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A filosofia do não; O novo espírito científico; A poética do espaço. (Os pensadores) PDF

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Os Pensadores ABRIL CULTURAL 1978 EDITOR: VICTOR CIVITA CIP-Brasil. Catalogação-na-Fonte Câmara Brasileira do Livro, SP Bachelard, Gaston, 1884-1962. BI 19f A filosofia do não ; O novo espírito científico ; A poética do espaço / Gaston Bachelard ; seleção de textos de José Amé- rico Motta Pessanha ; traduções de Joaquim José Moura Ra- mos . . . (et al.). — São Paulo : Abril Cultural, 1978. (Os pensadores) Inclui vida e obra de Bachelard. Bibliografia. 1. Bachelard, Gaston, 1884-1962 2. Ciência - Filosofia 3. Ciência - Metodologia 4. Espaço (Arte) 5. Imaginação 6. Poesia I. Pessanha, José Américo Mota, 1932- II. Título: A filosofia do não. III. Título: O novo espírito científico. IV. Título: A poética do espaço. V. Série. CDD-501 -153.3 -194 -501.8 700.1 78-0777 -809.1 índices para catálogo sistemático: 1. Ciência : Filosofia 501 2. Espaço : Artes 700.1 3. Filosofia francesa 194 4. Filósofos franceses : Biografia e obra 194 5. Imaginação : Psicologia 153.3 6. Metodologia científica 501.8 7. Poesia : História e crítica 809.1 CASTON BACHELARD A FILOSOFIA DO NÃO * O NOVO ESPÍRITO CIENTÍFICO * A POÉTICA DO ESPAÇO Seleção de textos de José Américo Motta Pessanha Traduções de Joaquim José Moura Ramos, Remberto Francisco Kuhnen Antônio da Costa Leal e Lídia do Valle Santos Leal Títulos originais: La philosophie du non Le nouvel esprit cientifique La poétique de l 'espace c Copyright Abril S.A. Cultural e Industrial, São Paulo. 1979. Textos publicados sob licença de Presses Universitaires de France, Paris e Editorial Presença Ltda., Lisboa (A Filosofia do Não); Presses Universitaires de France, Paris (O Novo Espírito Científico); Presses Universitaires de France, Paris e Livraria Eldorado-Tijuca Ltda., Rio de Janeiro (A Poética do Espaço). Traduções publicadas sob licença de Editorial Presença Ltda., Lisboa (A Filosofia do Não); Livraria Eldorado-Tijuca Ltda., Rio de Janeiro (A Poética do Espaço). Direitos exclusivos sobre a tradução de O Novo Espírito Científico, Abril S.A. Cultural e Industrial, São Paulo. BACHELARD (1884-1962) VIDA e OBRA Consultório de José Américo Motta Pessanha OS PENSADORES do desenvolvimento histórico das doutri- nas científícas. ISachelard formulou seu lema de inconformismo intelectual atra- vés do que denominou de "filosolia do No dia I () de outubro de 1962 mor- não". Para ele. a história das idéias não reu em Paris Gastou Bachelard. se faz por evolução ou continuísmo. mas membro da Academia de Ciências através de rupturas, revoluções, "cortes Morais e Políticas Ha França, laureado epistemológicos . Num de seus livros com o Prêmio Nacional de Letras, autor escreveu: "A verdade é filha da discus- de vasta e inovadora obra filosófica, são, não da simpatia . Aplicando ele renomado professor da Sorbonne. cujos próprio esse preceito, revestiu toda sua cursos eram acompanbados por uma obra de caráter polêmico, fazendo reite- multidão de jovens entusiasmados com a radas criticas à nociva influência da profundidade e a originalidade de seu metafísica tradicional (particularmente pensamento e com sua personalidade a cartesiana) sobre o desenvolvimento vibrante, acolhedora, inconvencional. Ao da epistemologia cientifica, tambem longo de suas obras e de seus cursos não poupou críticas severas a alguns de insistira freqüentemente numa tese: "A seus mais ilustres contemporâneos, filosofia científica de\e ser essencial- como Freud. Bergson. Sartre. Por outro mente uma pedagogia cientifica . Sua lado. contrário aos esterilizantcs siste- preocupação com os fundamentos e os mas fechados, fez uso bastante pessoal