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A filosofia: O que é? Para que serve? PDF

153 Pages·1·3.941 MB·Portuguese
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Danilo Marcondes Irley Franco A filosofia: O que é? Para que serve? Copyright © 2011, Danilo Marcondes e Irley F. Franco Copyright desta edição © 2011: Jorge Zahar Editor Ltda. rua Marquês de São Vicente 99 1o andar | 22451-041 Rio de Janeiro, rj tel (21) 2529-4750 | fax (21) 2529-4787 [email protected] | www.zahar.com.br Reitor: Pe. Josafá Carlos de Siqueira, S.J.; Vice-Reitor: Pe. Francisco Ivern Simó, S.J.; Vice-Reitor para Assuntos Acadêmicos: Prof. José Ricardo Bergmann; Vice-Reitor para Assuntos Administrativos: Prof. Luiz Carlos Scavarda do Carmo; Vice-Reitor para Assuntos Comunitários: Prof. Augusto Luiz Duarte Lopes Sampaio; Vice-Reitor para Assuntos de Desenvolvimento: Prof. Sergio Bruni; Decanos: Prof. Paulo Fernando Carneiro de Andrade (CTCH), Prof. Luiz Roberto A. Cunha (CCS), Prof. Reinaldo Calixto de Campos (CTC), Prof. Hilton Augusto Koch (CCBM) Editora PUC-Rio Conselho editorial: Augusto Sampaio, Cesar Romero Jacob, Fernando Sá, José Ricardo Bergmann, Luiz Roberto Cunha, Maria Clara Lucchetti Bingemer, Miguel Pereira e Reinaldo Calixto de Campos rua Marquês de S. Vicente, 225, casa da Editora PUC-Rio | Gávea 22451-900 Rio de Janeiro, rj tels (21) 3527-1838 | (21) 3527-1760 [email protected] | www.puc-rio.br/editorapucrio Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação de direitos autorais. (Lei 9.610/98) Grafi a atualizada respeitando o novo Acordo Ortográfi co da Língua Portuguesa Salvo indicação em contrário, as citações deste livro foram extraídas das edições indicadas nas referências bibliográfi cas. Revisão: Michelle Mitie Sudoh, Clara Diament Capa: Dupla Design cip-Brasil. Catalogação na fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, rj Marcondes, Danilo M269f A fi losofi a: O que é? Para que serve? / Danilo Marcondes, Irley Franco. – Rio de Janeiro: Zahar: Ed. PUC-Rio, 2011. isbn 978-85-378-0529-9 (Zahar). – 978-85-8006-039-3 (Ed. PUC-Rio) 1. Filosofi a. 2. Signifi cação (Filosofi a). I. Título. cdd: 100 11-1768 cdu: 1 Sumário Apresentação . .................................................... 7 1. O que é filosofia? Uma só pergunta e múltiplas respostas ............. 9 2. Sobre a utilidade e o valor da filosofia. ............................. 24 3. Os estilos literários da filosofia ................................... 32 O diálogo • O tratado • O ensaio • O poema • O aforismo • A confissão • A carta 4. Figuras do filósofo ............................................... 44 A origem da palavra • O crítico • O metafísico • O mago • O cientista • O po- lítico • O comentador 5. A tradição filosófica e os diferentes modos de conceber a filosofia ..... 64 Filosofia como sabedoria de vida • Filosofia como visão de mundo • Filosofia como atitude crítica e questionadora • Filosofia como sistema de pensamento • Fi- losofia como busca pelo autoconhecimento 6. A história da filosofia e sua periodização ........................... 76 O problema da periodização 7. A questão da origem ............................................. 87 A influência da filosofia de Platão • A crítica à teoria das ideias • As áreas da filosofia 8. Os principais conceitos da filosofia em sua origem. .................. 100 Glossário de conceitos-chave Anexo: Quadro cronológico da filosofia. .................................. 117 Notas ............................................................. 147 Referências bibliográficas ............................................. 