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A crise do movimento comunista: a crise da internacional comunista PDF

162 Pages·1985·11.442 MB·Portuguese
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fernandotaudin fernando Claudio a crise a crise do movimento comunista do movimento Publicada na Franca ern- 1970, esta obra de Fer- nando Claudin — dirigente revoluciondrio expulso do Partido Comunista da Espanha em 1965, juntamente corn Jorge Semprim — tornou-se um livro clessico, comunista pelo rigor da sua pesquisa documental e pela originali- dade das suas anAlises teOrico-politicos. 0 objetivo de Claudin 6 explicitar as causas pro- fundas da crise atual do movimento comunista — crise da prética revoluciondria e crise da teoria marxis- volt- a rise da internacional comunista ta atrav6s de uma abordagem metodolOgica fiel a Marx. Para tanto, Claudin esti desenvolvendo uma in- prefricio de Jorge semprOrt vestigacão minuciosa que abarca cerca de meio skulo de histhria: da fundac5o da Internacional Comunista (1919) A invasgo da TchecoslovAquia (1968). A parte ate hoje publicada desta pesquisa monu- mental e Unica em seu genero (o livro I: Da Interna- 1 cional Comunista ao Centro de Informac5o dos Para- dos Comunistas) 6 laneada agora pela Global Editora, em dois tomos — o segundo j6 esta no prelo. Trata-se de um texto de leitura obrigatOria pars historiadores, cientistas sociais, politicos e todos aqueles intelectuais e cidadaos que se interessem pelo conhecimento cri- tic° das possibilidades e limites, da grandeza e da miseria do movimento socialista revolucionario con- temporAneo. global editors 13 „ ' I otln. .1) t fernaodo claudin • a c ise r do movimento comunista Claudia, Fernando voll- a crise da internacional comunista A crise do movimento comunista prefacio de Jorge semprtin 320.53209/1/4-415c/1985/2v.v.1 (88768904/89) TRADUCÃO E INTRODUCAO JOSE PAULO NETTO /oz/ 06 III IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIItI 88768904 global editora © Fernando Claudin bey/ 4' 4'7 SUMARIO Thulo original La crisis del movimiento comunista 1. De la Komintern al Kominform Capa:Jotad (projeto) Marco A. A. Giannella (arts-final) R ev Isla: Jose dos Anjos Cesar Vera de,Souza Lima Rubens Rusche APRESENTACAO, 7 Dados do Catalogacio na Publican:1m (CIP) Internacional PREFACIO, 11 (Camara Brasileira do Llvro, SP, Brasil) INTRODUCAO, 21 Claudio, Fernando, 1913- 553c A crise do movimento comunista 1 Fernando Clau- .1- ; tradujm e introduclo Josg Paulo Netto. S'Ao I. A CRISE DA INTERNACIONAL COMUNISTA Paulo : Global, 1985- (Colegio luta de classes) Canter...1o: v.l. A crise da Internacional Comunis- ta / preficio de Jorge Sempritn. ISBN 85-260-0041-1 A DISSOLUCAO 1. Comunismo - Histgria 2. International Comunista Ultimo episOdio de uma Tonga crise, 27 I. Sempriln, Jorge, 1923- II. Titulo. Ironia da histOria, 31 Atestado de falencia, 40 17. e 18. C00-320.53209 17. -335.44 85-2046 18. -329.072 A CRISE TEORICA Indices para catalog° elslemidloo: Comunismo : Cigncia politica : Histgria 320.53209 0 esquema teOrico de Lenin, 51 Internacionais comunistas 335.44 (17.) 329.072 (18.) Capitalismo agonizante?, 59 Ultimas indagaciies de Iknin, 64 Direitos reservados: global editora e distribuidora lids. Stalin revisionista, ou o socialismo integral num so pais, 70 Causas da paralisia teerica, 86 Rua Franca Pinto, 836 — Cep 04016 Fone: 572-4473 Caixa Postal 45329 — 01000 — V. Mariana Säo Paulo - SP 3. 0 MONOLITISMO FILIAL: Transplantacfm do modelo sovietico, 103 Rua Mariz e Barros, 39 — Conj. 26/36 Ultracentralismo e russificacio, 109 Fone: (021) 273-5044 Itinerärio do monolitismo, 113 Cep 20270 — Bairro Tijuca Rio de. Janeiro - RJ. N.