requisitos para o desenvolvimento de um de várias noções, como "psicanálise . "novo espirito cientifico levaram-no a "fenomenologia ."dialética . "materia- combater as formas tradicionais He ensi- lismo". ao mesmo tempo que defendeu no e a propor para a ciência nova uma uma nova concepção de racionalismo: o pedagogia nova. Vinculando estreita- racionalismo setorial e aberto. mente o progresso da pesquisa cientifica ã libertação das mentes jovens, escre- O filósofo do não vera numa de suas obras mais impor- tantes (O Racionalismo Aplicado): "Fre- qüentemente os pais abusam ainda mais A vida de Bachelard parece marcada do seu saber do que do seu poder. \ pela descontinuidade. da qual ele se tor- onisciência dos pais. logo seguida cm nou um dos teóricos no pensamento todos os níveis de instrução pela onis- filosófico contemporâneo. Nascido em ciência dos professores, instala um dog- 1881. em Champagne (Bar-sur-Aube). matismo que é a negação da cultura. trabalhou nos Correios enquanto estu- Quando atacado pelas loucas esperanças dava matemática, pretendendo formar- da juventude, torna-se profético. Pre- se engenheiro. A guerra de 1914/ 18 tende se apoiar sobre uma experiência corta-lhe o projeto: inicia então carreira de vida para prever a experiência da no magistério secundário, ensinando v ida. Ora. as condições do progresso são química e física em sua cidade natal. doravante tão móveis que cr experiência Aos 35 anos. outro corte em sua vida: da rida passada — se é que uma sabedo- começa novos estudos, agora de filoso- ria pode resumi-la — é quase fatalmente fia. que também passa a lecionar. Fm um obstáculo a ultrapassar, desde que I92fi publica as duas teses que havia se queira dirigir a v ida presente . apresentado no ano anterior: Essai sur O próprio Bachelard. numa demons- la Coanaissance Approché (Ensaio .sobre tração de permanente jovialidade espiri- o Conhecimento Aproximado) e Étude tual, não se deixara jamais prender às sur 1'Evolution d'un Problème de Physi- ortodoxias das escolas filosóficas. Tal- que: la Propagation Thermique dans les vez por isso mesmo suas idéias repercu- Solides (Estudo sobre a Evolução de um tem nos mais diversos campos de inves- Problema de Física: a propagação Tér- tigação, demolindo velhas concepções mica nos Sólidos). Na primeira apare- cristalizadas e propondo novas e às ce uma das teses centrais de sua episte- vezes surpreendentes soluções para os mologia — o "aproximacionalismo . ou problemas. Apoiado numa interpretação seja. a idéia de que a abordagem do ob- VI BACHELARD Bachelard não foi apenas o filósofo do "novo espírito científico". Investigou também a natureza do imaginário poético e soube extrair novos significados das obras de arte. Num ensaio sobre Monet, As Ninféias ou as Surpresas de uma Alvorada de Verão, escreveu: "Não se sonha junto à água sem formular uma dialética do reflexo e da profundeza". (Acima, "As Ninféias", de Monet.) jeto científico deve ser feita através do duração não-bergsoniana. adota a noçào uso sucessivo de diversos métodos, já de "ritmanálise", que Bachelard declara que cada um deles seria destinado a se ter encontrado na obra "du philosophe tornar primeiro obsoleto, depois nocivo. brésilien" Lúcio Alberto Pinheiro dos A partir dessa época o nome de Bache- Santos. lard começa a se projetar. Em 1930 é Em 1937 Bachelard publica uma de convidado para lecionar na Faculdade suas obras mais importantes. La Forma- de Dijon. Le Nouvel Esprit Scientifique tion de l'Esprit Scientifique (A Forma- (O Novo Espírito Cientifico) surge anos ção do Espírito Científico), na qual ana- mais tarde (1934), como síntese de sua lisa os mais diversos "'obstáculos epistemologia não-cartesiana e em con- epistemológicos" que devem ser supera- sonância com as grandes