Alcance da Teoria da Administração Pública * DWIGHT WALDO Tradução de Lélio Graça Scope of “The Theory of Public Administration” — Reprinted from “Theory and Practice of Public Admi nistration”, monograph n.° 8 of the American Academy of Political and Sociai Science, Philadelphia, October, 1968, pp. 1 a 26 Alguns reparos à interpretação do mais penetrantes. Em terceiro lugar tema que me foi proposto aqui, já re devemos admitir que fui chamado a presentam um comêço de justificação. discorrer, não tanto sôbre o que sinto a respeito do atual alcance da teoria Em primeiro lugar não consultei a da administração pública, mas antes Steve Bailey sôbre o que poderia pa para discutir aspectos do “alcance da recer um sério problema de delimita mesma teoria.” ção. Posto que “objetivos” e “alcance” não sejam sinônimos, certamente não Todavia, usar de linguagem sugerin é possível discutir-se um sem que se do a existência de uma opção entre faça referência ao outro. Suponho, discutir, meramente, os atuais limites Portanto, que andamos explorando 1. As discussões sôbre administração Parte do mesmo território, por mais que pública sáo infestadas de problemas sérios os nossos relatos a respeito possam porque acepções diferentes podem ser inferidas ou interpretadas pela mesma fra Parecer dissemelhantes. Em segundo se. Às vêzes, ao buscar precisáo e clareza, tenho feito uso de maiúsculas para assi lugar estarei fazendo uso da palavra nalar o empreendimento auto-consciente “teoria” em sentido amplo de idéia ge- de estudo e outros, e letras minúsculas quando me refiro a práticas e processos ral e abstrata e não em sentido singu- que s&o objeto de nossa atençáo. Infeliz mente, pôsto que êste artifício tenha sua lar e restrito, isto é, estarei me refe utilidade, êle nâo resolve todos os proble rindo a importantes problemas intelec mas. Porque, às vêzes a frase "adminis tração pública” é usada referindo-se às tuais ou conceituais que coincidem duas e, também, nfto raro, um significado costuma fluir para outra frase de maneira com a teoria da administração pública desconcertante. À proporç&o que prossigo me esforçarei por tornar claros meus con auto-consciente 1 sem fazer distinção ceitos, porém o leitor deverá ter o pro er*tre teoria e filosofia, de um lado, e blema em mente através de todo o ensaio. Êste problema semântico nfto é acidental Por outro lado, usando o têrmo “teo- nem estranho ao trabalho, porém, pro fundamente envolvido no tema, como o ria” num de seus sentidos científicos indicam alguns aspectos da introdução. teóricos e argumentar dentro de outros reção, o que êle vê é um problema que limites seria descaminhar o assunto. nos desafia de maneira louca e des Isso implicaria na aceitação de que a concertante. Nossos problemas na atual Administração Pública tem limi condução dos negócios públicos pode tes discerníveis que poderiam ser dis riam ser tomados muito mais a sério cutidos francamente, ao passo que, na se existe uma vivência clara e concor realidade, existe tão minguado consen dante de nosso empreendimento — so sôbre o tema que se torna inevi disciplina, profissão, ideologia, enfim, tável a discussão da problemática. Do qualquer coisa de "administração pú mesmo modo e dentro da mesma re blica” à qual tais problemas se rela lação, minha afirmativa de que eu es cionassem. Porém, “administração pú taria usando o têrmo “teoria” num sen blica” é, em si mesma, problemática e tido generalizado é, também, um des controversa. vio de plano, visto como suscitaria a Isto se nos afigura uma maneira en existência de uma liberdade de esco volvente e desnecessàriamente confusa lha do têrmo em sentido singular e de dizer que nossos problemas teóri restrito, o que poderia parecer com cos são divisíveis em duas categorias: preensível e concordante. os internos no sentido de que êles se Inverter o velho refrão sôbre a so relacionam com a vivência empresarial ciologia, de que ela é uma disciplina a que chamamos “administração pú à procura de um assunto para dizer-se blica” para fins acadêmicos (ensino, que a administração pública é um as publicidade etc.) e os externos no sen sunto em busca de uma disciplina, po tido de que êles são problemas do de ser aceitável, porém é menos que mundo existencial que é o nosso meio meia verdade. Mas, ai de nós, que es e ao qual estamos ligados. Tal distin tamos certos de possuir um assunto, ção pode ser feita para atender a al pois que