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A transcêndencia do Ego seguido de Consciência de si e Conhecimento de si PDF

68 Pages·1994·7.547 MB·Portuguese
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Entre o público filosófico, Sartre é conhecido basicamentep ela J.-P.SARTRE sua obra capital de 1943, 1, 'Erre ef /e néanr, e pelo ensaio de 1946, intitulado Z,' exfsfencla/ísmee sf zzn/ zzz/nunlsmeS. e tais obras mar- cam o momentoe m que Sartrc adquireu ma personalidadefi losófica com vida própria, definitivamentei dentificadac om o movimento  Transcendênciad o Ego dito«existencialista>>, há porém um acervo de obras anteriores que merecem scr apreciadas pelos seus próprios méritos, independente- sewido de mente da questão de saber se elas estão em continuidade ou ruptura Consciênciad e si e Conhecimentod e si com as teses posteriores do autor. De facto, não considerando as obras menores, Sartre publicou Tradução e Introdução de Pedra M. S. Alces entre 1936 e 1940, para além de l.a Nzzusée( 1938), Z, ./fnzag/naüon (1936), Esquisse d'une fbéorie des émoüons (1939) e 1, 7/n2agilzafre (1940). Mas, pelo vigor da exposição, pela ousadia e pertinência das teses defendidas, pela crítica acerba de algumas das decisões teóri- cas de Husserl conducentes à interpretação da fenomenologia como um Idem/esmo rransce/7denfa/, foi o breve ensaio intitulado Z,a Zra zscendenced e / Ego, escrito em 1934 e publicado em 1936, que impôs imediatamenteS artre como uma das figuras de primeira grandeza do movimento fenomenológico. .& Numa carta a Dorion Caims, de 1941, Gurwitsch dizia conside- rar Sartre <<umd os melhores entre nóp>. Esta apreciação é ainda um eco da relevância de Z,a 71'unscendence de/ 'Ego, que ora se publica Edições Cb/ibrí pela primeira vez em língua porhguesa,j untamentec om uma conferêncdiao ano de 1947,i ntitulada< (Consciendtee soi et UNIVERSALIA coiulaissance de soi>> l t A TRANSCENDENCIA DO EGO SEGUIDO DE CONSCIENCIA DE SI E CONHECIMENTO DE SI TRADUÇAOEINTRODUÇAODE PEDROM . S. ALVES Título original: 1..4 TmSCENDENC'E l)l;L'EGO seguido de CONSC/ENCE DE SO/ ET co/\r?ÜUSS,4NCE DE SO/ Autor: J.-P. Sartre Tradução e Introdução: Pedro M. S. Alvos ©: 1965, Librairie philosophique J. VRIN ©: 1994, Tradução para a Língua Portuguesa de ,4 Transcen(!ência da Ega, Edições CaZlbri Capa: RicardoM oita Execução Gráfica: CoZibri - Artes Gráficas Depósitol egaln ' 74 120/94 ISBN 972-8047-54-1 Tiragem: 2.000 exemplares ÍNDICE IRREFLECTIDO E REFLEXÃO Observações sobre uma tese de Sartre 1. Principialidade e autonomia do ineílectido. 9 11. O problema do Eu transcendental. 12 In. O Eu como estrutura reflexiva. 19 lv. 23 Aporias da reflexão e sua solução a partir da doutrina da Cisão-do-Eu. v. Reflexão e "constituição" do ligo. 28 vl. A origem da reflexão "impura" 32 Vll O Ego psíquico e o Eu transcendental. 38 A'l'RANSCENDENCIA DO EGO Esboço de uma descrição fenomenológica \ - EUE MIM A) TEORIA DA PRESENÇAF ORMAL DO EU 43 B) O COG/TOC OMO CONSCIENCIA REFLEXIVA 49 c) 'TEORIAD A /m7U'SENÇAd4 H7E/Z[4LD O EU[MOl] 55 K - CONSU'lUIÇAO DO EGO A) OS ES7HDOS COMO UNIDADES TRANSCENDENTES DASCONSCIENCLAS. 59 B) CONS'lTITIÇAOD ASdCÇOES. 63 c) AS QUALiDAnES COMO UNIDADES FACULTA'UVAS DOSESTADOS. 63 o) coNS'rn'unção DO EGO COMO pói.o DAS ACçõES, DOSESTADOSEDASQUALIDADES. E) OEUEACONSC]ÊNCIANOCOG/70. 75 CONCLUSÃO 76 CONSCIÊNCIA DE SI E CONHECIMENTO DE SI APRESENTAÇÃO 85 ACTADASESSAO 88 IRREFLEC'LIDO E REFLEXÃO Observações sobre uma tese de Sartre Saga ich "íc/z' l se setze ich damit etwas, was keine comi/arb ist. Edmund Husserl No final da conferência sobre "Consciência de si e conheci- mento de si", que aqui se publica juntamente com o ensaio sobre ,4 Zra/zscendé/zedlao .EÜol , Sartre faz por fim a perguntad ecisiva que decorre necessariamented a sua tese central: por que razão a consciên(iia se narrara/!za, por que razão há nela o esboço de uma natureza?C om estap erguntaé visadaa razãod esseja cto de a consciênciac onstituir a partir de si própria o algo psíquico e de se identificar em seguida com ele, facto que é tanto