149 Apresentação Os céticos antigos contavam a história do jovem que, interessado em filosofia, vai para Atenas estudar e procurar um mestre. Seu primeiro contato é com a Academia de Platão, a que ele de imediato se filia, tornando-se um fervoroso discípulo. Mas lá alguém menciona o Liceu de Aristóteles, e ele, por curiosidade, resolve saber algo sobre essa escola. Ao ouvir as lições dos aristotélicos e suas críticas ao platonismo, rapidamente converte-se ao aristotelismo. Porém, mais uma vez, apontam-lhe a existência de uma outra escola, a do Pórtico, escola estoica, fundada por Zenão de Cítio, e o jovem, tomando conhecimento de seus ensinamentos, adere ao estoicismo. No Pórtico, ouve falar do Jardim dos epicuristas, e novamente sai em busca das lições dessa outra escola. E assim, o jovem que procurava um mestre que lhe ensinasse filosofia encontra não um, mas vários mestres e escolas, e não consegue optar por nenhuma, pois a cada momento aquela em que se encontra lhe parece a melhor. O objetivo dos céticos com essa parábola antiga era mostrar o conflito das doutrinas que competem entre si e se excluem, e o quanto não temos um critério independente de todas elas que nos permita fazer uma escolha imparcial. Todo filósofo enfrentou ou enfrentará, em algum momento, dúvidas quanto ao sentido da filosofia: O que é? Qual escolher? Para que serve sua matéria? Qual o melhor caminho a seguir? Pois a filosofia enquanto pensamento crítico e reflexivo tem como característica colocar a si mesma em questão. Porém, como dizia o próprio Aristóteles, até para questionar o logos é preciso utilizá-lo. Foram essas questões tão básicas quanto antigas que nos levaram a desen- volver aqui nossas reflexões, procurando mostrar que para a pergunta “o que é filosofia?” há múltiplas respostas e que, ao contrário do que ocorre com o jovem grego candidato a filósofo, no contexto contemporâneo, não mais vemos as diferentes respostas como excludentes ou como exigindo uma adesão total. Temos afinidades, simpatias, tomamos conhecimento de pensadores que nos permitem discutir melhor algumas questões do que outros, mas não julgamos que haja uma única corrente filosófica capaz de fornecer todas as respostas, que se imponha às demais, ou que deva merecer nossa absoluta aceitação. Vivemos 7 8 A filosofia: O que é? Para que serve? em uma época de pluralismo das ideias, e isso nos permite examinar os vários caminhos que se abrem diante de nós, sem a mesma perplexidade do jovem em Atenas. Foi com isso em mente que nos propusemos a examinar as múltiplas res- postas que os filósofos deram a essa questão essencial que a filosofia levanta em torno do significado de seu próprio nome. E o fizemos sob as mais va- riadas perspectivas, explorando os pontos onde essa questão se desdobra em outras, a ela correlatas: sua utilidade prática, os diferentes estilos literários que um filósofo usa para exprimir seu pensamento, de que forma cada época via um filósofo (como crítico, ativista político, mago e pensador esotérico…), o ponto de vista histórico e as aproximações temáticas da filosofia… Sempre mostrando como todas essas questões, que estão no cerne da filosofia, passaram por grandes transformações, mas ainda se encontram entre nós. São questões fundamentais, que, como dizia Kant, a razão inevitavelmente levanta para si mesma, sem poder entretanto responder. Finalmente gostaríamos de acrescentar que este livro é resultado de um tra- balho conjunto, e acreditamos que não poderia ter sido feito de outra maneira. Foi essencial para o seu desenvolvimento – e para o modo como trabalhamos essa questão, enfatizando as múltiplas visões da filosofia – o diálogo entre nós, com frequência marcado por divergências. Isso nos forçou a explicitar melhor nossas posições e também a revê-las e reformulá-las. É algo desse aprendizado conjunto que gostaríamos de transmitir a nossos leitores, convidando-os a chegar também a suas próprias visões com base no amplo, diversificado e complexo mosaico que a filosofia continua nos apresentando. Os Autores 1. O que é filosofia? Uma só pergunta e múltiplas respostas Sei e não sei o que pretendo com esse título, “Filosofia” …, pois, quan do e para que pensador, em toda a sua vida de filósofo, a filosofia deixou de ser um enigma? Edmund Husserl No decorrer da história, muitas foram as definições de filosofia formu- ladas por filósofos. Não raro, na obra de um mesmo pensador encontramos concepções variadas, que podem ou não divergir entre si; algumas tornam-se centrais, outras