; os incrédulos, querem o sejam de caso pensado, quer repousem apenas no quietismo de um cepticismo indiferente, ao menos serão levados á DÚVIDA, que resume, apesar de tudo, a suprema prudência no homem, quando este não tem, para sancionar as suas convicções, uma certeza absoluta. A uma pena muito mais autorizada do que a minha caberia apresentar “Animismo e Espiritismo” aos leitores franceses. Mas nenhuma necessidade deste gênero se impõe, porque o nome do escritor basta para recomendar sua obra e, demais, o seu “Prefácio” justifica amplamente, perante todos os pensadores, a publicação do livro: expõe de maneira admirável a profissão de fé do Autor e faz conhecer claramente o fim que ele se propôs. Nada mais se poderia acrescentar aí. Meu papel deve, pois, limitar-se a mencionar rapidamente algumas particularidades referentes às origens deste trabalho. 7 Conforme se pode ver no frontispício do volume, foi este uma resposta à brochura que o bem conhecido filósofo alemão Eduardo Von Hartmann - continuador de Schopenhauer - publicou em 1885, sobre o Espiritismo. A primeira edição original (alemã) de “Animismus und Spiritismus” (Leipzig, 1890) (2) provocou da parte do Doutor Von Hartmann uma réplica intitulada “A hipótese dos Espíritos e seus fantasmas” (Berlim, 1891), na qual ele volta, com insistência, aos argumentos de que já se tinha servido. Desta vez foi o sábio Carl Du Prel quem se encarregou de continuar, contra esse adversário tão temível, a polêmica que o Senhor Aksakof infelizmente não podia continuar, devido ao seu estado de saúde. Nem a resposta do Doutor Carl Du Prel nem as duas publicações do Doutor Von Hartmann foram até agora traduzidas para o francês; esta lacuna, porém, não diminuirá sensivelmente o interesse que o leitor atento há de encontrar nesta obra, notando-se que o Autor nela reproduz “in extenso” os principais argumentos de seu adversário. Resta-me dar algumas indicações sobre as fontes de que me servi para imprimir a esta tradução uma fidelidade tão escrupulosa quanto possível. Traduzi do próprio texto alemão as numerosas citações extraídas do livro do Doutor Von Hartmann. As indicações se referem, pois, naturalmente à edição alemã; porquanto, como já o disse, acima, nenhuma tradução francesa existe desse livro. À parte do texto primitivo de “Animismo e Espiritismo”, escrita em francês pelo Autor, permitiu-me fixar na tradução uma terminologia já consagrada pelo próprio Autor. No que respeita às alterações feitas na edição russa, que veio à luz em 1893, consultei cuidadosamente essa edição; quanto às citações de origem inglesa, não pude ter à vista todos os textos originais, e vi-me assim obrigado, acerca de muitos deles, a limitar-me às traduções alemã e russa, as quais, apresso-me em dizê-lo, nada deixam a desejar. Tenho necessidade, depois desta documentação, de solicitar a indulgência do leitor? Conto que os meus esforços serão apreciados com retidão por aqueles que se interessam por estas questões de uma importância de ordem tão elevada. Não posso deixar de, concluindo, exprimir o meu mais vivo reconhecimento ao meu sábio amigo, o Doutor H., pelo precioso concurso que generosamente me prestou. Recorri aos seus conhecimentos para a tradução de diversos trechos de ordem cientifica e técnica; e posso dizer que sempre recebi dele pareceres tão esclarecidos quanto benevolentes. Devo, finalmente, agradecer ao Senhor Leymarie haver-me confiado este trabalho tão delicado quanto interessante. B. Sandow Prefácio da Edição Alemã Hoje, que afinal está pronta a minha resposta ao Senhor Hartmann, depois de quatro anos de trabalho realizado no meio de sofrimentos morais e físicos, não julgo inútil dar, às pessoas que lerem a minha obra, algumas palavras de explicação para guiá-las em sua leitura. O Senhor Hartmann, escrevendo a sua obra sobre o Espiritismo, imaginou, para explicar os seus fenômenos, uma teoria baseada, unicamente na aceitação condicional de sua realidade, isto é, só os admitindo provisoriamente, com os caracteres que lhes são atribuídos nos anais do Espiritismo. Por conseguinte, o objetivo geral do meu trabalho não foi provar e defender a todo o custo a realidade dos fatos mediúnicos, mas aduzir d sua explicação um método crítico, conforme as regras indicadas pelo Senhor Hartmann. E pois um trabalho comparável à solução de uma equação algébrica cujas incógnitas só tivessem um valor convencionado. 