mais enigmático quanto toda a argumentação desenvolvida por Sartre vai no sentido l Primeira obra filosóülca de Sartre, .4 ZranscePüê/zelad o Eko foi escrita em 1934, ano da sua estadia em Berlim com o propósito de estudar a fenomenolo gia de Husserl, e viria a ser publicada em 1936, nas RecÀerc#esP BÍ/osop;zi- qi/es, 6, 1936/7, págs. 85-12gJO estudo que se segue tem nesta obra o seu tema exclusivo e as tesesu lteriores de Sartre, nomeadamentea partir de l,'Eüe et /e Néa/zz;n ão são aqui tomadas em consideração. X Observaçõess obre uinn tese de Sartre 9 8 Irre$ectido e Reftncão um objecto é justamente essam otivação que leva a consciência a de mostrar que, originariamente, a consciência não diz Ezz,q ue ela, afirmar-se como sendo a ele idêntica, de tal modo que não há, se não é rigorosamente impessoa/, é pelo menospré-pç$soal. neste caso, um primeiro momento de pura estranheza e distância Na verdade,'a tentativa de mostrar que a consciência/ ra/zs- da consciência relativamente a esse objecto que ela acabaria de %onde/zfan/ã o possui uma estruturae gológica,q ue nela üão "habita" nem fomlal nem materialmente um Eliz; é o objectivo constituir, mas um movimento único que é ao mesmo tempo cons- tituição do Ego e projecção da consciência para fora de si própria, último das obras aqui reunidas : em especial, de .4 Triz/zscendê/zcía num impulso que só pode ser descrito como uma sua tendência do .Eko ": e constitui também a sua principal originalidade. Mas para se põr a si mesma sob uma fomia eminentemente/a/sa, por' isscpm esmo, à medida que o carácter pré-pessoa! da cons- que exferíor. ciência vai sendo progressivamente aclarado no seu significado, E justamente por isso que, em Sartre, o problema da constitui- toma-se também cada vez mais enigmático esse movimento pelo ção do .ligo adquire à partida uma conotação é/[ca e aisfe/leia/ que qual a consciência acaba, por fim, por se cristalizar e identificar estava completamente ausente das versões crítica e fenomenoló- com o .Egop síquico que ela própria constitui como um objecto giç4..ç!!.filosofia transcendentajJEsta "saída" da consciência para transcendente. Como entender este movimento? Como entender afora de si ou, para o dizer de outro modo, esta posição excêntrica esta tendência inexorável da consciência para aquilo que que a consciência toma em relação a !i.própria -. como se ela, poderíamosd esignarc omo uma "ontificação", quer dizer, como identificando-se com o consfífuído e -obnubilando~ã sua absoluta um abandono do seu estatuto de pura consciência transcendental jespontaneidade de consciência co/zs/i infe,' se quisesse fixar e constituinte em prol da sua autocompreensãcoo mo um simples jcompreendesr ob a fomla estável e passiva de uma coisa -, esta objecto mundano? falsa representaçãoq ue a consciência cria a respeito de si é, desde O problema com que Sartre aqui se confronta é, bem enten- logo, entendidap or Sartre como um comportamentod e. »ga pe' dido, um problema clássico da filosofia transcendental /aro se/zsu, unte a "vertigem" de uma liberdade excessiva, insuportável, e um problema que já havia sido tratado quer por.Kant quer por jconsequentemente como uma fomla i/zazzfên/ica de consumação da Husserl, autores que são, justamente, os dois interlocutores privi- lsua. relação.a .$i..mesm:!JO que está aqui em questão não é, por legiados de.4 Transce?zdê/leiad o Ego. Mas enquanto que, tanto em conseguinte, a pura e simples descrição da estrutura dos actos Kant como em Husserl, o problema tinha a ver com a passagem do pelos quais o .Ego se constitui.IO que importa sobretudo esclarecer Ego da consciênciat ranscendentaol u da unidadeo riginariamente l é o sígn#cado intrínsecod essem ovimento pelo qual a consciên- sintética da apercepçãop ara o lago empírico, psíquico e psi' l cia, ao se pretender identificar com um objecto, mesmo que este cofísico, a questão de Sartre é simultaneamente mais estranha e Ihe seja dado como ín/!mo, se representaa si própria sob uma mais radical. :Trata-ee'ãe-sabecr omo e porquê uma consciência + l forma .necessariamentefa lsa e inadequada que, em si mesma, não é dotada de qualquer estrutura ecológica, isto é, que não se exprime naprímeíra pessoa - "eu penso" ', mas 'na fomla do !