A EXPERI~NCIA VIVA DO TEATRO 2~ edição \ Eric Bentley O presente livro é uma história informal da literatu ra dramática, de ~squilo a Beckett, examinando todas as tendências formais que dominaram diferen tes épocas. O autor estuda-lhes as motivações psi cológicas e as condições sociais que as criaram, de monstrando haver uma inter-relaçãoconstante entre os mais variados gêneros e uma continuidade, só alterada nas aparências, entre coisas tão distintas comoatragédia e afarsa. A EXPERIÊNCIA Oteatro tem vidaprópria, afirma o autor, e passa a demonstrá-lo através de uma fascinante expedição VIVA DO TEATRO às essências da literatura dramática, justificando o máximo aproveitamento do palco, asua desinibição dos cânones do realismo sala-de-estar, que só passa ram a ser contestados pelos profissionais depois da Segunda Guerra, enquanto em outras artes a van guarda formal já começara a fazer experimentos Traduçãode importantes a partir de 1870. BENTLEY reabilita atá Álvaro Cabral os estereótipos do melodrama eda farsa, mostrando Apresentação de como, às vezes, possuem maior validade dramática Paulo Francis do que certos estudos psicológicos feitos com apa rente seriedade e profundidade. Ele vê no teatro um . organismo complexo, em permanente fluência, não Segunda edição sujeito às r(gidas classificações acadêmicas, que ten dem a torná-lo estacionário no tempo e limitado quanto ãs possibilidades de interpenetração dos di versos gênerosde expressão. O que BENTLEY procurou fazer, em última análise, foi umaconclllaçãodosformalistas com aqueles que procuram no teatro uma experiência intelectual. Mostra que há lugar para todo mundo em cena, e que essas duas tendênciasdominantesdo pensamen to crttlco, longe de serem antagônicas, em verdade se fundem e se complementam pois coexistiram na época de ~squilo e na de Shakespeare, não havendo motivo palpável porque não possam tornarafazê-lo ZAHAR EDITORES em nosso tempo, quando o teatro voltou a deixar RIO DE JANEIRO sua marca entre asartes de maior impactosocial. continuens 2'!sba Título original: TheLifeofthe Drama Traduzido da primeira edição,publicada em 1965 por Methuen & Co. Ltd.,Londres, Inglaterra. Copyright © 1964by EricBentley Direitos reservados. Areprodução não autorizada Índice desta publicação,no todo ou em parte, constitui violação do copyright. (Lein? 5.988) A CONCILIAÇAO DE BE:'oJTLEY, npresentação de PAULO FRANCIS 9 Primeira edição brasileira: 1967 PARTE I: ASPECTOS DE UMA PEÇA Capa: Érico i. ENREDO . 17 17 A MATÉruA-PIUMA DO ENREDO .••.•.••. •• .•••• ••••• • 22 A IMITAÇÃO DA VIDA . •• .•. . •. . •. . •. •. ••.. .•• ••• .... 25 ASSOMBRO ou ADMmAÇÃo E "SUSPENSE" . •. •.••• ••.••• ~~ A IMITAÇÃO DA AÇÃO •.•.. •. .• . •.. •.•• •..•..•••••. A PREVENÇÃO CO!'..,ltA O ENREDO ••.•..•.••. •. ••••..• 32 A PROVOCAÇÃO DA PHEVENÇÃO •.. •••.••.••.•. ••••.• SHAKESPEARE . 36 41 UM ENREDO NÃO É UMA PEÇA . •... •••• •••. ••••.•••• 2. PERSONACEr-.t . . 43 43 A ?-fATÉRlA-PHIMA DA PERSONAGEM ... .. .. .•.••. .. ..• 45 DO FATO À FICÇÃO ... .... .•.. ...... .......... ••.• . 49 E?-[ LOUVOR nos TIPOS . .. .. •. .•. •.. . . .. .. .•.. .. •. •.• 54 TIPO F ARQUÉTIPO . •... .. . . •. . •.. .