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A Tragédia dos Romanov PDF

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Sem ser cruel – ao contrário, sendo essencialmente bom e amável – Nicolau II promoveu bárbaras carnificinas e iniquidades indefensáveis em um reinado acéfalo e predominantemente caótico, e entra para a História como um czar sanguinário. Suas inegáveis virtudes pessoais (amor à pátria, lealdade, dedicação à família, senso de honra e de dever, temperamento amável e completa devoção a Alexandra, o amor de sua vida) não contri- buíram para torná-lo um bom czar, e ainda menos um grande czar. Para a História, suas boas intenções e as qualidades morais que o distinguiam em sua vida privada são acessórios secundários, obliterados por seus atos e omissões no exercício de sua vida pública. Alexandra, a imperatriz mais odiada de todos os tempos, é musa e coautora de tragédias pessoais e coletivas, e a primeira de uma longa série de escolhas insalubres deste homem banal e infortunado. Dramas e catástrofes Nicolau e Alexandra enfrentariam unidos, perplexos e resignados ao que consideravam a inexorabilidade do destino ou a vontade de Deus. Chegada a sua hora, Rasputin surge-lhes, terrível e maravilhoso, repelente e irresistível, personificando as “forças obscuras” que infectavam o trono. Íncubo que aceleraria a destruição do Império e o trágico fim dos Romanov, para a Rússia, Rasputin era a encarnação do demônio; para Nicolau e Alexandra, a resposta a todas as suas preces. Juntos, Nicolau e Alexandra resistiriam com cega pertinácia aos conselhos de amigos, parentes e servidores capazes e fiéis, aos apelos da razão, ao acúmulo das evidências de seus desacertos e aos anúncios da catástrofe que se delineava, e nada os salvaria de si mesmos. Até o fim, jamais compreenderiam o que lhes acontecera, o que fizeram a si próprios, à sua família, à dinastia e à Rússia. Alexandra limitar-se-ia a ruminar seu rancor pela traição de todos e a cultivar seu orgulho e mau humor, que o D R A G O E D I T O R I A L 13 M Á R C I A S A R C I N E L L I tempo e as intempéries conseguiriam exacerbar. Nicolau apegar-se-ia a um fatalismo que o absolvia de culpas e erros e o eximia de autocrítica. Talvez, como observa o historiador Robert Massie em “Nicholas and Alexandra”, não seja justo equiparar Nicolau II a seus grandiosos ancestrais, pois seria impossível determinar como eles teriam reagido às pressões que Nicolau sofreu e aos cataclismos que o aguardavam na aurora de um século convulso. Por outro lado, ao compará-lo a seus contempo- râneos nos tronos da Europa (os reis Eduardo VII e Jorge V, o Kaiser Guilherme II e o Imperador Francisco José), verifica-se que a mesma catástrofe que catapultou os Romanov do trono russo destituiu Guilherme II e Francisco José de seus impérios. Quanto a Eduardo VII e Jorge V (respectivamente tio e primo de Nicolau), suas virtudes e temperamentos eram muito semelhantes àqueles do último czar. Na Inglaterra, onde era necessário apenas que o soberano fosse um bom homem para ser um bom rei, o autocrata tão execrado provavelmente teria sido um monarca exemplar. Nicolau II era um homem do século XIX lançado no turbilhão de acontecimentos dramáticos e ideias radicais que caracterizaram o século XX, no qual foi obrigado a reinar e cujas dimensões não foi capaz de apreender. Por sua incapacidade de adaptar-se aos novos tempos e às suas necessidades, o último czar viu esfacelar-se o mundo que conhecia e amava e assistiu perplexo à ruína de seu Império. Um homem comum com uma missão extraordinária, estava condenado a decepcionar sucessivamente, porque seu destino era muito maior do que ele, e esmagou-o. Por estar tão aquém de desempenhar a função a que se via fadado por um decreto divino, Nicolau II condena à extinção o próprio conceito desta função na História da humanidade. Decididamente, Nicolau II não foi um grande homem. Mas a sua é uma grande história e merece ser contada. 