1980 – U MA DÉCADA DE LUTAS NAS RUAS S E NA CENA TEATRAL DA CIDADE DE ÃO P AULO FUNDAÇÃO EDITORA DA UNESP Presidente do Conselho Curador Mário Sérgio Vasconcelos Diretor-Presidente José Castilho Marques Neto Editor-Executivo Jézio Hernani Bomfim Gutierre Superintendente Administrativo e Financeiro William de Souza Agostinho Assessores Editoriais João Luís Ceccantini Maria Candida Soares Del Masso Conselho Editorial Acadêmico Áureo Busetto Carlos Magno Castelo Branco Fortaleza Elisabete Maniglia Henrique Nunes de Oliveira João Francisco Galera Monico José Leonardo do Nascimento Lourenço Chacon Jurado Filho Maria de Lourdes Ortiz Gandini Baldan Paula da Cruz Landim Rogério Rosenfeld Editores-Assistentes Anderson Nobara Jorge Pereira Filho Leandro Rodrigues ALEXANDRE MATE 1980 – U MA DÉCADA DE LUTAS NAS RUAS S E NA CENA TEATRAL DA CIDADE DE ÃO P AULO © 2013 Editora Unesp Direitos de publicação reservados à: Fundação Editora da Unesp (FEU) Praça da Sé, 108 01001-900 – São Paulo – SP Tel.: (0xx11) 3242-7171 Fax: (0xx11) 3242-7172 www.editoraunesp.com.br www.livrariaunesp.com.br [email protected] CIP – BRASIL. Catalogação na publicação Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ M377u Mate, Alexandre 1980 – Uma década de lutas nas ruas e na cena teatral da cidade de São Paulo / Alexandre Mate. São Paulo : Editora Unesp, 2014. Formato: ePub Requisitos do sistema: Adobe Digital Editions Modo de acesso: World Wide Web ISBN 978-85-68334- 24-9 (recurso eletrônico) 1. Teatro brasileiro – História – Século XX. 2. Teatro brasileiro – Século XX – História e crítica. 3. Teatro – Brasil – História. 4. Livros eletrônicos. I. Título. 14-16979 CDD: 792.0981 CDU: 792(81) Este livro é publicado pelo projeto Edição de Textos de Docentes e Pós-Graduados da UNESP – Pró-Reitoria de Pós-Graduação da UNESP (PROPG) / Fundação Editora da Unesp (FEU) Editora afiliada: A GRADECIMENTOS Realmente, não é possível mencionar todos que ajudaram na elaboração desta reflexão, que tenta reconstituir quadros e pontos de vista tão adversos sobre a memória e produção cultural paulista da década de 1980. É quase impossível agradecer a tantos homens e a tantas mulheres que, ao longo de suas vidas, têm lutado para que o viver seja mais digno, menos injusto e que a produção teatral faça sentido como um experimento estético-social de troca significativa... É impossível deixar de agradecer aos mestres e mestras, corifeias e corifeus, passistas e puxadores de samba, por seus fazeres e saberes, por suas generosidades: Idibal de Almeida Pivetta, depois César Vieira; Irací Tomiatto e Luiz Carlos Moreira; Gianni Ratto, Iná Camargo Costa (a primeira mestra), Airton Dantas de Araújo, Neyde Veneziano e Ulpiano Toledo Bezerra de Meneses; Luís Alberto de Abreu e Ednaldo Freire; Robson Corrêa de Camargo, Newton Cunha e Clovis Garcia; José Cetra Filho, Lígia Cortez, Roberto Lage, Izaias Almada, Marco Antonio Rodrigues, Vivien Buckup; Márcia Dutra, Lizete Negreiros e Sebastião Milaré; Mariangela Alves de Lima, Maria Thereza Vargas e Selma Pellizon; Eric Hobsbawm, Maria Aparecida de Aquino e Marilena Chaui; Analy Álvarez, Alberto Guzik, Nelson de Sá, Jefferson del Rios, Acácio Valim. A LGUMAS PONDERAÇÕES INICIAIS E NECESSÁRIAS A reflexão ora apresentada reúne partes da tese de doutorado defendida no Departamento de História (Programa de Pós-graduação em História Social), da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP), intitulada: A produção teatral paulistana dos anos 1980: r(ab)iscando com faca o chão da História: tempo de contar os (pré)juízos em percursos de andança. As partes aqui reunidas referem-se à introdução, ao primeiro capítulo (“A vida política e as dificuldades da produção cultural na década de 1980”) e à conclusão. Reestruturada a reflexão original, com muitos lances “bastardos”, como Adorno nomeou (em relação à forma ensaística), o texto resultante imbrica na história, referindo-se sobretudo à década de 1980, política e teatro. Trata-se de uma obra híbrida, que tem contornos e voleios diversos. Que vai e volta, que vai e volta, algo próximo ao processo de pensamento que para compreender-se precisa recuperar o andado. Deambulação de um pensar em processo. Portanto, a divisão de partes da tese