a administração pública exis guns propósitos, porém é uma distin te, e é tão palpável como sentimos que ção tosca, ou melhor, arbitrária e, em existe terra e mar, pois ela é o ponto suma, fora da realidade. Porque os dois focal de nosso exame e até de nossa lados da dicotomia não permanecem concordância. independentes. De preferência um de fine o outro. Além disso, existem cer Tudo isso é trazido aqui para sugerir tas questões cruciais de definição da a dificuldade de desenvolver-se o tema realidade e da posição para com ela, de maneira óbvia e franca. Realmente questões que envolvem não só idéias e nunca senti tanta dificuldade na ten valõres, mas também instituições e tativa de encontrar em que me apoiar acontecimentos que ultrapassam a di e como continuar. Sendo desejável e cotomia, definem os dois lados e os re necessário que o alcance da teoria da lacionam. administração pública seja indicado por problemas, e problemas que pos Procurando discorrer com relêvo sô suam dimensões práticas e teóricas ao bre o tema, tentarei cumprir minha ta mesmo tempo, então minha perplexida refa em 4 capítulos ou 4 etapas. Pr*' de se torna compreensível. Porque, na melro oferecerei uma visão geral d° verdade, se alguém olha para uma di nosso estado presente. Depois, proce dendo do centro para a periferia, dos Permitam-me que sugira uma pers problemas teóricos imanentes em nos pectiva ou orientação com base numa sa percepção e própria definição para analogia que me parece conveniente e aquêles problemas teóricos que, pela útil. A mudança rápida de circunstân sua importância nos desafiam na prá cias, como sejam novos conhecimentos tica da administração pública, tratarei e grande variedade de causas, muitas de um círculo que se alarga em as vêzes conduz o indivíduo a um estágio suntos que me parecem da mais alta de crise. Êle pode sucumbir, pode rea importância. Em algum ponto dêste justar-se e reintegrar-se rápida ou len círculo progressivo de preocupações tamente, temporária ou permanente tomarei uma decisão arbitrária quando mente, em nível inferior ou em nível estarei me deslocando dos problemas mais alto. De maneira simples e de um internos para os externos; isto é, cons modo geral proponho que imaginemos ciente de que distinguir entre proble a administração pública de maneira mas intrínsecos da emprêsa auto-cons- análoga. Tolerem minha fantasia, pelo ciente e aquêles induzidos da prática menos momentâneamente, e vejamos provoca riscos de distorção e engano, se nos é dado ganhar alguma compre eu o farei, no entanto, como um re ensão útil. curso artificial para fins de exposição Na década de 1930 a administração e análise. Finalmente dispensarei al- pública havia surgido de sua infância, 9uma atenção ao que estive me refe ou talvez de sua adolescência para rindo como sejam assuntos teóricos já não enfeitar demais minha analogia. dominados. De algum modo, no período POSDCORB 2 e na implantação dos "Princípios PERSPECTIVAS: ela se mostrava sadia e auto-confiante. CRISE DE IDENTIDADE Posto que desafiada pelo seu ambiente institucional e intelectual — a energia A lista das contribuições ao estudo jovem e talvez uma certa dose de in da administração pública a partir da quietação capacitaram-na a enfrentar a Segunda Guerra Mundial é verdadeira situação reinante. Porém, desafios mente impressionante. Quer escritas mais violentos se aproximavam. Inte Por pessoas de casa ou simplesmente lectualmente, êsses eram representa adotadas ou adatadas, o material é dos por inovações tais como “Novas 9rande e variado. Não temos sido um Fronteiras da Administração Pública e Departamentalização Federal”. Histó P°Ço de estagnação na vida intelec rica e institucionalmente essas inova tual americana. No que se segue, po- ções eram representadas pela Segunda rém, buscarei acentuar o lado negati- Guerra Mundial e suas conseqüências v°- Porque, a despeito das realizações, de reconstrução e crises continuadas. 