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Album de familia PDF

436 Pages·2016·1.49 MB·Portuguese
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Álbum de Família Danielle Steel http://groups-beta.google.com/group/digitalsource Tradução de LUZIA MACHADO DA COSTA 4ª EDIÇÃO EDITORA RECORD Titulo original norte-americano FAMILY ALBUM Copyright © 1989, 1985 by Benitreto Productions, Ltd. Todos os direitos reservados inclusive os direitos de reprodução total e parcial sob qualquer forma. Direitos de publicação exclusivos em língua portuguesa no Brasil adquiridos pela DISTRIBUIDORA RECORD DE SERVIÇOS DE IMPRENSA S.A. que se reserva a propriedade literária desta tradução Impresso no Brasil pelo Sistema Cameron da Divisão Gráfica da DISTRIBUIDORA RECORD DE SERVIÇOS DE IMPRENSA S.A. Rua Argentina 171 - 20921 - Rio de Janeiro, RJ - Tel.: 580-3668 PEDIDOS PELO REEMBOLSO POSTAL Caixa Postal 23.052 - Rio de Janeiro, RJ 20922 Para a minha família: Com amor para Beatrix, Trevor, Todd, Nicholas, Samantha, Victoria e Vanessa, e especialmente... muito especialmente, com todo o meu coração... para John. d.s. PRÓLOGO 1983 O sol estava tão forte que quase todos apertavam os olhos, embora fossem apenas onze horas da manhã. Uma brisa suave despenteava os cabelos das mulheres. O dia estava tão lindo que havia nele uma espécie de agonia, um silêncio assombroso, e só o que se ouvia no silêncio eram os passarinhos, um gorjear tranqüilo, gritos repentinos e o perfume inebriante das flores... lírios-do-vale, gardênias, frésias, enterradas num tapete de musgo. No entanto, Ward Thayer não via nada disso, e não parecia ouvir coisa alguma. Havia vários minutos que estava de olhos fechados; e quando os abriu, ficou olhando fixamente por muito tempo, quase como um zumbi, parecendo pálido, tão diferente da imagem que todos tinham dele... e mantinham havia quarenta anos . Nessa manhã não havia nada de vistoso ou empolgante ou mesmo bonito no aspecto de Ward Thayer. Ele estava imobilizado, ao sol brilhante, sem olhar para nada, os olhos novamente fechados, quase apertando as pálpebras, e por um momento quis que seus olhos nunca mais se abrissem, como ela não abrira, como ela nunca mais abriria. Havia uma voz falando baixinho a distância, dizendo alguma coisa, não parecendo diferente do zumbido dos insetos junto das flores. E ele não sentia nada. Nada. Por quê? Por que não estava sentindo nada?, ele se perguntou. Não sentira nada por ela? Fora tudo uma mentira? Sentiu o pânico invadi-lo... não se lembrava do rosto dela... como ela usava os cabelos... a cor de seus olhos... ele abriu os olhos de repente, separando as pálpebras como se fossem mãos que estavam do bradas, uma pele que um dia fora enxertada. O sol o ofuscou por um instante e ele só viu um lampejo de luz e sentiu o perfume das flores, enquanto uma abelha zumbia preguiçosa por perto e o pastor pronunciava o nome dela. Faye Price Thayer. Houve um pipocar abafado à sua esquerda e o lampejo de uma câmara explodiu em seus olhos, enquanto a mulher a seu lado lhe apertava o braço. Ele olhou para ela, os olhos se adaptando à luz de novo e, de repente, lembrou-se. Tudo de que se esquecera estava refletido nos olhos da filha. A moça se parecia tanto com ela, mas como eram diferentes. Nunca haveria outra mulher como Faye Thayer. Todos sabiam disso e ele sabia melhor que todos. Olhou para a loura bonitinha a seu lado, lembrando-se de tudo, e com uma saudade muda de Faye. A filha era alta e sóbria. Era menos bonita do que o fora Faye. Os cabelos louros e lisos estavam puxados num coque, e ao lado dela estava um homem sério, que de vez em quando tocava no braço dela. Eles agora tinham de se haver sozinhos, cada qual diferente, separados, e no entanto parte de um todo maior, parte de Faye...e dele também. Ela se teria ido mesmo? Parecia impossível, pensou, enquanto as lágrimas