A POLÍTICA EXTERIOR DOIMPERIO ].PandiáCalógeras IntrrxiuçWjXJr fodoHermesPereiradeAraújo / Val.I As Origens B.IB.LI.OT.EC.A.BÁ.SI.CA~I0SI~E.ffiJ:\ A POLÍTICA EXTERIOR DO IMPÉRIO Coleção Biblioteca Básica Brasileira A POLÍTICA EXTERIOR DO IMPÉRIO ]. Pandiá Calógeras Volume I - As Origens Introdução - João Hermes Pereira de Araújo Brasília- 1998 BIBLIOlECA BÁSICA BRASILEIRA o ConselhoEditorialdo SenadoFederal,criadopelaMesaDiretoraem31de janeirode 1997- composto pelo SenadorLúcio Alcântara, presidente,Joaquim Campelo Marques,vice-presidente,e Carlos Henrique Cardim,CarlyleCoutinhoMadrugaeIUimundoPontesCunhaNetocomomembros- buscaráeditar,sem pre,obras devalorhistóricoeculturalede importânciarelevante paraacompreensão dahistóriapolítica, econômicaesocialdoBrasilereflexãosobreosdestinosdopaís. COLEÇÃOBIBUOlECABÁSICABRASILEIRA AQuereJadoE.r!atismo,deAntonioPaim MinhaFormtIfÕo,deJoaquimNabuco A Polítit:l1ExteriordoImpério,deJ.PandiáCalógeras ° BmsilSoti4~deSílvioRomero OsSertões,deEuclidesdaCunha CopiJlllosdeHistóriaColonial,deCapistranodeAbreu InstibtifÕ'SPolítit:l1SBrasileiras,deOliveiraViana A GtlbmJBrasileira,deFernandoA2evedo A OPZtIfÕ0Naafl11lll,deAlbertoTorres Projetográfico:AchillesMilanNeto © SenadoFedera~1998 CongressoNacional PraçadosTresPoderess/n2 CEP70168-970 Brasília-DF J. Calógeras, Pandiá,1870-1934. J. ApolíticaexteriordoImpério/ PandiáCalógeras; introdução,JoãoHennesPereiradeAraújo.- Edfac-similar Brasília:SenadoFederal,1998-. 3v.- (Bibliotecabásicabrasileira) Conteúdo:v. 1.AsOrigens. 1.Políticaexterna,Brasil,PrimeiroReinado(1822-1831).I. Título.11.Série. CDD327.81 o INSTITUTO DE PESQOISA DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS - IPRI E "A POÚTICA EXTERIOR DO IMPÉRIO" JoãoHermesPereira deAraújo ACâmara dos Deputados e o Instituto de Pesquisa de Relações Interna cionais, IPRI, da Fundação Alexandre de Gusmão, do Itamaraty, resolveram emboahora, iniciar,comAPolíticaExteriordoImpériodeJoãoPandiáCalóge ras, seu programa de reeditar "obras fundamentais de História Diplomática do Brasil há muitos anos esgotadas". Essainiciativa,emperfeitaconsonânciacomoespíritocomquefoifundado o Instituto, tornaráacessível uma obra dificilmente encontrável e poderá, inclu sive,representarum passoinicialimportante,insubstituíveltalvez, parao projeto, que sefaz necessário, deatualizarem um corpoorgânicoa históriadiplomática do Brasil. Circunstâncias análogas às que tornaram de reconhecida atualidade a obra quando publicada persistem atualmente, com a notável diferença de que, até1852,podemoscontarcomotrabalhohercúleoempreendidoporCalógeras. Depois de 1933 muitos episódios de nossa vida diplomática foram estudados, masasduasobrasquedão,doassunto,umavisãodeconjuntosãocompêndios eminentemente didáticos(1). Nessa perspectiva, adquirem importância comentários sobre a obra ora reeditadaesuagênese. Poderãoassimserrealçadas,em suaverdadeira impor tância,A PolíticaExteriordoImpério e a presente reedição. Tão ligada está A Política Exterior do Império com a biografia de seu autor que, para compreendê-Ia, se faz mister recordar, ainda que em traços muito gerais, avida deJoão Pandiá Calógeras. Nascido no RiodeJaneiroem 1870,tendofeito emcasa,com professores particulares, seus primeiros estudos, ingressou aos 14 anos no Colégio Pedro 11 onde completou o curso secundário. Matriculou-se em seguida na Escola de Minas de Ouro Preto, formando-se engenheiro em 1890. Nomeado enge nheiro do Estado de Minas Gerais, colaborou em publicações científicas do Rio deJaneiro. Eleito deputado federal por Minas Gerais em 1897, cedo se destacou no Parlamento pelos seus conhecimentos dos problemas nacionais, especial mente os ligados à enqenharia e à mineração. "Não era um orador político. VI Nada tinha de um