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A Sociedade Refletida PDF

107 Pages·1992·32.825 MB·Portuguese
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A Sociedade Refletida cclu(: Fbntes editorap udc.,op Eric Landowski A Sociedade Refletida Ensaios de Sociossemiótica Tradu çüo Eduardo Bran düo Revisã o Técnica da Tradu ção Lineide do Lago Salvador Mosca lrenilde Pereira dos Santos EDUÇ EDITORA DA PONT!f'ÍCIA UNIVERS IDADE CATÓLI CA PUC-SP ~o~~u~ fbntes Reitora: Lcila Barbara \!ire l?eitor Acadêmiro: Marcos Tarciso Mascllo Conselho Edilorial: Ana Maria Rapassi, Bcrnadclle A. Sao Paulo c;aui. Edic Caetano, llolicn Gonçalves Bcicrra, Lúcia 1992 ,\11111·l,la, Marcos Tarciso Mascllo (presidente), Maria '\11,1>1111 d1e Abreu Sampaio Leme, Onésimo de Oliveira '111ol1,111, l'hilad clpho Meneies, Scipio nc de Picrro Nc- 111, l 111111( 'l'lon:1 de Arruda Alvin Pinto C '11111h>g1ç1no na Fonte - Diblioteca Ccntral/PUC-SP 1 ,1111l11WN~1. hlll' /1 No1·1,·dndc refletida : ensaios de sociosse miótica / Eric Landowski . - ~nu 1'1111111: liDUC/Pontcs, 1992. i 1 1 p. ; 23 cm. -(Scmeion) ll1hl1ografia. ISIIN (EDUC) 85-283-0048-X IS IIN (Pontes) 85-7113-076-0 1. Rclaçílo social. 2. Semiótica -ensaios. 1. Série. II. Título. coo 149.946 302.3 Títu lo Origina l La Société Réfléchie Essais de Socio-Sémiolique © 1989, Éditions du Seuil l'lc l.il 10 Todos os direitos reservados 1111r1nlw;,lo Todos os dircitor de reprodução , divulgação e tradução s1io reservados . Nenhuma parte desta obra poderá ser 111 11111li•11 Pnrtc: Construção repro duzida por fotocó pia, microfilme ou por outro proces so fotomec.inico. Al'l'l' ULO I A Opinião pública e seus porta-vozes Al'l'l' ULO II Continuidad e e descontinuidade: viver sua geração Al'l'l' ULO III Urna abordagem semiótica e narrativa do direito 11>11(' Editora da PUC-SP Pontes Editores ll1u·1<11 Editorial Gerente Editorial •• 1111111111P nrtc: Encenaçã o l'hl/f/1frlpho il/ enezes Ernesto Guimarães Al'ITULO IV Jogos ópticos: situações e posições de comunica ção t ,.,,11(1·11:1odr Editorial Rua Maria Monteiro, 1635 1111 APITULO V Encenação publicitária de algumas relações sociais / 1,1111/l n \la/verde CEP 13025-152 -Campinas -SP 11 1 /\l'ITULO VI Uma semiótica do cotidiano (Le Monde, Libération) Fonc/Fax: (0192) 52-6661 1 ''I'" 52-601] 1 I 1"/\ l1ÍTULO VII Sobre duas formas de sociab ilidade 11111 ,1/y l 1,, 1•li a Pnrtc: Interação 1(, \ """ 1/,11/ 11 \/:/111 //rum l.emos 1 11 1 Al'ITULO VIII Algumas condições semióticas da intera ção H111, 1\1111111• Alegre, 984 1 1 1 Al'IT ULO IX Since ridade, confiança e intersubjetividade 111e I 1l i !1 I > 1'1 11 )11 e1, 1l '1O1l1 0~1 1O- SP 1t 1 'Al'IT ULO X Simulacros em construção 111 1 'Al'ITULO XI Explorações estratégicas 1 1 1 'Al'IT ULO XII Figuras de autoridade 1 'I >NC'LUSÃO Rumo ao discurso político (11 ll1hl1oi11,ll1a 1'11·1'.u·ioà edição brasileira -\ l11,1:11!a,!em, dizem, serve para comunicar e para se fazer compreender. O "''s 11111d,11 linhas talvez disso nunca duvidasse se, entre os amigos estrangeiros 11 111m1 q11,1iss e "comunica", não se achasse um cidadão britânico. Como se pode 1ill\ 11111,e1i1s, uma experiência que não se vive sem uma dose de inesperado. 11•1111.trde eu, é claro, nos entendemos iís maravilhas. De fato, nós nos 11111111·1,1 H>Sjá f'az tanto tempo que, entre nós, nada, ou quase nada, precisa ser dito 1 , 11111I odas as letras. Por meias palavras, nos compreendemos. Felizmente quanto 111 111.s1,1 porque quando ocorre a necessidade - aliús rara - de nos explicar, isto d1• , h.11nara s coisas pelos nomes, cada vez descobrimos com o mesmo assombro 1 q111 ,1s 11ossasd uas línguas de modo nenhum se compreendem entrt si. Por curioso ·"º· 11 .,s coisas - os objetos, as noções, as idéias, os sentimentos, os suben1endi d11, p11naiss ão as mesmas, ou antes, jamais têm o mesmo sentido dos dois lados d11< ,11,t1l da Mancha. Daí que, no final, nos compreendemos muito melhor fazendo, d, ,11111lsa as partes, a maior economia possível da língua. É assim que a nossa 1111,1td1e, como muitos outros assuntos ainda mais importantes no domínio das 11l .t\ 1ws lraneo-brit ânicas, fica, e deve ficar, implícita. O português e o francês, ao contr[nio, são por felicidade - por milagre? - d11,1s l11g111asq ue se compreendem uma a outra, como que indcpcndendo dos que as 11lil11,1ill. Pode-se falar! Como resullado, a amizade torna-se imediatamente mais , p.11s11va, sem limites a priori e, por assim dizer, "natural". l)l'vc ser por isso que muitos pesquisadores franceses, inclusive alguns sc- 1111111lS1tla s, ficam com a impressão (ou serú somente uma ilusão?) de que eles se 11 h.111d1e certo modo "cm casa", nas terras de língua portuguesa , desde a margem cio ll' 10 até as do Tietê e do Araguaia - e de que, por mais estranha que seja a 111.1'1h1a ele sua pesquisa, seus discursos não serão recebidos aí como inteiramente 1 11,11g1ciros. Tal é de fato nosso desejo mais vivo no momento da publicação desse liv10 1 111p o1l uguês. Pois, de que valeria uma tradução que, ao mesmo tempo, n,1od 1·s"' h sll'munho de uma afinidade, de uma cumplicidade entre universos de disruis11·1 Eric Landowski Paris, 7 de setemll10 111l' 'l'I' l l a•c,clu ção II < > dtsnnso, no âmbito dos estudos políticos, é paradoxalmente um objeto q111 , 11ovo. N,1o que os politólogos se tenham desinteressado de estudar os textos; 111111111!,1f1oiio ,a partir da leitura e da interpretação dos grandes escritos políticos q111 1 lo1111arama lguns dos ramos principais da disciplina - filosofia política, lil 11111d,a1s idéias políticas e, mais recentemente, análise das ideologias. Se, hoje, 11, 11l1lo s de um grande número de pesquisadores, a ciência política, considerada I' 11h 11t1cgrante da sociologia, tornou-se prioritariamente uma abordagem dos , 11111ploam1 entos e das atitudes, a análise das representações que comandam essas 1tlt11d1·psa ssa, por sua vez, pela decriptação e pela interpretação de certos tipos d1 h ,los. Portanto, não seria de espantar que, ao longo de toda a história da sua d1 , ipl111ao, s especialistas do político tenham estado atentos aos desenvolvimentos d11 q11l' podemos chamar globalmente de ciências da linguagem e do texto - 111 111,1 a , lógica, hermenêutica etc. Menos que nunca, esses vínculos não têm por que afrouxar-se hoje. De fato, , 1 ti· ,tgora ao alcance dos politólogos e dos sociólogos um conjunto de hipóteses , d, procedimentos operatórios, de construção recente. capazes de enriquecer , 1111't1kravelmentca compreensão de muitos fenômcnos concernentes às relações q111, 1 vida política - e, mais geralmente, qualquer relação de poder - mantém 11 111.11 l inguagem. Esses elementos permanecem, porém, quase inteiramente incx pl111,1<loSse. isto se deu, deve-se ao fato ele que, ele uns trinta anos para cá, quando 1 n,ucias da linguagem entravam numa fase de intenso desenvolvimento, a 1 11111 ~,l o dos sociólogos e dos especialistas do político deixou-se, curiosamente, ti, ~, 1.11d o essencial a esse respeito, como se os progressos da pesquisa lingiiística , 1111 11rson ão oferecessem ao cientista social, em termos de métodos e proble111{t 111,1 s novos, nada mais senão as perspcctivas um tanto rudimentares da estatístil:a h ,H ai e da "análise (quantitativa) de conteúdo". Ora, essa situação, que contrasta com o que se produziu cm domínios vizinho~ st'Ja, por exemplo, da filosofia ou, mais ainda, ela antropologia, onde as pl 1, 1nI tivas oriundas da reflexão sobre os problemas da linguagem foram r,1p1d,11 1111111s·a11e1ntc aproveitadas-, está talvez se modificando. Pois se o 1e11111· l 111 1 1111s 1110,d esde há muito, um material familiar aos sociólogos e cienlistas sm 11.1 , 11 11•11·11atpea recimento do discurso, como objeto de conhecimento ([lll' tt•111,1111 111•1 1 J:'ric /,andow ski 1111,111 p11o hlcmática das relações e das estratégias de poder, atesta uma nova 111111,,111' 111,1s flutuações do vínculo social e político vivido. 11 ,111'1l11lidade e abre perspectivas inovadoras. Até hoje, nos domínios evocados, 11 l,11v1os ao estudo das idéias e das ideologias políticas, envidaram-se esforços, * * * 1'"1'11<.:ialemntc, seja aos estudos temáticos, seja - sobretudo no decorrer das duas 11111 1:1s. Ílltimas décadas - ao exame do vocabulário e das figuras através das quais :-1,111111c1a1mcn te falando, porém, nada do que vai nos reter é dado a 11rio11. \l' exprime a clivcrsidaclc das posições sociais e dos interesses políticos. Foi nisso 1111 11,1 1·\lst(lncia de um "campo social", nem a realidade elas "relações sociais" q11t· se ilustraram, entre outros, os procedimentos ela lexicomctria, da lingiiística 1 d qul' faz sentido é construído e, por conseguinte , pressupõe um fazer (k 11 11 0 d1s111h11cionl,a ela nova retórica, os procedimentos derivados das modernas teorias 11 h 111'\ o gnitiva", remetendo, nos sujeitos, ao que chamaremos st_ia: •competê1~c1a 11 d,1 argumentação etc. Todavia, devido ao próprio objeto que se dão e ao tipo ele 1 111otl1l a". Por conseguinte, formulado cm termos ingénuos, o obJet1vo da soc1os 1111a1ddes que levam cm consideração (a palavra, a frase), o conjunto desses 11 11o1l1ca será compreender melhor "o que fazemos" para que, de um lado, o 1•11ofqucs, inclusive os mais sofisticados-,d eixam de lado, por construção, a questão 11 •1,1 1,1111, o "político" ou ainda o "jurídico" existam enquanto tais para nós como do jirncionamento global e da eficácia social da atividade discursiva enquanto tal. 1il\i·1sos relativamente autônomos (isto é, ele que modo construímos seus objetos) 11 É, entretanto, esse aspecto que, aqui, nos prenderá exclusiva mente. Além e 1 11,11,1 que, de outro lado, as relações que aí se estabelecem entre atores sociais ,1qu6m das opções atinentes à superfície lexical e estilística, indcpcndcntcmcntc ,1 1,111, 1elas próprias, carregadas de significação para os sujeitos que as vivem o_u 1ncsmo cios valores veiculados. tralar-sc-á, para nós, antes de tudo, de dar conta do q111· ,1s observam e, conseqiicntcmcntc, dotadas ele certa eficácia quanto à dctcnrn- discurso cio ponto ele vista da sua capacidade de "agir" e de "fazer agir", moldando 11,1\ ,lo de suas próprias práticas. O que, falando mais tecnicamente, equivale a 1·, na maior parte dos casos, modificando as relações entre os agentes que ele p11·ver três ordens de problemas: problemas de semântica , relativos ao estabele~i- l'nvolvc a título de parceiros lingiiísticos. Desse ponto de vista, o caráter político 1111·1110 e à organização cios valores e cios objetos significantes que o discurso social dl' 1111d1is curso, oral ou escrito, não poderia atcr-se apenas, nem mesmo priorita- 11,1111p1ula: problemas ele sintaxe, relativos ao estabelecimento e às ~ransformações 11,11c1n1tc, ao fato de que ele "fala de política" (critério semântico), mas depende d" relações entre os sujeitos, condicionando ao mesmo tempo a ctrculação mter 111u0i1 mais do fato ele que, ao fazê-lo, realiza certos tipos de aros sociais transfor ,111e,1tiva dos valores; problemas de pragm{11ica, relativos às condições ele assunção madores das relações intersubjetiva s (critérios sintáxico e pragmático), estabelece 1,,, 1.1t' en charge] dos elementos estruturais prcccclcntcs pelos atores "reais" no sujeitos "autorizados" (com "direito à palavra"), instala "deveres", cria "expecta pl.1101 de suas práticas "vividas" (ou, ainda, "cm contexto"). . . . tivas", instaura a "confiança" , e assim por diante. O fato de haver aí vários pontos problemáticos que mereçam ser d1sllngu1dos Levando-se cm conta o dcsenvol vimcnto das pesquisas efetuadas no ca111po 11.10 exclui, porém, de modo algum - ao contrário -, a necessiclaccl de um da teoria dos atos de linguagem e da pragmútiea (J.L. Austin, J.R. Searlc, E. ,lll ,ihouço mais geral que garanta na medida do possível a coerência das descrições lll'llvcnistc, O. Ducrol), sobretudo de sua generalização no âmbito da teoria scmi- 1 torncça o meio ele integrar os resultados desta. ísso significa que nossa empresa 011.:1a, 1 já não é hoje um objetivo utópico pretender explicar esse tipo de efeitos de ,o pode ser concebida cm referência a alguma teoria geral da linguagem. Ora, essas ,1·11ticol, dos quais não está, obviamente, ausente a cli11c111são passional. Pelo menos ll'mias não são muitas. Entre elas, as abordagens lingiiísticas stricto sensu aprc 1 stt· é o desafio que lançamos, o de uma "sociossemiótica": cm vez de encarar a ,cntam o inconveniente - inaceitável na pcrspcctiva ele uma "sócio-logia" da l11p111gacm como o simples suporte de "mensagens" que circulam entre emissores "g nificação - de excluir. pela própria definição de seu objeto, qualquer prcocu 1 11Tq, torcs quaisquer, fazendo-se abstração ele suas determinaçõe s próprias (cf. a p,içi'lo relativa aos problemas da colocação em contexto dos fatos ele linguagem que 1•1oi 1,1 d,1 informação), procurar-se-á, antes de mais nada, captar as interações l'las estudam. Inversamente, o conjunto das abordagens que podemos agrupar sob 1 11 11,1ul,1s, com a ajuda do discurso, entre os "sujeitos" individuais ou coletivos que ,1v asta rubrica da pragmática - cm que se situa, notadamcntc, a teoria cios atos de 111li- w 11s1l'.rcvcm e que, de certo modo, nele se reconhecem. Considerar, assim, o 111g1uagcm -, ao se apresentar, por excelência, como uma lingiiística da "fala" ,111 11·1,1 1l 01110 um espaço ele interação talvez seja proporcionar-se, a longo prazo, c1wrole), carecem do aparelho conceptual e metodológico unificado que lhes 11 111111 1 11•1 ,1hordar, de um modo que não seja meramente intuitivo, a análise das permitiria dominar a proliferação das variúvcis contextuais (de ordem psicológica , l11111f1\, 1, dr existência e de exercício do poder no que elas têm de socialmente institucional, sociológica etc.) que, por princípio. levam cm consideração. Além 11111 , \ 111,11 ente e, sem dÍlvicla, ao mes1110te mpo, de 111as iprofundo; é tocar na do mais, do ponto de vista adotado por nós, tanto uns como outros desses procedi mentos se caracterizam como empresas parciais, na medida cm que seu objeto ,1· define como estritamente lingüístico, ao passo que a teoria geral da linguagt·111d 1· t 1 1 t lu 111,11• • 1 ( ·ourh:'f, l)icfo11(11f o ,/e Semió1ico. Siio Pnulo. Cultrix, vol. 1. )983. I J,,'ricL andowski q11r 11111sao ciosscmiót ica necessita para se constituir não pode senão abarcar o 1111 111 d11 11•x1ose , de modo geral, preocupados sobretudo cm propo1111111,111 1 1 011p 111tod os sistemas de significação, lingü ísticos ou não, a partir dos quais a "vida 1111p 1l11 11ovos instrumentos para a análise das ideologias (cm face dos 111l1rn l11 ~1111, II"s e constit ui como processo significante. 11, 1111 i111i11sd ,1 a11flliscd o conteúdo)-, uma segunda leva de pesquisado,c s, q111 Por contras te, vê-se o que a semiótica geral, mesmo se não a considerarmos 1111d1p11 1v1lc1:iadoo aprofundamento das questões de sintaxe durante os a11os /0 ,1ilfül111amenteu ma panacéia, pode trazer de decisivo à gestação do projeto socios 1d, 11111,1111 1s1e atualmente muito mais com as perspectivas abertas, 110 pla110 ,1.1 "'11116tico. Em primeiro lugar e contra toda expectativa, talvez, a "vida social" 11,1111.1,111 111 arrativa, pela exploração das estruturas modais: problemática cio sal>1•1 111111lchae foi estranha. A seu modo e desde a origem, foi exatamente do "real", , d11 11\'1, teoria da manipulação e da ação, semiótica das paixões - 1an1as 1 011side_radoc omo uma linguagem, e até mesmo do "vivido", encarado como efeito 11 1111v,14s,1 tkeóricas que, para lá do estudo dos simples textos lingüísticos, abrira111 ,/1• st•1_111do,q ue a semiótica se ocupou constantemente. Do mesmo modo, a hetero , ,1111111hpoar a uma abordagem das estragégias e das práticas significantes cm ge, ;il f1'11e1da~c aparente das linguagens de manifestação (verbal, plástica, espacial, , 11111 ,11, para a análise semiótica da din{Jmica das relações intersubje1ivas, 2 p1o xClrnca, gestual etc.) que formam o tecido de nosso meio ambiente social não 11111,11111tidvaa mudança (micro ou macro) social. Mas eis que essa geração ela , 011~tituiu m obstáculo insuperável para ela; o que a semiótica pretende captar são, 1111,,xlv' ~-sc, por sua vez, empurrada para a frente pelo aparecimento de uma dr lato, as est_ruturas e operações "sêmio-narrativas" mais profundas, aquelas que h II l'i1,1 onda, portadora de uma nova série ele questões. De um lado, modalidad es 11•gem a própna produção e o intercâmbio de significações, independentemente das d,1 p,1ssagcm (ou da "conversão") entre estruturas profundas da significação e 11111111ç_õecssp ecíficas ligadas ao seu investimento nesta ou naquela matéria signi 1 ,t,uluras ele superfície, problemas da "colocação cm discurso", reformulação das l1r ;_11t1e (amda que essas determinações secundárias, consideradas mais superfi q111·shh.:dse estilística e de retórica, teoria da enunciação; 3 de outro, problemas das , 1a1s, venham a ser tratadas à parte). No entanto, para que a sociosscmiôtica ganhe 11 1.1,·cks entre os discursos ou as práticas e seu contexto: questão da refc- 1·x1stC1'.c_ia,s erá necessário ainda que o que ela se propuser a dizer de seu objeto 11 11rialidadc e da eficácia pragmát ica dos discursos, problema cio "valor" (notada- 11,10 scJa simplesmente redundante cm relação ao discurso sociológico (ou mesmo 111•111c1 nos planos ético e estético),4 tudo isso desembocan do finalmente na ps1cossociológico)- meio essencialmente centrado, como se sabe, em noções de ,1h1•1t ura, ou reabertura, das questões filosóficas e epistemo lógicas que a própria tipo taxionómico (classes, status, papéis etc.). Desse ponto de vista, muita coisa 11'01,a semiótica coloca quanto à sua significação e ao seu alcance, em função do p.11cce ser também possível, contanto que se tire plenamente partido do dinamismo 1111d0e realidades que ela toma por objeto - problema da ontologia e do simula- 5 IJlll' a scmióti~a,, por sua vez, descobre não nos aspectos periféricos da linguagem , 1 10. 111,1nso próprio amago das estruturas e dos processos de significação. ! louve um tempo, é verdade - o da "semântica estrutural", da "antropologia * * * 1 ,11111ural"d, a "análise estrutural da narrativa"-, cm que a "estrutura" não "se 111·x1ia" muito. Isso porque, antes de procurar compreender a maneira como os Os estudos de que se compõe este volume atestam a evolução que acabamos .i,1rmas dc_relaçõcs se transformam e, simultaneamente, transformam os agentes d1· traçar. Os domínios nele abordados - político ou jurídico, ideológico ou q111o• s manipulam, era preciso dispor dos meios ele descrição - essencialmente 111111di{1lico"-* são seguramente diversos, quase tanto quanto os tipos de material p.11.1dig'.11áticos- de seus estados de equilíbrio. Tal fato permite compreender que, h•vados cm consideração: alocuções políticas, campanhas publicitárias, escritos 111,1l1 11llllOd e um primeiro "estruturalismo" , a história e seu simulacro, isto é a 111n1a llsticos, respostas a um questionário de sondagem, reflexões de práticos e de 11,11,raiw1( seja ela mitológica, literária ou política), tenham podido aparecer L;m h•óricos, notadamente em matéria de direito e de estratégia, assim como diversas o l.1111ml1a llrataclas por operações de abstração e de redução levadas ao extremo. 111"1 1">s e deu com a organização social que, considerada, então, cm termos ,1111p•lsl111entcc ombinatórios a partir ele um número restrito de traços de conotações l <.:f. A.J. Greimas. Sémiotique et Sciences sociales, Paris, Scuil. 1976 (trnd. port. Semi6tica e Ci€ ncias Sociais. 111 1.11s,p odia parecer sufocada, imobilizada, como ainda estava nos limites de uma Suo Paulo, Cultrix, 1976.); D11s ens, Paris, Seuil, 1983, vol. II. Cf. Actes sémiotiques - B11/eltin. V, 24, 1982 (Aspects de la conversion ); Langages, 10, 1983 (La Mise en 1 111n11.111 dl emasiado rudimentar. Mas um certo número de etapas foi vencido no tlisco11rs); Cruzeiro Semi6tico, 5, 1986, e 6. 1987 (Énonciation et Sémiotiq11e t/11d isco11rs). d,' 111111 d os d~z ou quinze últimos anos, tendo como efeito principal libertar as Cf. O. Bertrand, L' Espace e/ le Sens. Germinal tl'Émile Zola, Psris-Amster<lam, lla<les-Denjamins, 1985; A.J. Creimas e E. Landowski, '1Prngmntiquc et sémiotique'', Actes sémiotiqu es - Documents, V, .50, 1983; Acrr.t 1111d11 1l.1d1·ds mâmicas da teoria. slmiotiq11es-B11/letin. Vlll . 36. 1985 (Regards s11r/ 'esthétiq ue); A.J. Grei mas, De l"imperfection , Périgucu,, A ,1111l',1 1ro111nunosh oje, ao lado dos scmioticistas da "primeira geração"_ I'. Fnnlnc. 1986. Çf. A.J. Grcimas e J. Courtés (orgs.), Sémiotique . Dictionnaire raisonné de la théorie d11l angage. Compllm,1111, 1 1t Jll11 do•, "1 ,1111poss"e mânticos, familiares das "isotopias", apegados à paradig- ,/lbnts, propositions, Paris, Hachctte. 1986. vol. 11;! vi. Arrivé ct ai .. Sémiotique en jeu, Paris-Amstcrdum. 1l ml.·, lknjn min,. 1987. / ti l~ric /,a1u/01vski p1.it11,1 s <h:correntes da encenação do "si" na comunicação e na interação cotidia- li 11 11 11 11st1.1111crnente retomados seja por meio de análises pontuais, se.ia soh 1,11•, Conjunto de manifestações bastante heteróclitas , sem dúvida, mas que contri 11111 li, 1•111•11,ilil,ilÇões com finalidade mais teórica. Porque, de ponta a po11,11, h11·111,1 todas. para a construção de um mesmo espaço social de significação. Esse 1il.11h 11111111c1o, e mesmo objetivo que nos conduz: elaborar a gramáti ca tf,, 1, p.i\ o construído não "reflete". por natureza, algum dado societal preexistente. 1/11 1111" 011, se se preferir, de um sistema de significações, virtual e hipotético 1•h ' representa, ao contrário. o ponto de origem a partir do qual o social, como 1 1 , 1111 1,11, , 11a1 existé:ncia teórica deve ser postulada se quisermos dar conta da \l~ll'llla ele relações entre sujeitos, se constitui pensando-se . Daí o título Socieda do 111111 1 1lill1d,1d1· (ainda que parcial e problemática) dos sistemas sociais concretos 11•//•ttida, de aparência demasiado literária talvez, mas que remete, na verdade, à 1 11, " q1111 11e'1s se inscrevem. Dessa "língua", gostaríamos de captar e, ao mesmo pr ,11nfllica, da qual tiramos o conceito relacional de reflexividade: especularmente, 1 11•fll' 11,t1l"'" certas manifestações (como "fala", fr. parole) na relativa regulari ,l l omunidade social se oferece como espetáculo a si mesma e, ao fazer isso, dota-se l 1 1 dus p101t ·ssos - isto é, das práticas e dos discursos - socialmente signifi- d,1s regras necessárias a seu próprio jogo. 11111. 1i1,1111,dos pelo que se chama "vida política", "vida jurídica" e assim por A ilustração desse tema - ou a defesa dessa hipótese - não será empree11dida 1 11111 1 q11·1 <o nstituem também, afinal, a trama de nossa própria "vida cotidiana". ,11111di e maneira sistemática, mas por aproximações sucessivas, segundo duas 11 1111 t 11s1o efetuado nessa direção se desenrolará em três tempos. Procurare- p,·rspectivas distintas. A primeira toma como ponto de partida diferentes noções 11111 11,1 p111c1i1ra parte, dar conta da construção das unidades dependentes da por exemplo, a de opinão pública (capítulo I), a de gerações sociais (capítulo 1 1111d,1 1•1,11n{1tica, isto é, das entidades scmióticas que, cumprindo a função de li), ou ainda a de estratégia (capítulo XI) - e certas categorias - a oposição 11111111111s1 , 1ctanciais cm relação aos atores sociais, possibilitam que estes últimos p11hlico/privado (capítulo IV), a relação representante/repr esentado (capítulo JX) 1111 111,111111p ara si uma identidade (seção 1) no âmbito de relações sintáxicas ,·te - de uso bastante atual cm ciências sociais, mas cuja utilidade não basta para 1 1111,11d, (sc~·llo II). A segunda parte tratará da encenação [mise en scene] dos 111sacarar seu caráter problemático aos olhos daqueles mesmos que as utilizam 1 11111 101, assim construídos, esboçando sucessivamente uma sintaxe das posições h,1hitualmente: politólogos, juristas , sociólogos, historiadores. Sem pretender tra , p.11111d ,1s quais se negociam as modalidades da comunicação intersubjetiva ll' I soluções milagrosamente definitivas, tratar-se-á de expor os elementos de 1 ~ 1111 > e uma tipologia dos dispositivos de fig uração mediante os quais os t 011cetiualização e de interpretação que uma reformulação semiótica dos problemas 111r tos t mnunicantcs e interativos se oferecem em representação uns aos outros t olocados permite deslindar. 1 , 1111 1) , Esses diferentes esclarecimentos possibilitarão, enfim, na última parte, Por conseguinte. teremos a "semiotização" de alguns pontos sociologicamcnte 11 •~ 11• " IJ11hsa mestras de uma abordagem semiótica da interação propriamente Sl'llsívcis, mas também - e será essa a segunda orientação temática, inversa à 1111 \ p,11ti r dos mecanismos implicados no exercício do fazer crer (seção I), precedente e complementar - a "socialização" de certos conceitos scmióticos 1 1111111 101s circunscrever as formas elementares da manipulação entre sujeitos, l'haves. Uns, decorrentes da gramática da narrativa, prestar-se-ão a esclarecer a !11111 1d111,1so u coletivos, e, com isso, estabelecer as bases de uma problemática 111acnira como o que chamamos de social se constrói na imbricação entre diferentes 11.tl do /uzer fazer (seção II). ,1stcmas virtuais de relações que intcrdcfincm os "actantcs"; outros, tirados da < '111s1cicntc de quanto haveria de paradoxal cm empreender um trabalho ''"o,) 1•11,1n;ítica do discurso, permitirão considerar as condições de atualização desses 1 1 eficácia social do discurso sem nos preocuparmos com a comunicabili- \ISlemas, isto é, de sua assunção pelos "atores" sociais chamados a reconhecer-se 11 111d 1• nosso próprio propósito, csforçamo-nos por conciliar as exigências do 11l'i·1s. Embora essas duas pcrspcctivas, narrativa e discursiva, sejam estreitamente 111111 t1 oi11 as da legibilidade. Para dizer a verdade, podemos nos perguntar por que ,olidárias, a ênfase serú colocada ora na primeira. com o objetivo de reconstruir os 1h \1'11,1 haver incompatibilidade entre esses dois aspcctos: acaso não é muito mais !" ,111c1sl esquemas narrmivos, actanciais e modais, subjacentes à colocação cm 111111 11 l,1~·1,0 de complementaridade que os une, sendo a firmeza na articulação dos 10111,11 ele um pequeno número de configurações intersubjetivas tipo. de caráter t 111111 ,tos, evidentemente, a primeira. se não a única, condição da clareza, pelo 11 1111,111rn1l ou polêmico. organizando a diversidade das relações de direito e de 111111 0, 1111mdo núnio tão pouco formalizado como o nosso? Desse ponto de visla, 11111'11, 1ora na segunda, isto é, nas esrrarégias de enunciação que, desenvolvidas no 1, 1 111s oa uma terminologia artificial - a uma metalinguagem- cujos elementos 11 1 ,1111•0 ela colocação cm discurso desses esquemas narrativos pressupostos, tendem 1111 l,11na um conjunto de conceitos metodológicos e descritivos intcrdcfinido, 11 ,11•,11,111111s ua assunção pelas panes envolvidas no próprio ato de comunicação. 1111 p,11an ós, a mais segura garantia contra os riscos da imprecisão. Claro, dar 1,110 1 \\, Is clrn1arcaçõcs metodológicas, contudo, têm um valor apenas relativo e 11 ,1111,1 que todas as zonas de sombra sejam eliminadas, mas o essencial ,1 ,•,,1 11111 • 1 111•111o1 retorno, de capítulo cm capítulo, de alguns problemas centrais. Será, 11 ,p,·110 é o parti pris de coerência e inteligibilidade que o simples fato ti, 1111 1111I'111111111,1 o. caso dos problemas ligados às noções de persuasão, manipula ção 1 111iH, 111nos sob o controle do aparelho mctalingüístico impõe: a ollst 1111111d, Ir, /:r'ic Landowski Sl'lllJHe resistente, não poderi a valorizar-se por si mesma nele. Entretanto, como as melhores coisas também têm seu revés, basta pouca coisa para nos fazer perder, quase em seguida, no plano da legibilidade do discurso, o ( 011sfn u;ão que a metaling uagem pode nos fazer ganhar no plano do rigor conceptual. Por mais que os conce itos fundadores de uma pesqui sa estejam solidamente construídos (levantemos essa hipótese), ainda será necessário que a terminologia utili zada para expô-los não sirva de tela diante dos que lerão de julgá-los . É esta a razão pela qual procuramos empregar uma linguag em semiótica o mais económica possí vel quanto a seus própr ios idiotismos. É claro que o resultado de um esforço como esse só 1, 11>1.N•TIDADES pode ser relativo. Para uns, parecerá muito modesto , visto que nosso objetivo não era cm absoluto afastar toda terminologia técnica, mas apenas fazer dela um uso 11. 1n:LAÇÕES justificado, isto é, moderado; para outros, inversament e, parecerá sem dúvida demasiado próximo do objetivo declarado, tanto assim que, para alguns, discurso "legível" quer fatalmen te dizer discurso trivial. Não estando convencido de que uma maior sofisticação dos termos garanta necessariamente uma maior profundi dade do "pensamento", é que nos ativemos a um propó sito de simplicidad e. NOTA Os capítu los indicados a seguir foram publicados previamente nas seguintes revistas ou obras coletivas: capítulos I, V, VIII e XI, in Actes sémiotiques; capítulo 11l in Droit prospectif. Revue de la recherche juridique; capítulo IV, in Espaces et vie quotidienne, Ministcre de l'Environnemcnt - CRESAL; capítulo VI, in G. lmbcrt e J. Vidal-Be neyto (orgs.), Métodos de análisis de la prensa, Madri, 1987; capít ulo IX, in H. Parret (org.), On Believing . Epistemological and Semiotic Approache s/ De la croyance. Approches épistémologiques et sémiotiques, Berlim Nova York, 1983; capítulo X, in Langages, n2 70; capítulo XII, in Documents de trtJvail et Prépublications, 112 65, Universidade de Urbino. Para a presente obra, esses textos foram objeto de uma revisão completa. Daí consideráve is remancjamentos, quando não uma versão inteiramente nova. * Relativo à mídia . (N. do T.) 1 ll>EN'l'IDADES ( 'APÍ'l'ULO I A <> pinião Pública e Seus Porta-Vozes (/1111 1/~e/lo .\·emiótico l.11con1ramos hoje: dois tipos de especialistas da opinião pública. Uns interro l-J1.11S1l ' sobre seu modo de exisl0ncia e sobre as condições de sua manifestação, 1111lrns ll'Sponclem por sua existência e se encarregam, por profissão, de manifestá l I A ,1111uclien terrogativa, ligada ao espírito de rigor no emprego das noções, é, , ltll•111emente, própria cios sociólogos. Como eles mesmos confessam, "a hesitação 1 1 11,11 na própria consistência cio fato": "A opini;io faz parte dos fcnômenos 1,11s aparentemente evidentes, mas que se furtam à análise a partir cio momento 111 1 , 111q 11c esta vise à precisão científ'ica". Sem dúvida tais restrições não impedem d1·sc11volvimcn10 dos estudos experimentais, nem mesmo de uma teoria das 11 111111ü1e1s. como atestam, ao mesmo tempo, a proliferação das investigações por 2 1111t1l!,1ens e o progresso da psicologia social. Mas daí a uma certeza cpistcmoló- 111, 1 qualquer, relativa ao eslalnto ela opinião p!Íb!ica, enquanto fenômeno que 11hs11llCl a pluralidade das opiniõ es singulares, falia 1111p1a sso, de que nenhum "lio1m:111e le ciência" desconhece a importância. Mais fi.:ilzes, desse ponto de vista, 111o s "homens de imprensa" e, ocasionalme11te, os homens políticos. Dotados de 3 111111 11siterioro "sentido inato da opinião pública", eles escapam, por sua vez, a q11,llquer incerteza: a Opinião fala por sua boca. Esquematizando, tem-se, de 11111 Lido, 11111c onjunto ele procedimentos objetivantes, inspirados na preocupação com ,1 l 1entificidade e apoiados cm instr11mentos altamente sofisticados (técnica~ <k ,1111ostragem, anfllises fatoriais ou multi variadas, segmentação, tipologia etc.) l\ d1· e;, Bunkuu. "Opinion publiqul·", t.:1c1yclvpat1dia uni\·ersalis. C'f. J. Stol'l1.l·I. Thtvrie des opinions, Paris, PUF, 19-B; L · étude t'Xpérimentale ,Jes opinion.,, P1111'1, l'I 1 111 11 J. llc Coquct, 11l.l' Sl'lls innt: de l'opinion publiqlh.' .1 1, Le Fignro. 19 tk outubro de l97S.

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