rolavam, solenes, por suas faces e uma dúzia de fotógrafos se adiantavam para gravar o seu sofrimento, e colocá-lo nas primeiras páginas do mundo todo. O viúvo enlutado de Faye Price Thayer. Ele pertencia a ela agora, na morte, como pertencera em vida. Eram todos dela. Todos. As filhas, o filho, os companheiros de trabalho, os amigos, e estavam todos ali para render homenagem à memória da mulher que nunca mais voltaria. A família estava ao lado dele, na fila da frente. A filha Vanessa, o seu rapaz de óculos, e ao lado dele, a gêmea de Vanessa, Valerie, os cabelos de fogo, um rosto dourado, um vestido de seda preta que se colava a ela de modo espetacular, o sucesso estampado claramente nela, e ao lado dela um homem igualmente deslumbrante. Eram um casal tão lindo que não se podia deixar de ficar olhando, e Ward gostava de ver como Val se parecia com Faye. Ele nunca reparara tanto nisso, mas agora o via... e Lionel também se parecia com ela, embora mais discretamente. Alto, bonito e louro, sensual, elegante e delicado, mas ao mesmo tempo orgulhoso. Ele então ficou olhando para longe, lembrando- se dos outros que ele conhecera e amara... Gregory e John, o irmão perdido, amigo querido. Pensou também em como Faye conhecera Lionel bem, talvez melhor do que qualquer outra pessoa. Ela o conhecera melhor do que ele mesmo se conhecia... e tão bem quanto ele conhecia Anne, ali de pé ao lado dele, mais bonita do que ela fora antes, tão mais confiante e ainda tão jovem, num contraste marcante com o homem grisalho de mãos dadas com ela. Estavam todos ali, no fim. Tinham ido render homenagem ao que ela fora. Atriz, diretora, mito, esposa, mãe, amiga. Havia uns que a tinham invejado, os que ela forçara demais e de quem exigira demais. A família é que melhor sabia disso. Ela esperara tanta coisa deles, mas dera tanto em troca, se esforçara tanto, fora tão longe... Ward se lembrou de tudo ao olhar para eles todos, voltando àquela primeira vez em Guadalcanal. E agora lá estavam eles, depois de uma vida, e cada qual se lembrando dela como ela fora, como ela foi um dia, como ela fora para eles. Era um mar de rostos ao sol forte de Los Angeles. Hollywood inteira comparecera por causa dela. Uma última saudação, um último sorriso, uma lágrima de ternura, e Ward se virou para olhar para a família que ele construíra com ela, todos tão fortes e belos... como ela fora. Como ela se orgulharia de vê-los agora, pensou, as lágrimas novamente lhe ardendo nos olhos... como eles se orgulhavam dela... afinal. Levara muito tempo... e agora ela se fora... parecia impossível acreditar, quando ainda ontem... ontem eles estavam em Paris... o Sul da França... Nova York... Guadalcanal. CAPÍTULO 1 O calor da floresta era tão sufocante que ficar parado num lugar era quase como se a pessoa estivesse nadando no ar denso e espesso. Era uma presença que se podia sentir, cheirar e tocar e no entanto os homens avançavam, querendo vê-la... se aproximar... ver mais... Seus ombros estavam bem encostados uns aos outros, sentados ali, lado a lado, as pernas cruzadas no chão. Na frente, bem na frente, havia cadeiras desmontáveis, mas havia horas que não tinha mais cadeiras. Os homens estavam sentados ali desde o anoitecer, torrando, suando, esperando. Parecia que já havia cem anos que estavam sentados ali nas florestas cerradas de Guadalcanal e eles não se importavam a mínima. Teriam esperado a metade da vida por ela. Ela representava tudo para eles, naquele momento... mães... irmãs... mulheres... namoradas que tinham deixado... mulheres... A Mulher. Quando anoiteceu havia um ruído surdo quase audível, enquanto eles ficavam ali sentados, falando, fumando, o suor escorrendo por seus pescoços e costas; os rostos reluzindo, os cabelos molhados, as fardas grudadas na carne e todos tão jovens, quase crianças... e ao mesmo tempo, não eram mais crianças. Eram homens. Em 1943, já