tribuno; sua exposição era fria; suas atitudes revelavam muito mais o catedráticoque tomasse uma tese para fazer uma preleção num anfiteatro do que o parlamentarque falava a uma assembléia política"e). Nãotendosidoreeleitoem 1900,empreendeutrabalhosrelativosàminera ção de manganês e fez uma viagem à Europa, publicando ao voltarAsfrlinas doBrasilesuaLegislação. Retornando à Câmara em 1903, nela permaneceu até 1914, notabilizan do-senosdebatesdetodososmaisimportantesassuntosdeinteressenacional. Nesse período foi designado para integrar a Delegação do Brasil à 11\ e à N Conferências Pan-Americanas, de 1906 e 1910. Ao tomar posse em 1914, Wenceslau Braz nomeou Calógeras Ministro daAgricultura,IndústriaeComércio.Apesardepermanecernessapastasomente até julho do ano seguinte, sua gestão foi digna de nota: promoveu, inclusive, a reorganização de todos os departamentos do Ministério e fixou as bases do crédito agrícola, além de aplicar a lei de sua autoria na regulamentação da propriedade das minas. Em julho de 1915 foi designado Ministro da Fazenda, cargo que desem penhou até 1917. Superando inúmeros obstáculos encontrados, conseguiu regularizar a dívida flutuante e promoveu um acordo com os credores estran geiros. Em 1916participouda Conferência Financeira Pan-Americana, reunida em BuenosAires. Reeleito deputado federal em 1918, integrou a Delegação Brasileira ao CongressodeVersalhese,comaeleiçãode EpitácioPessoa paraaPresidência da República. assumiu a Chefia da Delegação. Regressando ao Brasil, não retomou seu mandato parlamentar pois foi a nomeado Ministro da Guerra, o único civil ocupar esse cargo na história da República. Durante sua gestão o Exército experimentou intensa moderni" zação, expansão e aperfeiçoamento emtodos os setores. Discordando da eleição de Arthur Bernardes, não conseguiu ser reeleito e afastou-se da política. De 1923 a 1929, fundou a Companhia Nacional de Cobre,desenvolvendograndeatividadecomojornalista,conferencistaeescritor. Foi nessaépoca que publicouosdois primeirosvolumes daA PolíticaExterior do Império (1927-28) e a "Formação Histórica do Brasil" (1930). Em 1931 foi eleito presidente da Sociedade Brasileira de Engenheiros e, no mesmo ano, designado pelo Governo da República relator do projetosobre legislação de minas, nas Comissões Legislativas. O Governo de Minas Geraiso convidou, então, para estudara reforma dosistematributáriodo Estado. NaseleiçõesparaaAssembléiaNacionalConstituintede1933,concorrendo em Minas Gerais na legenda do Partido Progressista, obteve a maior votação até aquele momento alcançada no Brasil por um candidato a deputado. Em 1933 publicouo terceirovolume deA PolíticaExteriordoImpério. Poucodepoisfalecia em Petrópolis, em21 de abril de 1934. VII Essa vida movimentada não impediu, contudo, a Calógeras de continuar a dedicar-se, com entusiasmo'e afinco, a seus estudos e a suas atividades intelectuais. As obras que publicou, artigos, conferências, discursos e ensaios atestam seusconhecimentosenciclopédicos, revelam o polígrafoe constituem uma bibliografia surpreendente. Acompanhando-a, é possível seguir as etapas porquepassaramaspreocupaçõespredominantesdoautor.Revelaesseelenco, por outro lado, a seriedade com que se dedicou a temas tão variados, além das matérias dasua profissão ou ligadas às funções que exerceu. Apartirde 1891 redigiuváriostrabalhossobre assuntosrelacionados com a sua especialidade de engenheiro, geólogo e mineralogista. Esses artigos e relatórios foram coroados com a publicação, em 1904 e 1905, de As Minas doBrasile sua Legislação, em três volumes. Paralelamente a esses estudos, dedicou-se aos problemas de viação, das estradas de ferro principalmente, redigindo sobre o assunto vários artigos e ensaios, inclusive comentários