Na manhã em que se levantou para iniciar este livro, ela sentiu que algo lhe estava a sair da garganta, estrangulando-a. Rasgou o cordão que o retinha, arrancando-o e, quando voltou para a cama, disse: “Acabo de cuspir o coração”. Equivale este ato à escrita, como se esta fosse uma forma de ultrapassar o medo da loucura e da solidão.
O isolamento e a alienação são revelados no texto através de uma teia de sonhos e pesadelos, dos quais se destaca a casa do incesto. Nesta, tudo se decompõe, tudo “tinha sido feito para ser imóvel, uma vez que todos tinham medo do movimento e do calor e receio de que o amor e a vida desaparecessem e se perdessem”.
Para lá do amor de uma filha pelo seu pai, de uma mãe pelo seu filho ou de dois irmãos, como Jeanne, cujo amor “é como uma extensa sombra que se beija, sem qualquer esperança de realidade”, para lá da casa do incesto, “reinava a claridade do dia” que já nenhum deles poderia atravessar.