/npessoa/ - "há pensamento -, trata-se de i 1. Principialidade e autonomia do irreflectido saber como e por que razão uma tal consciência pode, em primeiro i Entendamos, porém, o verdadeiro sentido da tese de Sartre. lugar, constituir diante de si um objecto tal como o Ego para, de l Dizer que a consciência não tem Eu, dizer que nela não habita nem seguida, num movimento de que há que extr41Lg slgnifjgdoi-.!g...l formal nem materialmente um Eu, não significa negar que a cons- afirmar.com(t..idêntica a ele, como $e/zdoe li;JNa verdade, nem há ciência seja.s empre consciência de sí e que, numa certa gama de 'aqui sequer dois momentos consecutivos, duas operações justapos' actos, a saber, os actos reflexivos, um Eu não apareça sempre tas, como parecea contecerq uandon os instalamosn o ponto de como aquele obyec/o cuja particularidade consiste precisamente em vista da análise. Aquilo que comandaa constituição do Ego como Irre$ectido e Reflexão Observações sobre uma tese de Sabre é indissociável dele. Trata-se de uma situação que, embora ainda ser posto como szdeíío da consciência.. A consciência é sempre, em cada uma das suas vivências, consciência do objecto que por elas é de uma fomla incipiente, se poderia caracterizar dizendo que, a intencionalmente visado e, simultaneamente, consciência de si este nível, a consciência se sabe atematicamente pe/a e /za cons- ciência do objecto sem que ela própria se tome, por sua vez, tema- Ü)róprjq:jSÓq ue esta consciência de si ainda não se desenvolveu como um acto autónomoq ue ponha a própria vivência como seu ticamente objecto para si própria. Na conferência sobre "Consciência de si e conhecimento de objeq&ITrata-se antes de uma consciência que se consuma inteira- l mente ao nível da relação com o objecto transcendentee que é, pari si", Sartre afimla que este nível irregecrído da vida da consciência, si mesma, incapaz de operar aquela distanciação relativamente a si juntamentec om o tipo de relação de si a si mesmoq ue nele se consuma, é uma descoberta,a sua descoberta decisiva, porque com jque toma possível o acto reflexivo. Ê difícil descrever com absoluto rigor esta consciência de si no ele não é apenas indicado um modo de ser possível da consciência seu verdadeiro teor fenomenológico. E é difícil porque a tendência ao lado de tantos outros, mas antes aquela fomla primitiva e fun- natural da análise consiste em dissociar os aspectos diversificados, dante a partir da qual qualquer teoria da consciência deve ser cons- .truíd4:jO nível irreflectido é, assim, guindado à posição de uma que entram na composição de um acto único, como se eles cones- pondessem a outros tantos actos diferenciados e independentes. forma canónica e absolutamentea utónoma. E esta tese da princi- Em particular, a tendência para descrever a composição do acto pialidade e da autonomia do nível "irreflectido tem, na verdade, intencional como se nele houvesse duas direcções do olhar, uma alguma plausibilidade. .tela pemlite, nomeadamente, resolver o que se dirigiria para o objecto e outra que atentaria na própria problema clássico da regressão ao inÉ/zífo que está .supostamente .bnvolvid&.eln.todasq.u 41quç!..ÇQn$çlêdnec isai . E que, se não vivência intencional, é a fonte de contra-sensosq ue alteram com: pletamente o verdadeiro sentido do fenómeno em questão.j1Oa cto operamlos a distinção entre consciência atemática ou não-tética de Tíntencional não é, por assim dizer, biHro/z/e=e le não olha o objecto si e reflexão, ou consciência fálica de si mesmo, toma-se então transcendentee , ao mesmo tempo, a consciência do objecto, como impossívelc ompreenderc omo é que algumav ez algo como uma se ele realizasse essa façanha impossível.de, simultaneamente, consciência de si se pode efectivar. E isto porque, se consciência olhar e se ver a olhar.INeste sentido, não há aqui qualquer com- de si significassej á um estar em face de si como objecto