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A Linguagem e seu Funcionamento: as formas do discurso PDF

139 Pages·1987·84.735 MB·Portuguese
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A LINGUAGEM E SEU FUNCIONAMENTO Incorporando as noções de social e histórico, a autora busca distinguir o estabelecido do não estabelecido e questionar a consciência dessa distinção no homem quando este produz linguage O livro analisa os discursos político, pedagógico religioso, da história e também questões do Eni Pukinelli Orlandi discurso feminino e de educação indígena. Faz também um estudo discursivo de aspectos relacionados com a leitura. R>ntE ~ Coleção: Linguagem/Crítica ENI PULCINELLI ORLANDI Direção: Charlotte Galves Eni Pulcinelli Orlandi Conselho Editorial: Charlotte Galves Eni Pulcinelli Orlandi (presidente) Marilda Cavalcanti Paulo Otoni DOAÇÃO/HE-ctENCIAS HUMANAS E EDUCACAO Regis--t-r-o- No.434.338 Da.ta.:03-03-2008 Autor:ORLANDI, ENI P. TllJlo:A LINGUAGEM E SEU FUNCIONAMENTO ... A LINGUAGEM Preço:,00 Doador:D IVERSOS E SEU FUNCIONAMENTO As formas do discurso FICHA CAT ALOGRAFICA 2.ª EDIÇAO REVISTA E AUMENTADA Dados de Catalogação na Publicação (CIP) Internacional (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Orlandi, Eni Pulcinelli. 079L A linguagem e seu funcionamento : as formas do 2.ed. discurso / Eni Pulcinelli Orlandi. - 2. ed. rev. e ~um. - Campinas, SP : Pontes, 1987. Linguagem/Crítica Bibliografia. l. Análise do discurso 2. Sociolingüística: I. Tí tulo. II. Título: As formas do discurso. III. Série. CDD-401.41 87-0940 -401 .9 \r\ \ lndices para catálogo sistemático: \ 1 . Análise do discurso : Comunicação : Linguagem 401. 41 > 2. Discurso : Análise : Comunicação : Linguagem 401. 41 \ 1987 3. Sociolingüística 401. 9 Copyright © Eni Pulcinelli Orlandi Capa: Criação: Geraldo Porto Fotografia: Paulo Germani Coordenação Editorial: Ernesto Guimarães Revisão: Ana Lígia Magnani Para o Edu e para a Pat, Carlos César Trausula duas paixões. Ernesto Guimarães PONTES EDITORES Rua Dr. Quirino, 1230 Telefone: (0192) 33-2939 Campinas - SP Não adianta querermos ser claros. A lógica não convence, a explicação nos cansa. O que é claro não é preciso ser dito. 1987 Noturnidade, de Cassiano Ricardo. Impresso no Brasil ÍNDICE Apresentação 9 Introdução à Segunda Edição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 O discurso pedagógico: a circularidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 Para quem é o discurso pedagógico? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 A lii:guagem em revista: a mulher-fêmea . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 O discurso da história para a escola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 Algumas considerações discursivas sobre a educação indígena . . 81 A sociolingüística, a teoria da enunciação e a análise do discurso (convenção e linguagem) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97 Funcionamento e discurso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115 O sentido dominante: a literalidade como produto da história 135 Tipologia de discurso e regras conversacionais 149 Uma questão da leitura: a noção de sujeito e a identidade do leitor ... . ... ........ .. ........... .. ....... ... ... 177 A produção da leitura e suas condições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 193 Leitura: de quem, para quem? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 205 Sobre tipologia de discurso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 217 O discurso religioso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 239 A fala de muitos gumes (as formas do silêncio) 263 APRESENTAÇÃO Para alguns, o já-dito é fechamento de mundo. Porque estabelece, delimita, imobiliza. No entanto, também se pode pensar que aquilo que se diz, uma vez dito, vira coisa no mundo: ganha espessura, faz história. E a história traz em si a ambigüidade do que muda e do que permanece. Não me proponho a resolver esse impasse, que se expressa através da tensão entre o retorno e o avanço, entre o que restringe e o que alarga, entre o que já é e o que pode ser, entre o mesmo e o dife rente. Ao contrário, mantenho a tensão como motivo da minha refle xão. Embora, na ilusão da onipotência, não deixe de tentar a espe cificidade, o único, o definido. Tendo como objeto de estudo a experiência de linguagem, a prática do dizer, coloco alguns conceitos, alguns princípios teóricos e metodológicos, algumas técnicas de análise como constantes e pro curo explorar as conseqüências a que elas podem levar-me em cada pretexto que tomo para a reflexão, como, por exemplo, a literalidade, as regras conversacionais, a tipologia do discurso, a convenção, o pro cesso de leitura. Nesse percurso, coloco-me no próprio centro do risco que é a tensão entre o já-dito e o a-se-dizer. Assim, aceito passar pelos mesmos lugares, procurando o que me leva a conhecer alguma coisa a mais a respeito dos objetos provisoriamente tomados para a reflexão, como o discurso pedagógico, o discurso da história, a questão da educação indígena, a argumentação, o discurso religioso e outros. Se o objeto de estudo em que me detenho é de caráter múltiplo e indeterminado, o objetivo, entretanto, é sempre um: incorporar as 9 noções de social e de história, distinguir o estabelecido d não- 0 estabelecido e questionar a consciência (o senti'mento) dessa distinção no homem, quando este produz linguagem. . Como_ a área ~m que se inserem esses estudos é a da análise de d1sc~rs~, nao podena prescindir do compromisso com o fragmentá . o multi lo · · , · . . no, . . p ' ~ ~rov1sono. O que leva ao reconhecimento da falta de INTRODUÇÃO À SEGUNDA EDIÇÃO hm1tes categoncos, que se poderia pretender, entre um método de demonstração científico e outras formas de conhecimento outros De certo modo, rever um livro coloca, de forma radical, a questão modos de reflexão sobre a produção da linguagem. ' que anunciei na Apresentação, acerca do mesmo e do diferente: pode se mudar quase tudo e, ao mesmo tempo, se pode manter o texto o No domínio da linguagem em geral e não só n , . ' o espaço do mais perto possível da escrita primeira. Preferi manter, tanto quanto p~eh~o, como pretende um clássico poeta inglês, parece dizer-se uma possível, a relação com a escrita original, porquer dependendo das so c01sa, sempre a mesma, usando-se o já usado, vestindo-se de novo mudanças, já seria outro livro. as velhas palavras, "For as the sun is daily new and old ... " Nessa revisão, portanto, só fiz as mudanças que considerava Qual é a extensão dessa ilusão, se é uma ilusão? essenciais, e acrescentei dois textos: um sobre leitura e um sobre discurso acadêmico e discurso político, por sentir que faziam falta. Campinas, abril de J 983. Por seu lado, essa Introdução tem a finalidade de acrescentar uma fala explicativa que permita ao leitor situar-se em relação ao que é a Análise de Discurso· -(que notaremos AD). - Na história da reflexão sobre a linguagem, a AD aparece como uma forma de conhecimento cisionista. Ela se constrói não como uma alternativa para a Lingüística .....:_ que é a ciência positiva que descreve e explica a linguagem verbal humana - mas como proposta crítica que procura justamente problematizar as formas de reflexão estabe lecidas. Assim, ao mesmo tempo e.!!!... ~e pressupõe a Lingüística: a AD abre um campo de questões no interior da própria Lingüística e que re ere o conhecimento da linguagem ao conhecimento das formações sociais. Daí resulta o que podemos chamar seu "nomadismo". Não há um acúmulo científico fixo, no que diz respeito à teoria, à definição de seu objeto e método ( s) : a cada passo a AD redimensiona seu objeto, revalia aspectos teóricos e se relaciona criticamente com seu(s) método(s). §. essa sua condição de existência crítica ~g1e a torna mais fe cunda. Nem poderia deixar de ser assim, para uma forma de conhe- 10 11 ·imcnto que, como diz Foucault (1969), se