sobre O Orçamento do Ministério da Indústria, \.1'açãoe ObrasPúblicaspara 1900. Torna-se simultaneamente, e muitos anos antes de ser nomeado para a pasta da Fazenda, autoridade em matéria de economia e finanças. Em 1902 publicanoJomaldoComércioumasériedeartigossobreaReforma Tributária; em 1910, alentado trabalho sobre La Politique Monétaire du Brésil; em 1912, "NovosRumos Econômicos";em 1913,A CriseMonetária ecomentários à Proposta de Orçamento para 1914; nesse ano, O Problema Econômico do Brasil. Quando Ministro da Fazenda, redigiu as Introduções aos Relatórios de 1915 e 1916. Atendendoem1917apedidodoPresidenteeleito,apresenta-lheoRelatório Confidencial ao Conselheiro Rodrigues Alves sobre a situação orçamentária e administrativa do Brasil, publicado em 1933, sob o título "Problemas de Administração". Em 1928 foram reunidas várias conferências suas em livro intituladoProblemasde Governo. Dl,Jrante seus vários mandatos, pronunciou, na Câmara dos Deputados, discursos sobre a defesa nacional, o Exército e Armada. Em 1913 escreveu artigo sob o título "A Defesa Naval" e, como Ministro da Guerra, redigiu as Introduçõesaos Relatórios de 1920e 1922. O problemareligioso atormentou o ânimo de Calógeras praticamente até seus últimos anos. Nascido em uma família ortodoxa de origem grega, cedo se sentiu inclinado à fé católica. Foi, entretanto, uma conversão longa e difícil. Ainda jovem, afastou-se do credo de seus maiores após estudar histórica e teologicamente as divergências entre Roma e Constantinopla. Suas dúvidas profundas diziam, porém, respeito ao próprio dogma católico, especialmente ao da transubstanciação. Estudos aprofundados e longos diálogos com sacer dotes,especialmentecomojesuítaJoséManueldeMadureira,esclareceram-lhe finalmente a consciência, o que lhe permitiu fazer, aos 57 anos, sua primeira comunhão. Nãoédeadmirar,assim,ograndenúmerodeescritosseusdedica- VIU dos a temas religiosos. O primeiro ensaio, em 1911, OsJesuítas e o Ensino precedeu, de muito, sua conversão, à qual sucederam, em 1927, "A Ordem de S. Bento e a Civilização"; em 1928, A Missão Apostólica Social; artigos publicados na ampla coletânea Res Nostra, de 1930; vários outros artigos e ensaios até o ano de seu falecimento, entre os quais sobressai O Conceito Cristão do Trabalho editado pm 1931. Muito cedo se nota em Calógeras a inclinação pela história. Um episódio da meninice terá, sem dúvida, importânciafundamentaI nasuavida intelectual e no pendor por essa disciplina: o conhecimento de Capistrano de Abreu e a amizade que desde então os uniu. "Conheceram-se", conta Eugênio de Castro(3), "numa banca de exame de história em que Capistrano h'àveria de intervir com sua autoridade para que não cometesse a injustiça de·reprovar o estudante de quatorze anos à mercê da vingança de um dos examinadores, inimigo de um dos membros da família Calógeras.Assim, duas autoridades ele adquiririade logo nasensibi lidade dojovem estudante: a de homem justo e a do mestre" Pelos anos afora e até a morte de Capistrano, em 1927, essa amizade se perpetuou. O próprio Calógeras (4) confidencia: "Durante quarenta e três anos,ligou-meaCapistranodeAbreuamaisperfeitaamizade,semumanuvem, s~ um desfalecimento, no mais elevado convívio de espírito que se possa imaginar. "Sentimento profundo, complexo no qual disputavam pnmaziq o areto pelohomem de coração, o respeito pelocaráterimaculado, ailimitadaadmira ção pelo sábio. "Dele nãoera possível sermeio amigo, apenas." É comovente acompanhar essa amizade, misto de admiração, respeito ecarinhomútuos. OsbilhetesdeÇapistranoa Calógeras,publicadosporEugê nio de Castro(5), são um testemunho eloqüentedesses aitossentimentos. A confiança com que Calógeras recorria a Capistrano era reciprocada com a