A Independência Norte- Americana Independência EUA-04.indd 1 20/01/2014 10:00:19 SÉRIE ESTRATÉGIA, DEFESA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS ] ] A Independência Norte- Americana GUERRA, REVOLUÇÃO E LOGÍSTICA Érico Esteves Duarte Editora Leitura XXI Praça Dom Feliciano, 78, sala 202 CEP 90020-160 – Porto Alegre, RS Fone: (51) 3221 2310 E-mail: [email protected] www.leituraxxi.com.br PPGEEI-UFRGS Núec lReoe lBaçraõseisle Iirnote dren aEcsiotrnaatéisgia EPsrotugdroasm Eas tdreat éPgóicso-Gs rIantdeurnaaçcãioo neamis Independência EUA-04.indd 2 20/01/2014 10:00:19 SÉRIE ESTRATÉGIA, DEFESA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS ] ] A Independência Norte- Americana GUERRA, REVOLUÇÃO E LOGÍSTICA Érico Esteves Duarte Com apoio do Programa de Pós-Graduação em Estudos Estratégicos Internacionais (PPGEEI/UFRGS) PPGEEI-UFRGS Núec lReoe lBaçraõseisle Iirnote dren aEcsiotrnaatéisgia EPsrotugdroasm Eas tdreat éPgóicso-Gs rIantdeurnaaçcãioo neamis Independência EUA-04.indd 3 20/01/2014 10:00:20 © de Érico Duarte 1ª edição: 2013 Direitos reservados desta edição: Leitura XXI/NERINT-UFRGS Capa: Carla M. Luzzatto Ilustração da capa: Andy Thomas, The Battle of Saratoga Editoração eletrônica: Fernando Piccinini Schmitt Série Estratégia, Segurança e Relações Internacionais Conselho Editorial: Paulo Fagundes Visentini (UFRGS) – Coordenador André Beirão (Escola de Guerra Naval) Érico Duarte Esteves (UFRGS) - Coord. Adjunto Domício Proença Jr (COPPE-UFRJ) Luiz Dario Teixeira Ribeiro (UFRGS) Immanuel Wallerstein (YALE University, EUA) Marco Aurélio Cepik (UFRGS) Boris Martynov (AC da Rússia) Carlos Schimdt Arturi (UFRGS) Mehdi P. Amineh (U. Amsterdã - Holanda) Analúcia Danilevicz Pereira (UFRGS) Bertrand Badie (Science Po, França) Marcelo Milan (UFRGS) Myriam Colacrai (U.N. Rosário - Argentina) Cristina Soreanu Pecequilo (UNIFESP) Ilter Turan (Istanbul Bilgi University, Turquia) Leonardo Ramos (PUC-MG) Lofti Kaabi (ITES - Cartago, Tunísia) Antônio Jorge Ramalho da Rocha (UnB) Adam Habib (Univ. Witswatersrand - África do Sul) Adriana Marques (ECEME) Aditya Mukkerjee (IAS/JNU - Índia) Marcos da Costa Lima (UFPE) DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) D812 i Duarte, Érico Esteves A independência norte-americana : guerra, revolução e logística / Érico Esteves Duarte -- Porto Alegre : Leitura XXI, 2013. 248 p.: Il. -- (Série Estratégia, segurança e relações internacionais) ISBN 978-85-86880-38-4 1. Ciência política : Estratégia militar. 2. Política militar : Guerras. 3. Independên- cia : Estados Unidos. 4. Operações de guerra. I. Universidade Federal do rio Grande do Sul. Núcleo Brasileiro de Estratégia e Relações Internacionais. II. Título. III. Série. CDU 355.4 Responsável: Biblioteca Gládis W. do Amaral, Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS Independência EUA-04.indd 4 20/01/2014 10:00:20 Agradecimentos Qualquer trajetória acadêmica precisa da solidariedade de outros. A realiza- ção de um livro de Estudos Estratégicos no Brasil vai bem além disso, como este, é produto de ampla colaboração e generosidade. Portanto, o próprio entendimento do contexto de elaboração deste livro se faz a partir desses agradecimentos. Em primeiro lugar, não se pode tomar o conteúdo deste livro como um produto de um único individuo. Seu desenvolvimento deu-se pela trajetória co- letiva dos membros do Grupo de Estudos Estratégicos no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Lá que tiveram origem os Estudos Estratégicos no Brasil e onde cursei meu mestrado e doutorado num rigor e, ao mesmo tempo, autonomia que eu dificilmente encontraria em algum outro lugar. O ambiente profícuo e a orientação generosa de meu orientador, Professor Domício Proença Júnior, permitiram que eu desenvolvesse formação para que eu desenvolvesse a pesquisa de tese que, em ultima instancia, resultaria no presente livro. Por essas razões, os agradecimentos a ele devem ser amplos, principalmente porque várias das passagens do livro tiveram suas primeiras versões nos diversos trabalhos em que cooperamos. Mais incisivamente, os