revoluções dos para que se estabeleça e se desen- cientificas do século XX, como a teoria volva uma mentalidade verdadeiramente relatividade generalizada e a física científica. Nessa obra trata também da quântica. De 1938 é L'Intuition de "alquimia poética", que encara ainda l'Instante (A Intuição do Instante) e de como um entrave à ciência. A partir 1936 la Dialectique de la Durée (A dessa época, mas sobretudo com a publi- Dialética da Duração), ambas versando cação de La Psychanalyse du Feu (A sobre a descontinuidade temporal. A úl- Psicanálise do Fogo), em 1938. e de tima, além de propor uma noção de Lautréamont, em 1940, manifestam-se VII OS PENSADORES sobre o pensamento de Bachelard duas de Sonhar), também de 1970: e importantes influências, que perdurarão L'Engagement Rationaliste (O Engaja- ao longo de sua obra. embora manipu- mento Racionalista), de 1972. ladas e transfiguradas: a do surrealismo e a da psicanálise. Esta. Bachelard apli- Um "idealismo militante" cará à psicologia coletiva, buscando fazer não apenas a "psicanálise do Examinando as grandes conquistas conhecimento objetivo", como também a da ciência a partir do final do século "psicanálise dos elementos" (terra. ar. XIX e sobretudo no decorrer do século água e fogo), fontes dos arquétipos do XX. Bachelard assinala nos campos da imaginário poético. matemática, da física e da química não Em La Formation de l'Esprit Scienti- apenas um avanço, mas a instauração de fique ciência e poesia apareciam como um "novo espírito científico", que parte dois mundos distintos, que deveriam ser de novos pressupostos epistemológicos e mantidos separados para beneficio da exercita-os numa atividade que é mais objetividade do conhecimento científico. do que uma simples descoberta: é antes Cada vez mais. porém, o imaginário criação. Na física, reconhece que "com a poético atrai Bachelard. que passa a ciência einsteiniana começa uma siste- estudá-lo e a valorizá-lo como uma mática revolução das noções de base". E forma própria de apreensão o de recria- acrescenta: "A ciência experimenta ção da realidade. A esse tema dedica então aquilo que Nietzsche chama de uma série de obras: L'Eau et les Rêves 'tremor de conceitos . como se a Terra, o (A Água e os Sonhos), de 1912: L'Air et Mundo, as coisas adquirissem uma les Songes (O Ar e os Sonhos), de 1943: outra estrutura desde que se coloca a La Terre et les Rêveries de la Volonté (A explicação sobre novas bases". No Terra e os Devaneios da Vontade), de mesmo texto (La Dialectique Philoso- 1948: e La Terre et les Rêveries du phique des Notions de la Relativité, in Repos (A Terra e os Devaneios do L'Engagement Rationaliste), Bachelard Repouso), de 1948. esclarece que o que ocorre, a partir das \a fase final de sua obra. Bachelard teorias de Einstein. é que "no detalhe continua trilhando os dois sendeiros mesmo das noções estabelece-se um paralelos da ciência e da poesia. Nos relativismo do racional e do empírico . dois desenvolve o tema do materialismo: Do lado da química. Bachelard assinala a manipulação da matéria, a demiurgia. também profundas mudanças: a química em ampla acepção (artesanal ou onírica, não é mais uma "ciência da memória, racional ou científica), torna-se o ponto uma pesada ciência de memória": na onde se cruzam ciência e poesia, razão e química, também "as primeiras expe- devaneio. Os últimos livros de Bache- riências são apenas preâmbulos": já se lard revelam essa dupla vida de um espí- pode falar de "uma química matemática rito aberto, insaciável e. por isso. sem- no mesmo estilo em que. há um século e pre jovem: Le Rationalisme Appliqué (O meio. fala-se de uma física matemática". Racionalismo Aplicado), 1919: Eis por que Bachelard vê na nova quí- mica a manifestação de um "materia- L'Activité