6stamos enfrentando problemas de na Além de mais, nos anos que se se tureza seriíssima. Para diagnosticar, guiram ao pós-guerra, apareceram os analisar e expor, torna-se necessário ~ i POSDCORB — sigla mnemônica for clue me utilize da crítica e da fran mada Tombas Iniciais de queza. Se erro neste caminho está em « S s . “B A • vós julgar. Orçamento (Budgetting). desafios intelectuais que levaram a sistema de fundações voltou suas vis administração pública a um ponto crí tas, de maneira decisiva, para outras tico que atingiu os limites do colapso direções. e da desintegração. Uma onda de des Os críticos do pós-guerra, ao dis contentamento e dúvida causada pela secarem a velha administração pública avaliação do POSDCORB na administra não batiam na mesma tecla. Mas exis ção pública e contra as experiências tia, apesar de tudo, uma singular coin da guerra foi agravada pela crítica da cidência em suas invectivas. Entre as mais pungente e danosa espécie por acusações apareciam as seguintes co uma nova geração de estudantes. mo mais graves: que as reivindicações Agravando o problema, nesta situação de ciência eram prematuras quanto à de implacável tensão e desafio inte substância e imaturas quanto ao mé lectual, o ambiente da administração todo; que os "princípios” atribuídos à se tornou menos compreensivo e, na ciência não passavam, no máximo, de verdade, mais exigente, apático ou sumárias afirmações do senso comum; hostil. Ao apoio à reconstrução da Eu que economia e eficiência como metas ropa, ecoando visíveis ameaças à exis ou critérios eram, ou vagamente con tência nacional, ajudando a eclosão de cebidos ou malconcebidos; que a dis uma Terceira Guerra Mundial, e pro tinção entre política e administração curando estabelecer e fixar um nôvo era arbitrária ou falsa e devia ser aban tipo de vida internacional, ou mun donada ou reformulada, inteiramente, dial, acrescentavam-se os permanen em novos têrmos. Desnecessário seria tes e severos problemas domésticos. repisar, em pormenores, a história fa Enquanto a reação contra a Guer miliar. Porém, reavivá-la na memória ra, sob tais circunstâncias não per é necessário como prefácio à perspec mitia um “retorno à normalidade”, tiva que proponho. Esta perspectiva com as características severas do de pode ser, agora, de maneira seguinte: cênio 1920-30, existia, no entanto, uma O efeito das novas e complexas tare reação contra o govêrno. E êsse fato, fas acrescidas das investidas críticas somado às oportunidades altamente criaram para a administração pública compensadoras oferecidas pela inicia uma crise de identidade. Tanto a na” tiva privada, dificilmente poderia favo tureza quanto os limites do assunto, recer um clima propício aos problemas assim como os métodos de estudo e da administração pública. A esta altura ensino da matéria tornaram-se proble da história, estava a disciplina-mãe da máticos. Agora, duas décadas após os ciência política em auto-estudo de ataques da crítica, a crise de identida de não foi solucionada satisfatoria reorientação sob impacto emocional e mente. A maior parte dos importan sentido de rompimento, cujo efeito se patenteava na indiferença ou hostilida tes problemas teóricos da administra de para com a administração pública. ção pública se encontram relacionados Acrescente-se o fato de que, desen com esta crise contínua, com os meios cantado com a “velha" administração pelos quais êles podem ser resolvidos pública e fascinado pelo que lhe pa e com as implicações e resultados de recia ser clima de novos horizontes, o possíveis soluções. Várias soluções ou, pelo menos, ca que pareciam, a muitos, haver des tentativas de soluções de nosso pro truído sua primitiva e preestabelecida blema disciplinar têm sido apresenta orientação, a administração pública das no decurso dêstes últimos 20 auto-consciente continua seguindo os anos. Talvez o maior devastador dos caminhos da matéria de estudo e de críticos, Herbert Simon, seja o que te aproximação pela qual se havia pau nha oferecido fórmulas para a recons tado. Mesmo os mais cautelosos e os trução e também para a renovação. mais tradicionais de seus aderentes re conheceram a necessidade de mudar Baseadas num positivismo lógico, tais com os tempos e os mais audaciosos fórmulas eram, em alguns aspectos, ra procuraram, àvidamente, desenvolver dicalmente novas, mas ao mesmo tem po apresentavam certas semelhanças novas áreas a que se devotarem e no vos métodos de análise. Temos sido, formais com a “velha” administração na verdade, generosos em reconhecer pública no apêlo à ciência, na estru e aceitar o que é nôvo de algum modo, turação dúplice do "universo” e no constantemente alargando o círculo de realce da eficiência como critério, o nossos interêsses e preocupações, co que poderia ter influído para que elas mo abundantemente provam-no as fôssem prontamente aceitáveis. nossas publicações. O conteúdo e o Quaisquer que fôssem