•...... •. •. •• •••• 58 TIPOLOGIA E MITOLOGIA . .. •. .. .. .•.•. ... .. .. •. . •.•• 60 O MODERNO DI\AMA PSICOI.ÓGICO . ..•.. . . .... . ...• •••. 64 1981 PAlIA ALÉM DE TIPOS E INDIVíDUOS •.. .• .• .. •••. .. ••• A SUBSTÂNCIA DOS .>ONHOS . 72 Direitos para alíngua portuguesa adquiridos por ZAHAR EDITORES . . 75 Caixa Postal 207 ZC-OO Rio 3. DIÁLOGO que sereservama propriedade desta versão ......... .. .. .. .................. .... ... .. 75 "FALAI" 78 Impresso no Brasil O DIlAMATUTIGO COMO FALADOR ••••. ... ..•.•. •• ••. •• 6 A EXPEIUÊ~CIA VIVA DO TEATRO Í:":JJ1CE 7 A ELOQÜÊNCIA NO DIÁLOGO ••••••••••• ••••.• .•.•.•.. 81 PAliTE lI: DlFEHENTES C8\:EHOS DE PEÇAS NATURALISl\IO •• •••••••••••••.••••••••••• ••.. . ••••• 84 PROSA RETÓRICA •.••••• •• ••••.••• •• ••••• ••. ••. •• . . 87 fi. \IELOJ)H.\\I:\ . ISI VERSO RETÓRICO ••... .• •••..••••.••. ••.••.• ... .. .•. 90 POESIA ....... .... ............................... 91 A 1\1.-\ FA~IA DO 1\IELO[)II.-\:-'IA . IHI ANTIPOESIA ....................................... 9G E:-'l LOU\'O!l DA LA:-rÚnL-\ 182 ANTlPEÇAS ....................................... 99 CO\Il'AIX/\O E Tl,:-IOn . 18.'5 I·:X.\CEIIO JH~~ L1;\;(;I'ACEI-I . 190 4. PENSAMENTO ................................. . 10~ ZOLA E DEPOIS . lD'3 A QUI:":TESSÊ!':CIA DO DlIA.\f.\ . IDS PE:-lSAMENTO E SENTIMENTO 1m o • • • • • • • • • • • • • •• • • ••• • • • 7. FAHSA . 201 O "PATHOS" DO PENSAME!'.'TO 104 o • ••••• • • • ••• •••• • • ••• •• MÁS IDÉIAS ....................................... lOS , \'IOLÊ:":CIA . 201 PROPAGANDA ..................................... 109 ZO~IIlA!l DO CASAl\rE:":TO ' . 20G 20() UMA PEÇA É miA COISA INTELECTUAL •••.•.... .. ••.•• 111 .; CATAliSE CÔ:-'lICA . O DRAMA ESPANHOL ••••••••• ••••••.•.. ••.. .. .••. • 115 '{ I'IAIl.-\S E TFATIlO . 211 O DRA1\IA ALE1\fÃO ••••.•••••• ••••.•.•.. •• .••••. .• .. 119 \ DOCES E AMAnCAS FO:-;TES . 216 SHA\V ••• •• .•••••• ••••••• •••. •• .•••.•.••• •. •••• .. . 121 b A DIALÉTICA DA FAIISA . . 219 PffiANDELLO ............. ............ .... ......... 127 -1 A TnA\'ESSlJRA CO:-IO FATALII)ADE ... .. .. . . . . .• .t . 222 BRECHT ••••••••••••••••••••••••• ••••• ••••••••••.• 130 ~ À 1:-IACE:-1 E SE~IELIIA:":ÇA DO 1\I,\CACO ... .. .. .. .. ...•. 225 A DIGNIDADE DA SIGNIFICÂNCIA •••.••••••••••••••..•• 136 q A Ql'I:-;TESSÊ:":CIA DO TEATRO . 2~8 'O"o SOl'RO DE LIIJEHDADE 1~IAGI:":/\H1A" . 231 5. REPRESENTAÇAO ...... ... ..................... 111 1). TH:\CrmI:\ 2.'33 AS FOR:-IAS SUPEHIOHES . 233 LITERATURA "VEIISUS" TEATRO •••••. ••• •.. •••.. .•.... i41 ,\ pEnSO!':ACE1'1 :'-IA CO\fh ll.\ E :-;\ TH,\CÍ-:Il['\ . ~lR INTERPRETAR, OBSERVAR E SER OnSERVADO •.•.•. ••••. .•• 14~ A l\IOnTE l\'A \'JI)A COTlIJIA:":A .. .. . .. .. ... .. . . . .••. •. 21G SUnSTITUIçÕES ••••• .••••••••••••• ••• •. •••• ••..•... 149 "LA OSCt.'HA RAíz DEL r.nrro" . 249 IDENTIFICAÇÕES ••••••• •• •••••••••••• ••• •••••• •••• . 150 Tl·:nROIl . .... .. .. •. .. . . .. ... ... .. .. .. .. . ...... .. . . 2.5·1 EMPATIA E ALIENAÇÃO •••.•.•. ••• •• ••.•••• ••.• ••••• 152 CO~[PAIXÃO . ..•.. ... .. .. .. .. .. ....' . 25(-i o ADULTO E O INFANlIL •••••••••••••••••••••••••••• 152 DE SIIAKESPEAnE A KLEIST . 