8 O primeiro CAPÍTULO, que trata das materializações, é o único que se distingue, debaixo deste ponto de vista, do resto da obra:, porque aqui o Senhor Hartmann, admitindo completamente a realidade subjetiva ou psíquica do fenômeno considerado por ele como uma alucinação, tinha exigido, para a aceitação de sua realidade objetiva, certas condições de experimentação, às quais eu tratei de satisfazer. Assim, pois, não tenho que tomar a defesa dos fatos nem perante os espíritas, que não duvidam deles, nem perante os que negam a priori, porque se trata aqui, não de discuti-los, mas de procurar a sua explicação. E indispensável que esse estado de coisas seja fixado desde já, a fim de que as pessoas não espíritas, que pensarem em criticar-me, não sigam caminho falso, obstinando-se como de ordinário em afirmar a impossibilidade, a inverossimilhança, a fraude inconsciente ou consciente, etc. Quanto às criticas que tiverem por fim pôr em relevo os erros de aplicação do método, elas serão bem- vindas para mim. Dito isso uma vez por todas, precisarei que o fim especial de meu trabalho foi investigar se os princípios metodológicos, propostos pelo Senhor Hartmann, bastam, como ele afirma, para dominar o conjunto dos fenômenos mediúnicos e para dar deles uma “explicação natural” - segundo a sua expressão -, que seja ao mesmo tempo simples e racional. Melhor ainda: as hipóteses explicativas do Senhor Hartmann, uma vez admitidas, excluem verdadeiramente toda a necessidade de recorrer à hipótese espirítica? Ora, as hipóteses propostas pelo Senhor Hartmann são bastante arbitrárias, ousadas, vastas; por exemplo: Uma força nervosa que produz, fora do corpo humano, efeitos mediúnicos e plásticos; Alucinações duplas dessa mesma força nervosa, produzindo igualmente efeitos físicos e plásticos; Uma consciência sonambúlica latente que é capaz - achando-se o indivíduo no estado normal - de ler, no fundo intelectual de outro homem, o seu presente e o seu passado; E, finalmente, essa mesma consciência dispondo, também no estado normal do indivíduo, de uma faculdade de clarividência que o põe em relação com o Absoluto, e lhe dá, por conseguinte, o conhecimento de tudo o que existe e existiu. E preciso convir que com fatores tão poderosos, o último dos quais é positivamente “sobrenatural” ou “metafísico” - no que o Senhor Hartmann está de acordo -, toda a discussão se torna impossível. Mas é preciso fazer ao Senhor Hartmann esta justiça: ele mesmo tentou fixar as condições e os limites dentro dos quais cada uma destas hipóteses é aplicável. A minha tarefa era pois indagar se não há fenômenos em que as hipóteses do Senhor Hartmann são impotentes para explicar - nos limites ou condições em que elas são aplicáveis segundo suas próprias regras. Afirmando a existência de tais fenômenos, sustentei bem a minha tese? Não compete a mim pronunciar-me sobre esse ponto. * Interesso-me pelo movimento espírita desde 1855, e, desde então, não deixei de estudá-lo em todas as suas particularidades e através de todas as literaturas. Durante muito tempo aceitei os fatos apoiados em testemunho alheio; foi só em 1870 que assisti à primeira sessão, em um círculo intimo que eu tinha organizado. Não fiquei surpreendido de verificar que os fatos eram realmente tais quais me tinham sido referidos por outros; adquiri a convicção profunda de que eles nos ofereciam - como tudo o que existe na Natureza - uma base verdadeiramente sólida, um terreno firme para a fundação de uma ciência nova que seria talvez capaz, em futuro remoto, de fornecer ao homem a solução do problema da sua existência. Fiz tudo o que estava ao meu alcance para tornar os fatos conhecidos e atrair sobre o seu estudo a atenção dos pensadores isentos de preconceitos. Mas, enquanto me entregava a esse trabalho exterior, um trabalho interior se realizava. Acredito que todo observador sensato, desde que começa a estudar esses fenômenos, fica impressionado por estes dois fatos incontestáveis: o automatismo evidente das comunicações espirítica e a falsidade arrogante, e do mesmo modo evidente, do seu conteúdo; os nomes ilustres, com que elas são freqüentemente assinadas, constituem a melhor prova de que essas comunicações não são o que pretendem; o mesmo sucede relativamente aos fenômenos físicos simples; é do mesmo modo evidente que eles se 9 produzem sem a menor participação consciente do médium, e nada, à primeira vista, justifica a suposição de uma intervenção dos “espíritos”. E só mais tarde, quando certos fenômenos de ordem intelectual nos obrigam a reconhecer