secundárias e outras ainda são postas de lado, conforme o in- teresse do autor evolui. Às vezes essas concepções tomam rumos inesperados nas obras de outros escritores. Interpretadas à luz de um tempo posterior, as que eram centrais podem tornar-se secundárias e vice-versa, assim como as que foram descartadas podem ser retomadas e valorizadas, ganhando uma importância maior do que a pretendida originalmente. O que todas essas concepções têm em comum? O que dá a elas o direito de serem chamadas de “filosofia”? Um bom exemplo dessa diversidade de significações é certamente a obra de Platão, filósofo a quem se costuma remontar a origem da própria filosofia – já que seus antecessores, os pré-socráticos, por estarem preocupados com questões relativas à natureza, eram físicos e não filósofos, como observa Aris- tóteles no Livro A da Metafísica. Em Platão, cujo pensamento abrange, às vezes indistintamente, também o de Sócrates (que jamais escreveu uma única linha), encontramos pelo menos de forma embrionária quase todas as possíveis de- finições de filosofia presentes na história. Mas foi a noção de que a filosofia é uma busca que se realiza na contemplação da verdade – verdade que só se atinge através da intuição intelectiva de formas abstratas – que se tornou, por excelência, platônica. Desenvolvida por Platão – especialmente nos livros VI e VII da República, onde a separação metafísica dos mundos sensível e inteli- 9 10 A filosofia: O que é? Para que serve? gível não é apenas mencionada, mas é pela primeira vez tematizada –, é essa a concepção platônica considerada fundadora do sentido ocidental de filosofia, isto é, um saber que, dando-se exclusivamente através do intelecto e da razão, poderá alcançar verdades absolutas: “São filósofos”, diz Platão, na República, “aqueles que são capazes de atingir o que é eterno e imutável.” Podemos considerar, embora com prováveis exceções, que do ponto de vista histórico a filosofia girou quase que completamente em torno de problemas que já haviam sido levantados pela filosofia de Platão. Daí a célebre afirmação do pensador americano A.N. Whitehead de que a tradição filosófica europeia não passa de “uma série de notas de pé de página a Platão”. No centro do pensamento platônico circulam os mais caros conceitos da filosofia: verdade, conhecimento, razão, intelecto, intuição, movimento, moral, sensação, opinião etc., e é em torno deles que se desenrolam as questões mais importantes da história da filosofia. Obviamente, não poderíamos aqui dar conta de todos os detalhes desse processo, mas, tomando como base alguns de seus aspectos, e sem jamais des- considerar o fato de que estão em geral interligados, talvez seja possível ilustrar alguns momentos tópicos da história do pensamento. A começar, por exemplo, pela etimologia da palavra grega philosophia, que significa amor à sabedoria: nossa primeira questão é identificar que sabedoria é essa e de que modo pode ser alcançada. Uma posição claramente platônica em sua origem é justo aquela que en- tende a filosofia, e portanto a busca da sabedoria, como dependente do exer- cício puro da razão. Filiam-se a essa concepção todas as filosofias que opõem o pensamento racional às apreensões da sensibilidade, e que supõem que so- mente o intelecto é capaz de atingir a realidade verdadeira. Essa oposição do pensamento racional àquilo que é produto da sensação, como crenças e ilusões, já encontramos em Platão, quando ele distingue ciência (episteme) de opinião (doxa), em especial no Mênon e na República – embora Platão considere dois tipos de opinião, a falsa e a verdadeira, e conceda à última alguma dignidade intelectual, no Banquete e no Teeteto, por exemplo. Mas essa mesma distinção tomou outros rumos, ganhou novas formas à medida que foi sendo absorvida e recriada por filósofos e filosofias de outras épocas, como os denominados “racionalistas” (na modernidade, Descartes, Spinoza e Leibniz), que defendiam a tese de superioridade da razão sobre a sensação (aisthesis).

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