propõe "fazer uma hi tória dos objetos discursivos que não os interrasse na profundidade sua relação com a exterioridade. Considera que, se a situação é constitutiva, ela está atestada no próprio texto, em sua materialidade comum de um solo originário, mas desenvolvesse o nexo das regula (que é de natureza histórico-social). ridades que regem sua dispersão". O frag1!1entário, o disperso, o in completo, o não-transparente. Eis o domínio da reflexão discursiva. Tampouco se trata para a AD - como para a Hermenêutica - de encontrar, ou melhor, extrair um sentido do texto. A AD visa Crítica ao mesmo tempo ao objetivismo abstrato (que advoga a onipotência do sistema, o da autonomia da língua) e ao subjetivismo menos a interpretação do que a compreensão do processo discursivo. idealista (em que domina a onipotência do sujeito e do território-livre Quer dizer: ~ AD problematiza a atribuição de sentido ( s) ao texto, procurando mostrar tanto a materialidade do sentido como os pro-.· da fala) ~-assu!!_le a posição de que se deve pensar um objeto ao -- cessos de constituição do sujeito, que instituem o funcionamento mesmo tempo social e histórico, em que se confrontam sujeito e siste illã:O discurso. discursivo de qu-alquer texto. , ' - Desse modo, embora pressuponha a Lingüística, se distingue deÍa Dissemos que a AD é cisionista. A meu ver, i~o se deve a dois ~ motivos. em pontos cruciais, pois não é nem uma teoria descritiva, nem uma teoria explicativa. A AD ~retende uma _teoria crítica CJlle trata dª Primeiro, por ue n!!ip.a realidade social ~ histórica como a noss,a, determinação histórica dos processos de significação. Não estaciona em que se é obngado a reconhecer que sempre se ?cupam determina nos produtos como tais. Trabalha com os processos e 'as condições de das posições • (e não outras) no _s.Qnflit constituth10 das reJações produção da linguagem. Condiciona, por isso, a possibilidade de se · sociais, não se pode fazê-lo neutramente, ou seja, sob a ilusão de J encontrarem regularidades à remissão da linguagem à sua exterioridade que não se está tomando posição nenhuma~ Des~odo a D (condições de produção) . procura problematizar continuam.ente-a ericiê.o.clit enqu~nto evi dênciás) e explicitar o seu caráte ideológico, / Ao colocar c~Jundamental o fato de que há uma relação n~­ Em segundo lugar, porque as críticas que se voltam contra a AD .cessária da linguagem com o contexto de sua produção, a AD tem de constituem formas contínuas de anexação e de revisão de sua capaci ~~lar-se sobre o campo das ciências sociais sem deixar de consti-• dade explicativa. Também quanto à AD, a "Razão Ocidental (razão tuir sua unidade no interior da teoria lingüística. Nela se juntam, pois', jurídica, religiosa, moral e política, tanto quanto científica) não con com alguma especificidade, a(s) teoria(s) das formações sociais e sentiu ( ... ) em concluir um pacto de coexistência pacífica ( . .. ) a(s) teoria(s) da sintaxe e da enunciação. senão sob a condição de anexá-la às suas próprias ciências ou a seus Em rela ãQ.. às ciências humanas, por sua vez, a AD também próprios mitos .. . " (Althusser em: Marx e Freud, Freud e Lacan, propõe um deslocamento no tratamento do texto: este s~ apresen.ta· Graal, Rio 1984). ~ m?numento e não como documento. Assim também a AD é objeto de tentativas de anexação por - -Este seu deslocamento em relação às Ciências Humanas consiste parte da Lingüística, representada pela Pragmática (integrada), pelas ' por seu lado, ~a r_~cusa da chamada Análise de Conteúdo clássica": Teorias da Enunciação ou pelas considerações da Argumentação ( des aquela que to~a o texto apenas como pretexto e o atrave~sa só pã;a politizadas, sob a forma de conversação). Isto é: a AD tem relações demonstrar o que já está definido a priori pela situação. Na Análise importantes com a Pragmática, a Enunciação e a Argumentação, mas de Conteúdo ? texto aparece como documento, que se toma só inclui, nessas relações, a consideração necessária do ideológico, ao como ilustração da situação em que foi produzido, situação esta já / a~ar que 'não há discurso sem..._syjeito nem sujeito sem ideologia/ constituída e caracterizada de antemão. A AD faz justamente o movi As tentativas de integração da Análise do Discurso tendem a apagar mento contrário: ao considerar que a exterioridade é constitutiva, ela essa dimensão ideológica e a anexar o discursivo como um apêndice parte do texto, da historicidade inscrita nele, . para atingir o modo de (secundário) ao lingüístico (central). 