14 D R A G O E D I T O R I A L I “De vós, milhões existem; De nós – enxames e enxames e enxames. Tentai lutar contra nós. Sim, nós somos os citas; asiáticos, sim De olhos oblíquos e cúpidos ...Oh, velho mundo A Rússia é uma esfinge. Na alegria e na dor E jorrando sangue negro Ela te inquire, inquire, inquire Com ódio e com amor...” (A. Blok, “Os Citas”) M Á R C I A S A R C I N E L L I A HERANÇA POLÍTICA DE NICOLAU II “É o jugo de Gêngis Khan que até hoje desonra a alma do povo sobre o qual se abateu.” (K. Marx) Desde que começaram a penetrar as florestas e estepes russas, a partir do século VI, os eslavos estavam habituados à constante ameaça representada por povos nômades belicosos. Nada, entretanto, preparara-os para a invasão dos mongóis no inverno de 1236-7, a única invasão bem-su- cedida da Rússia durante o inverno em toda a história. Seu aparecimento, “como uma escuridão perseguida por uma nuvem”, causou um choque ainda não completamente eliminado da consciência coletiva do povo russo, um impacto moral e espiritual sem par na história do país. Proclamado “Altíssimo Senhor” dos povos mongóis, turcos e tártaros, Gêngis Kahn (1167-1227 circa) reunira os povos das estepes e lançara-se à conquista do mundo. O “flagelo de Deus” submeteu sem piedade e “sem descer da sela” um império que se estendia da China Setentrional ao Mar Negro. Seus descendentes continuariam sua missão de “Soberano do Universo” tomando e arrasando Bagdá, onde massacraram 100.000 habitantes, chegando à Palestina, ainda ocupada pelos cruzados, ao norte da Índia e à Europa Central. O enorme exército liderado por Batu, o neto de Gêngis Khan que herdara “todos os territórios do Império Global Mongol na direção do sol poente”, representava uma poderosíssima força militar incomparável na época, e penetrou a floresta russa massacrando, queimando e pilhando cidades e vilas. Este ramo do Império Mongol era conhecido como a Horda de Ouro e era uma visão infernal: milhares de cavaleiros portando lanças, sabres, adagas, arcos e escudos, que galopavam a uma incrível velocidade em todas as direções como uma nuvem de gafanhotos e que quase nunca desmontavam. Os guerreiros comiam sobre as selas, sob as quais mantinham provisões de carne crua temperada com alho e cebola (sua contribuição à culinária internacional); suas tendas eram facilmente montadas e erguidas quando levantavam acampamento e com igual facilidade transportadas na garupa dos cavalos. Cada guerreiro mongol possuía até quatro cavalos, e um mongol montado era uma força colossal. Depois de lançar sobre seus adversários uma chuva de flechas que escureciam o dia e perfuravam armaduras, a cavalaria mongol atirava-se sobre os sobreviventes com lanças e foices. Durante os cercos, os guerreiros costumavam catapultar 16 D R A G O E D I T O R I A L A T R A G É D I A D O S R O M A N O V cadáveres, além de pedras, para dentro das fortalezas inimigas. Marco Polo escreveria sobre os mongóis em suas “Viagens”: “Eles nunca combatem de maneira previsível, mas circulam incessantemente enquanto disparam contra o inimigo. E como não consideram desonra fugir de uma batalha, às vezes fingem fazê-lo e, ao se afastarem, viram-se sobre a sela e... lutam como se estivessem cara a cara com o inimigo, devido à grande quantidade de flechas que lançam na direção de seus perseguidores, que já se consideravam vencedores.” A dinâmica de combate dos incomparáveis guerreiros mongóis (importância do elemento surpresa, ataque aos flancos do inimigo e em todas as direções ao mesmo tempo, cerco, fuga simulada etc.) aliada às técnicas apreendidas dos chineses (artilharia e técnicas de assédio) inspiraria a Blitzkrieg (Guerra-Relâmpago) de Hitler, na II Guerra Mundial. Depois de reduzir Kiev a cinzas, os invasores seguiram em direção ao Oeste. Teriam conquistado toda a Europa se em 1242, quando o continente parecia à mercê do terror mongol, a notícia da morte do Grande Khan não os levasse de volta à Mongólia, para não mais voltar. A esta altura, o imenso Império Mongol estendia-se do Japão à Hungria. Todo o Nordeste da Rússia e Novgorod tornaram-se estados tributários da Horda de Ouro, cujo