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A Filosofia Medieval no Brasil: persistencia e resistencia PDF

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q Dr. Luas Alberto De Bom MARCOS ROBE]RTO NUNES COSTA Organizador A FILOSOFIA MEDIEVAL NO Bji.ASIL: Persistência e Resistência Homenagem dos Orientandos e Ex-orientandos ao Mestre Dr. Luas Alberto De Bom Prínter Gráfica & Editora RECUE/2006 Capa: Elizabete Correia. SUMÁRIO Foto da capa: llluminatedP ago Janet Backhouse INTRODUÇÃO 07 Diagramação: Elizabete Correia. O conceito de cansa.Pma/ís em Ockham Alfredo Culleton ... 11 A ética em Tomas de Aquino: um horizonte dialógico frente à ética contemporânea FICHA CAIALOGRÁFICA Anderson D'Arc Ferreira .......................... 29 O processo do conhecimento abstrato em Santo Tomas de Aquino COSTA, Marcos Roberto Nunes(Org). A Filosofia Medieval Claudir Miguel Zuchi ................................................................... 47 no Brasil: persistência e resistência. Homenagem dos Orientandos e Ex-orientandos ao Mestre Dr. Luis A felicidade na Z)e P;ziZosophlae (b/zsoZa#one:. de Boécio Alberto De Bom/Marcos Roberto Nunes Costa (org.). Cleber Duarte Coelho 67 Recife: Gráfica e Editora Printer, 2006. Bibliografia de Luas Alberto De Bom 194 P. Cléber Eduardo dos Santos Dias Joice Beatriz da Costa 75 1. Idade Média. 2. Filosofia Medieval. 1. Título Virtude e felicidade nos "Z)íá/egos de Cassicíbco", de Santo Agostinho CDD 189 1= 1en 'V"la.sB oasjle s ...... - -+ - - - -- . +- - . IOI O hermetismo no "Segredo dos Segredos", do Pseudo-Aristóteles e-mail: [email protected] 11(1. J. te;i Rcxe:g.ell......nnpp+++p oeP08.een80-T TP++ o+PoeeB&BaT-TnPePPO P B eoa80 beba 113 A conversãod o olhar: da metáforad a luz ao retorno às coisas Proibida a reprodução total ou parcil desta obra sem a autorização expressa desta editora mesmas Luís Evandro Hlinrichsen.. .......................................................... 135 Printer Gráfica e Editora Fones: 81 3471.0105 / 3471.2120 7 INTRODUÇÃO Berengário, Lanfranco e Anselmo: três visões sobre a dialética no século XI MlanoelL uís Cardoso Vasconcellos. ........................................... 151 A redescoberta da Filosofia da Idade Média não O problema do mal em Santo Agostinho significa apenas alterações no ranking dos grandes Marcos Roberto Nunes Costa ..... 161 nomes. Ela mostra cada vez mais como, por trás de uma aparente despretensão quase repetitiva, há Guilherme de Ockham: teoria da conotação um pensar multifacetado, de nuances inesperadas, com intuições que haveriam de desenvolver-se Pedro Gilberto Leite Junior 177 p[enamente em outros so]os [...]. Compreender o estudo da Filosofia Medieval, como autónoma, A soberania da lei humana em Marsílio de Pádua mas também como um pensamento ligado não só 183 Sérgio Ricardo Strefling ao passado de proveniência greco-romana, mas também ao presente modemo, como constitutivo deste, é o grande desafio com que deparam os medievalistas de nossa época. (Luis Alberto De Bom Revista Ventas, v. 39, n. 155, 1994) A história do ensino/pesquisa da Filosofia Medieval no Brasil tem sido uma luta de resistência e persistência. Durante muito tempo, o ensino/pesquisa da Filosofia Medieval, no Brasil, esteve relegado a segundo plano, ficando restrito, quase que exclusivamente, aos meios ec]esiásticos, o que nos levou a não termos uma tradição sólida e profunda do ensino/pesquisa dessa importanteá rea do conhecimento filosófico em nosso país. Antes, pelo contrário, com a concentração dos esforços no estudo de outras áreas/períodos da Filosofia, centrados, especialmente, na Modemidade e Contemporaneidade, a Filosofia Medieval foi não só esquecida, mas, sobre ela recaíram todos os preconceitos, atribuídos a tudo que se produziu na Idade Média em termos de intelectualidade. Para a