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Comando Vermelho (Crime organizado) – História 2. Gangues em presídios – Brasil 3. Lima, William da Silva 4. Prisioneiros – Brasil – Biografia 5. Sistema penitenciário – Brasil I. Título. 16-06714 CDD-365.6092 Índices para catálogo sistemático: 1. Prisioneiros : Biografia 365.6092 a 1 edição: Editora Vozes, 1991. a 2 edição: Labortexto Editorial, 2001. Todos os direitos reservados à ANF Produções Ltda ME. Tel: (21) 2261-1600 E-mail: [email protected] Agradecimentos André Fernandes Gustavo de Oliveira Percival de Souza Renata Duarte Simone Barros Corrêa de Menezes “As cadeias serão seguras, limpas e bem arejadas, havendo diversas casas para a separação dos réus, conforme suas circunstâncias e a natureza de seus crimes.” Inciso XXI, artigo 17°, Constituição imperial do Brasil, 1824. Sumário Prefácio O homem preso Rio de Janeiro Sete anos depois Prisão e Guerra Nocividade Reflexões I Através dos muros Vejo Reflexões II Persistência Prontuário 40.984 Comunicação em maio Vidas desperdiçadas Vem! Teimosia Bilhões de mãos Você merece!!! Posfácio Prefácio “Aqui é o cemitério de todas as poesias”, costumava ironizar um ex-diretor da Casa de Detenção, o maior presídio da América Latina, em São Paulo. Poesia, aqui, não no sentido de alma da literatura, mas como descompasso entre as teorias e as práticas cotidianas. De fato, as teorias no sistema prisional foram e continuam sendo sepultadas. Não só pelo massacre de 111 presos de uma só vez, em outubro de 1992, mas pela sucessão dos fatos. Dito isso, passemos ao livro. O Comando Vermelho nasceu no Rio de Janeiro e tem em William da Silva Lima um de seus artífices. Ele ressalva que não se trata propriamente do nome de uma organização, e sim de um comportamento, “uma forma de sobreviver na adversidade”. Talvez seja este um grande problema na literatura engajada: quando autor e personagem se fundem. Tem sido assim com textos de ex-prisioneiros políticos, obcecados em fixar as diretrizes de uma causa, enfatizar o comportamento épico de uma militância, enaltecer os pares e execrar os inimigos. Se o texto pretende ser catarse, antes de tudo, podemos até compreender — psicologicamente — as emoções de quem estava no epicentro de um determinado momento, histórico inclusive. Tais limites devem ser levados em consideração na leitura desse livro. Coloca-se a vida nos basfond, não exatamente lúmpen, de uma forma direta. O choque térmico é inevitável: inclui os dramas do cárcere, sua imundície e violência, as relações conflitivas entre presos, muitas vezes com extrema crueldade, a convivência entre prisioneiros comuns e prisioneiros políticos em meios aos anos de chumbo, quando assaltar banco era motivo de enquadramento na Lei de Segurança Nacional. O livro abre com uma citação da Constituição do Império, na qual um mínimo de dignidade era previsto para os prisioneiros. Recuando no tempo, vemos que os regulamentos das prisões da Inquisição exigiam condições mais suaves do que as dos cárceres de nosso tempo. A questão é que, como bem observa Michel Foucault em Vigiar e Punir, as muralhas dos estabelecimentos penais não impedem ninguém de fugir: sua verdadeira função é esconder o que se passa lá dentro. Como se a sociedade não quisesse ver mesmo. Daí, a propósito, aquelas idéias sempre de plantão: colocar os presos numa ilha no meio do oceano ou mandá-los abrir estradas na Amazônia. Traduzindo: quanto mais longe, melhor. Compreensível portanto que, à semelhança de Machado de Assis, em Memórias póstumas de Brás Cubas, William da Silva Lima relute em começar seu relato pelo começo ou pelo fim. Machado escreve a história no estilo post mortem. Termina com a frase “não transmiti a ninguém o legado de nossa miséria”. William preferiu transmitir o legado. Ainda bem: mergulha no tempo, incluindo passagens pelo antigo RPM, o Recolhimento Provisório de Menores, antecessor da Febem, a Fundação (apesar de tudo) para o Bem-Estar do Menor, chegando aos primeiros espancamentos, aplicados por um incrível Bate Chorando (conforme o apelido, um inspetor que batia e chorava). Carcereiros e massa carcerária, escreve, nivelados numa mesma miséria moral. Conta também do vai-e-vem por variados presídios, de Bangu à Ilha Grande, passando pelo DOPS e o DOI-CODI. Afinal, se roubava bancos, tinha de provar que não pertencia à nenhuma organização tida como subversiva. A tortura oferecia isonomia para os presos. Talvez William desagrade alguns ex-militantes políticos ortodoxos quando fala que eles “lutavam para isolar-se da massa, comportamento considerado elitista por nós”. Mas para que brigar com a História? Para que exumar o dogma stalinista segundo o qual a verdade não é revolucionária? Os presos políticos identificavam-se como tal. Os outros se chamavam de “presos proletários”. William foi prisioneiro no sistema dirigido por Augusto Frederico Thompson, do Desipe, Departamento do Sistema Penal. Curioso que uma das melhores obras sobre o sistema, A questão penitenciária, é de autoria de Thompson. Defensor da tese segundo a qual não existe presídio sem o alicerce segurança-disciplina, não comungou da ideia de nivelar presos antiditadura com os outros presos. O conflito, descrito por William, mostra o quanto o mundo prisional é ignorado nos gabinetes onde se tomam decisões sobre ele. Ou seja: não se conhece muito o lugar em que se manda. Segundo William, o Comando Vermelho recebeu esse nome da imprensa e não de um grupo que resolveu estruturá-lo. Tudo indica que tenha acontecido exatamente isso. Frustra quem imaginava uma reunião secreta, com depoimentos e apartes, ata e assinaturas. O autor sugere que tenha sido uma ficção alimentada para ser vista como realidade. Mas o que realmente importa no Quatrocentos contra um é o trânsito do autor em presídios de segurança máxima, o código de relacionamento entre prisioneiros, a difícil sobrevivência. Em alguns pontos, lembra Charrière em Papillon; em outros, evoca Recordações da casa dos mortos, de Dostoievski, e até Memórias do cárcere, de Graciliano Ramos.