258 FINAL DA ADOLESCÊNCIA ••••••• •• ••••••• ••• ••••• ••• 154 InA •.• •• •.•. . . .•.. .. .•.•. . .. .. .. ..... . .. . .. .. . . . 2GO O QUE O ATOR DÁ AO DRA1\fATURGO •• ••••••••••••• ••• 156 A OIALli:TICA DA TnA(;ÉIJIA 2GI O QUE O DRAMATURGO DÁ AO ATOR ••••••••••• " ••••• 160 GRANDE ATUAÇÃO NO MELODRAMA . " •• •••••••••• " .•• 161 9. CO\H~DI.'\ 2Gfi A OCORRÊNCIA TEATRAL ••••••••••• •••••••••. •. •••••• I6f) nruNCAR, REPRESENTAR, DESEMPE!'.TJ[AR •.•.• .•.. •. .•.. . 169 EU rS1A\'A APE!'::\S nm:-';CA:-;I)O!" . 2GG PSICODHA1\fA ••••••• ••••..•••• •• •••••. .. .• .. .••. .. • 172 ":-':,\0 I.E\·F.~[OS AS COISAS 1'.\11.-\ !':SSE I.ADO!" . 2G9 "IL GllJOCO DEI.LI::PARU" 175 THAC}:IHA E COl\rf:IHA: AICt'~1A~ GE:":En.\L1Z.\Çi)ES . 271 CO:-IO GOSTAIS . 27~) 8 A EXPEmÊNCIA VIVA DO TEATRO 10. TRAGICOMEDJA 284 TRAGf.:DIA EVITADA F. TRAl'SCE:-IDIDA ..•.•.•.. .••..•••• 284 VIl'GANÇA, JUSTIÇA, PERDÃO ••.•. •.•• •.•••• ••.••••• • 287 DESESPERO, ESPERAl'ÇA •.•••.•..••.••. •• ••. •••.•.••• 300 REFER~NCIAS 317 o •• • • •• • • • • • •••• • • • •• • • • • • •• • • • • • • • • • • • • • • • AGRADECIMENTOS ........ .............................. 321 A Conciliação de Bentley E RIC BENTLEY examina a inter-relação dos diversos gê neros de teatro em A Experiência Viva do Teatro. Defende gêneros "desacreditados" como o melodrama e a farsa. :b riotá vel que faça isso, pois, em The Playwright as Thinker, postulava um teatro onde o intelecto tinha primazia absoluta. Todos nós mudamos um pouco nossas opiniões, o estacionarismo intelec tual é o apanágio dos medíocres, e BentIey passa de urna posi ção a outra com erudição e brilho que não têm paralelo na crítica teatral do nosso tempo. A Experiência Viva do Teatro parece-me um livro de im portância vital para o estudioso de teatro. Bentley demole a ri gidez clássica associada a palavras como tragédia, comédia, dra ma, farsa etc. Mostra que o teatro é um organismo complexo, em permanente fluência, que mantém a sua integridade básica mediante certos atributos de comunicação, certos traços de hu manidade comum, derivados de nossa experiência de vida. Exa mina-lhes a motivação psicológica, valendo-se, em grande parte, do freudianismo moderno. e considera as variações de uso e prazer propiciadas pela literatura dramática em face de condi ções sociais diferentes. Realiza, essencialmente, um ensaio anti acadêmico sobre teatro, sobre a capacidade infinita de renova ção do teatro. A tendência acentuada por Bentley, a vida própria do pal co, há muito já domina a cena contemporânea. Ele a combateu em livros como o mencionado The Playwright as Thinker, In 11 lO A EXI'Elllt::-:CIA \'I\'A no TEATno A CONCILIAÇÃO DE BENTLEY Searcli o/ Theatre, Be.nard Sliaw, Wliat is Theatre'l e The Dra do e mostra a imensa fecundidade desse método de approacli matic Event, Bentley propunha, então, um realismo mais amplo à nossa compreensão do teatro. , e complexo nas manifestações formais do que aquele formulado Trata-se, em suma, de um livro seminal,que certamente dara por Ibsen e Checov, mas recusava o anti-realismo da linha Jo aos nossos críticos, aos profissionais e