os motivos, modo de tratar velhos assuntos categó tal aceitação não ficou provada. As ricos, tais como pessoal e orçamento, fórmulas e prescrições de Simon certa progrediram ràpidamente e muitas fa- mente ofereciam “respostas” para al cêtas, dimensões e interêsses, por guns problemas e seu impacto através exemplo, o estudo do caso, “ecologia , de duas décadas foi grande, muito administração comparada, processo de grande mesmo. Porém, desde que êsse cisório, teoria de sistemas, vieram a impacto era interrelacionado como ser considerados como nossas preo causa e efeito de certos pendores nas cupações características. Porém, pôsto ciências sociais (comportamento, pro que dilatando freqüentemente o âmbito cesso decisório etc.), tornou-se difícil de interêsses e empreendimentos, nao sua avaliação. Quanto ao futuro, estou progredimos muito na compreensão e 'nclinado a acreditar que, aconteça o na concordância sôbre o que somos. Que acontecer de agora em diante, Não podemos dizer, confiadamente e a uma influência simoniana há de apare una voce: — “aqui está o que é admi cer, com relêvo, porém a crise contí nistração pública; esta é a razão por nua de identidade não será soluciona que você deve estudá-la e êstes são os da através de mera “conversão” simo métodos e êstes são os instrumentos niana ou outra qualquer. para essa finalidade.” As generalizações a respeito da PARA SOLUÇÃO DA CRISE administração pública nos últimos vin te anos parecem ter sido as mais no Âmago dos Problemas de tórias e certas e são as mais significa Identidade e Orientação tivas e profundas, aceitem ou não a O primeiro passo para dar fim a rninha perspectiva de “crise de identi nossa crise de identidade é ingressar dade” . Depois das investidas da críti mos, defintivamente, numa era nova de Meu próprio ponto de vista é que, administração pública. É reconhecer na atualidade, é ilusório e sem pro que não há solução para o problema veito considerar-se a administração pú de identidade ao nível em que êle foi blica como subdivisão da ciência po pôsto há duas décadas, em seguida lítica, por mais que se leia a história às críticas do pós-guerra. Quero sig para a qual eu mesmo levei a minha nificar com isto, falando de um modo própria contribuição. Isto não signifi geral, que há vinte anos atrás a solu ca negar a existência de uma impor ção do problema de identidade foi en tante relação entre as duas. Nem po carada no limiar de duas alternativas, deria ser de outra maneira, como se ambas inviáveis. Que nenhuma das verá seguidamente. Por agora, todavia, duas alternativas poderia sucitar ou ficarei restrito a um breve relato em sustentar a nova síntese que se fazia favor de minha posição contrária à necessária, considerando-se o período perspectiva subdisciplinar. final da década de 60, não é tanto um motivo de perplexidade quanto uma Estamos em face de um fato, não conclusão óbvia. de uma teoria. Ou melhor, enfrenta Em uma das duas perspectivas a ad mos uma série de fatos e o “alcance” ministração pública era enfocada co da nossa teoria deve, necessariamen mo ramo, campo ou subdivisão da te, relacionar-se a êstes fatos. De um ciência política; uma subdisciplina. lado a administração pública como Não era uma visão desarrazoada. É orientação e literatura, como pesquisa, um exagêro tolerável dizer-se que os atividades, conceitos e técnicas, cres professôres de ciência política e “sò- ceu tanto e de maneira tão heterogê mente” os professôres de ciência po nea que pensar em enquadrá-la como lítica eram os responsáveis pela au- subdisciplina de “qualquer coisa” é, to-consciência; pela compilação, em à primeira vista, um absurdo. Por ou livros, cursos e outros meios, de con tro lado, a ciência política não sómen- ceitos e matérias de ciência política te se tornou matéria mais vasta e com e de conceitos e matérias de “ciência plexa, porém os roteiros principais de da administração”. Rememorando, pa sua evolução a partir da II Guerra rece-nos claro, no entanto, que compi Mundial, tornaram a tentativa de in lação de conceitos e matérias das duas clusão da administração pública como áreas era simplesmente uma compila subdisciplina muito difícil, para não di ção e não uma fusão real, e o racio zer impossível. A verdade é que a ati cínio que serviu para justificar e sus tude dos cientistas políticos (a não ser tentar a compilação foi destruído pe aquêles que aceitam a administração los ataques da