tradição/ideologia impressa pelos "modemistas", a Idade Média é compreendida como uma lacuna entre o mundo Antigo e o Modemo: mais do que isso, em todos os setores, foi-lhe atribuída, implícita ou explicitamente, a idéia de mediocridade, conforme palavras do iluminista Renan (1 823- 18 92), considerado, por muitos, como o pai do "moderno" conceito de Idade Média: "Um peso colossal [ 8 9 de estupidez esmagou o espírito humano. A pavorosa aventura da nenhum historiador sério ignora que os temas platónicos Idade Média, essa interrupção de mil anos na história da e neoplatânicos foram singularmente renovados e humanidade"' . Daí nascem as denominações de "Idade das Trevas", ampliados por Santo Agostinho, pelo Pseudo-Dionísio, ''Idade Negra'', ''Idade do Obscurantismo'' etc., tão freqüentes não só por João Esgoto Erígena [...] . E impossível, actua]mente, no meio popular mas nas Academias, especialmenten os nossos desconhecer a vitalidade do aristotelismo medieval, tanto tradicionais livros didáticos. dos Latinos como dos Árabes, as metamorfoses profundas E, ainda, nos dias anuais, não é raro encontramtos afinnações que o aristotelismo sofreu a ponto de atingir no tomismo, como a de Roland Corbisier, que assim se refere a esse período: por exemplo, uma perfeição desconhecida em Aristóteles3 A partir da institucionalização do Cristianismo, a cultura Com o avançar das pesquisas, é cada vez mais claro o elo em geral e a filosofia em particular tombaram genuflexas existentee ntre o PensamentoM edieval e o Modemo/Contemporâneo, diante da supremacia sectáiia e intolerante da teologia. como, por exemplo, o papel capital do Nominalismo na formação do Muitos sécu]os transcorreram em p]ena treva [...] até a Cartesianismo;a s raízes escolásticas na Filosofia Kantiana; os dos humanidade chegar aos albores do Renascimento e, a precursores medievais do direito natural sobre o jusnaturalismo de partir de então, um fluxo de avanço civilizatório que se Hobbes e Rousseau; dos Conciliarimos de Marsílio de Pádua e estende até hoje2 Ockham sobre o conceito de soberania popular dos modernos etc. Portanto, é um eno pregar o salto sobre a Idade Média, desconhecendo Entretanto, nos últimos tempos, especialmente da segunda e relegando sua contribuição para o pensamento Hilosófíco modemo metade do século passado para cá, é cada vez maior o número de e contemporâneo. "A história da filosofia - diz Van Steenberghen - intelectuais que vêm defendendo e ressaltando a importância de se não pode, sem prquízo, tratar a Idade Média preterindo-a"4 . Assumir resgatar, sem preconceitos, o Pensamento Medieval. esta postura de dar um salto sobre a Idade Média, é desconhecer a Num trabalho interdisciplinar, pesquisadores intemacionais História, é querer atropelar o seu curso. como Jacque$ Le Golf, George Duby, Philippe AI.iês, Femand Van A exemplo do cenário internacional, no Brasil, nos últimos Steenberghen,E tienne Gilson, Jacques Maritain e outros, vêm tempos,v em crescendo o interessep elo estudo da Filosofia Medieval, mostrandoq ue a Idade Média é detentorad e uma cultura, na sua e isso graças à persistência e resistência de homens de visão aberta, maior parte, ainda não explorada, e que a sua adequada interpretação a exemplo do Prof. Dr. l.uis Alberto De Bom, que, desde os anos 70, há de ser fundamental para a compreensão do pensamento moderno vem, insistentemente, defendendo e divulgando, com coragem e e contemporâneo,i nclusive no campo científico, como o papel das competência, a Filosofia Medieval, no Brasil. intuições e experimentos de Rogério Bacon e Raimundo Lullio no O Prof. De Bom, se não é o maior, mas, com certeza, está entre pensamentod e Francis Bacon. os maiores nomes do estudo/pesquisa da Filosofia Medieval, no Brasil. Para Femand Van Steenberghen, por exemplo, Com sua competência, humildade e ''caráter espirituoso'', deu vida e fez crescer o Movimento que, há 25 anos, num primeiro Encontro em Brasília, nascia, com o nome de Comissão .Brasa/efrcdz e F'í/osoÚa 'RENAN, apzld HqACIO, Inêz C. ; DE LUCAS, Tânia R. O pensamento medieval São Paulo: Atiça, 1988. p. 7. ;VIAN STEENBERGHEN, Femand. llistória da filosofia: período cristão. Trad 2CORBISIER, Roland. Introdução à ÜHosofia.R io de Janeiro: Civilização Brasileira, de J. M. da Cruz Pontes. Lisbaa: Gradiva, [ s. d.], p. 23. 