à platéia_engagé ~o pal nesco & Beckett, e o teatralismo de diretores como Elia Kazan co novas e ampliadas diretrizes para sua funçao de cnadores e Peter Brook. É evidente que este grande crítico fez uma revi e de guardiães da criação. O teatro, nos últimos ~nos, com a são profunda de seu pensamento, pois, nesta obra, traça um ver emergência de dramaturgos do porte de Peter ~.elss, Osborne, dadeiro mapa explicativo e anotado dos rumos do anti-realis sem falar da divulgação plena de Brecht, tem exibido uma. cap~~ mo e do teatralismo, nos quais encontra agora uma existência cidade de inovação formal e de influência social que muitos ja afim com as próprias origens do teatro. julgavam impossível, em virtude das.limit~ções t~cnicas ~o pal co. O teatralismo experimental, aqui explicado a exaustao por A Experiência Viva do Teatro é também uma história in Bentley, matou esse último mito. As "duas tábu.as ~ umapaixão':, formal da literatura dramática, de Esquilo a Samuel Beckett, prescritas por Shakespeare, revela~aI~ uma vlt~hdade msuspei e o talento de Bentley torna-a imprescindível ao profissional tada, desde que se livraram dos gnlhoes do reahsmo de sala-de: e ao leigo interessado no métier. Faço-me mais claro: Bentley estar que dominou a cena até o fim da 11 Grande Guerra. Ja não recusa a conceituação de conteúdo que defendeu tão ardo era tempo que um grande crítico nos desse conta desse progres rosamente no passado. Apenas a expandiu para incluir manifes so cujas possibilidades só agora começam a s~r exploradas er:t tações atuais do virtuosismo cênico, quando o que há de revo sua plenitude. Foi o que Eric Bentley conseguiu em A Experi lucionário em criação se concentra mais na forma, na vanguarda ência Viva do Teatro. experimental. Fez um livro de conciliação entre as duas tendên cias dominantes da crítica teatral do nosso tempo. Demonstra PAULO FRANCIS que ambas têm razão, à sua maneira, e que unidas podem res taurar o prestígio algo abalado do palco ante formas mecânicas de expressão como o cinema e a televisão. Ao submeter "grandes pensadores" do teatro como Shakes peare e Esquilo a um escrutínio formal, Bentley nos enriquece com o conhecimento desses escritores, antes discutidos quase sempre em tom acadêmico, sob a pompa de uma retórica histo ricista e superada. Bentley encontra nos palhaços e figuras trá gicas de Shakespeare componentes de vida cênica semelhantes às dos estereótipos do melodrama e da farsa, em geral despreza dos pela crítica intelectualizada. Reabilita os últimos e amplia o sentido dos primeiros. Outra análise de importância ele dedica àresposta do espec tador ao teatro. O crítico, acentua Bentley, procura acrescentar à obra de arte conceituações que vão muito além do objeto observado, desenvolve idéias e preconceitos próprios, apenas uti lizando a obra de arte como uma espécie de foguete propulsor. Condena esse comportamento, pede um retorno à objetividade, à limitação honesta do crítico ao que se propõe o objeto critica- '--'" A Memória do Meu Amigo PERRY MILLER Auf die ewige Lebendigkeit kommt es an, nicht auf das ewige Leben. NIETZSCHE . ..ce principe certain de l'art, qu'il n'y a ni moralité ni intérêt au théâtre sans un sccret rapport du sujet drama tique à nous. BEAUMARCHAIS PARTE I Our descent into the elements 01our being is then iustiiieâ by our subsequent [reer ascent toward its goal: we revert Aspectos de uma Peça to sense only to jind food for reason.. . SANTAYANA 1 - - ---1,?