A ciência e seus impasses debates e tendências em filosofia, ciências sociais e saúde Jeni Vaitsman Sabado Girardi (orgs.) SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros VAITSMAN, J. and GIRARDI, S., orgs. A ciência e seus impasses: debates e tendências em filosofia, ciências sociais e saúde [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 1999, 213 p. ISBN: 978-85- 7541-507-8. Available from: doi: 10.747/9788575415078. Also available in ePUB from: http://books.scielo.org/id/g947x/epub/vaitsman-9788575415078.epub. All the contents of this work, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International license. Todo o conteúdo deste trabalho, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribição 4.0. Todo el contenido de esta obra, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento 4.0. A ci€ncia e seus impasses aebates e tendéncias em Jilosofia, ciéncias sociais e saijde Fundacao Oswaldo Cruz Presidente Eloi de Souza Garcia MVaiceria-P Creesidceilinat ed dee S Aomubziean Mte,i nCaoymounicac¢do e Informacdo Editora Fiocru7 Coordenddora Maria Cecilia de Souza Minayo Conselho Editorig] CCaarrloolsin Ea .M A.. BCooriimbra Jr. Charles Pessanha Hooman Momen Jaime L. Benchimol] jLousiez dFae rRnaonchdao CFearrrveairlaheiro Miriam Struchiner Paulo Amarante Paulo Gadelha Pawo Marchiori Buss Vanize Macédo Zigman Brener Coordenador Executivo Joao Carlos Canossa P. Mendes A ci€ncia e seus impasses debates e tendéncias em filosofia, ciéncias sociais e saude Jeni Vaitsman e Sabado Girardi (orgs.) tOodsowsa olsd doi reCitrousz d e/ sEtad rietsoerravados 4 ISBN: 85-85676-65-5 CJaacpqau,e Psr oKjeatlboo gurariafinco e editoracdo eletrénica ltustracdo da capa O Vaticinador (1915), Giorgio de Chirico (1888-1978). Coleco particular Copidesque e preparacdao de originais Fernanda Veneu e M. Cecilia G. B. Moreira - Revisdo Fani Knoploch Catalogacdo-na-fonte nBtiob lidoete Icnafo Lrmincaogl’no dCeie Fnrteifiitcaas eF Tilheocnoldégica V132cVaitsman, Jeni (Org.) acctloen / cOiar g€a sneizuas dimop paossr Jese:n di eVbaaittsems ea tenn ed éSnécibasa edmo Gfiloirsaorfidai. ,R ciio€ dnceias Janeiro: Editora Fiocruz, 1999. 213 p 2. Conhecimento, 3. Antropologia. 4. Lingiiistica. 5. Sociologia. 6. Literatura.7. Satide. ‘1. Girardi, Sabado Core) 1999 Editora Fiocru7 K+Te1u0l:a 4( 21L-1e2)o1 50p9 o—8ld- Ro2 7ioB0 du1elh eJéa 5en9se,8ir o1- 2—4780 0R2,J térreo — Manguinhos Fax: (21) 598-2509 Autores Cristina Magro, doutora em Lingilistica pela Unicamp, professora adjunta do Departamento de Lingtistica da UFMG. José Mendes Ribeiro, médico, doutor em Sade Publica pela Escola Nacional de Sdaa uEdsec oPlau bNlicaac/ioFnioacl rduez ,S paeusdqeu iPsaudibolirc aad/Fjuionctoru dzo. Departamento de Ciéncias Sociais Luis David Castiel, médico, doutor em Satide Publica pela Escola Nacional de Saude Piblica/Fiocruz, pesquisador titular do Departamento de Epidemiologia da Escola Nacional e Satide Putblica/Fiocruz. Luiz Eduardo Soares, doutor em Ciéncia Politica pelo Tuperj, com pdés-doutorado em Filosofia nas Universidades de Virginia e Pittsburg, EUA. Professor da Uerj e do luperj, Subsecretario de Pesquisa e Cidadania da Secretaria de Seguranca Publica do Estado do Rio de Janeiro. Mdoa Driae pIsaarbtaeml Menetnod dees Sdeo cAiolmloegiidaa e, dPooulittiocraa d eam P SUoCc/iRoloJ,g ciao opredloe nIuapdeorrj,a p droof eCsesnotrrao de Estudos Sociais Aplicados da Universidade Candido Mendes. Paulo Roberto Margutti Pinto, PhD em Filosofia pela Universidade de Edimburgo, professor titular do Departamento de Filosofia da UFMG. Peter Munz, historiador, professor emérito do Departamento de Histdria da Victoria University, Wellington, Nova Zelandia. Renan Springer de Freitas, doutor em Sociologia pelo Iuperj, professor adjunto do Departamento de Sociologia e Antropologia da UFMG. Organizadores Jeni Vaitsman, doutora em Sociologia pelo Iuperj, pesquisadora titular do Departamento de Ciéncias Sociais da Escola Nacional de Saude Publica/Fiocruz. Sabado Girardi, médico, pesquisador do Nucleo de Estudos em Satide Coletiva e Nutricao CNescon)/UFMG., Sumario Introducdo: Debates e tendéncias na ciéncia / 9 12. Parte: Debates 1. O convite de Wittgenstein a pds-modernidade / 21 Peter Munz 2. Wittgenstein e a pds-modernidade: comentarios sobre Peter Munz / 45 Paulo Roberto Marguiti Pinto Resposta a Paulo Roberto Margutti Pinto/ 49 Peter Munz 3. A que vem uma abordagem pragmatica do conhecimento ? / 53 Renan Springer de Freitas 4. A abordagem pragmatica do conhecimento / 73 Paulo Roberto Marguitt Pinto 5. Valor de fato / 93 Cristina Magro 2? 