Sumário Para pular o Sumário, clique aqui. [ INTRODUÇÃO ] Entre Objeto grita nte e Água viva Pedro Karp Vasquez [ ÁGUA VIVA ] O livro [ UMA OBRA EM PROGRESSO ] Datiloscritos originais, com anot ações de Clarice Lispector [ CINCO ENSAIOS E UMA CORRESPONDÊNCIA ] O conselho do amigo – Carta à Clarice Lispector José Américo Motta Pessanha As duas versões de Água viva Alexandrino E. Severino Clarice Lispector esconde um objeto gritante: notas sobre um projeto abandonado Sônia Roncador Objeto gritante, uma con�ssão antiliterária Ana Claudia Abrantes Água viva: antilivro, gravura ou show encantado Teresa Montero Escrita elástica Ana Claudia Abra ntes Entre Objeto gritante e Água viva Pedro Karp Vasquez Consta que o cantor e compositor Cazuza leu Água viva 111 vezes, mas caso fossem apenas onze, já seria o su�ciente para comprovar o poder de fascinação que Água viva pode suscitar no solo permeável e acolhedor de um espírito aberto. Poder que certamente aumentará com a presente edição especial, destinada a se tornar uma fonte de referência incontornável pelo fato de reproduzir a íntegra dos datiloscritos de Objeto gritante, assim como uma seleção de ensaios de insignes professores que em muito contribuirão para lançar luz sobre esta que é ao mesmo tempo a mais autobiográ�ca e a mais misteriosa obra da bibliogra�a clariceana. Livro sem precedentes ou sucessores na literatura brasileira, Água viva é uma pérola barroca, singular, fascinante e inimitável. Editado em 1973, somente em �ns da década de 1980 é que veio a público o fato de que essa obra chamava-se originalmente Objeto gritante, graças a um artigo do professor Alexandrino Severino, corroborado pelo trabalho de pesquisadores no Arquivo Clarice Lispector da Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, onde estão depositados os manuscritos e datiloscritos originais, documentos diversos e fotogra�as da autora. Objeto gritante foi o único livro que Clarice hesitou longamente em editar, chegando a pensar em nunca editá-lo. Incapaz de tomar uma decisão de�nitiva, ela aconselhou-se com diversos amigos, tais como José Américo Motta Pessanha e Alexandrino Severino, que relatam o impasse em seus respectivos textos, bem como Nelida Piñon, Marly de Oliveira e Fauzi Arap. Optou então por cortes radicais e pela reescritura de muitas passagens, além de transformar a protagonista de escritora em pintora. Ao cabo desta operação, que resultou na eliminação de uma centena de páginas da primeira versão, Clarice rebatizou-o de Água viva, autorizando en�m sua publicação. Ao reunir pela primeira vez no mesmo volume os manuscritos originais de Objeto gritante e a versão �nal de Água viva, o público leitor contemporâneo terá a possibilidade de avaliar por conta própria tudo o que foi suprimido ou modi�cado por Clarice Lispector para nos legar essa obra mundialmente aclamada. O caderno de textos se abre não com um ensaio e sim com uma correspondência pessoal do �lósofo José Américo Motta Pessanha. Grande amigo de Clarice Lispector, José Américo reitera nesta carta as ponderações precedentemente expostas de viva voz à escritora, expressando ressalvas e reticências em relação ao projeto original de Objeto gritante. Um de seus maiores temores era que a amiga, cujo temperamento sensível ele conhecia bem, expusesse sua intimidade de forma excessiva, arriscando-se assim a reações maldosas que poderiam feri-la profunda e desnecessariamente. Intelectual brilhante e polivalente, José Américo Motta Pessanha foi professor de �loso�a da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Fundação Getúlio Vargas, assim como diretor do Centro Cultural São Paulo. Integrou também o Conselho Editorial da Abril Cultural, sendo o principal responsável pelo lançamento da antológica coleção Os Pensadores, a primeira a colocar a �loso�a ao alcance do público leigo. Sua intervenção foi decisiva na transformação de Objeto gritante em Água viva, conforme se evidenciará com a leitura não só da correspondência de sua autoria como por intermédio dos demais ensaios aqui reunidos.