12 13 Enquanto projeto de conhecimento, enquanto proposta de uma teoria crítica sobre a linguagem, a AD defende-se dessas "reduções" (disciplinações) através de seu cisionismo. Podemos mesmo dizer que o cisionismo é constitutivo da cientificidade da AD.· Prática grávida de uma teoria em parte silenciosa (Althusser, id.) a AD não tem outro modo de se constituir senão pela sua dester O DISCURSO PEDAGÓGICO: ritorialização ( cf. Courtine, "Chroniques de l'oublie Ordinaire'', Sedi ments, n.0 1, Montreal, 1986). A CIRCULARIDADE* Considerando a AD como um modo de apreender "as formas textuais do político", Courtine ( op. cit.) dirá que ela te~de a eclipsar- · INTRODUÇÃO se, em função de um duplo apagamento: a) o encobrimento da relação de dominação política e b) o esquecimento do movimento de pensa mento que analisa a dominação política. Partindo da supos1çao de que se poderiam_ distinguir três tipo~ de discurso, em seu funcionamento - discur~o lúdico, discurso polê-_ Segundo o mesmo autor, essa vontade de esquecimento tem sua mico e discurso autoritáriq - procuraremos caracterizar o discurso emergência sedimentada ao mesmo tempo no terreno científico e no pedagógico (_DP), tal qual ele se q_presenta atualmente, como um. domínio político: a eclipse da razão crítica, que toma, na política, a d!Scurto autoritário. forma do pragmatismo. Nas ciências humanas, de acordo com este O critério, para a distinção dos três tipos de discurso, podemos_ autor, o "valor operacional, prático, instrumental da razão apaga seu encontrá-lo tomãlldo cõino base o referente e os participantes do valor crítico; a observação suplanta os saberes gerais; o fato desqua discurso, ou seja, o objeto do discurso e os interlocutores. Considera lifica a interpretação; o especialista se levanta frente ao intelectual". Os pesquisadores "encontram a terra firme das coisas e os rigores do mos q~ há dois processos - o parafrástico e o polissêmico - que são constitutivos da tensão que produz o texto ( Orlandi, 197 8). Podemos cálculo". O desejo de acabar com o político, diz Courtine, se encarna tomar a polissemia enquanto processo que representa a tensão cons em uma razão disciplinar e instrumental, na renovação do positivismo. tante estabelecida pela relação homem/mundo, pela intromissão da O texto de Courtine, na verdade, coloca-nos em estado de reflexão prática e do referente, enquanto tal, na linguagem. Nesse sentido, chamando a atenção para o que considero a questão crucial para a . podemos caracterizar os três tipos de discurso da seguinte maneira: AD: embora, na AD, a prática preceda a teoria (em parte silenciosa), o discurso lúdicQ. é aquele em· que o seu objeto se mantém presente se eliminarmos da AD a concepção de trabalho teórico, perdemos a enquanto tal 1 e os interlocutores se expõem a essa presença, resul sua função crítica e não nos restará senão sua função instrumental. tando disso o que chamaríamos de polissemia aberta (o exagero é o Esta, por sua vez, reduziria a AD ao academismo disciplinar. Como non-sense). O discurso polêmico mantém a presença do seu objeto, não é esta a vocação da AD, podemos dizer que o trabalho teórico é sendo que os participantes não se expõem, mas ao contrário procuram tão constitutivo da AD quanto seu cisionismo e a inclusão necessária dominar o seu referente, dando-lhe uma direção, indicando perspecti da reflexão sobre o ideológico. vas particularizantes pelas quais se o olha e se o diz, o que resulta na polissemia controlada (o exagero é a injúria). No discurso autoritário, Eis, enfim, três fundamen~ para a AD~ a teoria, a crítica e a o referente está "ausente", oculto pelo dizer; não há realmente inter- ideolog@. ,..