“Estávamos livres. Nas ruas, as crianças cantavam (...) e eu repetia para mim mesma: Acabou, acabou.” É o fim da Segunda Guerra Mundial, a França liberta do poder hitlerista, o recomeço da Europa. É também o ponto de partida para o terceiro livro de memórias de Simone de Beauvoir.
Após abordar sua infância e juventude em Memórias de uma moça bem-comportada e seus primeiros anos como escritora em A força da idade, Simone nos relata aqui sua experiência como intelectual consagrada, numa escrita mais sóbria e madura. Em A força das coisas, ela recupera belas histórias de viagens (à Espanha e à Áustria, por exemplo) e o cotidiano da intelectualidade francesa, com montagens de peças, publicações de livros, divulgação de manifestos em revistas, enfim, o soerguimento das manifestações culturais no pós-guerra. E, como uma boa surpresa, Simone de Beauvoir dedica parte desta obra a suas impressões sobre o Brasil, a partir de sua visita com Sartre, guiada por Jorge Amado.
Para a autora, a escrita de um romance ou de uma biografia a absorve mais do que a de um ensaio. O tempo de reflexão e de pesquisa é longo; o trabalho, árduo; e muitas vezes, depois de mais de trezentas páginas escritas, ela recomeça tudo do zero. Mais do que um ofício, para Simone a literatura é uma mania; uma ansiedade a faz levantar para escrever.
A força das coisas é uma imersão no passado; através do resgate de cartas, diários e anotações, partilhamos dessa reflexão sobre o fazer literário, dessa procura pela verdade, por mais crítica ou subjetiva que seja.