° de eatalogo: 1691 ISBN 85-260-0041-1 5 4. A CRISE POLITICA APRESENTACAO A experiencia alemii maior desastre da Internacional Comunista,1 23 InsurreicOes prematuras e expulsOes premonitdrias, 127 Mudanca de enfoque: a revoluctio se torna perigosa para a Russia da NEP 129 Para que uma teoria da revoluctio alemd, se existem Sta- lin e a "politica leninista"?, 134 Frente Unica no capitalismo e partido dnico no socialis- mo, 138 Social-democracia = social-fascismo = inimigo princi- Em dezembro de 1969, Fernando Claud& concluiu a parte pri- pal, 143 meira de urn projeto analftico simultaneamente ambicioso e necessd- caminho da catdstrofe, 149 rio: terminou a 'Saga° de "Da Internacional Comunista ao Centro de InformacOes dos Partidos Comunistas" que, subdividido em duas gran- A experiéncia frentista des secOes ("4 Crise da Internacional Comunista" e "0 Apogeu do Sta- Recuperacdo capitalista e contra-ofensiva operdria, 154 linismo"), constitui o livro I de A crise do movimento comunista, obra A viragem de 1934, 158 a ser completada por um livro H,, intitulado "Do XX Congresso do VII Congresso da Internacional Comunista, 167 PCUS a Invaslio da Tellecoslovdquia".2 Ambicioso d o minim° que se pode dizer do projeto de um pes- "Hd que saber terminar corn uma greve" (o 1936 fran- quisador que, individualmentc se debruca sobre meio siculo de hist6- ces), 180 ria do movimento comunista — as exatos cinqiienta anos que, entre A revolucdo inoportuna (Espanha, 1936-1939), 189 a fundacdo da Internacional Comunista e o aborto da Primavera de A experiéncia colonial Praga, assistiram ao nascimento e consolidacao dos partidos comunis- tas, a ascensao e it queda do fascism, it emergéncia e a dentincia da Movimento de libertacdo nacional e polltica da IC 215 autocracia stalinista, etc. — e que, ainda individualmente, dele se pro- A revolucdo chinesa, 237 p& extrair a gdnese da problemdtica que penetra aquele movimenta 0 Ultimo ato, 255 E necessdrio d o qualificativo compulsoriamente a ser atribufdo ao mes- mo projeto: a operacdo encetada por Claudfn rr uma preliminar indes- cartdvel paw quem quiser, de dentra do movimento comunista (como seu voluntdrio protagonista) ou do seu exterior (como "companheiro de viageml observador ou antagonista), pensar os rumos e as perspec- 5. NOTAS FINAIS, 295 tival dos que se reclamam herdeiros de Marx na via do socialism° revoluciondria PLANO DO TOMO II, 319 Pois bent• decorridos mais de quinze anos desde a elaboraclio da primeira parte d'A crise do movimento comunista, uma conclusdo se impOe — esta obra veio para ficar, instaurou-se como marco inarredd- vel da reflextio (mais corretamente• da auto-reflexilo) comunista. A ar- ticulacito que Gaudin exercita, de andlise e de critica, do objeto histo- ric° sobre o qual lavra adquiriu (independentemente da posictio que em face dele se assuma) urn valor inquestiondvel. Nesta primeira parte do seu projeta a ambiciio realizou-se plenamente enquanto conquista factual e o seu cardter necessdrio afirmou-se com forcer indiscutivet 0 elogio do trabalho de Claudin,' obviamente, nao a legitimo sem partido, "a" classe, "as" massas). Aqui, a jd centenciria idecia de que que se ressalte tratar-se de um corpo de reconstruct-5es histarico-analiticas os homens concretos, organizados de alguma maneira, fazem a sua his- permedvel a inameras aporias. Nilo poucas teses suas passam sem con- Okla, sem poder, poram, escolher as circunstancias em que a fazem, es- testaceia nao poucas inferencias se erguem sem exigir precithes, nao pou- ta Meta deixa de ser uma peace° de principio para converter-se numa cas deduceies convidam a novas determinacties; e, a lOgico, o desenho modalidade de apreensdo do reaL 0 mover das estratigias, a consecu- final de sua pesquisa pede outros movimentos da crftica e da polemica. cab dos objetivos, o comportamento dos atoms coletivos e/ou singula- Vale diner: a um trabalho medularmente problemntica Entretanto, a pre- res 6 tornado sem que a determinacao "em ultimo instancia" se ponha cisamente al que se identifica