-- * Texto apresentado na mesa-redonda "Linguagem e Educação", no XX Semi· Campinas, outubro de 1986. nário do GEL, 1978. Posteriormente, foi publicado na Série Estudos, n.0 6, Uberaba, 1978. 1 . Isto é, enquanto objeto, enquanto coisa. 14 15 locutores, mas um agente exclusivo, o que resulta na polissemia con no DP, aparece como algo que se deve saber. Entretanto, parece-nos tida (o exagero é a ordem no sentido em que se diz "isso é uma que, enquanto discurso autoritário, o DP aparece como discurso do ordem'', em que o sujeito passa a instrumento de comando). Esse poder, isto é, como em R. Barthes, o discurso que cria a noção de discurso recusa outra forma de ser que não a linguagem. erro e, portanto, o sentimento de culpa, falando, nesse discurso, uma voz segura e auto-suficiente. A estratégia, a posição final, aparece como Considerando-se que o DP se insere entre os discursos do tipo o esmagamento do outro. Nesse sentido, poderíamos dizer que A ensi autoritário, procuraremos caracterizá-lo enquanto tal. na B = A influencia B. A estratégia básica das questões adquire a forma imperativa, AS FORMAÇÕES IMAGINARIAS: isto é, as questões são questões obrigativas (parentes das perguntas O QUEM, O O QUb, O PARA QUEM retóricas). Exemplo: exercícios, provas, cuja formulação é: "Respon da . .. ?". São questões diretas a que se dá o nome de "questões Analisando-se o esquema que constitui o percurso estrito da co objetivas". municação pedagógica, temos: O esquema da imagem dominante - IB(R) - aparece de clinado segundo uma gradação de autoritarismo, desde IB (IA(R)), 1 Quem j 1 Ensina 1OQuê1 1 Para Quem 1 Londe 1· IB(IA(IB(IA(R)))) até a forma mais autoritária, da hipertrofia da i i i i i autoridade, isto é, do professor: IA (A), ou seja, a imagem que o professor tem de si mesmo. O que produz um discurso individuali Imagem Inculca Imagem do Imagem Escola zado em seu aspecto estilístico e de perguntas diretas e sócio-cêntricas: do referente do professor i aluno i "Não é verdade?", "Percebem?'', "Certo?", etc. (A) Metalinguagem (B) Aparelho (Ciência/Fato) Ideológico (R) (X) ~NSINAR Que pode ser representado como segue: Mais do que informar, explicar, influenciar ou mesmo persuadir, ensinar aparece como inculcar. A ensina R a B em X Podemos caracterizar a inculcação através de vários fatores Procuraremos, pois, .analisar essas variáveis (A, R, B, X) tendo próprios ao discurso e que fazem parte da ordem social em que em vista a função de ensinar. vivemos. Vejamos esses fatores: Se utilizarmos a técnica de imagens (formações imaginárias) de Pêcheux, tal como ele a define em sua AAD (Pêcheux, 1969), temos no esquema seguinte o que deveria ser a imagem dominante do DP: 1 - A quebra de leis do discurso, tais como as enunciadas por O. Ducrot ( 1972): o interesse, a utilidade ou a lei da informatividade IB(R) * 1 . 1 - A lei da informatividade diz que: se se quer informar é preciso que o ouvinte desconheça o fato que se lhe aponta. Veremos A questão que s.e constituiria na estratégia básica 2 do DP deve aqui mesmo, no item 3.b, como o DP lida com essa lei. ria ser a pergunta pelo referente (R), isto é, o objeto do discurso, que, 1 . 2 - Lei do interesse: lei geral do discurso segundo a qual * Imagem que B (o aluno) faz de R (referente). não se pode falar legitimamente a outrem senão daquilo que possa 2. Trabalharemos aqui com o esquema de pergunta-resposta por considerarmos interessar-lhe. que o circuito do ensino passa pelo movimento criado pela questão. 16 17 1. 