crítica. Definir a admi pública como seu campo de atividade) nistração pública como sendo “a ge é, quando não de indiferença, na maio rência de homens e materiais na rea ria dos casos de indisfarsável desprê- lização dos propósitos do Estado” não zo ou hostilidade. Somos agora Par' faz sentido em nossos dias por certo camente bem-vindos ao lar de nossa número de razões, uma das quais a juventude. Não foi por causa de uma que implica na separação de meios e omissão de planejamento que a ad fins, que de longa data não tem sido ministração pública desapareceu como aceita. organizadora de categoria nas reuniões dêste ano (1968) da Associação Ame tem podêres para prover melhores so ricana de Ciência Política (APSA). luções para o complexo conjunto de teorias opostas e pressões diversas, o Pensar que “idealmente” a ciência que aliás continua existindo dentro dos política e a administração pública de departamentos da ciência política onde veriam ser intimamente ligadas, no só soluções práticas poderão ser en plano intelectual e institucional (assun contradas dentro de um futuro ime tos separados mas relacionados) é um diato. Porém, a idéia de administração tema interessante para uma filosofia pública como disciplina padece de dois especulativa. Talvez devera ser assim. grandes defeitos: é, a um só tempo, É possível que a separação seja infeliz muito ambiciosa e pouco ambiciosa. para um ou para os dois e para a co É muito ambiciosa em acreditar (se de letividade. Certamente que se pode fato acredita) que é possível identifi imaginar ramos de desenvolvimento car e desenvolver um organismo coe que poderiam gerar resultados diferen rente de teoria sistemática que seria tes (se, por exemplo os esforços do substancialmente independente de ou comitê da Associação Americana de tros ramos das ciências sociais e con Ciência Política no seu trabalho de centrado unicamente na administração treinamento para o serviço público, na pública. Julgo insuperáveis as dificul Era Progressista, tivesse encontrado dades intelectuais para uma tal reali euforia) e talvez na atualidade uma zação, em virtude da recente visão de- imprevista mudança para melhor po senvolvimentista do mundo conceitual- derá uní-las ainda. Porém, repito, no científico. Tenho em mente, por exem presente estamos em face de fatos que plo, o problema de contrariar a posi são claros, por isso estreitos limites ção bem formulada e largamente acei de ação devem ser aceitos. A estraté ta de que administração é um proces gia deve ser a de tirar-se o máximo so social genérico e geral do qual a proveito dêsses fatos. administração pública é uma variante ou aspecto. Uma outra perspectiva de aproxi mação sugerida é a que considera a Por outro lado, administração públi administração como disciplina. Esta ca como disciplina não é suficiente alternativa está obviamente sujeita a mente ambiciosa. Ela busca, interna diferentes interpretações porque “dis mente, claras limitações conceituais e ciplina” não é clara por definição ou externamente, nítidas limitações de não é bem aceita em seus significa partamentais. Ela não leva em conta, dos. Porém, de maneira geral, o que de maneira apropriada, a universidade se tem em mente e o que se almeja contemporânea como um universo or- é uma matéria mais ou menos coe ganizacional-intelectual em expansão, rente, estudada e ensinada em de e os apelos à administração pública partamento acadêmico independente, como processo dentro de um mundo em igualdade de condições com outros caótico e cheio de perigos. O argu ramos das ciências sociais. mento acima referido é também impor Êste ponto de vista não é absurdo. tante aqui. Se não podemos arreba nhar sob uma subdisciplina tôda a ne Pelo menos em alguns casos, um or- cessária extensão e variedade dos in- Sanismo departamental independente terêsses presentes, também não pode tratar do assunto com mais pormeno mos reuní-los em uma disciplina. res. O que é necessário, em vez disso, é discutir a dificuldade em matéria de Em breve compasso, deixem-me ex terminologia e expor, tão claramente por o caso de uma perspectiva profis quanto possível, o que se propõe. sional, como solução propícia e mes Quanto a terminologia, o caso é que mo necessária, da crise de identida profissão e profissional são emprega de. Brevidade é exigida em vista de dos aqui porque não possuimos pala maiores ou diferentes compromissos vras mais apropriadas. Êstes têrmos