estavam ali havia tanto tempo que nem queriam se lembrar, e todos se perguntavam quando a guerra terminaria e se um dia terminaria. Mas nessa noite ninguém pensava na guerra, só os homens de serviço é que tinham de se preocupar com isso. E a maior parte dos homens que agora esperavam por ela tinham conseguido a licença para aquela noite com todo tipo de moeda que puderam conseguir, tu do, desde barras de chocolate até cigarros, até dinheiro vivo - qualquer coisa... qualquer coisa para vê-la... fariam qualquer negócio para tornar a ver Faye Price. Quando a banda começou a tocar, o ar não estava tão denso, mas abafado, o calor não mais opressivo, mas sensual e eles sentiram seus corpos vibrarem como não vibravam havia muito, muito tempo. Não era só ânsia que eles sentiam por ela, era algo mais profundo e mais terno, algo que os teria assustado se o sentissem por muito tempo. Sentiram as primeiras emoções nessa hora, enquanto esperavam... esperavam... a cada momento havia um batimento compassado, enquanto um clarinete começava a gemer. A música mexia com as entranhas deles e era quase dolorosa e cada rosto, cada homem prendia a respiração e ficava parado. O palco estava vazio, no escuro, e aí de repente, vagamente, eles a viram, ou pensaram ver... não se podia ter toda a certeza, um refletor pequeno a procurava a distância. Encontrou seus pés e viu-se um lampejo de prata, um brilho de longe, como estrelas cadentes num céu de verão... o fulgor do corpo dela, aproximando-se deles, fez suas entranhas doerem e de repente lá estava ela, diante deles. Uma perfeição ofuscante com um vestido de lamê prateado. Ouviu-se um suspiro dos homens que olhavam para ela, um misto perfeito de desejo, êxtase e sofrimento. A pele dela parecia o veludo rosa mais claro no reluzente vestido prateado, os cabelos louros e compridos eram quase da cor de pêssegos maduros e estavam soltos. Os olhos dela dançavam, a boca sorria, ela estendia as mãos para eles, enquanto cantava e sua voz era mais grave do que a de qualquer mulher de que se lembrassem. Ela era mais bonita do que qualquer outra que tivessem conhecido. Ela se moveu e o vestido revelou a carne infinda e rara, a perfeição rosada de suas coxas. - Ah, Deus... - murmurou uma voz numa fila de trás, e, em volta dessa voz, cem rapazes sorriram. Todos sentiam aquilo por ela, haviam sentido há anos. Nem tinham acreditado quando lhes disseram que ela ia fazer um show para eles. Ela andara fazendo shows desses em redor do mundo. No Pacífico, na Europa, nos Estados Unidos. Um ano depois de Pearl Harbor, um sentimento de culpa a dominara e ela já estava fazendo excursões havia mais de um ano. Recentemente, parara para fazer outro filme, mas agora voltara às viagens... e nessa noite estava ali... com eles. A voz dela ficou triste, cantando para eles, e na fila de frente os homens, olhando bem, viam uma veia palpitante em seu pescoço. Ela estava viva... era humana... e se eles tivessem estendido a mão pelo palco improvisado, poderiam ter tocado nela... sentindo-a... cheirando sua carne. Vendo-a, ficavam ávidos, ela parecia olhar cada homem nos olhos, ao cantar: Faye Price não decepcionava ninguém. Aos 23 anos, Faye Price já era lenda em Hollywood. Fizera o seu primeiro filme aos 19 anos, e dali em diante se precipitara para o sucesso. Ela era linda, espetacular e fazia tudo danado de bem. Tinha uma voz que ia da lava derretida ao ouro fundido, cabelos que brilhavam como um pôr- do-sol dourado, olhos verdes como esmeraldas num rosto de marfim. Mas não eram as feições, nem a voz, nem a pele em seu corpo comprido e estreito que contrastava com os quadris suavemente arredondados e os seios cheios, era o calor que a iluminava por dentro, o brilho que lhe explodia dos olhos, o riso na voz quando ela não estava cantando que encantava o mundo. Era uma mulher, no sentido melhor e mais puro da