redesenhada, a obra divide-se em três capítulos e uma conclusão, então renomeados: “Esboroamentos de uma memória autoritária: construída pelo alto” (Capítulo 1), “As dificuldades interpostas à produção cultural na década de 1980: a explosão do teatro na caixa” (Capítulo 2), “A contraditória transição política e os novos embates para libertar o Brasil das amarras dos autoritarismos” (Capítulo 3) e “À guisa de conclusão”. Conhecer a história do país, da cidade, dos grupos de que fazemos parte é tarefa fundamental de um viver mais significado. Nesse conhecimento, autonomia e alteridade confluem para a localização de si, em relação, no tempo e no espaço. Portanto, o que se tentou no processo de reflexão foi algo além da mera análise fenomenológica do teatro. Falar sobre qualquer ação humana, de modo mais processual e menos positivista, demanda o cotejo do que quer que seja no chão da história. No entrecruzamento das ações humanas, os embates humanos que ocorrem nem sempre mostram os interesses em jogo. Ao evocar e buscar dados na história, entretanto, muito do escondido ou naturalizado tende a ser explicitado. Uma tese, normalmente, descortina inúmeros convites de trabalho, de publicações e de possibilidades de intervenção. Portanto, muito reescrevi – e em diversas fontes – utilizando-me de fragmentos da tese. Desse modo, sem, evidentemente, autoplagiar-me, excertos da reflexão podem ser encontrados principalmente nos livros: Os 40 anos do Teatro Sesc Anchieta (no prelo), Buraco d’Oráculo: uma trupe paulistana de jogatores desfraldando espetáculos pelos espaços públicos da cidade (Mate, 2009a) e Trinta anos da Cooperativa Paulista de Teatro: uma história de tantos (ou mais quantos, sempre juntos) trabalhadores fazedores de teatro (idem, 2009b). Não que se trate também de certa preguiça macunaímica, mas a concentração e os esforços demandados para escritura de uma tese tendem a apresentar bons achados. É bastante possível que, apesar de todos os esforços intentados para construir esta reflexão, muitos não tenham sido lembrados; do mesmo modo, é possível que eventos importantes não tenham sido mencionados. Trata-se, entretanto, de um primeiro esforço no sentido de recuperar a memória político-cultural (e seus imbricamentos), enfatizando principalmente a linguagem teatral da década de 1980. 1 E SBOROAMENTOS DE UMA MEMÓRIA AUTORITÁRIA CONSTRUÍDA PELO ALTO “[...] de uma referência linguística é preciso passar a uma referência polemológica. Trata-se de combates ou de jogos entre o forte e o fraco, e das ‘ações’ que o fraco pode empreender.” (Certeau, 1996) Rosa Luxemburgo – pelo trânsito entre a práxis materialista de história e a construção de um processo histórico: em uma sociedade violenta, contraditória, autoritária (República de Weimar), pouco propensa às transformações revolucionárias – não teria cansado de afirmar, em várias oportunidades, sobretudo as decorrentes de processos concretos de resistência, que a principal luta a ser enfrentada e travada no século XX seria entre o socialismo e a barbárie. Não se trataria, portanto, na perspectiva apresentada pela militante, de luta entre indivíduos, mas entre grupos e classes sociais distintas e antagônicas. Em tese, pelas pesquisas realizadas em livros ou por intermédio de entrevistas lidas ou realizadas ao longo do processo de pesquisa, fica claro o quanto as fontes documentais, mormente aquelas concernentes à linguagem teatral, apresentam um discurso majoritariamente genérico e classista acerca dessa produção, na cidade de São Paulo, na fatia de tempo aqui denominada década de 1980. Em vários desses discursos – a despeito de múltiplas, riquíssimas e contraditórias experiências levadas a cabo, dos diversos processos estéticos, dos variados modos de produção desenvolvidos, dos distintos repertórios apresentados –, aparecem como vitoriosas quase exclusivamente as obras que correspondem ao modelo e ao padrão de gosto da burguesia. Decorre daí, pela supressão de outras experiências – no concernente ao registro, à reflexão, à tradição –, a manutenção de uma mentalidade que se autolegitima socializando, sem grandes embates, a si mesmo e às obras criadas em seu nome ou decorrentes
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