uma força inteligente extramediúnica, é que esquecemos as primeiras impressões e encaramos com mais indulgência à teoria espirítica em geral. Os materiais que eu tinha acumulado quer pela leitura, quer pela experiência prática, eram consideráveis, mas a solução do problema não vinha. Pelo contrário, passando os anos, os lados fracos do Espiritismo tornavam-se cada vez mais visíveis: a banalidade das comunicações, a pobreza de seu conteúdo intelectual, ainda quando elas não são banais, o caráter mistificador e falso da maioria das manifestações, a inconstância dos fenômenos físicos, quando se trata de submetê-los à experiência positiva, a credulidade, a preocupação, o entusiasmo irrefletido dos espíritas e dos espiritualistas, finalmente a fraude que fez erupção com as sessões às escuras e com as materializações - que eu conheço não só pela leitura, mas que fui coagido a verificar por minha própria experiência nas relações com os médiuns profissionais de maior nomeada -, em suma, uma multidão de dúvidas, objeções, contradições e perplexidades de toda a espécie, só concorriam para agravar as dificuldades do problema. As impressões de momento, os argumentos que nos vêm assaltar, fazem passar o espírito de um a outro extremo e o lançam na dúvida e na aversão mais profunda. Deixando-nos deslizar sobre esse plano-inclinado, acabamos freqüentemente por esquecer o pro, para não ver senão o contra. Muitas vezes, ocupando-me com essa questão, o meu espírito deteve-se sobre as grandes ilusões pelas quais a Humanidade passou em sua evolução intelectual; recapitulando todas as teorias errôneas, desde a da imobilidade da Terra e da marcha do Sol, até as hipóteses admitidas pelas ciências abstratas e positivas, perguntei a mim mesmo se o Espiritismo não estava destinado a ser uma dessas ilusões? Entregando-me a essas impressões desfavoráveis, facilmente me teria desanimado, mas eu tinha para me sustentar considerações mais elevadas e uma série de fatos incontestáveis que tinham, para advogar a sua causa, um defensor onipotente: a própria Natureza. Eu desejava, havia já muito tempo, orientar-me nesse conjunto de fatos, de observações e de idéias; pelo que fico muito reconhecido ao Senhor Hartmann por ter tomado a resolução de nos dar a sua crítica sobre o Espiritismo; ele coagiu-me a entregar-me ao trabalho e, ao mesmo tempo, me auxiliou muito, fornecendo-me o plano, o método necessário para dirigir-me nesse caos. Dediquei-me ao trabalho com tanto mais boa vontade, por isso que as armas criadas pelo Senhor Hartmann, para o ataque, foram muito poderosas, onipotentes mesmo: ele próprio não disse que sob o golpe dessas armas nenhuma teoria espírita resistiria? O seu distinto tradutor inglês, o Senhor C. C. Massey, admite também que essa obra é o golpe mais forte que foi vibrado contra o Espiritismo. E, como um fato proposital, a obra do Senhor Hartmann apareceu justamente no momento em que a disposição céptica do meu espírito se tornava preponderante. Se, por conseguinte, depois de atento exame de todos os fenômenos mediúnicos, eu tivesse verificado que as hipóteses do Senhor Hartmann podiam abranger a todos, dando-lhes uma explicação simples e racional, não teria hesitado em abjurar completamente a hipótese espirítica. A verdade subjuga. Só pude orientar-me nesse Dédalo de fatos com o auxilio de um índice sistemático, composto à proporção das minhas leituras; grupando-os sob diferentes rubricas, gêneros e sub-gêneros, segundo o valor de seu conteúdo e as condições de sua produção, chegamos (por via de eliminação ou por gradação) dos fatos simples a fatos mais complexos, necessitando de uma nova hipótese. As obras espirítica, e, principalmente os jornais, carecem completamente de índice sistemático. Por exemplo: o que o Senhor Blackburn acaba de publicar, para todos os anos do Spiritualist, não pode ser de utilidade alguma para um estudo crítico. Meu trabalho será o primeiro ensaio desse gênero e espero que ele possa servir pelo menos de manual ou de guia para a composição dos índices sistemáticos dos fenômenos mediúnicos, índices indispensáveis para o estabelecimento e verificação de todo o método critico, aplicado ao exame e à explicação desses fatos. O grupamento dos fenômenos e sua subordinação, eis o verdadeiro método que deu tão grandes resultados no estudo dos fenômenos do mundo visível, e que dará não menos importantes quando for aplicado ao estudo dos fenômenos do mundo invisível ou psíquico. 10
Description: