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A República Consentida PDF

245 Pages·9.585 MB·Portuguese
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Maria Tereza Chaves de Mello A República Consentida Culliiia denioc;rálica e científi(ía do filial do Império í Edur FGV ,.i. I ISBN — '■)78-83-22S-0(i 15-6 Copyrighl (<) Maria Tereza Chaves cle Mello Direitosrlcsla edieão reservatlos à uDi roKA rev Rua Jornalista Orlando Dantas, 57 22251-010 — Rio dcJaneiro, RJ -- Brasil lel.s.: 0800-21-7777 — 21 -2550-4427 I ax: 21-2550-4450 e-niail: eiliioratitJfiv.hr web site: www.erlilora Jj;vbr Impresso no Brasil / i'riiilcd in Brazil 4bdos os direitos rescrvatlos. A re|nodüção não aulorizada desta publicação, no todo on em parte, constimi violaçãt) tlo copyright (bei n" 0.6 10/08). O.s fomTito.s cmiiidos ucslc livro são dc iiilcira rcspon-,ahiliiluilc da autora. b'edição — 2007 Pimi’AK.\ç;At) 1)1' OrkíINAIs: Maria bacia l.eão Velloso tie Magalhães ni)ru)iíA(.:Ao lit 1:1 RONK A: l'A liditoração Ri;visAo: Aleidis tie Beltran e batiina Caroni Cai'.\: aspect o:design bOK) 1)1: Capa: Mate Ferrez. Brazil'- I’einplo da Vitória (1870). Rraça da República, Rio de Janeiro, Rj. Biblioteca Nacional, Divisão tie leonogralia. II I LS I RA(,;At) 1)1: CON t RA( AlVV biiiregada mensagem do governo provisttrio da República, conten­ do a nota olicial de exílio, pelo major Solon, a D. Pedro II, em 16 de novembro de 1880. Fonie: Galeria hi.'itorica da revolução brazileira dc 15 dc novembro de IBH9 que oecasionou a fundação da Repúbliea dos líslados-Utiidosdo lírtiçí/, Urias Antonio da Silveira, 1800. Biblioteca Nacional, Divi­ são de leonogralia. Disponível em: bttp://international.loc.gov/intldl/brhtml/l)r-1/br-l -6.html. Ficha çatalográfica elaborada pela Biblioteca Mario Henrique Simonsen Mello, Maria lereza Chaves de A república conseniitla: cultura democrática e cientifica do final do Império/ Maria lereza Chaves de Mello. - Rio dejaneiro : Fditora FGV: Fditora da Univer­ sidade Federal Rural do Rio de janeiro (F.dúr), 2007. 244 p.: il. Condensatlt) tia tese da autora (tioutorado/ Pontifícia Universidade Católica do Rio de janeiro. Departamento de História, 2004, com o titulo: Com o arado tlo peasamento: a cultura democrática e científica da década dc 1880 no Rio dejaneiro). Inclui bibliografia. I. Brasil - História - Proclamação da República, 1880. 2. C.ultura poliiic;i Rio de janeiro (Fstatlo). b buntlação Getulio Vargas. II. I iiulo. ( DD OHl (),()>, A memória de Carlos, doída saudade Sumário Introdução 9 Notas 15 Prólogo 17 I 1 No olho da rua; valorização e ampliação do espaço público do Rio de Janeiro na década de 1880 19 A política na rua 19 O riso na rua 45 Oratória e propaganda: "o povo brasileiro gosta muito de discursos" 52 A democratização pela rua 55 As celebridades da rua 67 Notas 83 2 I O sorriso da intrusa: a idéia de República como cultura democrática e científica 93 Ciência e evoliu^'ào: "o arado do pensamento" 94 Antidericalismo e ateísmo: "a ciência eliminou Deus" 99 Anti-romantismo: "uma atitude geral diante da vida" 105 Imagens do progresso 126 República como ciência e evolução: "a ra/.ão e o futuro" 131 Notas 148 3 I A bela paz doméstica se vai por água abaixo: a desafeição ao regime e a dessacralização do monarca 157 A crise do regime 158 República r'crs//s Monarquia: uma comparação desigual 174 Não há reforma com a Monarquia 181 A popularidade de d. Redro II 185 Os anos de 1888 e 1889 190 Notas 214 Epílogo 225 Notas 232 Bibliografia 235 Iiitrodiição E difícil cMicontrar um texto sobre a proclamação da República no brasil que não cite a afirmação de Aristides I .obo, no Diário l\)puliirdc São Paulo, de que "o povo assistiu àquilo bestializado".' A construção bistoriográfica fez do bestializado não um surpreendido pelo fato, como quis dizer o autor da frase. Aristides referia-se a um iiovinii, a um mínimo temporal, único e irreversível, a uma experiência de surpresa. O que está embutido na interpretação canônica é a não-participação popular no evento como sinal do desapreço do povo brasileiro pela República e, por derivação, sua vinculação à Monarquia. lissa interpretação de raiz monarquista foi posteriormenfe esposada e difun­ dida pelos intelectuais desiludidos com a República, quando então se reforçou o que, no tal artigo, se seguia ao bestializado, ou .seja, que, "sem conbecer oque significava", o povo acreditou "estar vendo uma parada". Foi o próprio Aristides que classificou o evento, "por ora", como um governo "puramente militar". Juntando-se tais significações, o que se divulgou através do bestializado é que não havia motivo para se desejar a queda da Monarquia, pois o imperador era popular. Ficou então entendido que aquele fato histórico foi resultado de uma simples insubordinação da caserna, que teria brindado o país com um regime militarista. Ou seja, como o sistema imperial seria modificável — monar­ quia democrática, monarquia federativa, reformas —, a proclamação da Repú­ blica c explicada como um ato de força. 10 A República consentida Essa versão foi relida pelos enaltecedores da Revolução de 1930, que não descuraram da forma republicana, mas realçaram a exclusão social, o militarismo e o estrangeirismo da fórmula implantada em 1889. Isto por­ que o Brasil brasileiro teria nascido em 1930. Antes dessa data o que se contava era uma mesma e longa história de oligarquias, monocultura agrário-exportadora, dependência externa etc. Não tenho a pretensão que seria desvairada — de defentler a existência de qualquer apoio popular à proclamação da República. Não desconheço, outrossim, o fato de que d. Pedro II era um monarca popu­ lar, benquisto pelo povo "pé no chão" — para usar uma expre.ssão dt' Joaquim Nabuco —, que tinha nele uma referência quase familiar: a ima­ gem de um pai ou de um avô querido. Não me interessa igualmente entrar iu> debate sobre a prevalência civil ou militar na instalação da República brasileira. Até porque, como constituinte do argumento, formavam todos eles — entendendo-se-, no caso, por civil, setores ilustrados e republicaners das camadas médias da população — um mesmo grupo de intere.sse, quer pelo partilhamento de urna idêntica "visão de mimtlo", t|uer pi-la situação dc- marginali/.aelos das oportunidades oferecidas pelo sistema. Também não pretendo dis­ cutir a convicção republicana ou monárquica de Deodoro, ou qual a me­ lhor narrativa da proclamação. A pergunta feita aqui é a seguinte: por que a desafeição ao regime prévaleceu sobre a afeição ao monarca no momento da proclamação? Pandiá Calógeras, em Formação hititórica do Brasil, fala de uma desafeição ao regime. Suponho que a aceitação da República deve ser explicada por uma disposição mental para o novo regime, em decorrência da incorpo­ ração de uma nova cultura democrática e científica na década de 1880, tomando-se como recorte espacial a cidade do Rio de Janeiro, em função de sua centralidade na vida do país. A crise do Império é, sem dúvida, o resultado da conjugação de di­ versos fatores. Satisfatoriamente conhecidos são aqueles de ordem soci­ al, econômica e política. Mas pouco se fez ainda para conhecer o sistema simbólico que legitimava e emprestava sentido às instituições monárquicas, assim como é de valia a visualização de um quadro de disposição mental para o novo, socialmente difundida no Brasil do final do Oitocentos. A palavra de ordem era, então, reforma. Reformas para acelerar o advento do télos — de qualquer maneira inevitável, segundo entendiam — do [■> rog resso-t’ i v i I i za çã o.

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