4. parte: Tendéncias 6 Acaso e necessidade na ética do crime ou 0 uso da critica literaria na andlise do discurso ordinario / 11] Tuiz Eduardo Soares 7. Subjetividade e ciéncias sociais: reflexdes em torno do conceito de rMeparreias Iesnatbaecld Mo een sdeeuss d ime Apalmsseeidsa / 137 2 Hestérias clinicas: categorias para o corpo que adoece / 149 Tuis David Castiel 0. Técnica médica e singularidades / 181 José Mendes Ribeiro Introducao Debates e tendéncias na ciéncia Gostariamos de poder admirar tanto Blake e Arnold, Nietzsche e Mill, Marx e Baudelaire, Trotsky e Eliot, Nabokov e Orwell, Esberemos que algum critico nos mostre como os livros desses homens podem ser reunidos e formar um belo MOSAICO. Richard Rorty A epigrafe, escolhida depois que o livro ja estava pronto, nos pareceu perfeitamente adequada ao que tinhamos em mente. Foi tirada de um texto em que Rorty (1992) fala do ironista: alguém com duvidas permanentes acerca do préprio vocabulario, com o qual descrevera uma situacao ou de- senvolvera um argumento instantes atras; que sabe que 0 vocabulario com o qual construira seu argumento pode subscrever nem dissolver essas du- vidas; que nao considera seu vocabulario mais proximo da realidade, ou com maior poder de transcendéncia do que outro; que nao vé a escolha entre vocabularios como um empreendimento realizado a partir de um metavocabulario neutro e universal, nem como uma tentativa de lutar contra as aparéncias que ocultam o real, mas simplesmente como mais um esfor¢o para inventar oO novo em contraposicao ao velho., Para nos, organizadores, € esse o espirito do livro, que surgiu da vonta- de de expor, por um lado, uma pequena parte de um debate que, embora antioo, sempre se desdobra em novas formulacdes sobre o estatuto, o meto- do e a natureza da ciéncia, af incluidas as ciéncias sociais; e por outro, de apresentar também alguns modos possiveis de fazer ciéncia, em se tratando de relacdes humanas e sociais. O livro reine — é dificil evitar a tentacao de classificar as coisas de forma disciplinar — textos que mesclam filosofia, historia, antropologia, lin- gilistica, epistemologia, sociologia, literatura: sao fildsofos, historiacores, 9 A cieéncia e seus tmpasses médicos, linguistas, sociologos, antropdlogos. Certamente, cada autor traz um pouco de cada um e dos Aabitus constitutivos de suas comunidades disciplinares e profissionais. Assim, eles refletem sobre como a ciéncia vem sendo feita e pensada como pratica nos campos em que atuam. A medida que recebiamos os textos, a diversidade entre eles evocou o fantasma da unidade que, pensavamos de antemdo, ja haviamos éxorcizado. Sera que apresentariam coeréncia, se colocados juntos.em um mesmo volume? Foi Luiz Eduardo Soares quem, de certa forma, nos deixou mais a vontade para reunirmos trabalnos que poderiam parecer dispares entre si, quando, conversan- do a respeito, ele nos lembrou que nisso poderia consistir justamente a riqueza da coletanea — a heterogeneidade de discursos possiveis existentes nas ciéncias. Afinal, de certa forma, essa era nossa inten¢ao inicial, ainda que — talvez nao muito conscientemente — esperassemos maior convergéncia entre os pontos de vista caracteristicos de uma certa contemporaneidade discursiva. Foi ai que nos demos conta da dificuldade de se desfazer da compulsdao pela busca da unidade como ilusdo positivista. Procuramos apresentar os textos em uma ordem que possibilite ao leitor