3 - Lei da utilidade: lei "psicológica" segundo a qual não 2 - O "é porque é" se fala somente por falar, mas porque há uma utilidade em fazê-lo. Em virtude dessa concepção utilitarista da linguagem considera-se ra A apresentação de razões em torno do referente reduz-se ao "é zoável indagar, para cada ato de fala, os motivos que poderiam tê-lo p rque é". E o que se explica é a razão do "é porque é" e não a razão suscitado. do objeto de estudo. Nesse passo ,temos no DP duas características bastante evidentes. Ao nível da linguagem sobre o objeto, o uso de Além dessas leis gerais válidas para o comportamento lingüístico d iticos, a objetalização ("isso"), a repetição, perífrases. Ao nível da em geral, há uma regulamentação para cada categoria de atos de fala. metalinguagem, definições rígidas, cortes polissêmicos, encadeamen,. Por exemplo, para ordenar exige-se uma certa relação hierárquica entre quem ordena e quem obedece; para interrogar, há também a exigên los automatizados que levam a conclusões exclusivas e dirigidas. Daí cia de certas condições, e o direito de interrogar, exercido por uma u estranheza de um discurso que é diluidor e diluído, em relação ao autoridade, converte-se em poder de ordenar e, logo, não pode ser objeto, ao mesmo tempo em que apresenta definições categóricas e é atribuído indistintamente. ·xtremamente preciso e coerente, ao nível da metalinguagem. Para cada uma das leis gerais pode-se fazer corresponder um - A cientifi cidade tipo particular de subentendido. No DP, entretanto, o que há é mas caramento. A transmissão de informação e fixação são consideradas obje Mantida a regulamentação para o ato de interrogar e de ordenar tivos do DP. Até o momento falamos do tipo de "informação" (com - uma vez que o professor é uma autoridade na sala de aula e não portamento) que ele "transmite" (inculca). Gostaríamos, agora, de só mantém como se serve dessa garantia dada pelo seu lugar na fular sobre a natureza dessa "informação". E sua característica está hierarquia -, o recurso didático, para mascarar a quebra das leis m que ele se pretende científico. O estabelecimento da cientificidade de interesse e de utilidade, é a chamada motivação no sentido peda do DP pode ser observado espeCialmente em dois pontos: a) a me gógico. Essa motivação aparece no DP como motivação que cria inte l;ilinguagem e b) a apropriação do cientista_f eita pelo professor. resse, que cria uma visão de utilidade, fazendo com que o DP apre sente as razões do sistema como razões de fato. Ex.: no léxico, o uso Ll) A metalinguagem das palavras "dever'', "ser preciso'', etc. Nas formações imaginárias que citamos mais acima - por exem A metalinguagem tem um espaço (institucional) para existir. Vejamos essa relação da metalinguagem com seu espaço, no DP. plo, IB(IA(R)) - podemos incluir a mediação do "dever": 1 que B deve ter da 1 que A deve ter do R, etc. Assim como, pela quebra das O conhecimento do fato fica em segundo plano em relação ao leis de discurso, o que temos é ainda a mediação: a desrazão cede ·onhecimento da metalinguagem, da forma de procedimento, da via lugar à mediação da motivação que cria interesse, utilidade, etc. Essa de acesso ao fato. Na realidade, não há questão sobre o ·objeto do motivação tem validade na esfera do sistema de ensino e deriva dos discurso, isto é, seu conteúdo referencial, apresentando-se assim um valores sociais que se lhe atribui. H caminho: o do saber institucionalizado, legal (ou legítimo, aquele Em um e outro caso, temos sempre a anulação do conteúdo refe que se deve ter). O conteúdo aí é a forma (artefato) e se aponta rencial do ensino e a sua substituição por conteúdos ideológicos mas a forma como réplica do conteúdo. Através da metalinguagem, o que . carando as razões do sistema com palavras que merecem ser ditas se visa é a construção da via científica do saber que se opõe ao senso _por si mesmas: isto é o conhecimento legítimo. As mediações são ·ornum, isto é, constrói-se aí o reino da objetividade do sistema. O sempre preenchidas pela ideologia. objeto aparece refletido nos recortes de uma metalinguagem que se 18 19

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