capítulos 1 e 2 são versões mais avançadas de artigo que publi- camos em co-autoria em 2005 no Journal of Strategic Studies – ‘The Concept of Logistics derived from Clausewitz”. Distintivamente, avanço meus estudos a partir de sua abordagem original da Teoria da Guerra de Carl von Clausewitz, desenvolvida em colaboração com o Professor Eugenio Diniz da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Para além do seu conteúdo, a colaboração com eles em diversos projetos de pes- quisas, eventos acadêmicos e redação de textos e artigos permitiu ainda que eu desenvolvesse as habilidades e ética necessárias para o compromisso com o ofício acadêmico. Em segundo lugar, o desenvolvimento do restante da pesquisa e do seu manuscrito contou uma lista de professores que se dispuseram a interagir com meus entendimentos sobre Clausewitz e que foram solidários com meus esforços. Destes, devo mencionar com destaque a surpresa de ter contado com o benefício da solidariedade do Professor Peter Paret do Institute for Advanced Studies, Princeton. Independência EUA-04.indd 5 20/01/2014 10:00:20 Ele leu e comentou todos os textos encaminhados por mim e suas correspondências foram sempre as mais humildes, atenciosas e eruditas o que vão sempre me servir de exemplo. Outros professores ‘clausewitzianos’ foram solícitos e atenderam a todas as indagações encaminhadas por mim: coronel Mauro Mosqueira da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército Brasileiro, Daniel Moran do United States Naval Postgraduate School, Andreas Herberg-Rothe da Universidade de Berlim, Christopher Bassford do United States National War College e Antulio Echevarria II do Institute of Strategic Studies, Leavenworth. Por fim, devo agradecer aos meus colegas, alunos e técnicos do Núcleo Brasileiro de Estratégia e Relações Internacionais (NERINT) e do Programa de Pós-Graduação em Estudos Estratégicos Internacionais da Universidade Federado do Rio Grande do Sul. Apenas pelo reconhecimento e a mobilização deles que exis- tiu a publicação desse livro. Em particular agradeço ao Professor Paulo Visentini pela generosidade de seu apoio e disposição. Independência EUA-04.indd 6 20/01/2014 10:00:20 Prefácio Toda discussão em nosso tempo enfrenta as pressões e dinâmicas da apropria- ção mercadológica da cultura e da imposição arbitrária de uma forma quantitativa e míope do que seja o mérito. Em prol da venda do que está à venda e para mais vender produto, conteúdo ou patrocínio, cultiva-se um desdém pelo que não esteja sendo empurrado por alguma campanha bem articulada de divulgação. Como se algo que não fosse objeto de propaganda não merecesse atenção e não tivesse valor. Em prol de indicadores e metas que se impõem como sendo o sinal exclusivo do mérito, tem-se práticas e distinções pautadas pelo que se pode medir, abertas a todo tipo de manipulação. Como se algo que não pudesse ser medido quantitativamente não merecesse atenção e não tivesse valor. No mundo anglofônico, há uma frase de efeito que vemos em filmes, em que um advogado instrui seu cliente a não impor a dor do entendimento e da complexidade a um júri. Diz: “me conte como se eu fosse uma criança de seis anos”. Essa é uma bela fórmula de alcançar o maior número possível de pessoas, substituindo entender por concordar sem pensar, complexidade pela simplificação que predispõe ao que quer que se deseje de outros. Esta fórmula é sedutora para fins de ganhar o voto do júri, buscando reduzir a questão a seus preconceitos. O problema é que há muitas coisas mesmo no mundo que não estão ao alcance do que uma criança de seis anos pode dizer. No nosso mudinho apresenta-se ainda como completa uma verdade pela metade e menos até que a metade. Diz-se, assume-se, impõe-se que livros não têm valor. Justifica-se dizendo que livros são demasiado longos, que não obedecem a critérios objetivos para sua feitura e publicação. Nisso se intima que autores mortos são demasiado distantes de nós, são irrelevantes para nós, porque sabemos tão mais do que eles e o que eles dizem não pode ser medido.Que não deveriam ter