assumidos, mais isto é facilitado pelos são usados por incipiente analogia, argumentos expostos ainda há pouco. antes de argumentar em busca de um Parte do caso em favor de uma pers correspondente exato existente em pectiva profissional já foi delineada qualquer profissão ou em algum ideal quando foram mostradas as improprie- platônico de profissão. Ocupação e dades e obstáculos às perspectivas dis ocupacional poderiam ser usados, po ciplinar e subdisciplinar. Se minha rém êstes têrmos têm outras dificul análise e meus argumentos são subs dades maiores. Não há terminologia tancialmente válidos, o que então se que se ajuste precisamente com a si deve indicar? Minha própria conclusão tuação e com as necessidades atuais. é que o caminho mais promissor e tal vez, de fato, a mais necessária linha O que proponho é que experimente de desenvolvimento se encontra na mos atuar como profissão sem que, na adoção da perspectiva profissional. Is realidade, os sejamos e talvez mesmo to pode ser descrito como fazer da sem a esperança ou a intenção de nos necessidade uma virtude. De qualquer tornarmos membros de uma profissão modo ela prescreve uma estratégia em qualquer sentido restrito. Franca adotada em boa hora ao desenvolvi mente, foi preciso coragem para dizê- mento contemporâneo de instituições lo, uma vez que tal afirmativa parece e idéias. tocar as raias do ridículo. Porém, é o que julgo acertado e tão acertado Algumas dificuldades e objeções são quanto posso afirmá-lo. A perspectiva inevitáveis. Os conceitos de “profis ou posição profissional é a única are são” e “profissional” não são claros jada e suficientemente flexível para nos e indiscutíveis. O fenômeno do pro tornar aptos a conter nossos diversos fissionalismo apresenta importantes pe interêsses e objetivos e ao mesmo sos negativos, assim como benefícios tempo sólida e bastante compreensiva positivos. Não é possível que a admi para promover unidade, senso de di nistração, como um todo, possa tor reção e propósito. Esta posição tem nar-se uma profissão, ou por partes, significado e contêm sugestões úteis uma penca de profissões, num futuro e imperativas, tanto no mundo acadê previsível, nem é possível ou admissí mico onde é estudada e ensinada, vel que ela um dia devesse ser quanto na esfera governamental onde tal. Estas considerações não são tri a administração pública é praticada- viais, mas de grande importância. Em ambientes mais dilatados onde am Felizmente, para favorecer meu ar bas as entidades se exercitam, esta gumento e propósito não é necessário posição nos oferece mais rendimento do que qualquer outra idéia orienta provar unidade enquanto permite di dora. versidade. Enquanto o aproveitamento comple Minha analogia favorita é a medici to e a defesa do esquema profissional na. Pelo consenso geral ela é uma não seja possível, algumas palavras de profissão, mas é também um agregado vem ser trazidas para clareza de as de profissões, subprofissões, especia sunto muito importante. Como é do lizações ocupacionais, ramificando-se conhecimento de todos, a grande maio numa complexidade fantástica. É ciên ria das pessoas que ocupam cargos cia e arte, teoria e prática, estudo e administrativos, de níveis alto e médio, aplicação. Não é baseada numa só dis não freqüentaram cursos de treina ciplina mas utiliza-se de muitas. Não mento em escolas de administração se encontra unificada numa teoria só, pública e ainda que êstes cursos e es porém é justificada e orientada por colas se multiplicassem ràpidamente, um vasto propósito social. essa situação não mudaria. Existe uma concordância geral, proclamada por A administração pública no govêrno frases correntes como “o conceito da contemporâneo não é menos, porém segunda carreira”, que esta situação mais complexa do que tratar e curar deva ser aceita e, na verdade, muitos doentes (o que num sentido formal opinam que ela é sadia e vantajosa muitas vêzes ela faz). Temos necessi se a estratégia da administração pú dade de uma perspectiva, de uma blica se adaptasse a ela, utilizando o orientação adequada à nossa tarefa. seu vigor e corrigindo ou compensan Em têrmos do tema que me foi desig do suas fraquezas. De meu ponto de nado, o alcance da nossa teoria deve vista o acesso profissional à adminis ria estender-se até os limites do de tração pública absolutamente não se safio profissional e deveria responder coloca contra o reconhecimento do às oportunidades e necessidades