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Nesta série de crônicas se encontra o hoje clássico “Dois pesos ...” sobre o valor do voto dos pobres, que teve um papel raro para um ensaio jornalístico ao se transformar, ele mesmo, em fato político. Ótimo exemplo, em carne viva, desse efeito de real que Maria Rita vai buscar com música, literatura e poesia; e que traz ao leitor como anatomia dos sintomas sociais de nossa época. Esse diagnóstico do presente mostra, por exemplo, a continuidade sintomática entre a tolerância para com a tortura militar de antes e seu retorno sob a forma de violência e extermínio policial de agora. Esse passado que “nos poupa da dimensão trágica da escolha” vem cobrar seu presente. Não é que sejamos mais uma vítima que tem de “ser protegida de si mesma”, é que a vida passou a valer pouco. Vida supérflua, deformação simbólica, pela qual nos reconhecemos em um cachorro perdido entre escombros de uma enchente. Truque do recalcamento, que nos faz pensar que é só na família dos outros que crianças são mortas. Maneira precária de enfrentar a angústia pela fantasia de um estado de segurança que nos pouparia o trabalho do medo: “No limits”, “Você merece”. É por isso que as palavras que sobram para inocentar o “nobre colega” de um conselho de ética faltam quando se trata de tirar a vida, “sua única vida” ou tantas únicas vidas de passageiros de um desastre aéreo, esta vida de caminhoneiro, esta insustentável vida sem água. Na falta de palavra e de memória, “mostrem-se alguns cadáveres”, eventualmente em “hedionda clonagem” ou ainda ao modo da fé em forma de vírus. Mas que sejam negros, pobres ou pardos. Desde que se possa controlar o que deve ser visto e o que deve permanecer por trás do insulfilm ou dos óculos escuros morais, “torres” de habitação e fortalezas narcísicas. Fora disso, a turba fascista poderá dizer: “mulher de minissaia só na universidade do outro”. Masculinidade sitiada? Afinal, por que os homens querem casar de novo, antes das mulheres? O complexo de insuficiência substituiu as antigas formações de culpabilidade? O tédio seria um sinal do declínio do erotismo? Ou o contrário? A depressão é efeito de nossa condição de sujeito “sem teto” ou ela está em incubação encapsulada em nossa perda da experiência do tempo, do outro, da memória e do corpo? Contra a ética do gozo, estes ensaios mostram como é possível outra forma de entendimento do social, que não seja uma mistura obscena entre um estado de festa permanente e a exigência normativa e reativa de ordem e segurança. Para isso é preciso algum trabalho de lembrança e de crítica, de reconhecimento pela palavra. A “existência metafísica do impedimento” servindo de suporte para as lembranças das copas do mundo – pelas quais o brasileiro mede sua história e seu próprio passado – e os festivais da canção são exemplos dessas experiências que nos passam quase ao lado, e ainda assim tão próximas, constituindo nossa antibiografia: “Sou fiel ao que fiquei devendo à minha geração”. A música de Maria Gadú, talvez amada pelas razões erradas, assim como o cinema de Sérgio Bianchi e a poesia xamânico-sensual de Roberto Piva são fragmentos de tais lembranças formativas. Sem esse tipo de delicadeza e de cuidado, com a palavra e com a história, temas como o aborto reduzir-se- iam à matemática malthusiana da vida. Assim como o canto desnaturalizado do sabiá paulista jamais contrastaria com a exclusão simbólica da periferia, em nossas políticas culturais. Marx escreveu O 18 de brumário para mostrar como a ideologia pode nos apresentar um mundo de cabeça pra baixo, invertido por interesses, ocultado em sua forma e figura. Maria Rita escreveu estas 18 crônicas e mais algumas para acenar que aqui, em nossa distante periferia psicanalítica, talvez tenhamos direito a alguma maioridade crítica. Christian Ingo Lenz Dunker Folha de Rosto Maria Rita Kehl 18 crônicas e mais algumas Créditos Copyright © Boitempo Editorial, 2011 Copyright © Maria Rita Kehl, 2011 Coordenação editorial Ivana Jinkings Editora-adjunta Bibiana Leme Assistência editorial Caio Ribeiro Preparação Mariana Tavares Diagramação Livia Campos Capa Antonio Kehl a partir da obra de Claudio Cretti – série Bombinhas óleo e pó de grafite sobre pergaminho, 2011 Produção Ana Lotufo Valverde Versão eletrônica Produção Kim Doria Diagramação Xeriph CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ K35d Kehl, Maria Rita 18 crônicas e mais algumas / Maria Rita Kehl. - São Paulo : Boitempo, 2011. ISBN 978-85-7559-185-7 1. Psicanálise - Crônicas. I. Título. 11-5510. CDD: 869.98 CDU: 821.134.3(81)-3 26.08.11 01.09.11 029223 É vedada, nos termos da lei, a reprodução de qualquer parte deste livro sem a expressa autorização da editora. Este livro atende às normas do acordo ortográfico em vigor desde janeiro de 2009. 1ª edição: outubro de 2011 BOITEMPO EDITORIAL Jinkings Editores Associados Ltda. Rua Pereira Leite, 373 05442-000 São Paulo SP Tel./fax: (11) 3875-7250 / 3872-6869 [email protected] www.boitempoeditorial.com.br Sumário Sumário Introdução – Uma psicanalista na imprensa PRIMEIRA PARTE Meu tempo Antibiografia Os sem-cidade O que os homens querem da mulher? A morte do sentido Os vira-latas do Bumba Tortura, por que não? Delicadeza Eis que chega a roda-viva A pátria em copas Tristes trópicos Há método em sua loucura Estradas Educação sentimental Cultura pra quê? Pra não dizer que não falei Repulsa ao sexo Dois pesos... SEGUNDA PARTE Deus é um vírus? Exibidos e escondidos Por uma vida menos banal Propostas irrecusáveis