o seu merit° maior: o que de mais perti- direta ou hipostasiadamente — a autonomia (relativa, todavia operan- nente se pode requisitar a uma investigacao a que ela convoque a abor- te) do politico, do cultural, etc., se realiza pelas mediaceies que Claudin dagens alternativas, a revisOes e retificac&s. Nesta 6tica, o exame do caca corn uma extraordimiria pertincicia. ensaio de Claudin oferece ao leitor urn iftfinito campo de possibilidades. Estou igualmente convencido de que este livro — e nem poderia Nesta rapidissima apresentacdo da edicao brasileira nao cabe, na- ser diferente se, efetivamente, ele e fiel a inspiracdo de Marx — presta turalmente, formular apreciardes que pretendem enformar ou substi- urn inestimOvel servico a causa comunista.4 Seu esforco por reconstruir tuir o julgamento do !error, especialista ou nao. Mas cabem duas ob- a verdade do movimento comunista num perfodo preciso, rompendo servagOes, uma referida a filiacao marxista de Claudin e outra, mais corn a apologia, constitui — para a/em de proposituras questiondveis, especifica, relacionada a seu efeito sobre urn segmento particular do etc. — uma canOnica operacao que reforca a luta para suprimir o mun- pablico. do burgues. Nab se pode temer o esclarecimento dos erros (e dos cri- Estou convencido de que a postura metodoldgica de Claudin, en- mes); s6 ele pode impulsionar criticamente o pensamento e a prdtica frentado corn a experiéncia histdrica (que tambim é odele, enquanto do movimento comunista. Neste trabalho, Claudin new se portou co- pessoa) de meio seculo de luta comunista, obedece as exigencias da me- mo arque6logo (corna alias, notou-o seu amigo Semprtin): nä° tomou lhor inspiracao do pensamento marxiano. por isto que, na sua expo- o passado como exempla situou-o como ligda Reconhecer como seu sip& textual, a paixão da vontade revoluciondria solda, e salda, todas este passado significa, para os comunistas, nao repeti-la. as passagens critico-analiticas• o sujeito que mergulha no objeto da re- Pouco importa se aceitamos ou nao as conclusOes de Claudin (e flex& (assim como o autor mergulhou no praxis politica) ultrapassa quern escreve estas linhas recusa muitas delas) — hd que agradecer-/he a incompatibilidade mistificada entre "juizo de fato" e "jufzo de va- por nos ajudar a nos compreender melhor. Certa feita, Marx observou lor"• o tratamento do material em(fterico a direcionado pelo movimento que "a exigencia de abandonar as ilustdes sobre sua condicdo e a exi- de uma razao e uma yolk& que sci se explicam referenciadas ao objeti- gencia de abandonar uma condicao que necessita de ilusOes". Esta obra yo revoluciondrio do cornunisma nao meta ideal e sim construct& his- de Claudin contribui vigorosamente para que os comunistas se liberem törico-concreta. A positividade em que as tensOes de classes e grupos de uma tal condictio — e, menos credulos e ingenuos, se tornem efeti- aparecem enrijecidas nos aparatos partiddrios e suas instancias institu- vamente melhores comunistas. cionais se dissolve pela dialetizactio do procedimento reflexivo, anima- Jose Paulo Netto do por Oquilo que e o mOvel da polftica proletdria, o pathos da revolu- ciia E nunca a revoluctio como mito ou logos, mas como prdtica social massiva. A documentacdo a que recorre o analista a submetida ao co- tejo corn os fatos, cuja processualidade abre a via a critica que lhes con- fere - aos documentos e aos fatos — o sentido real. As inflect:les hist6- rico-sociais e as suas expresseies ideolOgicas e politicos silo apanhadas como resultantes de vetores multifuncionais e no sua complexidade de produtos de lutas de classes e fracOes de classes. Na histOria ocorrida, o pesquisador localiza, por dentro do processo dito "objetivo", a agdo e a interact& de grupos particulares de homens, de lideres e massas de- terminados - bem como a sua coagulaceio em micleos