e portanto não se permitirá que tenham reconhecimento. A outra parte da verdade é que para avaliar um livro é preciso lê-lo, compreender o que se lê e situar o lido em outras leituras, que também incluem ter lido e compreendido outros livros. E que são autores mortos e seus livros, por estes autores mortos e seus livros, com esses autores mortos e seus livros, que autores vivos e seus livros nos permitem saber mais. Independência EUA-04.indd 7 20/01/2014 10:00:21 Muito de nossas vidas e sonhos depende de fato de dar conta de questões que dependem de se entender coisas complexas em sua complexidade. Entendê-las e não apenas aceitar a sedução do simples da criança de seis anos de uma cam- panha de propaganda ou a restrição da classificação objetiva de algum arbítrio pseudo-cientométrico. A guerra é uma destas questões. Durante uma guerra, os impositivos políticos da afirmação da unidade de dos lados e o cultivo de propaganda por sentimentos hostis contra o oponente para fazê-lo inimigo, motivando e justificando sacrifícios, tende a obscurecer o entendimento.Durante uma guerra, é preciso ter-se pensado e entendido muito antes da guerra para ser capaz de entender através destes véus, seja dos discursos de outros, seja de nossos próprios interesses e paixões. É oportuno ter construído entendimento antes que a guerra ou a possibilidade da guerra se ponha diante de nós, implacável. É isso o que se tem neste livro. Uma contribuição original que se oferece à apreciação e à crítica. Que busca apresentar a complexidade da guerra para construir nosso entendimento. Que desafia a simplificação historicista de que tudo ocorre como tinha que acontecer, e aviva nossas responsabilidades de mais velhos que seis anos diante da questão fundamental da soberania democrática. Que coloca sob nossos olhos e revela os vínculos pelos quais podemos entender as variáveis e variantes que compõem as difíceis decisões relacionadas à segurança do Estado Democrático de Direito e da Defesa Nacional. Que questiona a certeza tão popular e fácil de promessas tecnológicas, ao mesmo tempo em que situa a per- tinência e o significado da capacidade real de engenharia e da tecnologia. Tem-se aqui um broto que se apoia na raiz do entendimento da complexidade peculiar da guerra desdobrando a contribuição de Clausewitz (um autor morto de livro), pleno da humanidade da guerra: as convicções e personalidades, as possibilidades e as escolhas, de maneira teoricamente estruturada. É o que Érico Duarte (um autor vivo, deste livro), com quem pude conviver e trabalhar, como orientador e coautor, traz a público o resultado premiado de sua passagem doutoral. Um livro que merece ser lido. DOMÍCIO PROENÇA JúNIOR Coordenador do Grupo de Estudos Estratégicos da Universidade Federal do Rio de Janeiro Independência EUA-04.indd 8 20/01/2014 10:00:21 Apresentação A Independência dos Estados Unidos da América é um capítulo especial da história da humanidade. É, possivelmente, o momento mais expressivo do envolvimento de um povo na condução do seu próprio destino, legando a toda a América um exemplo que faria espalhar, décadas mais tarde, a chama dos mo- vimentos libertários que resultaram nos processos de independência em todo o continente americano. Tratou-se, como bem define o autor, também de uma revolução, cujo legado, diferente de tantas outras, produziu a democracia mais sofisticada e próspera que se tem notícia. Por isso mesmo, esse fato da história dos conflitos merecia, já há algum tempo, uma análise da qualidade da que aqui está registrada. A vasta literatura e a densa filmografia já existentes sobre o tema sugerem que nada de novo há mais a acrescentar ao episódio. A obra de Érico Duarte demonstra exatamente o contrário: com uma abordagem original, desloca o foco da investigação do conteúdo puramente histórico para descrever e concluir sobre estratégia, tática e logística militar, ângulos de visada incomuns a um observador civil, particularmente se enquadradas sob a ótica crítica de Clausewitz. Com admirável densidade cultural, Duarte vale-se de extensa bibliografia