Ratiònaliste de la Physique lismo racional". Por outro lado. "as pró- Contemporaine (A Atividade Raciona- prias matemáticas, as ciências mais lista da Física Contemporânea), 1951: estáveis, as ciências de desenvolvimento Le Matérialisme Rationel (O Materia- mais regular foram levadas a reconsi- lismo Racional), 1952: La Poétique de derar os elementos de base e, caráter l'Espace (A Poética do Espaço), 1957: totalmente moderno. a multiplicar os La Poétique de la Rêverie (A Poética do sistemas de base". Em particular a revo- Devaneio), e La Flamme d'une Chandelle lução operada na geometria por Lobat- (A Chama de uma Vela), ambas de 1 961. chevski (1792-1856) surge fundamental Artigos e ensaios de Bachelard. publica- aos olhos de Bachelard: Lobachevski dos esparsamente. foram reunidos de- "criou o humor geométrico aplicando o pois de sua morte, em coletâneas que os espírito de finura ao espirito geomé- editores denominaram de Etudes (Estu- trico: promoveu a razão polêmica à con- dos), 1970; Le Droit de Rêver (O Direito VIII BACHELARD Bachelard reconhece no pensamento de Einstein (acima) um dos momentos fundamentais da revolução científica do século XX, a exigir dos filósofos a construção de uma nova epistemologia: "Com a ciência einsteiniana começa uma sistemática revolução das noções de base. É no próprio detalhe das noções que se estabelece um relativismo do racional e do empírico". IX OS PENSADORES dição de razão constituinte; fundou a liberdade da razão em relação a ela mesma, tornando flexível a aplicação do princípio de contradição". Essas e ou- tras conquistas do novo espírito cientí- fico permitem a Bachelard propor, em lugar das clássicas formulações dos empiristas e racionalistas, uma nova interpretação do conhecimento cientí- fico, na qual a criatividade do espírito (demonstrada, por exemplo, pela cria- ção, por via da imaginação científica, de novas geometrias) associa-se à experiên- cia, numa dialética movida pela conti- nua retificação dos conceitos ("Eu sou o limite de minhas ilusões perdidas") e pela remoção dos obstáculos epistemo- • lógicos (como a valorização e o apego à experiência primeira). Bachelard carac- teriza sua posição como um "idealismo militante", como um "racionalismo en- gajado" que se modula diante de cada tipo de objeto, tornando-se essencial- mente "progressivo", "aberto", "seto- rial". E prega a necessidade de uma nova razão, dotada de liberdade análoga à que o surrealisme instaurou na criação artística. Descreve o que entende por esse surracionalismo: "É preciso resti- tuir à razão humana sua função de turbulência e de agressividade. Assim é que se contribuirá para a fundação de um surracionalismo, que multiplicará as oportunidades de pensar. Quando esse surracionalismo houver encontrado sua doutrina, poderá ser posto em relação com o surrealismo, pois a sensibilidade e a razão terão recuperado, juntas, sua fluidez. O mundo físico será então expe- rimentado por meio de novas vias. Compreender-se-á de modo diferente e sentir-se-á de modo diferente. Estabele- cer-se-á uma razão experimental susce- tível de organizar surracionalmente o real, assim como o sonho experimental de Tristan Tzara organiza surrealisti- camente a liberdade poética". Mas, por outro lado insiste na importância deci- siva da experiência na construção cientí- fica: "A situação da ciência atual não Bachelard utilizou, de modo pessoal, poderia ser esclarecida pelas utopias da a psicanálise: criticou aspectos simplicidade filosófica. Eis porque pro- fundamentais da doutrina freudiana pusemos como nome dessa filosofia e aproximou-se das teses de Jung. mista, que nos parece corresponder à (Acima, fotos de Freud e de Jung.) situação epistemológica atual, do nome X

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