A NOITE DOS PROLETÁRIOS JACQUES RANCIERE ANO/TE DOS PROLETÁRIOS ARQUIVOS DO SONHO OPERÁRIO Tradução: MARILDA PEDREIRA Indicação editorial e consultoria desta edição: FRANCISCO FOOT HARDMAN ~~- CoMPANrnÃl».s Li,TRAS D,1dc• d1 C:alalog■çlc n■ Publlc■c:éo (CIPj lnh:1rr1-cl<1n .. l (C:.Amera l!lra•llalu do Uuro.sP. Brnall) 'R,2nci ê l"e t J acq11111 ~ 1 l. Y40- !-1.1511\ A noiti: dui -::i-roletã:i:io& / J.;u:qm!~ RancLi:ra ; trtJ- du..;ão Ma:i:ilda p~(lyd T.;1. --São l'eulo Ci:i~•pn11hl11 1IJ\0j letrai., 1,g8B. T:';B!-85-J16i-006-!! l, fT"õlnÇ~ - L:ca~icõea aocisi.s - s!'.;~ul0 19 :ê:. l'n, letaríado ng 1 i i:.,:T'õ!ilur.a 3. 'It"abalho 13 ,:,Iti,■,ulil t l'.lll1n lhmk,~ã~ - E'l'B.ni;:a - Hi.stiid" • si:'.;c:ul..i 19 1. TÍtuJi•. (rnl-3'.1'.;1,5fi0Yll1,ül'i -0O'9.tHH~ 8&-L)04 -94ii.tlfi Indicas para catiilogo 15-ie.temética: 1. Iraaça: Sêc1Jlo 19 ~ Condiçõe.s soei.ai, ''H4.IJC, 2. Fran,;;'1 = scie:ulu 19 ~ l'roletariedo ; A11re~l"• .1", 1,, l- 3-0S.j609'i'4U6 3, Pa•ll:ltariarlri T1õl lii::eracm:a: HÍ6tóri,1 e e!dhL"lll B0'9.nJ55 ii sernlo 151 : Fter,CM, C1mdi i._;c'.:e~ sc,c:iail!! 9-44. •,•fio .s,, si:'.;culo 19 : Proletariado : llr;in,:.a : ilspoc:L, •" [111i~ ]OS • .S,h09Uó6 Copyright @ Librairie Arthcme Fayard, 1981 Título original: La nuít des prolétaire:r Archíves du revê ouvrier Capa: Etture Bottini sobre a gravura Maneira de vuar, da série Os dfaparatc•.,· ( m. 1820), de Francisco Goya y Lucientes Revisão dos originais: José G. Arruda Filho Olga Caffalcchio Revisão de provas: Stel/a Maris Weiss Aníbal Mari Otacílio Nunes Jr. Luciane Raspes 1988 Editora Sl:hwarcz Ltda. Rua Tupi, 522 01233 - São Paulo - SP Fones: (011) 825-5286 e 825-6498 ÍNDICE Prólogo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 I O HOMEM DO AVENTAL DE COURO 1. A porta do inferno ................................ . 17 2. A porta do paraíso ................................ . 36 3. A nova Babilônia ................................. . 58 4. O caminho da ronda 75 5. A estrela da manhã ............................... . 102 li A PLAINA QUEBRADA ó. O exército do trabalho .............................. 139 7. Os amantes da humanidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165 8. A bigorna e o martelo .............................. 191 9. O:s buracos do Templo .............................. 227 III O HERCVLES CRISTÃO 1O . O banquete interrompido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 5 l 11. A Rcpúb1ica do trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 241 12. A viagem de lcaro . . . . . . . . . . .. .. . . . . .. .. .. .. Y~4 Epílogo: A noite de outubro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 399 Crono]ogia sumária ................................ , . . . . 411 N·otas ........................................ , ....... 421 AGRADECIMENTOS Agradeço a todos aqueles que incentivaram este trabalho, e em particular a Jean Toussaint Desanti, que aceitou patrocinar sua exis tência universitária. O coletivo das Révoltes logiques [Revoltas lógicas] tirou minha pesquisa do isolamento. Jean Borreil acompanhou o desen volvimento deste livro e corrigiu minuciosamente o manuscrito. Agra deço finalmente a Danielle, ligada a todo esse percurso, e à minha mãe, que o tornou possível. PRÓLOGO A noite dos proletários: Não se deve ver nenhuma metáfora nesse título. Não se trata de rememorar as dores dos escravos da manufa tura, a insalubridade dos casebres operários ou a miséria dos corpos esgotados por uma exploração sem controle. Tudo isso só será abor dado através do olhar e da fala, dos sonhos e dos pesadelos dos per sonagem; destt: livro. Quem são? Algumas dezenas, algumas centenas de proletários que tinham vinte anos por volta de 1830 e que nessa época decidiram, cada um a seu modo, não mais suportar o insuportável. Não exata mente a miséria, os baixos salários, os alojamentos desconfortáveis ou a fome sempre rondando, mas, fundamentalmente, a dor pelo tempo roubado a cada dia trabalhando a madeira ou o ferro, costurando roupas ou fazendo sapatos sem outro objetivo senão o de manter in definidamente as forças da servidão e da dominação; o humilhante absurdo de ter de mendigar, dia após dia, esse trabalho em que se perde a vida; o peso dos outros também, os da oficina com sua glo ríola de hércules de cabaré ou sua obsequiosidade de trabalhadores conscienciosos, os de fora, à espera de um lugar que de boa vontade lhes dariam, enfim, os que passam de carruagem e lançam um olhar de desprezo a essa humanidade estigmatizada. Acabar com isso, saber por que ainda não findou, mudar a vida ... A transformação do mundo começa no momento em que os trabalha dores normais deveriam desfrutar do sono tranqüilo daqueles que têm um trabalho que não os obriga a pensar; por exemplo, nessa noite de outubro de 1839, exatamente às oito horas, haverá um encontro na casa do alfaiate Martin Rose para a fundação de um jornal dos ope rários. O fabricante de medidas Vinçard, que compõe canções satíri cas, convidou o marceneiro Gauny, çujo humor taciturno se expressa .9