corn poder de constrangimento e iniciativa; a hist6ria ocorrida, pois, nao 6 mais que a intervencao das grandes personalidades quer de entes abstratos (19" NOVAS PREFÃCIO Claudin nasceu na Espanha, em 1913. Estudante de Arquitetura, ingressou no Partido Comunis- ta da Espanha (PCE) em 1932, participando depois da guerre civil. Em 1937, passou a fazes pane do Comite Central do PCE e, em 1947, tornou-se membro do sett Concise Executivo. Nesta condigão permaneceu ate 1965, quando, na secniencia de uma polemica intrapartidaria, em que defendeu propostas antecipadoras do que mais tarde at denominaria "eurocomuolsmo", foi ex- pulso do PCE. Entre 1939 e 1976, exilado, viveu na Ameria Latina, Unfit° Sovietise e Franca. Atualmente na Espanha, dirige a Fundagdo Pablo Iglesias. Na sue bibliografia, destacam-se: Marx Engels y la Recolucidn de 1846S Eurocomunismo y Socialising Divergencias Como/away e Crisis de las Parlidas Polfticos. Seu Oniso livro /ancado ate agora no Brasil e A oposicdo no "socialis- m° real" alnido Sovid/ice. Hungria, Tiheco-Eslowdquin Poldnia: 1953-19804 Ed. Marco Zero, Rio de Janeiro, 1983. A primeira edigão castelhana foi publicada em Pads, por Ruedo IbirIco (1970); logo depois, o sotto foi traduzido ao trances, ingies, italiano e sueco. A presence versão em portugues teve em conta a edivdo castelhana de 1977 (Libros de Ruedo Iberico-/berica da Ediciones y Publicasio- Este 4 sem dtivida, um livro importante. Ou muito me engano nes, Barcelona) e, por razdes tecnicas, compreende dois tomos, sada qual correspondendo as ou me engana e confunde a amizade, a coincidencia de opinlóes quan- duas grandes secbes mencionadas. Refiro-me exclusivarneott a esta primeira pane d'A ate do movimento comunista A ulterior to ao essencial e o próprio interesse pelo tema — ou A crise do movi- evolucio do pensamento politico de Claudin mereceria um estudo particular e longo. e Rio ester mento comunista — de Fernando Claudin, cujo primeiro tomo langa- em discussdo aqui. 4 E nä° imports, reafirme-se novamente, a posterior evolucio de Claudin. mos agora por Ruedo Iberico,' seri, por muitos anos, uma obra de consulta, de referència, indispensavel e exemplar no que toca ao metodo e a ela- boragao do material histOrico. Livro importante nao s6 do ponto de vista da mem erudigao, da racionalizagan de uma experiEncia social e politica de meio seculo, mas ainda de outra perspectiva, mais pratica e urgente: a da construgao de uma nova estrategia de luta pelo socialism°. Tres razOes principals confluem para conferir a este livro a im- portancia que logo se the reconhecera. Em primeiro lugar, o pr6prio tema. A investigagao critica da hist6ria do movimento comunista 4 de fato, problema relevante. Realmente, sem uma clara compreensao das lathes ou sem-razOes histOricas que conduziram a involugao, primeiro, e a decomposigao burocritica, pouco depois, do projeto revolucionit- rio mundial fundado em outubro de 1911 — sem esta compreensao 6 impossivel pensar um esquema estrattgico de intervencao nos proces- ses reais da atual crise social do capitalismo europeu. Talvez se observe que o objeto do ensaio de Claudin nao e Certamente que nao o e. Sabre a histeria da Internacional Comu- nista, quer em sett conjunto quer acerca de alguns de seus aspectos par- clan, poderiam set citados dezenas de tittles. Mas o sue 6 original no trabalho de Claudin e o metodo utilizado, e sue opera nao se a nivel da estrutura formal da obra, mas que, principalmente, entorma a visao estratEgica subjacente, transformando, deste modo, a investigacao do passado em clarificacao critica dos caminhos possiveis no futuro. A originalidade do metodo de Claudin— e estou enunciando, ob-via- mente, urn acacianismo — consiste em ser marxista. Aqui, ao longo de centenas de paginas incisivas, trilhando as vias de uma analise complexa (porque igualmente complexa