de um posição,q ualquer possibilidade de dissociar momentos diferencia- acto de reflexão, então o próprio acto reflexivo, na exacta medida dos A vivência é; ao contrário,"üm' acto que se esgota'tombReta: em que é consciênciad e um objecto que Ihe faz face mas não mente na consciência do objecto intencional que se Ihe depara ainda consciência reflexiva de si mesmo, seria novamente um acto coma..Bão.ge/zdo.e14q=ujOe acontecea qui é que a consciências e ineflectido que exigiria uma outra reflexão dotada da mesma põe nessea cto como consciência( ãoo bjecto, isto é, como aquele estrutura e assim sucessivamente, de tal modo que a completa aliso/lz/o face ao qual o objecto é reZarít'o. A consciência põe-se consciência de si exigiria um número infinito de condições para se consumar.O eno fundamental desta teoria da consciênciac onsiste como centro e o objecto só é algo visado pela consciência porque é ao mesmo tempo algopara a opor a consciência. obviamentee m identificar sem mais autoconsciênciae reflexão, Ora é isto mesmoq ue implica a necessáriap resençad e uma não vendo que, no seio da vivência irreflectida, se consumaj á um consciência de si na consciência do objecto transcendente, sem que saber atemático de si que é independente e autónomo relativamen- essa consciência de si signifique já uma azz/o-ob#ecrivação. Na te à consciência reflexiva. A consciência sabe-se sempre a si verdade, dizer que a consciência se põe como centro não significa mesma, sem que, por assim dizer, possa dar já "um passo atrás" ainda dizer que a consciência se visa teticamente a si mesma nessa para se surpreender, para se observar observando. Ela lê-se, decifra sua posição central absoluta. O seu saber de si é ainda um "saber" os sinais de si própria nos objectos de que ela é precisamente consciência, sem que isto signifique, porém, uma qualquer opera' que se dá juntamente com o saber do objecto que Ihe faz face e que l /2 Irreflectido e Re$exão Observações sobre uma tese de Sartre /3 ção hermenêutica de interpretação. O saber do mundo não é, para perspectiva, na seguinte intenogaçãg: .como entender que a multi- ela, um saber ciÊ.ado acerca de si própria.Í O que acontece êiiã-l plicidade das vivências, que se dá sob a forma de um fluxo inces- sante de consciências irreflectidas de objecto, se reuniria na plesmente é que ela se sabe como uma aísrê/zela aliso/zzfa, comol uma/Opereq ue se põe espontaneamentee face à qual tudo o mais é unidade de uma só consciência se não fosse suposto um princípio superior que, imanente ao fluxo mas extravasando-o a cada momen- relativo, sem que, no entanto, esse saber se possa articulara explícita e autonomamentef ace ao seu saber dos objectos. Diga-l to, operasse aquela síntese suprema pela qual a corrente sempre em mos com Sartre que, aqui, <<ac onsciênciaé pura e simplesmentel aberto das vivências pode ser compreendida /zo i/z/Criar dos limites co/zscíê/zelad e ser co/zscíé/leia (b ob#ec/o - é essa a !ei da.dual de uma unidade que, justamente, não passa,.nãof lui, mas perma' P existência». Lnece sempre presente e idêntica a si inesiBg1lPois unificar as cons- Ora nesta consciência, que é já uma consciência de si, não há ciências numa consciência una e única não significa que, factual- mente,u ma consciências e una a outra do ponto de vista do seu ainda no entanto consciência de um Zlzz.P ara retomar o exemplo de ,4 Zra/zscendéncíad o Ego, quando estou absorto na leitura de um oblec/o e esta ainda a uma outra, ta] como a minha consciência perceptivaa ctuald e Paulo se liga à recordaçãod e o ter visto romance, há então consciência das personagens,d o enredo, do que, ontem; unificação significa antes que, por princípio, o fluxo "naquele momento", se está a passar, mas não há ao mesmo tempo consciência de um Eu.'0 Eu está completamente ausente da cona-i sempre em aberto das vivências, que não pode nunca ser dado na ciência irreflectida e o tipo de consciênciad e si que a caracteriza sua totalidade como objecto para uma consciência particular, está à par/ída e qzza/qzzeqr ue sda o sezz/ eor efec/it'o subjectivamente deve, por..isso, ser cuidadosamente distinguido..da consciências reflexiva. unificado sob a forma de um comi/o u/zíversa/,d e um «eu penso» que abarcae m si o conjunto da vida intencional presente, passada efutura da consciência. 