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A Viúva Clicquot PDF

307 Pages·2.449 MB·Portuguese
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Para Noelle e Roberta, mais que nunca Sumário Para pular o Sumário, clique aqui. Prólogo Filha da Revolução, filha da Champagne Votos de casamento e segredos de família Sonhos de champanhe O anonimato corre em suas veias A artesania do cuvée A viúva da Champagne Sócia e aprendiz Sozinha, a um passo da ruína A guerra e o triunfo da Viúva Um cometa sobre a Rússia: a safra de 1811 A filha do industrial Os aristocratas do vinho Flertando com o desastre O império do champanhe A grande dama A rainha de Reims Posfácio Agradecimentos Notas Bibliografia Créditos A Autora Prólogo E sta é a história do champanhe francês[1], mas não teve início em meio ao esplendor de um castelo; suas origens foram bem mais modestas: as prateleiras de uma bem abastecida loja de vinhos. Foi um começo deselegante para a obsessão pela história de um dos melhores vinhos do mundo e de uma grande mulher. Por mais que o champanhe esteja associado a festas e às boas coisas da vida, devo dizer que, para mim, foi uma paixão que começou numa cidadezinha do Meio-Oeste americano, onde eu tentava suportar o que viriam a ser os últimos e sofridos meses de um emprego nada glamouroso. Foi em meio a essa vida rotineira que descobri a Viúva Clicquot. Embora a escritora em mim queira contar que meu caso de amor com a Viúva teve início na primavera, quando a terra se abria em promessas de nova vida, isso não é verdade. O inverno castigava as planícies com rigor anglo- saxão e eu me vi contemplando desejosa uma série de espumantes, sonhando com nomes distantes e vinhedos banhados pelo sol da França. Eu já conhecia o champanhe. Quer dizer, não exatamente. Minhas amigas e eu o bebíamos com tal entusiástica regularidade que não convém entrar em detalhes. Naquela tarde, foi a história de Barbe-Nicole Clicquot Ponsardin que descobri, impressa num cartão enfiado numa caixa de Grande Dame, safra de 1966, que eu havia decidido que merecia. A pequena biografia tinha menos de 35 palavras, mas era uma historinha elegante que, mesmo apenas esboçada, prendeu minha atenção naquele inverno. Falava sobre uma mulher criada para ser esposa e mãe, viúva antes dos 30 anos, com uma filha pequena, sem qualquer preparo e com pouca experiência do mundo, mas que agarrou com mão firme as rédeas do seu próprio destino. Com pura determinação e talento, ela transformou um incipiente negócio familiar de vinhos em uma das melhores casas de champanhe do mundo. Esta, pensei, é uma mulher que rejeita acomodação. Nos anos seguintes, sua história continuou comigo, mesmo depois que nos mudamos do Meio-Oeste para as colinas de Sonoma County, na Califórnia, estado natal de meu marido e onde os invernos são mais verdes e incrivelmente suaves. Algo daquela mulher que assumiu riscos tão imensos para seguir sua paixão ainda me tocava profundamente. Comecei a fazer pequenas pesquisas ao acaso, em busca de referências do século XIX sobre a Viúva Clicquot na biblioteca de Healdsburg. Ao ler velhas narrativas de viagens escritas no auge do império napoleônico, eu recordava meu francês enferrujado. E, como nunca tive inclinação para me limitar a pesquisas acadêmicas, fiz questão de que provássemos todos os espumantes que conseguíssemos encontrar. A princípio ali mesmo na Califórnia e mais tarde na França, onde passei um janeiro de fortes ventos numa grande fazenda antiga cercada de vinhedos lamacentos por todos os lados. O problema sempre foi descobrir a própria mulher, a jovem viúva com o pesadíssimo nome de Barbe-Nicole Clicquot Ponsardin, a Veuve Clicquot, a Viúva Cliquot. No começo do século XIX, quando ela começava a entrar na idade adulta e todos os compromissos que isso acarreta, a vida dos empreendedores e inovadores do comércio raramente entrava nos livros de história. E isso era especialmente verdade se o empreendedor fosse uma mulher. Os arquivos estavam repletos de cartas e diários de príncipes e chefes de Estado, mas poucos bibliotecários pensavam em coletar os registros particulares de comerciantes, mesmo aqueles que fizeram coisas excepcionais. Isso é verdade ainda hoje. A maioria de nós jamais encontrará nossas cartas de amor preservadas nas grandes bibliotecas do mundo. Para uma jovem do século XIX, isso era particularmente verdadeiro, a menos que se tratasse de uma rainha, uma duquesa, a irmã, esposa ou mãe de um grande homem. Barbe-Nicole não era nada disso. Era simplesmente uma mulher formidável, independente, que fez nome no enfadonho e competitivo mundo dos negócios. Nos primeiros meses de 2007, quando finalmente consegui chegar aos arquivos da companhia Veuve Clicquot Ponsardin, em Reims, confiante de que descobriria seus segredos, encontrei paredes cobertas de cima a baixo com prateleiras de livros de acurada contabilidade, evidenciando