sinceridade com que este lhe dava suas opiniões, sempre pertinentes, sempre perspicazes. O Mestre procurava também o discípulo, solicitando seu parecer avisado sobre um assunto, alguma idéia que desejava desenvolver, uma novidade que imaginava adotar. Esse longo convívio com o inovador da historiografia brasileira propiciou a Calógeras o perfeito conhecimento da evolução que Capistrano representou para os nossos estudos de história. Fez mais: deu-lhe uma noção viva das características que viriam marcaressestempos novos, aos quais aderiu plena mente, procurando pautar seus estudos pelas linhas mestras que Capistrano esposavae quelhedariam posiçãodepreeminêncianahistoriografiabrasileira. Antes de qualquer outro, Calógeras(6) intuiu a posição que caberia a Capistranonaevoluçãode nossosestudoshistóricos,compreendendoperfeita mente as "virtudes novas" por ele consagradas. Talvez tenha sido também IX oprimeiroacompararCapistranocomVamhagen,assinalandoagrandedistân· ciaaueos separava: "Antes de Capistrano, havia monografias históricé1S, cronistasmaisou me nos interessantes, memórias e anais sem grande nexo e com escassa crítica, nem sempreobjetiva, semo devidoaproveitamento do materialexistente. "Ao próprio Vamhagen, tão grande, entretanto, precursor em tanta coisa, nãosepodehojenegarparcialidadenasconclusões,insuficienteaparelhocrítico, dificuldades em averi~uarsuas fontes informantes. eÇJoísmo incompreensível no partilhar seu saber. E, no entanto, é merecidamente conhecido como o grandeVamhagen. "ComoMestre,cujamemória procuramoshojehonrar,aparecemvirtudes novas,oucommaisrelevopostasemdestaque:orespeitoritualpelodocumento; a facilidade deverificação das origens; o agrupamento filosó.fico dossucessos; as correntes formadoras do determinismo econômico e dos conceitos espiri tuais; a análise mais precisa dos fatos; a ampliação do campo devassado; a pesquisade depoimentosmaisabundantesemaisseguros;o impessoalismo da psicologia; o apuro na preocupação de narrar e nunca de provar; a mais absoluta probidadeno citare no concluir; a redaçãosineiraaestudio. "Os Capítulos de Hjstória Colonial já são, e cada vez mais constituirão modelo de orientação honesta, de belezaliterária e de críticaconstrutora." No contexto deste trabalho, compreende-se a transcrição acima. Não se trata simplesmente de conhecer, em detalhe, o que pensava Calógeras de Capistrano.Oenunciadodas "virtudesnovas" temaquicabidaporsintetizarem elas o modelo, oAdeário do historiador, que Calógeras esposou, incluindo-se em uma escola que reconhecia Capistrano como mestre. t. Interessante e especialmente significativo o tato de que, na elaboração das suas principais obras anteriores a 1927, comoAs Minas do Brasil e sua Legislação,Calógerastenhacontadocomsugestõesecomoacompanhamento de Capistrano. Nesse trabalho, publicado em 1904 e 1905, em três volumes, o autor dedicagrandeespaço, demasiadomesmosegundoalgunscríticos,aoaspecto histórico. Decorreesse fato não tanto detendências pessoais, masdo método adotado. Para sistematizar o trabalho, Calógeras estudou cada metal, tratando, saso por caso, das notícias históricas, informações geológicas e finalmente dosdadostécnicos,estatísticase bibliografia.Osdoisprimeirosvolumesmere ceram comentários do próprio Capistrano (1) que, em relação ao 19, assim sintetizou seu pensamento: "Trata-se, em suma, de livro consciencioso, abun dante de fatos e informações grupados sob idéias maduramente pensadas, que ninguém se animava a tentar, porque a empresa reclama largo fôlego e ombros fortes" Membrodo InstitutoHistóricoe GeográficoBrasileiroem 1905,Calógeras, ao tomar posse e em vários artigos e conferências patenteou seu interesse portemas históricos, quer traçando comentários bioÇJráficos, como nos casos