11.0 problema do Eu transcendental. Se este argumento fosse de facto a razão decisiva para a afir- Mas pode significar isto que a consciência, não tendo Eu, não mação husserliana de um Eu transcendental, então as objecções de tem por isso nem unidade nem individualidade? Significa isto que Sartre seriam realmente incontornáveis. E que, considerando as há tantas consciências em si mesmas diferentes e irredutíveis quan- coisas deste ponto de vista, a unidade da consciência cifrar-se-ia tos os objectos que a cada momento se Ihe deparam? Significa isto na apreensão de uma presença contínua e invariável por detrás de também que a consciência, não podendo dizer Eu porque nada cada vivência e o Eu ver-se-ia, assim, reduzido à categoria de um como um Eu é aí um objecto para ela, não se pode reconhecer puro suas/raro que estaria como que "no fundo" da consciência, como es/a consciência, quer dizer, como sendo rigorosamente í/zdi - .numa zona ambígua que poderia ser indiferentementec aracteri- vidüaZ? E com a discussão deste ponto prediz) que o ensaio sobre zada como de máxima i/zreríoridade ou de máxima are/"ioridade. ,4 Transce/zdé/leia do Ego abre. E é também na crítica à "ficção" Na verdade, transportar o Eu para o fluxo das vivências, afirmar husserlianad e um Eu transcende/zfac/o mo estruturaú ltima da que ele é algo que se apreende a/ral.'és de tal fluxo -como estando consciência que se encontra o ponto mais po]émico e questionável para /á dele, é fazer do Eu uma unidade /zoemáficqel não uma da tese de Sartre, porque, aqui como em tantos outros lugares, uma dimensão noética da consciência, é, por conseguinte,.f azer dele um aparenteo bservânciae strita do que é a letra do ensinamentod e ob#ec/op ara a consciênciaq ue, paradoxalmentes, e Ihe daria ao Husserl vai a par com uma efectiva incompreensão do seu autênti- mesmo tempo como o que Ihe é mais interior. E esta situação con- co significado. traditória do Eu nas suasr elações com a consciência -- ao mesmo Ouçamos as razões de Sartre. O ponto crucial da argumentação tempo dentro e fora, ou numa interioridade radicia] que se con- a favor da admissão de um Eu transcendental condensa-se,n a sua fundiria com a pura e simples exterioridade - que está na base dc /4 irreflectido e Repelão Observações sobre uma tese de Sartre várias doutrinas históricas, nomeadamentea visão agostiniana de que é uma estrutura imanente da consciência irreflectida, signifi- Deus como inferior ínfimo meo ou a continuidade cartesiana entre que imediatamente consciência de um Eu ao qual as vivênciasper- o conhecimento do egó e o conhecimento de Deus. Não se trata lepzcemA. consciência é uma totalidade sintética fechada, que não aqui, bem entendido, da descobertad e uma propriedade pêtuliar, pode ser limitada senão por si própria. A consciência ineflectida não tem exterior, no sentido de existir uma outra consciência que autêntica, do Eu e do conhecimento que sobre ele versa. A possibi- lidade desta dialéctica que converte a máxima interioridade em estaria face a ela e que a delimitada. Ela não pode tomar sobre si o máxima exterioridade é, no fundo, apenas a expressão do carácter ponto de vista de um otzrro, de modo a poder aparecer diante de si contraditório e insustentável do conceito de um Eu como estrutura própria como um objecto que se pudesse circunscrever e apreender última da consciência absoluta. de fora..iE isto é assim porque uma tal coisa significaria que ela se Além disso,e é aqui que entramosp ropriamentnea tesed e poderia relativizar, abandonandoo seu estatuto de consciência constituinted o mundo paras e põr no interior do mundo como um Sartre, este Eu que pairaria numa zona ambígua, susceptível de ser contraditoriamente determinada, não cumpre de modo nenhum a objecto que está face a outros objectos do mesmo tipo, quer dizer, função