para aprofundar a busca e consubstanciar seus argumentos. Não raras vezes apre- senta conclusões inéditas, e este ineditismo terá, sem dúvida, o papel de despertar outros autores para que prossigam na pesquisa que integre o estudo da estratégia aos aspectos táticos e logísticos da arte da guerra. Já na introdução, o autor expõe sua visão da guerra como uma possibilidade sempre presente no contexto dos Estados, em virtude da condição anárquica do siste- ma internacional, onde nenhuma regra é soberanamente imposta a todos, deixando de haver, portanto, a regulamentação dos conflitos de interesses. A consequência é a permanente necessidade da preparação para a guerra por parte dos Estados. Assim, Duarte expõe, com coragem em meio ao utópico pacifismo tão comum em nossos dias, uma visão realista e responsável, que busca fazer-nos entender que a paz é o objetivo perene da humanidade, mas que o uso da força ainda é recurso legítimo do Estado, na defesa da sociedade e na proteção ou im- posição de seus interesses. Independência EUA-04.indd 9 20/01/2014 10:00:21 Nesse entendimento, a guerra como instrumento político é refém do contexto e sujeita a interpretações ideológicas. Essa característica tem limitado a Estratégia como fundamentação teórica para explicar o fenômeno bélico. Tal percepção inspirou o autor a investir no caminho de uma pesquisa mais rigoro- sa no campo dos estudos estratégicos, valendo-se da Guerra de Independência Americana para desenvolver seu pensamento, tomando por base as concepções de Clausewitz. Rigoroso e objetivo em sua análise, Carl Von Clausewitz lançou sobre a guerra um olhar investigativo que ultrapassou a pura contemplação e a descrição de fatos para encontrar e explicar fatores que poderão servir de instrumentos ao comandante militar no delicado jogo bélico. O método clausewitziano foi explora- do por diversos autores e utilizado por muitos chefes militares, mas, curiosamente, não está presente nas ideias e proposições estratégicas. A Estratégia, como campo de estudo, surge no pós-guerra. Sua trajetória coincide com o período da Guerra Fria e, portanto, sua abordagem é naturalmente ideologizada e circunstancial. É, pois, parte da proposta desta obra retomar o prumo metodológico para avançar no campo dos estudos estratégicos de forma a transformá-los em ferramenta à disposição de estudiosos e governantes. Antes de usar a Guerra da Independência dos Estados Unidos como base histórica sobre a qual desenvolverá seu pensamento, Duarte tece significativas con- siderações sobre a preparação para a guerra, em particular, sobre a ação logística. E é na reflexão logística que ele vai buscar as ideias de Jomini, um homem prático, que sintetiza ideias dispersas de outros pensadores da guerra para elaborar a sua teoria em um tempo em que o mundo ainda se refazia das guerras napoleônicas. É de Jomini que se tem um dos primeiros conceitos de logística, que o autor ressalta e transcreve, além de princípios logísticos que, ao longo dos anos, os estudiosos têm visto com uma ponta de ambiguidade. Interessante, observa o autor, como o seu Sumário da Arte da Guerra recebe interpretações diferentes ao longo do século XIX a cada reedição, o que torna ainda mais delicada a análise do seu legado. Duarte nos mostra que da sombra de Jomini outros pesquisadores avançaram na elaboração teórica da logística, mas ressalta a fragilidade conceitual sempre ligada e esse aspecto fundamental da guerra, até os nossos dias. De volta a Clausewitz, o autor enfatiza a crítica feita por esse clássico pen- sador sobre a guerra e suas tentativas de compreender sua natureza por meio da análise metodológica, mas depara-se com as limitações que este tipo de estudo pode sofrer do ponto de vista científico, advindas da dificuldade de identificar e isolar variáveis. A metodologia clausewitziana entende que qualquer manifestação do fenô- meno bélico, independentemente da dimensão ou natureza das partes envolvidas, das forças em presença, da sua amplitude no tempo e da sua localização geográfica Independência EUA-04.indd 10 20/01/2014 10:00:21