seguir uma certa logica. Na primeira parte do livro, o debate propriamente filosofico — ja duvidamos em chama-lo epistemoldgico — entre autores que, de um lado, reivindicam-se herdeiros do projeto iluminista reformado, e de outro, aqueles que se vinculam a uma abordagem pragmatista do conhecimento. Os primeiros tem em comum a idéia de que a ciéncia 6 um conhecimento verda- deiro e, mesmo que admitam seu carater provisOrio, consideram-na um tipo superior de conhecimento; os outros enxergam a ciéncia como mais uma for- ma de vida, uma linguagem possivel entre outras linguagens, incomensuraveis em sua logica interna. Na segunda parte do livro, a questao da representacao pela linguagem é retomada, agora nao mais como discussdao sobre os fundamentos da ciéncia, mas como produtos de pesquisas empiricas realizadas pelos autores ou como atividade reflexiva sobre sua pratica. Nao € nossa intencao estabelecer logo de saida uma tipologia tedrica ou epistemologica, até porque, suspeitamos, com esse procedimento, nao conseguiria- mos abarcar as nuances, matizes, singularidades dos distintos autores, que 4s vezes, conforme veremos, transitam em lapsos displicentes — se nos permitem a met4fora — de um lado para o outro. Com isto queremos dizer que iremos inscrevé-los apenas provisoriamente, aqui ou ali, dentro de uma corrente ou vertente maior da contenda que divide universalismo e objetivismo versus relativismo e subjetivismo. A primeira parte do livro beneficiou-se enormemente da série de pales- tras — da qual reproduzimos apenas uma — realizadas pelo professor Peter Munz, da Universidade de Victoria, em Wellington, Nova Zelandia, e comen- tadas pelos professores Paulo Roberto Margutti Pinto e Renan Springer de Freitas, no semindrio O Projeto Iluminista e seus Inimigos Naturais, organiza- do por este Ultimo na Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo zonte, durante o segundo semestre de 1996. Nesta primeira parte, pela con- vergéncia de objeto, incluimos o texto de Cristina Magro. Embora antiga, a discussdo entre objetivistas e subjetivistas dos mais diversos matizes nao deixa de ser menos atual. Quisemos, ao expor algumas de suas versdes, apontar fissuras — no duplo sentido da palavra ~ mesmo dentro daquilo que constituiriam comunidades epist€micas ou de pensamen- to, para usarmos imagens desenvolvidas de distintas maneiras por fildsofos e historiadores da ciéncia como Peirce, Fleck, Kuhn e Apel. Esse debate inicial apresenta a riqueza de possibilidades que uma teoria, uma idéia, pode ter, mesmo 4 revelia da intencdo de seu autor original. Questao sempre lembrada nas ciéncias sociais e que se refere a interpretacao dos textos, implicando disputas, pelos herdeiros de aleuma tradi¢ao acerca dos possiveis sentidos dados pelo autor original e as inter- pretacoes e retraducdes de seus seguidores. O que ha de interessante nisso € a referencia obliqua as infinitas possibilidades da acao e do pensamento humanos de criar - coisas e palavras - e com isso edificar complexos sistemas sociais, culturais, tedricos. Os textos apontam para diversas possibilidades sobre o que constitui o* fazer ciéncia, sobre a linguagem que diferentes cientistas — As vezes, eles mesmos — usam para falar sobre o mundo e as praticas humanas. Além da contemporaneidade desses antigos dilemas, nossa intencao é também que os artigos possam servir como referéncia, ponto de apoio para tantos que se asovceianistu er asmalid pee.lo campo da producdo de conhecimento em filosofia, ciéncias Falando um pouco do primeiro conjunto de textos, as posicées desen- volvidas pelos varios autores expdem a diviséo entre neopopperianos e pragmatistas na comunidade dos investigadores. Em comum, ambas as pers- pectivas criticam as teses iluministas no seguinte sentido: o conhecimento cientifico nao conduz infalivelmente a verdade. A aguda diferenca revela-se sobre O seguinte ponto: possui a ciéncia, objetivamente, privilégio sobre outras formas de conhecimento? Os primeiros autores, seguindo as sugestdes