\ J!Eredo A MATÉRIA-PRIMA DO ENREDO A EXPERIrnCIA VIVA de uma peça de teatro, como de uma novela, ou de uma peça musical, é um caudal de sentimentos que flui dentro de n6s, ora célere, ora lento, aqui placidamente espraiando-se entre as margens largas, além precipitando-se em torrente entre as ribas estreitas, agora deslizando por uma ver tente, logo atirando-se em vertiginosos rápidos, depois precipi tando-se numa catarata, adiante sustado por uma represa, até desaguar num oceano. Com tudo isso, a imediata experiência, a erudição e a crítica e a pedagogia, surpreendentemente, pouco têm que ver. Os especialistas dispõem de teorias a respeito do Hamlet e têm a certeza de que são corretas. Mas pergunte-se lhes por que vão a um show ou ao cinema no sábado à noite e vê-Ios-emos muito menos seguros de si. Ora, Q.eY~tª--parecer um tanto susReito gue se p~tenda r~olver os problemas mais avança dos sem que se tenham solucionado os mais elementares. Mas alguma vez foram solucionados os elementares? As perguntas a mais-fáceis são as mais difíceis. E s6 é possívelcõITíeçãi discuti: las tal como se-discutem as maiscornlexãS:fraê!!entan o-as em suas parcelas componentes, detendo as mais cruas e tratando de abrir caminho através das menos cruas. --- - O ue é enredo? O produto acabado que ocorre à mente é, sobretudo, intrincado e sutil. De ue matérias- rimas se fez o roduto? Da vida, poderíamos confiantemente aventar, a vida em sua diversidade e sem exclusão do seu aspecto mais desagra- ASPECTOS DE t';"I·\ PEÇA ENREDO 19 18 dável. Mas não pode haver respostas, mesmo provisórias, en foram compostos por um infatigável jornalista pouquíssimo quanto as perguntas forem tão genéricas. A~nálise do ma.terial preocupado com a verossimilhança. do enredo só Qoderá começar quando for isolada alg~~a unidade Estas linhas f?ram ~scri~a~ na década de 1930 por ROBERT menor gue a "vida" de Qreferência - uma vez gue o nosso tema é o emedo no teatro - uma unidade característica do BR~SILL~CH, e s,ena muito fácil comparar tais "dramas" com os de jornais das decadas de 40, 50 e 60. A vida, tal como relata teatro, em particular. Na busca dessa unidade, aproveito uma ?a nos jornais, é dramática. Se não fosse isso, de que viveria a sugestão de GEORGE SANTAYANA para efeito de que, enquanto Imprensa? o novelista verá os acontecimentos por intermédio da mente de ffiiifõs-ho~lens -Õdramãtüi:go~õrseu lado, "consente que ve Mas, apesa.r de tudo, talvez se argumente, Lindbergh era d~ ev~ntos"~ um caso exc~pclOnal,por ser herói nacional, e os gangsters são jamos a mente outros homens, por interméaiooe casos excep~lOnais, porque são gangsters. Os jornais dirigem-se Se o enredo é um edifício, os tijolos de que está construído são aos ~u~ros, aqueles que s~nham ser heróis nacionais e suspiram acontecimentos, ocorrências, sucessos, incidentes. de