de princípio unificador e individualizados.l A consciência a outros eus. Ou melhor, ela pode fazê-lo e fá-lo efectivamente. SÓ unifica-se no objecto visado - a unidade das múltiplas consciên- que, a partir daí, entramosn o domínio d41consciênciare flexiva, cias pelas quais adiciono dois mais dois é a verdade ideal "dois cuja peculiaridade é precisamente constituir apslqae como o objec- mais dois igual a quatro". E se alguém observasse que esse to a que a consciênciaper/elzce, sem que ela própria sqa porém.a consciência. objecto, sendo constituído pela consciência, não pode sem circu- Mas se nos mantivemlos no âmbito estrito da consciência laridade ser posto como princípio da sua unificação, não diria com isso nada de decisivo contra o bem fundado desta tese, porque o irreflectida, verificamos que suprimimos também com isso a pos' fluxo subjectivo das vivências contém em si mesmo uma fomia de sibilidade do acto que converte a consciência em objecto porque, auto-unificação temporal - a estrutura retencional e protencional aqui, exploramos a consciênciat al como ela é an/es de o acto reflexivo ocorrer. E este "antes" não deve ser entendido apenas no do presente e a recordação e expectativa que sobre ela se funda -, de tal modo que a unidade noemática "dois mais dois igual a qua- sentido de uma precedência temporal. Ele significa sim a autono- tro" aparece como o resultado do próprio processo de auto-unifi- mia e independênciad e princípio do irreflectido relativamenteà cação da consciência no tempo. A consciência unifica-se sob a .r.ef]exão:fora o que é característico deste nível primário da cons- ciência é o facto de as vivências não se apresentaremn em como fomla de um fluxo contínuo e o resultado dessa unificação é pre- cisamente a constituição do objecto na sua identidade, coisa que vivências "de qualquer um" nem como "minhas" vivências, np Husserl, aliás, reconheceu quando falou, nas Z,ições, de uma sentido da sua pertença a um EuJNo primeiro caso, a consciência intencionalidade /o/zgíüdi/za/ e de uma intencionalidade /ransver- converter-se-ia numa consciência genérica, numa consciência quc sa/ como dimensões constitutivas do fluxo da consciência. seria de todos e de ninguém, a qual é justamente a ilusão de certos O carácter supérfluo do recurso a um Eu transcendental é neo-kantianos e da teoria do Bewzzss/sair über/zazzpf do próprio igualmente visível quandos e trata do problema da individualidade. Kant dos Pro/egóme/zos. No segundo caso, ela transformar-se-ia na consciência de um Eu que poderia simultaneamente dizer a seu Aparentemente, é difícil entender como é que se pode aHimlar que a consciência se compreende como individual, como sendo esta e propósito: a consciência é mí/zAa, mas eu /zão sou a consciência. não ozzrra,q uando se pretende também coarctar-lhé' a possibilidade Ora a consciência não é nem relativa a um objecto ou quase- de exprimir tal individualidade ao dizer de si própria: "esta mesma -objecto denominado "Eu" (mas um aliso/zz/o que se põe a si mes- consciência que eu sou::Mas o erro consiste em pensar que indi- mo) nem uma consciência genérica e sem efectividade (mas uma vidualidade signifique eo Oso egoidade,q ue a consciência de si, consciênciaq ue se sabe, que tem consciência de que é, de que /7 16 Irre$ectido e Rede)cão Observa ções sobre uma tese de Sartre aísfe)s Estas duas notas da inelatividade e da não-generalidade cional de si e da projecçãop ara diante a partir do que Ihe é pre- definem pela negativa a característicam ais basilar da consciência sente por meio dessa autoconservação retencional.. Ao projectar-se irreflectida: o facto de ser uma consciência de sí, e não uma cons- para diante mantendo uma continuidade como o seu passado ime- ciência em geral, incapaz de se saber a si mesma; o facto de ser diato, a consciência obtém assim uma ligação contínua de todas as consciência de obÜeciose não um objecto que possa ser dado, ele fases do seu desenvolvimenttoe mporal,d e tal modo que a próprio, a uma consciência,u m El!:lona uma consciênciaq ue se mesmidade de estilo