era a realidade), o que retoma frescor, efi- cam, brilhantismo, forga de convicgao — numa palavra: vigência — é 10 o mOtodo marxista de analise histOrica. Aqui, o que se implementou, pa- pular, acabam se esterilizando, convertendo-se em postulagOes que flu- cientemente, teimosamente, corn forga demolidora, foi a "velha toupei- tuam no limbo da abstragdo e do irrealismo, porque TrOtski nunca sub- ra" de Marx, a "velha toupeira" da critica implacavel da histOria mesma, mete a critica os prOprios fundamentos da estratógia denunciada por ale. quando se converte de mera objetividade em consciencia revolucionaria. Taxativamente, em mais de uma ocasido, TrOtski afirma que a crise da E esta demonstracdo da vigencia do matodo marxista de analise Internacional Comunista, do partido russo, a uma crise de diregdo: bas- histOrica reveste-se ainda de maior vigor porque o objeto da investiga- taria desalojar dos postos que usurparam os "mans pastores", Stalin e gdo -- a histOria do movimento comunista — a o produto (aberrante, seu grupo, para que esta mesma Internacional, este mesmo partido russo mas produto, no fim das contas) da prOpria agdo do marxismo ou, pa- retornassem as suas vias internacionalistas e revolucionarias, voltassem ra ser mais preciso, da coerente hegememica — russa — do marxismo a desfraldar as triunfantes bandeiras da revolugdo mundial. Subjetivis- oficial e institucionalizado. E que o marxismo comece a aplicar, como mo tipico, sem davidas, que coloca entre parenteses, fora do alcance dos neste ensaio de Claudin, aos resultados imprevistos da sua prOpria acdo, militantes, a reflexao mais necessaria e mais urgente ja naqueles tempos: as armas da critica — a espera da talvez inevitavel critica das armas, a reflexao sobre as verdadeiras raizes de classe do reformismo burocrati- da vicancia revolucionaria das massas isto constitui um fato emi- co stalinista, sobre o refluxo da revolugdo na Europa, sobre as profundas nentemente positivo. mudancas ocorridas no prOprio seio do capital ismo mundial, etc. Em su- A esta altura, mais de um leitor ja se tera proposto intervir ale- ma, o marxismo ndo serve a Tr6tski para questionar o conteado concreto gremente neste prefacio, clamando aos cats: como é possivel afirmar da nova realidade, mas para buscar nesta os elementos que confirmem que a originalidade do ensaio de Claudin reside na sua metodologia uma visdo aprioristica. Com o que se constata que ndo so a Igrej a 6 orto- marxista? Ndo ha outros trabalhos criticos acerca da histOria do movi- doxa, mas que tambern podem se-lo as seitas e as capelas. mento comunista inspirados nas fontes do pensamento marxista? Sem 0 marxismo de Fernando Claudin rompe resolutamente com to- it longe demais, nao temos ja na obra de Tr6tski, desde 1924/1926, urn da ortodoxia e, por isso, ndo a pouco o servigo que nos presta. Feliz- conjunto coerente, macico, de analises criticas da realidade russa, do mente, 6 um marxismo laico. Ndo se projeta sobre a realidade histOrica stalinismo, dos erros da Internacional Comunista? Sem dtividas que te- do movimento comunista para encontrar nela a confirmagdo de intui- mos tais analises. Ndo é casual que neste primeiro tomo do ensaio de gdes, rancores ou anatemas pessoais. Projeta-se sobre a realidade para Claudin haj a tantas referancias ao pensamento critico-teorico de Tr6ts- que esta se projete a nossa frente, em sua objetividade significativa, em ki. E impossivel pensar-se a reconstrugdo tearica, a analise interna do seu desenvolvimento dialetico. Dai a estrutura formal do livro que o itinerario da Internacional Comunista e do Estado russo, no periodo leitor tern nas moos. Estrutura original, porque determinada por este staliniano, sem recorrer aos aportes e as elaboragOes de TrOtski. Mas desenvolvimento da prapria realidade histerica. Assim, comegando pela é igualmente certo que