alIVIO porque seus bebes não foram raptados. Sejam quais fo Os eventos não são dramáticos em si. O drama requer os nassua. rem as conseqüências, a vida dos outros - dos milhões de ou olhos do espectador. ~er dr. ma nalguma coisa é os tros - é convencionalmente encarada como não-dramática e a etonentosde conf.lito e reagir emocionalmente a esses etcmsntos opinião convencional, como compete à convenção, corresponde Essa reação emocional consiste em ficar impressionado, ser atin aos aspectos exteriores do caso. Nós apenas sonhamos ser he gido de espanto, na presença do conflito. O ró rio conflito.!ill! l róis.nac!onais. Mas isso é outro modo de dizer que somos heróis bé não é intrinsecamente dramático, Se todos perecermos nu naCIOnaIS nos. nossos sonhos. Assim que percebermos que so ma guerra nuclear, continuará havendo conflito - nos domí nhamos,a maior parte do tempo, .teremos de inverter a opinião nios da Física e da Química. Não se trata de um drama e ape convencional e declarar que, no fim de contas as nossas vidas nas de um processo. S o drama é uma coisa gue se_vê, tem de são dramáticas. ' haver alguém Rara ver. A mte dramática é humana, FREVDescreveu um livro revelador, intitulado The Psycho Até que ponto a nossa vida é dramática? Existe, por certo, pathology. oi Everyday Lije,* em que mostrou que as ativida a opinião de que os elementos dramáticos são raros, e de que a des verbais sem conteudo aparente encerram, na realidade um experiência cotidiana é cacete, sem conflitos. Que as coisas pas tesouro de significações. Não poderíamos falar, numa acepção sam e repassam num vaivém infindável poder-se-ia dizer, e tem semelhante, do drama da vida cotidiana, mesmo onde o drama se dito, da vida em geral. Tem-se dito também de certas épocas pareça faltar completamente? e lugares. Usei a palavra sonhos de um modo desprendido. Quero di Mas se o drama é uma questão não só de acontecimentos, zer tanto os devaneios quanto os sonhos que temos durante o so rea~ões en~~cio~~i~, propriamente ditos, mas também das nossas, no: Quero dizer todas as nossas fantasias - que era uma das então a pergunta "até que ponto a nossa VIda e dramática? c, coisas que os nossos ancestrais tinham em mente quando afirma em parte, uma questão subjetiva. O que uma pessoa sente como vam, como tantas vezes o fizeram, que a vida é um sonho. Essas coisa aborrecida, outra acha emocionante. Mesmo um homem l antasias não são a expressão direta ou illiJireta de dese.os sen- d~ hu~ana. que considere a vida, em geral, não-dramática, notará exceções. que desejar é o combusyvel que alimenta a máquina Nao se tra~a aRenas. da vida nos Rarecer dramáti.êa~"1)esejamos _que ela seja dramática: p-ortanto, é - visto que se trata_de_um Um banqueiro que foge num avião, gangsters que raptam o filho de um herói nacional, uma jovem que se transforma em rapaz, um pintor de paredes que se converte em César, po • Psicopatologia da Vida Cotidiana, de S. FREVO, tradução e apre sentação nossa para a coleção PSYCHE Zahar Editores, Rio de Janeiro, demos dar um nome a todos esses episódios novelísticos que 2.3 edição (1966). (N. do T.) ,