1988. Tomo ll - Segunda Parte. Confia-capa. '/bid., P. 23. 10 11 0 CONCEITO DE CAUSA FINALIS EM 0CKHAMt ]14edieva/,n a época reunindo, apenas, um pequeno grupo de cerca de oito amigos, liderados pelo Prof. Dr. José Ant6nio C.R de Souza. Depois, por muitos anos, a supracitadaC omissão foi liderada pelo PROF. DR. ALliREDO CIULLETONZ Prof. De Bom, que, usando competênciae dinamismo, deu-lhe uma feição e "status" internacional, atraindo para nossos Congressos professores-pesquisadores de todos os recantos do mundo. Se hoje l Problema angular estamos comemorando os 25 anos da Comissão Brasa/eira de F'i/oso@a Medieval, com Q XI Congresso Latino-Americano de Filosofia Um ponto da obra filosófica de Ockham que é angular, em se .A/ediePa/, isto se deve, em grande parte, ao nosso Mestre De Bom. levando em conta as suas implicações jurídico-políticas, qual seja a Também, devemos ao Prof. De Bom, o crescente número de do tratamentod ado ao conceito da cazzsa. /}/za/,p ode nos ajudar a publicações,n o Brasil, na Área de Filosofia Medieval, abrindo entender tamanha marginalização da parte de alguns clássicos. caminho, indicando e recomendando comentários e traduções junto Acreditamos que, se dividimlos os comentaristasd e Ockham entre às Editoras, em especial, na Edipucrs, que, graças a sua ''teimosia", os que o consideram um profundo inovador do pensamento político, como disse certa vez o Diretor Urbano Zilles, hoje é a Editora com o como é o caso de De Lagarde, e aqueles que relativizam a sua maior volume de publicações na área de Filosoflia Medieval, no Brasil. originalidade, como Tiemey, podemos dizer que os últimos o fazem Finalmente, para não imlos muito longe, graças à persistência centrando a sua atenção na efetiva e explícita obra político- e resistência do Prof. De Bom, temos, na PUCRS, o primeiro e único eclesiológica, enquanto que os primeiros, tentando deduzir as Programa de Pós-graduação em Filosofia, no Brasil, com uma Área implicações políticas da sua filosofia primeira, coisa que o próprio de Concentração de Pesquisa em Filosofia Medieval, o que tem Ockham não fez, mas o seu primeiro censurador, o Chanceler da possibilitado, a muitos, adquirirem os títulos de Mestres e Doutores Universidade de Oxford, Luterell, sim, ao denuncia-loj unto à corte nessa Área. papal, em Avignon, por heresia. Nesse caso, não só não Ihe foi Por tudo isso, e muito mais, nós que realizamosn ossos Cursos encontrado nenhum motivo de heresia como a matéria por ele tratada de Mestrado. e/ou Doutorado na PUCRS, que tivemos a sorte de consistia em questões maioritariamente de caráter metafísico, e não contactos com o Prof. De Bom, como orientador,p restamosa qui teológicas. uma singela homenagem ao nosso "pai intelectual", com uma Consideramos que a mais profunda aversão e, ao mesmo tempo, coletânea de ensaios, em que cada um escreveu algo ligado ao seu o mais profundo reconhecimentoa o caráter "í/zcep/or'' da política trabalho (Dissertação ou Tese), que, por sua vez, é, também, um de Ockham é provocado mais pelas implicações políticas e práticas trabalho do prof. De Bom, por ter sido o resultadod e sua valiosa da sua filosofia primeira que pela sua explícita obra política. Nesse orientação. sentido, podemos entender por que leitores contemporâneos dos Marcos Roberto Nunes Costa mesmos textos de Ockham possam ter posições tão antagónicas; podemos entender por que Boehner considera que o que Ockham diz na sua obra política poderia ter sido dito por qualquer um dos seus 'Este trabaUio foi construído a parir de minha tese e doutorado intitulada "A Z,eí /VafuraJ em Ock;zczm",d efendida em abril de 2003, na PUCRS, sob a orientação do Prof. dr. Luas Alberto de Bom. zProfessor da UNISINOS. [ 12 13 contemporâneos ou mesmo deduzido de qualquer metafísica se funda a crítica à teleologia das filosofias clássica e escolástica, escolástica; e podemos entender ainda o parecer de Tierney, que limita rumo a uma mudança de paradigma. Isso vai significar, em termos a originalidade de Ockham ao resgate da obra dos canonistas, tal que heideggerianos, um novo princípio epocal, que é a medida do todo ele não diz nada que não tenha sido dito por franciscanos anteriores a de cada época. Por isso, Ockham será chamado de ",rrzcepfor" da ele, no que se refere ao conceito de "íus ". "vía mover/za ". Não acreditamos que seja Ockham exclusivamente Em ambos os casos, os autores, no momento dos textos o inaugurador dessa via, e muito menos o puro tratamento por ele referidos, não tinham aprofundado o trabalho mais metafísico de dadoa o conceito de causa final, mas sim que isso mina seriamente Ockham, enquanto De Lagarde e Villey o têm como ponto de partida uma das principais bases da tradição filosófica, qual seja a teleologia. para a sua interpretação.S Ó cinco anos depois de ter publicado o Parafraseando o professor Stcin4 , ao apresentar o seu Heidegger, a texto sobre o pensamento político de Ockham, Boehner publica um teleologiao cupava o lugar do ser que se encontrava encoberto, outro, tentandor esponder à pergunta, se Ockham tem ou não uma esquecido e que devia ser resgatado pelo método conhecido como a metafísica.. Se a ordem dos seus estudos tivesse sido outra, a sua "navalha de Ockham", segundo o qual os leres /zão devem ser compreensão da política teria grandes chances de ter sido diferente. mu/fip/ícados sem /zecess/dada,o u, nas palavras do próprio inglês, De qualquer maneira, fica como incógnita por que Boehner, ao tratar ''a pluralidade não deve ser colocada sem necessidade'', ou "o que da metafísica de Ockham, não faz referência ao tratamento dado por pode acontecer através de poucos [princípios] acontece desnecessariamentaet ravés de muitos'', ou ''muitas coisas são este a um dos mais clássicos temas da ontologia, que é o das "causas ' Pretendemos demonstrar que a nova compreensão de causa.Pna/ supérfluas se poucas são suficientes''s formulada por Oc](ham3 inaugura uma nova postura teórica, na qual O mundo e a filosofia serão completamenteo utros, sem promessas nem universais; a partir da incorporação desse princípio Góticoe individualista, Ockham muda o modelo condutor da matriz 3 Nós nos valeremosp ara este trabalhos obretudod o Quod/ibera/.O CKHAM, teórica da filosofia. O que ficou conhecido como a neva//za, amputa William. Quodlibetal Questions, Trad. de Alfred J. Freddoso e Francis E. Kelley. New York: Yãe University Press, 1991. vol. l e 2. Anualmenten ão se duvida mais da autenticidade do Qzíod/ibera e queremos enriquecer a discussão colocando-o universitária para conduzir públicas "díspzlraffos" e que era prática comum fazê-lo como texto principal neste trabalho, não só por entendê-lo como o mais claro e nas casas de estudos das comunidades religiosas. No que se refere às evidências acabado, mas sobretudo por ser o texto mais tardio de Ockham a respeito do assunto. intimas destaca varias: em primeiro lugar que a maioria dos pensadores aludidos Certamente encontramos no Z)e FTlzfs, provavelmente datado em 1319, um texto direta ou indiretamente por Ockham nesse texto são de üanciscanos como Pedro mais extenso, com mais referências bibliográficas, mas, por vezes, um pouco mais Olivi, Duns Scotus, Pedra Aureoli ou Walter Chatton, conhecidos pelo público ouvinte confuso. O que encontramos nesse texto, que não é retomado por Ockham na prüneira e não dianted um público heterogêneo. Outra evidência é a proximidade no üatamento questão do Qzlod/íber /V ,é o tema da Causa Final como Metáfora e a distinção e na ordem com o Reporrarío de Chatton, que se supõe participava destas disputas. entre rafíone ./i/zis e mo/ío/ze. /inís. Sabemos por autores como Le Golf que os Tudo isso indica que está baseado nas disputas realizadas na casa de estudos dos <2uod/íóetf inham um valor de deÊlnitivoe público. A versão final foi provavelmente Franciscanos em Londres, entre o outono de 1322 e a primavera de 1324, mas o redigida em Avignon, durante os anos de 1324 e1325', pouco tempo antes de Ockham estilo polido da Versão final sugere que tenha sido acabada num lugar e tempo onde se ver envolvido nas controvérsias políticas que vão ocupar o seu esforço intelectual Ockham não tivesse nenhuma outra ocupação. De acordo com Wey, muito no resto dos seus anos, de tal maneira que o Quod/ibera Self m representa a sua possivelmente,O ckham fez a redação final durante o seu primeiro ano em Avignon versão final dos assuntos por ele tratados nesse texto. O responsável pela edição a parti' de notas que tenha trazido com ele de Londres. critica deste texto, o Padre Wey, aüinna que há evidências extemas e intemas de que ' STl1IN, Emildo. Seis estudos sobre Ser e Tempo. 2. ed. Peüópolis: Vozes, 1990. p. 44. tal texto foi fruto de "dispuracíones" que tiveram lugar na casa de estudos dos 5 QUod/ibera/ VI, 10; Vl1, 8. Franciscanos em Londres, durante o outono de 1322 e a primavera de 1324. A Cf. SPADE. Paul. Ockham's nominalist methafisics: some main themes. /n; evidência externa por ele destacada e a de que Ockham não tinha a titulação (ed.). Cambridge companion to Ockham. Cambridge: [s. n.], 1999. p. IOI. 14 15 a teleologia da filosoHla e implica uma redução para toda e qualquer contra o modo como a Igreja institucional o entendia, mas, sobretudo, pretensão de sistema, não havendo mais figuras a serem percorridas, considerava-se um fidelíssimo aristotélico. Resulta irónico que o nem teleologias a serem cumpridas. antiar.istotelismofi losófico e teológicod os sécs. XVI e XVll tenha O trabalho de Ockham se dirige contra a dogmatizaçãod o tido muitas vezes como referência um aristotélico convicto como conceito de fim no sistema da alta escolástica, que parte do princípio Ockham. de que tudo o que está em atividade o está em virtude de um ülm, Podemos destacar que o próprio Ockham reconhecia que, "om/ze agens agírp/opfer./i/zem "õ . Aqui, o conceito de fim tem uma freqüentemente,a sua leitura de Aristóteles era um pouco validade ontológico-geral que o próprio Aristóteles não tinha controvertida, mas tinha certeza de que Aristóteles detestava tanto explicitado. A ''cazlsa./7na/ís" não é só uma das quatro causas que, quanto ele a ontologia platónica. Como resultado, o Aristóteles de para a sua eficácia, necessita das outras, mas é a causa das causas, a Ockham está livre de qualquer platonismo ou neoplatonismo que "causa a/íarzzm causaram "7 . Resulta visível que essa posição tem pudesse ter permeado a leitura dos comentadores islâmicos do uma motivação teleológica: na série de causas e efeitos, tudo está "corpizs " aristotélico e que tinha sobrevivido, ainda que em pequena ordenado a um último e supremo fím, em virtude do qual se ane/a escala, mas em diferentes graus de significação, nos sistemas algo8. Desde esse ponto de vista, a causalidade do fim não constitui metafísicosp ropostos por Tomas de Aquino e Duns Scotus. Aos olhos problema algum, só que Duns Scotus e Guilherme de Ockham se de Ockham, nenhum verdadeiro aristotélico seguiria Tomas de Aquino perguntam em que consiste esse mesmo. A sua resposta, que não no seu tratamento da criação "ex /zí/zí/o" , ou na utilização da noção casualmente está orientada por uma reflexão aristotélica acerca das platónica de participação, ou, ainda, ao tomar "esse" e "essenfía fobias de influir do "fe/os ", é tão convincente como simples, e seria como as mais genéricas distinções aristotélicasd e a/o e Falência. aceita pela escolástica dos séculos seguintes. Como algo específico Nem consideraria como verdadeiro aristotélico alguém que, como da "cazzsa./ina/ís ", sublinha OcJ<llam, o fato de que possa ser causada Duns Scotus, propusesse naturezas comuns que tenham uma especial sem necessidade de existir externamente, "i/z re e.lira ", de onde se maneira de ser e uma unidade em si mesmas, prescindindo da sua segue que o movimento para um fim não é um movimento real, mas existência em substâncias singulares. Em inúmeras oportunidades, metafórico (."mo/ío me/ap/zoríca") , dado que só ocorre através de Ockham faz longas e detalhadas referências a capítulos e versículos um "age/zs " que se representa e aspira a algo. Em relação à existência da obra de Aristóteles para dar sustentação às suas posições, aspirando de Deus, correspondea cada efeito da naturezau ma causa final, na não só a ser, mas a aparecer como um verdadeiro aristotélico. medida em que é querida por Deus. Porém, se se prescinde de tal E inegável que, em Ockham, abundam fomtulações filosóficas autoridade, isso não pode ser demonstrado racional ( "expor se nofís ") e teológicasq ue podem ser vinculadas a um certo zelo anti-aristotélico dos sécs. XVI e XVll, bem como a alguns aspectos de ceticismo a nem empiricamente ( "per experie/zelam ")9 Apesar de não ter seguido tão de perto Aristóteles como os seus respeito de uma teologia natural e a certos limites no papel da razão predecessores Tomas de Aquino e Duns Scotus, ele não só desenvolveu em termos epistemológicos. Ockham se credência, assim, a ser algumas idéias do Filósofo sob novas perspectivas, e muitas vezes considerado .um pensador revolucionário. Nós tendemos mais a considera-lo um revolucionário em termos ontológicos do que de um Subversivo do aristotelismo cristão, como muitas vezes se desejou. 6T omas de Aquino, S. 7%.1 , q. 44, art. 4. Duns Scotus, Opzls Oxoniense1 , d. 8. q 5, n. 6; Z)e Primo Prlncz@íoc, . 2, concl. 4. 7T omas de Aquino, S. 7%.1 . q. 5, a. 2 ad a. 8T omas de Aquino, Sumia contra gerir. 1.1,c . LXXV. 5. 9 0CKHAM, W. zZod/íb.,I V. q. l. r 16 17 2 Quodlibet IV. quaestio l O terceiro movimento deste primeiro artigo será surpreendente e consiste em mostrar que podem ser amadas e desejadas coisas Para tratar acerca da causa /Zncz/,O ckham introduz uma inexistentes;l ogo, uma causa final pode ser mesmo inexistente. inteligentíssima questão, qual seja, "se /odo egeíro /em z/ma causa Consideramos isso surpreendente, não só porque não encontramos ./7na/ digere/zfe da saía causa (@clen/e ", e escolhe como aliado o texto esta conclusão em Aristóteles nem em Tomas de Aquino, mas, aristotélico do segundo livro da /'bica'o . Começa argüindo pela sobretudo,p elas implicações de um não existente para quem não negativa de que existe ao menos um caso, o de Deus, no qual há, ao acredita na pré-existência. mesmo tempo, causa final e eficiente, de tal maneira que não é sempre No segundo artigo, ele tenta responder à questão se /odo í1láeifo que estas causas são distintas. Mas, ao mesmo tempo, se a resposta tem uma cansa anal diferente da sua causa e$ciente, candxcionando fosse negativa, não seria verdade que existem quatro causas diferentes a resposta ao fato de o fazer à luz da verdade da fé ou na ausência de para cada coisa. qualquer "auc/oriras ", entendendo implicar isso respostas diferentes. Ockham dedicará dois artigos para esclarecer que tipo de ./im No caso da resposta a ser dada levando em consideração a verdade pode ser uma causa, ou que tipo de causa é a que se refere ao./im. No da fé, o que não exime do uso da "regia rarlo", o resultado será, primeiro dos artigos, o autor levanta três teses: na primeira delas, diz neste caso, que nem sempre as referidas causas são diferentes, mas que "a causalidade de um fim não é outra coisa que o ser amado e sempre existe uma causa final, qual seja Deus. Mas, no segundo desejado por um agente":' , de tal maneira que o efeito resultante é sentido, onde não é aceita nenhuma autoridade, para Ocjdiam não produzido por causa da coisa amada, na qual a causalidade de um pode ser provado nem através de proposições conhecidas "per se fim está em ser eficazmente amado ou desejado, e, na ausência de tal nem por experiência que todo efeito tem a sua causa final, seja igual amor ou desço, o efeito não teria sido produzido. Com isso, reconhece ou diferente da sua causa eficiente, "não pode ser provado que causa final e eficiente podem ser distinguidas, e, na segunda tese, suficientementeq ue todo efeito tem a sua causa final ":' . E, dirá ele, Ockham se dedica a defina-las, referindo-se à causa final como "aquilo às vezes a causalidade da causa final é diferente daquela da causa que é amado e desejado eficazmente pelo agente, de maneira que o eficiente;m as, muitas vezes não o é, quando a mesma coisa é, ao efeito seja produzido pelo objeto amado "'2 e à causa eficiente como mesmo tempo, causa final e eficiente. Para Ockham, a causalidade ''aquilo ao qual se segue à sua presença ou existencia"i3. Ressalta, de uma causa não é uma entidade distinta da própria causa; por isso contudo, quanto a estas definições, que, por vezes, uma pode mesmo, ele é forçado a sustentar, estritamente falando, que a corresponder a uma coisa, e a outra pode corresponder à uma outra causalidade de todas as coisas é idêntica àquela coisa e, consequen- coisa e mesmo, por vezes, a mesma coisa. temente, idêntica a ela's A seguir, tentará responder a dois tipos de problemas. O primeiro é relativo aos argumentos dos autores que consideram a autoridade io Cf. 194b32 ef seq. : "]cause] in the pense of end or 'that for the sake of which'a revelada e que pensam que essas causalidades são distintas, pelo fato thing is dono, e. g. health is the cause of walking about". Utilizamos a tradução de de não serem intercambiáveis, no sentido de que, se uma coisa é a ROSS, David. The works of Aristot]e. Oxford: [s.n.], 1930,p or entenderq ue a causae ficiente, não significa que seja a causa final, nem o contrário. expressão "salte ", no inglês, expressa muito mais fielmente o sentido de finalidade Ockham defenderá a sua descrição de causa final segundo a qual ela do qual Ockham se vale. A melhor tradução para "late ", no português, poderia ser tirada da expressão 'lHorGodk salte ", que, emportuguês, significa "pelo amor de Deus' causalitas anis non est aliud nisi esse amatum et desideratum ab agente al$caciter, propter quod amatum Pt eSectus. quis non potestp robari su$icienter quod quilibete #ectus habet aliquam causam 2 " esse amatum et desideraMm e$icalí:item ab agente, propter quod amammft e$ectid $nalem -3 " est essed ilLud ad cuius esse tive praesentiam sequitur atiud". '5 Sobre o estatuto ontológico da causa eHlciente, cf. uod/ióeí VI. 12. 