este recurso, se se pretende fecundo, se se pro- analise de um fato concreto — a significagdo real da dissolugdo da In- pee superar a fase arqueolOgica (reconstrugdo te6rica da verdade do ternacional Comunista, em 1943 — e uma vez estabelecida rigorosa- passado) para desembocar numa visa() estrategica (organizagdo dos ins- mente aquela significagdo, o primeiro micleo racional de conclusoes pro- trumentos teOrico-praticos de transformagdo da realidade atual), tern visOrias se projeta ao passado da Internacional, objetivando a verifica- que patentear as limitagees intrinsecas da obra de TrOtski. gdo tearica. Desta imersdo no passado, o nacleo original de teses Entre estas limitagOes, e para aquilo de que nos ocupamos, convêm histOrico-politicas surge confirmado, precisado, refinado, com o que po- destacar uma, que 6 fundamental. Ela deriva do que compulsoriamente demos abordar a segunda fase da analise, dotados de instrumentos cri- devemos chamar de idealismo subjetivo e voluntarista de TrOtski (dos seus ticos suficientes para compreender a 6poca do apogeu do stalinismo epigonos a melhor nada dizer nada, por respeito a obra de Lev Davido- e da politica do Estado russo depois da segunda guerra mundial. vitch. Ndo a por acaso que o pensamento politico de TrOtski carece de Estrutura original — estive quase a porno de dizer: romanesca — herdeiros; tampouco ndo é casual que a Unica coisa valida produzida sob que rompe corn os marcos estreitos da ordem cronolOgica para restabe- a inspiragdo do grande revolucionario russo seja a obra histOrico- lecer uma ordem dialática a dois niveis complementares e contraditO- biografica de Isaac Deutscher, magistral em alguns aspectos, mas que ndo rios: o nivel da reconstrugdo lOgica indispensavel e o nivel diacrOnico- ultrapassa — e nem poderia pretende-lo — os marcos da arqueologia). sincrOnico da prOpria histOria. Mas nao é este, precisamente, o trago De fato, todas as analises criticas de TrOtski, freqUentemente cer- essential da metodologia de Marx, em suas grander obras teáricas? teiras, as vezes profêticas, acerca dos erros da Internacional Comunista Très razeies principais, diziamos, concorrem para atribuir a A cri- staliniana na China, na Alemanha, na Espanha, na Franca da frente po- se do movimento comunista, de Fernando Claudin, toda a sua impor- 12 13 tancia. Acabamos de aludir sumariamente as duas primeiras: a relevancia curso duplo, que as preprias estruturas do "centralism° democratico" do preprio tema e a correcao metodologica de seu tratamento, de sua produzidas por trinta anos de pratica stalinista condenavam irremedia- estruturacao. Creio nao surpreender a ninguem se afirmo que a tercei- velmente is alternativa, igualmente inoperante, embora por razOes dife- ra razao se deve a personalidade mesma do autor. rentes, da submissão mecanica da minoria a maioria ou do fracionis- Dirigente da Juventude Comunista madrilenha, estudante de Ar- mo). Discussao que se prolonga ate a primavera de 1964 e que se con- quitetura, Fernando Claudin, por volta de 1933, abandona toda voca- clui corn a expulsào, primeiro do Comite Executivo e pouco depois do cao individual, todo projeto pessoal, para converter-se em urn funcio- preprio partido, de Fernando Claudin e Federico Sanchez. 2 Os temas ndrio da revolucdo. Sua vida, ate a sua expulsao do Partido Comunista essenciais desta discussao foram amadurecendo ao longo dos anos, desde da Espanha (PCE), em fevereiro de 1965, confunde-se, desde mac), corn 1956 — poderiam ter levado a crise urn pouco antes ou um pouco depois. a vida do movimento comunista, com a historia da revolugao espanho- No entanto, nao sao casuais as datas que determinam e emoldu- la. Os anos da Republica, a guerra civil, a derrota e a emigragao, a clan- ram o inicio e a conclusao deste processo. 