que vasto papel que as pessoas treinadas êle apresenta. Se a analogia com a em escolas técnicas e científicas, assim medicina tem validade, isto significa como pessoal de profissões preesta- que teremos de nos interessar, não belecidas desempenham na adminis apenas por uma teoria, mas na verda tração pública. Porém, interpretado de por teorias de muitos tipos, dimen com exatidão, proporciona uma filoso sões e facetas. A posição profissional fia e uma base institucional para se não vai, por si só, resolver tudo como contrapor ao ímpeto centrífugo de “ou se fôsse uma moeda introduzida na tras profissões”, através de várias es máquina de “respostas”. Nem ao me tratégias, a começar pela cooperação nos ela vai constituir-se numa agenda em assuntos como cursos conjuntos clara e completa de problemas teóri nas escolas profissionais. cos. Ela vai fornecer um arcabouço suficientemente vasto para conter os UMA AGENDA DE VELHOS Problemas teóricos, ajudar na elucida PROBLEMAS QUE BUSCAM ção e definir a natureza das respostas NÔVO ENFOQUE exatas. Ela vai dar a direção sôbre o Devo confessar que foi penosamente tempo e o nível em que se encontram difícil preencher o quadro sugerido as soluções. Acima de tudo ela vai por êste Capítulo. Os assuntos refe de alguns anos para prover uma pers rentes ao alcance de nossos interês pectiva temporal mais profunda e vas ses teóricos que me propus discutir ta, devemos agora estar aptos a tra são razoàvelmente claros e são as balhar com mais ordem e compreensão, suntos que se definem por si mesmos, isto é, o argumento para a reavalia todos êles orientadores, no centro de ção não depende, necessàriamente ou nossa emprêsa. Como é natural, gos inteiramente, da validez do argumento taria de relacioná-los, mas também de profissional acima referido. dizer algo significativo a respeito da Especificamente, considero que seria aproximação ou da solução. Até agora útil, reformular cada um dos artigos de estive namorando a perspectiva pro fé, reexaminando-se sua critica, tra fissional e os senhores estarão razoà çando-se suas linhas de desenvolvi velmente à espera de que eu demons mento nos anos recentes e calculan tre sua utilidade. E eu teria ficado do-se o ponto em que agora nos en grandemente eufórico se tivesse es contramos, relativamente aos fatos en crito o prefácio do livro “Nova Luz volvidos. Tomando por exemplo um Sôbre Velhos Problemas”. Confesso, no dêsses fatos, a separação de política entanto, a minha incapacidade, pelo e administração, que talvez seja a pri menos quanto a tempo e espaço dis meira chave, deixem-me explicar o que ponível, de demonstrar efetivamente, tenho em mente. a importância e a utilidade da posição profissional no provimento da nova luz Para dar fôrça e sentido, estabeleço de que precisamos. Feita esta con uma tese orientadora. Apesar de ha fissão, devo declarar que é no nível vermos decidido, há duas décadas, que profissional que as novas e ulteriores a separação de política e administra respostas devem ser procuradas e se ção é impossível, não tivemos a cora rão encontradas. gem de enfrentar as implicações dessa decisão, nem na realidade nem siste- Seja como fôr ou como poderá ser, màticamente e nem completamente. meu argumento atual é que precisa Será que realmente havíamos decidido, mos de uma profunda reavaliação dos como foi indicado? De qualquer modo, problemas deixados pela suposta des qual foi a reação da época, quais têm truição da velha “ortodoxia” pelos crí sido as principais linhas de desenvol ticos do pós-guerra. Em 20 anos mui vimento e onde estamos presentemen to trabalho teórico útil foi, certamente, te, justificados por quê afirmação teó realizado, porém o panorama teórico- rica? intelectual é extremamente desordena A resposta à minha tese e às mi' do. O sentimento de algum interêsse nhas perguntas daria um volumoso tra especial em ajudar para que o traba balho de conhecimento e análise, mas lho urgente do govêrno seja realizado eu apenas sugiro alguns aspectos da leva muitos de nós a pôr de lado in resposta. terêsses teóricos de natureza pública e o interêsse em assuntos teóricos es O comêço adequado seria um re- pecíficos leva alguns a negligencia exame da literatura do período que an rem (ou a depreciarem) os trabalhos tecedeu à Segunda Guerra Mundial, teóricos de outros. Com a vantagem porque ela ó multo mais complexa do
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