18 19 é tudo "aq-unoq ue é amado e desejado eficazmentep elo agente, de mas supõe um movimento anterior que se perpetua ao ser removido maneira que o efeito seja produzido pelo objeto amado ", e conclui o obstáculo e uma natureza que busca a preservação do movimento categoricamente que a existência de um fim não é requerida para que continuado. Esta idéia será melhor explicitada durante a Renascença o efeito seja produzido. Mas, em agentes intencionais, é exigido que e tomada fundamento da teoria do Estado por Hobbes, que, ao transpor a finalidade seta amada e desejada eficazmenteiõ a sua filosofa primeira para a política, considera papel único e consti- S(üre a causa final assim definida como dependendo do amor tutivo do soberano regrar o movimento continuado dos indivíduosi9 e do desejo de um agentel ivre, é questionadod e Ockham se é Uma outra objeção que Ihe faziam era a de que, se não existisse suficiente para alcançar o requisito da /nobreza. A isso Ockham causaf inal, as coisas agiriam sem possibilidade de erro, ao qtíe responde de duas maneiras. Em primeiro lugar, dirá que não todo fim Ockham responde insistindo em que só é passível de erro, esüitamente afia/, mas todos os fins di/czdosp e/a feia razão são mais nobres ou falando, o agente livre, e não a natureza, dado que tudo o que ocorre tão nobres quanto as outras causas. Por outro lado, sustenta que todas na natureza ocorre naturalmente, e não por erro. as finalidades são consideradase apreciadas como sendo Ockham concluirá essa questão salvando a existência das quatro relevantemente nobres pelo agente que as desejam causas, mas fazendo a seguinte distinção: há, muito freqüentemente, O segundo problema que Ockham quer enüentar é o de que mas não sempre, quatro causas distintas; e que as quatro causas sejam parece necessário para a razão natural que todo efeito tenha a sua consideradas distintas porque algo é a causa Hlnald ê algo não significa causa final, e o argumentoq ue usa para isso são as palavras de que seja a sua causa eficiente ou vice-versa, como é o caso de Deus. Aristóteles, no Livro ll da Fúíca 194b. Ockham colocará luz sobre o texto, dizendo que o agente ao qual está referindo-se o Filósofo é uma vontade livre, um agente livre capaz de falhar e enar na sua 3 Quodlibet IV. quaestio 2 própria atividade, mesmo que as circunstâncias permaneçam as mesmas. Ele distingue entre um agente livre e um agente /zczfura/, Aqui a questão é outra, qual seja, se pode ser provado, pela para o qual não faz sentido, em termos racionais, perguntar por que razão natural, que o poder de Deus é infinito. Mas, indiretamente, razão faz alguma coisa. Este tipo de perguntas ó faz sentido, de acordo Ockham faz referência ao problema que estamos tratando. Diz ele: com Ockham, no caso de atos voluntários. No caso de agentes naturais, estes se movimentam do repouso Eu sustento que não pode ser demonstrado que tudo, por para a ação, quando o impedimento é removido:8 , ao contrário do causa do que uma coisa natural agua,é conhecido ou dirigi- agente livre, que procede à ação quando intenta um Him. Esta distinção do por algo... mas, causas meramente naturais que são vai significar, em temposd e teoria do movimento, uma revolução, no determinadas pela sua própria natureza para um determi- sentido de que a natureza não é mais movida por uma causa final, nado efeito, e não outro, não requerem ninguém para pre- viamente os conhecer e dirigir - no mínimo, a razão natural não conclui que isto seja requerido. Por exemplo, fogo -6 "non requiritur existentia anis ad hoc quod e$ectus producatur; tamen tn perto de madeira a esquenta independente de alguém saber agentibus a proposito requiritur quod$nis ametur et desideretur e$icaciMT" . " \..À quod illtAd quod est causa $nalis secundam Teciam rationem, est nobiLius disto. Se perguntarem por que o fogo esquenta no lugar anis causas vel saltem peque mobile, licet de facto non sit ita. Aliter potest dia de esíiiar, eu respondo que é natural que sela assim [...]20 quod semper Suis est nobilior anis causas vel in reputatione et appretiatione '9S obre movimento e o "conarus", cf. WATKINS, J. W. N. Hobbes's system of '* "agentia naturalia noviter exeunt in actum de otio quando nunc est amotum ideal. London: [s.n.], 1965, p. 126-130. impedimentuwf :' OP. cif. P. 251-252.

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