e de ponto de vista, que eram precisamente as sabe a si própria, que tem consciência da sua existência, e que sabe notas da sua individualidade, se vêem por essav ia também asse- ao mesmo tempo que essae xistência não é o subsistir inerte de guradas. uma coisa, mas uma espontaneidadeq ue se põe a si própria ao pâr Mas o que é mais grave na suposição de que o Eu é a estrutura diante de si o objecto, uma consciência desta natureza é justamente última da consciêncian em é o facto de se tentar dar com ele uma uma consciência que se compreende como aliso/ufa e como ílzdivi- explicação supérflua, e também falsa, para algo que a análise da dzza/,s e bem que não se compreendad e modo nenhum como a consciência do tempo pode por si só explicar. O que é mais grave consciênciadezumz!/zdivídüo. nesta concepçãoé o facto de ela entrar em choque com o próprio Se se objectarq ue é contraditório supor que um absoluto se princípio da l/zfe/zciolza/idadee representaru m verdadeiro obstá- pode individualizar, porque isso seria admitir de algum modo que culo para a sua compreensãof'A intencionalidade significa que a ele poderia particularizar o seu ponto de vista e, portanto, destruir consciênciaé um movimento centrífugo de projecção para o exte- a sua absolutez, responder-se-á muito simplesmente que se está a rior - "ela apreende-see scapando-se" e é precisamente porque ela utilizar uma compreensãoim própria do conceito de individuali- é essem ovimento de extravasamento constante que a consciência dade que acabámosd e definir. Dizer que algo pode ser ao mesmo irreflectida de si se apresenta sob a forma de uma consciência.4e tempo absoluto e individual, ou melhor, dizer que a consciência se ser consciência de object(Ü Ora põr um Eu por detrás do acto inten- pode pâr simultaneamenteco mo absolutae como individual, não cional, como sua origem, implica duas coisas. Em primeiro lugar, significa dizer que a consciência se pode apreender contraditoria- implica que a consciência perde a sua esmo/zraneÍdadeC. ada acto mente comcl.absolutae como relativa, como necessáriae como scu deixa dc poder scr visto como uma continuada autocriação no contingente. eK individualidade significa outrossim que ela se sabe tempo, como uma perpétua livre reinvenção de si por si mesma, como esta consciência mesma, qzzeé assim e /zão de ozzrram aneira. para passara scr entendido como uma emanação de um estado que na qual oconem estas e aquelasc oisas e não outras totalmente subsistiria já como propriedade de um Eu e que estaria, por isso diferentesq ue alterariama sua identidade.E estaj acficidade que mesmo, antecipadamente determinado. Em segundo lugar, a cons- pemlite compreenderc omo pode a consciênciaa Himlar-sec omo ciência, ao perder a sua espontaneidadeo,u melhor, ao ver a sua espontaneidade degradar-sc na ideia de emanação, perderia tam- um absoluto que não tem exterior e introduzir ao mesmot empo bém a //a/zs/ cidez que caracterizariaa sua relaçãoa si. Se nada uma certa relatividade e contingência no seu próprio seio, apreen' pré-determina a consciência, se nada está por detrás do acto como dando-se como uma consciência cuja vida decorre segundo uma se fosse um fundo do qual ele emana, então a consciência é abso- unidade de estilo e de ponto de vista peculiares, unidade que pode- lutamentec lara na sua relaçãoa si: ela é consciênciad o acto em ria ser também de uma outra maneira, caso em que ela seria justa- que se efectiva a sua relação ao objecto e isso é /udo o qae e/a é, mente ourraJ nada nela fica de fora, nada fica por detrás, numa zona obscura e JO que faz a individualidaded a consciênciéa, assim,a quilo impenetrável.M as se, pelo contrário, pomos um Eu na consciên- mesmo que fazia a sua unidade, a saber, a síntese re/nporaZ. Efec- cia, introduzimos nela aquilo que Sartre justamente designa como tivamente, o que pemiite à consciênciac ompreender-sec omo um "centro de opacidade". Com efeito, este Eu dar-se-ia como individual é o facto de ela viver sob a fobia da recuperação rctcn-

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