a singular determinação de Barbe-Nicole. Mas poucas pistas sobre a mulher por trás do rótulo laranja da marca. Assim, naquele inverno arrastei alguns amigos solidários pelas terras da Champagne, em busca de algum indício da vida que Barbe-Nicole devia ter conhecido. Algo que explicasse não só como uma jovem de vida protegida havia se libertado do caminho que lhe havia sido traçado, mas também por quê. Sacolejando por estradas de terra esburacadas, debaixo de chuva, procuramos os vinhedos da Viúva nos campos acima da cidadezinha de Bouzy. Certa tarde, num ato coletivo de sedução, persuadimos o relutante vinicultor do Château de Boursault, que um dia fora à casa de campo predileta de Barbe-Nicole, a nos deixar entrar por dez minutos no lugar que ela havia amado. Passei horas no frio silêncio da catedral de Notre- Dame de Reims, pensando que ela havia conhecido bem aquelas mesmas paredes. Durante todo o tempo, me vi atenta a prédios e esquinas, espiando, como um ladrão, relances furtados através de janelas, procurando em vão por uma mulher e a textura finamente tecida de sua vida. Às vezes me perguntava se seria possível descobrir a vida particular de Barbe-Nicole e resgatá-la do silêncio que envolvia sua história. Antes de encerrar minha busca, eu encontraria mulheres vinicultoras e presidentes de companhias em ensolarados escritórios de Napa, à procura de uma encarnação moderna da Viúva Clicquot, esperando encontrar na experiência de vida daquelas mulheres vinicultoras um meio de desembaraçar o passado. Depois foi a vez da França. Em vilarejos por toda a Champagne, La Veuve – e na França só existe uma – vive na difusa meia- vida da tradição oral das lendas folclóricas. Frustrada com os livros empoeirados e arquivos, eu às vezes simplesmente pedia, em bares e bistrôs, às pessoas que se lembrassem, mesmo sabendo que lembrar e inventar são primos-irmãos, principalmente à distância de duzentos anos. Passávamos as garrafas de vinho de mesa em mesa, o chef saía da cozinha e vinha fumar um cigarro e escutar. Naqueles momentos, a Viúva estava conosco. Gosto de pensar que a vida da Viúva Clicquot amadureceu lentamente na obscuridade silenciosa, como uma safra rara e magnífica. Parte dessa obscuridade foi minha vida e minha imaginação. Outra parte foi a obscuridade da história e do papel dos homens empreendedores e, sobretudo, das mulheres. Mas hoje, finalmente, podemos apreciá-la. Como sabemos, com o correr do tempo o vinho se torna diferente e mais precioso. O rijo tanino derrete e amacia, o sabor amadurece e aflora. No século XIX, não valia a pena salvar muito da história da Viúva. Mas, hoje, até seu resumo é impressionante. É um conto que muda nossa maneira de pensar a história do champanhe e o papel de uma mulher nela. Todos conhecem o vinho que Barbe-Nicole ajudou a tornar famoso. Nenhum outro no mundo traz à mente tantas associações imediatas quanto o champanhe. O estouro da rolha e o brilho da espuma borbulhante significam comemoração, glamour e, muito frequentemente, a clara possibilidade de romance. É o vinho dos casamentos e dos beijos de Ano-novo. É lindo, delicado e, acima de tudo, é um vinho associado a mulheres. Sempre foi assim. Na famosa declaração do poeta Lord Byron, a única coisa que as mulheres poderiam ser vistas comendo era salada de lagosta e bebendo champanhe[2]. Byron foi um chauvinista impenitente, mas mesmo assim a ideia é deliciosa. Nas primeiras décadas do século XVIII, pouco depois da descoberta do champanhe, a poderosa e voluptuosa Madame de Pompadour[3], amante do rei da França, teve uma frase melhor: “O champanhe é o único vinho que deixa a mulher mais bonita depois de beber.” Diz a lenda que as taças de champanhe, as coupes, foram modeladas nos admirados seios daquela famosa dama. No século XX, sempre foi o vinho perfeito para acompanhar vestidos pretinhos básicos. Ainda evoca as melindrosas da Era do Jazz e a elegância dos antigos filmes de Humphrey Bogart. Um olhar sobre o mercado do champanhe conta, entretanto, uma história bem diferente: nas salas de reuniões e nas adegas, é um mundo masculino. Hoje, poucas são as mulheres em posição de comando na indústria do vinho francês. Apenas uma das casas de elite e renome internacional, conhecidas como grandes marques, é dirigida por mulher: a casa do Champanhe Veuve Clicquot Ponsardin, desde 2001 sob a direção de Madame Cécile Bonnefond[4]. As histórias conhecidas sobre as origens do champanhe nos dizem que os homens sempre controlaram o negócio do vinho. De fato, os entusiastas do champanhe logo aprendem que foi um homem que o descobriu. A história credita a um monge cego do século XVII, com o hoje famoso nome de Dom Pierre Pérignon, a descoberta do segredo das bolhas do champanhe na adega da abadia, encravada numa encosta próxima à cidadezinha de Hautvillers. Segundo a

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