centro situava-se em Sarai, no Baixo Volga. Na verdade, o exército invasor era liderado pelos mongóis, mas constituía-se em sua maioria de povos de origem turca, conhecidos como tártaros. Os mongóis não estavam interessados em terras e, ao invés de ocupar os territórios conquistados como haviam feito na China e no Irã, países bem mais ricos e civilizados do que a Rússia, impuseram-lhe tributos a serem pagos em moeda e recrutas. Todas as cidades eram forçadas a abrigar oficiais mongóis e suas guardas armadas, cuja função era coletar impostos, selecionar e enviar recrutas (especialmente crianças) e salvaguardar os interesses do Khan. Nenhuma força os detinha ou impedia que cometessem todo o tipo de atrocidades contra a população refém, e as crônicas russas da época relatam profusamente as barbaridades perpetradas por eles. Em raras ocasiões a população se rebelava, e sua insubordinação era invariavelmente punida de forma brutal. Seria, entretanto, um erro pensar nos mongóis e tártaros da Horda de Ouro simplesmente como uma malta de bárbaros sanguinários. À época, eles eram, sob todos os aspectos, culturalmente superiores aos russos. Como demonstrariam eloquentemente alemães e japoneses durante a II Guerra, povos altamente civilizados tendem a comportar-se de maneira D R A G O E D I T O R I A L 17 M Á R C I A S A R C I N E L L I odiosa em território conquistado. Quanto maior a diferença cultural entre conquistador e conquistado, maior a possibilidade de encarar suas vítimas como sub-humanas e de tratá-las como tal. O Khan mongol tornou-se o primeiro soberano incontestável da Rússia, referido como o Czar (ou César), título até então reservado ao Imperador de Bizâncio. Vigiados pelos agentes mongóis, os príncipes russos eram obrigados a agir contra seus próprios interesses e sobretudo contra seus próprios súditos, arrancando da população os tributos em moedas e recrutas exigidos pelos invasores. Ao menor sinal de desobe- diência eram punidos, muitas vezes com a morte. Com o passar do tempo, uma espécie de seleção natural determinaria que apenas os mais cruéis e oportunistas dentre os príncipes sobrevivessem, e a “colaboração” passou a ser a maior virtude política russa. O domínio mongol na Rússia deixaria marcas profundas e sequelas políticas perversas. Os russos absorveram dos mongóis a concepção política que limita as funções do Estado à coleta de impostos e à manutenção da ordem, eximindo-o de qualquer responsabilidade pelo bem-estar público. O isolamento dos príncipes de seus súditos (que sempre fora uma tendência dos príncipes russos) foi agravado pela influência mongol, tornando-os ainda menos conscientes de suas responsabilidades políticas e mais ambiciosos e predatórios. Acostumou-os, também, assim como a toda a população, a encarar toda autoridade como arbitrária. Ao príncipe, por qualquer tipo de infração ou ao menor sinal de agitação popular, bastava ameaçar chamar os mongóis (como mais tarde chamariam os cossacos), para garantir obediência instantânea, prática que logo se tornaria um hábito. A vida na Rússia foi extremamente brutalizada pela convivência com o invasor violento e rapace. A pena de morte, por exemplo, foi introduzida no código penal russo pelos mongóis, assim como práticas punitivas cruéis, como a tortura e a mutilação. O chicote também foi um legado tártaro. A ideia de que o Estado é basicamente arbitrário e iníquo e de que é preciso obedecê-lo e submeter-se simplesmente porque ele é forte passaria a integrar definitivamente a mentalidade russa. As caracte- rísticas do desenvolvimento interno do Estado – o abismo que separa a autoridade política da sociedade e o modelo patrimonial de governo – devem igualmente à Horda de Ouro e aos cerca de dois séculos de domínio mongol, as suas sementes. Uma excelente análise da influência tártaro-mongol sobre o regime e a psicologia do povo russo é apresentada pelo diplomata francês Marquês de Custine em seu famoso relato de viagem à Rússia: 18 D R A G O E D I T O R I A L

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