1956 nao e apenas o ano do destinidade — episedios logo vividos desde os mais altos cargos de di- XX Congresso, do "related° secreto" de Kruschev; a tambem o ano raga° politica. Da Madri da junta de Casado a America do exilio — em que, no bloco de paises submetidos a hegemonia russa, estalam to- Havana e Nova Iorque, Mexico e Buenos Aires —, da Toulouse france- das as tendencias centrifugas: umas de carater nacionalista, essencial- sa e da libertacao a Moscou dos anos sinistros do apogeu do stalinis- mente negativas, mas inevitaveis, posto que sac) — e este 6 um dos pro- mo, Fernando Claudin esteve em todos os lugares, em todos os postos blemas histericos luminosamente esclarecidos pela analise de Claudin de trabalho, quaisquer que fossem os riscos e as dificuldades, aos quais — o prego a pagar por tantos anos de birbara submissao dos interesses o destinara o Partido (assim, corn maitiscula, naturalmente: o Partido, revolucionirios nacionais a exclusiva raid° de Estado russa (suponho cujas decisOes jamais se discutem porque "encarna a marcha da Hist& que, a esta altura, o leitor ja tera percebido que o autor deste prefacio ria", porque "fora do Partido nao ha salvagao", porque "é melhor errar se nega a continuar qualificando como "soviaticas" as razeres de Esta- dentro do Partido do que acertar fora dale"). Todo leitor atendo do li- do do nacionalismo russo de grande potencia); mas estalam tambem vro de Claudin poderd constatar, como filigrana soterrada pela analise outras, de carater social: eminentemente positivas, ja que, ao largo dos histOrica realizada, a sistematica, dolorosa e alegre destruicao desta vi- anos, da PolOnia a Hungria, da Hungria a Thhecosloviquia, e apesar vencia religiosa — alienante, como evitar dize-lo? — dos valores comu- da sua derrota sucessiva gragas a intervencao militar do Estado russo, nistas que constituiu a trama de trinta anos de nossa vida. tais tendencias — geralmente de modo confuso, uma vez que as forcas As casualidades desta vida me permitiram seguir, as vezes muito politico-sociais que as protagonizam emergem de decenios de opacida- de perto (dia a dia, quase hora a hora), as vezes corn maior distancia- de histerica, de destruicao burocritica de toda iniciativa das massas, mento temporal ou geografico, a evolugdo psicolOgica, moral e politica de despolitizacao e desmoralizacao coletivas que s6 deixam abertos os de Fernando Claudin, desde os momentos do XX Congresso do PCUS, canais da "solugao" individual das contradigOes sociais: carreirismo, em 1956. Momentos nos quais comegou a se Or em marcha — me- cinismo tecnocratico, religiosidade, etc. —, tais tendencias, diziamos, diante a subversao progressiva, mas radical, de todos os valores e prin- colocam a necessidade de novos instrumentos da democracia socialis- cipios petrificados, dogmatizados pelo stalinismo — a "velha toupei- ta. Numa palavra, a necessidade da revolugao. ra" marxista do espirito critic°, da investigagab hist6rica. Por outro lado, 1956 foi tambem na Espanha um ano crucial. Um Que fique para outra ocasiao mais propicia a reconstituicao de- ano de grandes lutas de massas, operdrias e estudantis, no curso das talhada dessa evolugao politica, que nao foi apenas e pessoalmente de quais comeca a perfilar-se uma nova correlacio das forgas de classe, Fernando Claudin, que constituiu um fenemeno de relativa envergadu- parcialmente despojada das patinas da guerra civil. Um ano no curso ra — sobretudo entre os quadros mais jovens, intelectuais e operdrios, do qual inicia-se a crise do sistema de direcao herdado da Opoca da au- das organizacOes do partido comunista no preprio pais — e cujos fru- tarquia — e a entrada dos primeiros ministros tecnocratas da Opus Dei tos ou resultados ainda estao por recolher, posto que ainda nao se cris- no governo e o reflexo politico de uma exigencia objetiva em que talizou uma corrente organics da esquerda marxista espanhola. Por