palavra. Era uma pessoa a quem os homens queriam-se agarrar, para quem as mulheres queriam olhar, e as crianças adoravam contemplar. Era feita do material de que são feitas as princesas de sonho. De uma cidadezinha na Pensilvânia, ela conseguira chegar a Nova York depois de concluir o segundo grau, e fora ser modelo. Em seis meses estava ganhando mais que qualquer outra garota na cidade. Os fotógrafos todos a adoravam, seu rosto estava na capa de todas as revistas importantes do país, mas em segredo ela confiava aos amigos que estava entediada. Aquilo era tão pouco, dizia, bastava ficar plantada ali. Ela tentou explicar o que sentia, e as outras garotas olhavam para ela como se estivesse maluca. Mas dois homens reconheceram o que ela era. O homem que mais tarde seria seu agente e Sam Warner, o produtor, que conhecia uma mina de ouro quando via uma coisa daquelas. Ele já tinha visto as fotos dela nas capas das revistas e a achara bonita, mas só quando a conheceu é que se deu conta de como ela era fantástica. Seu jeito de se mover, seu modo de olhar nos olhos dele quando lhe falava, a voz, e ele viu logo que aquela ali não estava procurando alguém para ir para a cama. Não estava procurando coisa alguma, pelo menos não fora de si mesma, foi o que Sam imaginou, instintivamente. E tudo quanto Abe, seu agente, dizia dela era verdade. Ela era fantástica. Única. Uma estrela. O que Faye Price queria, queria de dentro de si. Queria um desafio, queria trabalhar muito, queria tentar tudo quanto a deixassem fazer, e ele deixou. Ele lhe deu a oportunidade que ela queria. Abe não teve dificuldade em convencê-lo. Sam a levou a Hollywood e lhe deu um papel num filme. Era um papel pequeno, e como estava escrito, não era um papel que exigisse muito. Mas de algum modo ela conseguira penetrar na alma do escritor. Havia ocasiões em que ele confessava abertamente que ela o levava à loucura, mas ela conseguira o que queria do papel, e o que queria era muito, muito bom; bom para o filme e bom para ela. O papel era pequeno mas de fibra e uma luz brilhou no desempenho de Faye Price que deixou as pessoas assombradas. Havia algo mágico nela meio menina, meio mulher, de duende a sereia, e de volta, explorando toda a gama de emoções humanas, por vezes usando apenas suas expressões faciais e seus incríveis olhos verdes e profundos. Esse papel lhe valera mais dois e seu quarto filme lhe valera um Oscar. Quatro anos depois de seu primeiro papel, ela já fizera sete filmes e no quinto, Hollywood descobrira que ela sabia cantar. E era isso que ela estava fazendo agora, cantando com a alma para os soldados do outro lado do mundo. Ela dava suas entranhas, seu coração e sua vida por esses homens, assim como fazia com tudo o que tentava fazer. Faye Price não era pessoa de meias medidas e aos 23 anos não era mais uma "garota" aos olhos de ninguém, e sim uma mulher. E os homens que a viam no palco sabiam disso sobre ela. Ver Faye Price se movendo, ouvi-la cantar, vê-la à sua frente era sentir o que Deus pretendia ao criar as mulheres. Ela era o infinito... o máximo... e nessa noite todos os homens que a olhavam ansiavam por tocar nela, só por um instante... ansiavam por estar dentro do círculo de seus braços, os lábios colados de leve aos dela, as mãos nos cabelos louros e sedosos... queriam sentir seu hálito em seus ombros... ouvi-la gemer baixinho. Ouviu-se um gemido repentino de um dos rapazes que estava assistindo e seus camaradas riram dele. Ele nem ligou. - Puta merda... ela não é fantástica? - Os olhos do rapaz estavam iluminados como os de uma criança no Natal e os homens em volta dele sorriram. Por muito tempo eles ficaram assistindo num silêncio total, mas depois da primeira meia hora não agüentavam mais. Gritavam, assobiavam, gritavam por ela, uivavam. E quando terminou a última canção, eles

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