ago- se modificam os preprios objetivos da economia capitalista espanhola, ra, a suficiente destacar o momento final daquela evolugao. que necessita transitar da fase da acumulacao extensiva a do aumento Em fins de 1963, comeca no Comite Executivo do Partido Co- da produtividade do trabaiho, da competitividade no mercado mun- munista da Espanha uma discussao (ha que qualificar de algunta for- dial. Em outras termos: o objetivo da economia capitalista espanhola ma o esteril e repetitivo confronto de um duplo mon6logo, de um dis- ja nao podia continuar sendo a obtenglio da meia-valia absoluta, deve- 14 15 ria ser a producdo de mais-valia relativa. Signo evidente de que o capi- NOTAS talismo espanhol ingressava na etapa da sua "modernidade". Pois bem: em 1963/1964, quando a crise que lentamente amadu- A Global Editora, por razbes tecnicas, dividiri o "prima() tomo" referido pelo prefaciador em dois volumes. (N. do T) recia na direcao do Partido Comunista da Espanha alcangou o ponto 2 Federico Sanchez era o pseudenimo do prOprio Jorge Bernoulli durante a sua vida clandestina de ruptura, nenhum dos problemas objetivamente colocados ao movi- de militante e dirigente do PCE. 0 resgate critico de sua experiência comunista, Semprdn fb-lo mento comunista, por uma part; e a estratêgia da luta na Espanha, no romance Autobiogrea de Federico Sanchez. publicado no Brasil pela Editora Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1980. (N. do T.) por outra, estavam resolvidos. Ao contrario: tido parou de se aprofun- dar uma brecha entre uma•visdo ideolOgica, subjetivista, triunfalista da realidade e a pr6pria realidade. Trata-se de um periodo de involugdo, a todos os niveis. Na URSS, a "desestalinizagdo" nao ultrapassou os limites de urn ajuste de contas entre grupos dirigentes da burocracia politica central, de uma redistribuicão de papas dentro de um sistema que, essencialmente, permanece intacto. No chamado campo socialis- ta, a Unica coisa que progrediu foram as tendencias centrifugas. A Uni- ca coisa que se aprofundou foi a crise do movimento comunista neo- staliniano ou substaliniano, sua bancarrota te6rica, politica e moral. Ao mesmo tempo, na Espanha, a amplitude mesma das lutas ope- thrias de 1962 veio demonstrar o fracasso definitivo da estrategia da "greve nacional pacifica". Veio colocar corn urgencia a necessidade de uma elaboracão radicalmente nova dos problemas da revolucâo na Es- panha: seu miter, seus objetivos imediatos e mediatos, suas aliangas de classe. A esta elaboracao, tornada impossivel no interior do Partido Comunista da Espanha quando medidas burocrdticas de expulsdo en- cerraram a discussão esbogada, Fernando Claudin aportou, naqueles anos, dois trabalhos fundamentais: As divergencias no partidn panne- to sem indicacao de data e editor, que circulou a partir do verso de 1965, e o ensaio "Duas ConcepcOes da Via Espanhola ao Socialismo", publi- cado em Horizonte Espanhol 1966 (Suplemento de Cadernos de Rue- do Merle°, tomo 2). Desde entho nao leramos qualquer outro trabalho de Fernando Claudin. que, superando a tentacdo das polemicas parciais, evitando as ciladas e as armadilhas da amargura, do "vejam como eu tinha ra- Igo", contornando os escolhos da justificacdo pessoal, Fernando Clau- din se envolvera numa empresa de largo alcance e alto vOo: a andlise critica do passado do movimento comunista ern que nos formamos e deformamos, que fora o nosso instrumento de aflo sobre a realidade e a raiz da nossa alienagäo delta realidade. Analise lticida, as vezes im- piedosa, mas nunca desmobilizadora. Afinal de contas, não se trata de arrancar os cabelos nem de rasgar as roupas: trata-se de langar as bases de uma nova luta pelo socialismo. Ou seja, como dissemos no inicio: este e, sem dtivida, urn livro importante. Jorge Sempriln 16 17

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