A CONTRIBUIÇÃO DO PROGRAMA JOVEM APRENDIZ NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL: UMA ANÁLISE A PARTIR DA ÓTICA DOS EGRESSOS DA REGIÃO METROPOLITANA DE VITÓRIA-ES Autoria: Marcelo Loyola Fraga, Bárbara Evelyn Pinto da Silva, Maria Lúcia Ferreira da Silva Agradecimentos à Faculdade Pio XII – Faculdade de Estudos Sociais do Espírito Santo – pelo apoio à pesquisa científica. RESUMO A formação técnico-profissional de adolescentes e jovens, composta por atividades teóricas e práticas, abre um leque de oportunidades de inserção no mercado de trabalho formal. Há mais de uma década, foi promulgada a Lei 10.097/2000 que prevê a aprendizagem de adolescentes e jovens aprendizes, a fim de tentar reduzir o histórico de trabalho infantil e sua exploração no Brasil no decorrer dos séculos, que protegessem os direitos dos novos jovens trabalhadores e, ao mesmo tempo, com intuito de qualifica-los adequadamente para o mercado de trabalho, cada vez mais concorridos. Com base neste cenário, é importante que os programas destinados à preparação de jovens profissionais estejam alinhados às demandas das empresas, de modo que consigam obter os resultados os quais almejam e atendam às expectativas dos jovens no ingresso ao mercado de trabalho. Dentro desse contexto é necessário verificar a contribuição do Programa Jovem Aprendiz na formação profissional, principalmente na a percepção dos seus egressos. Palavras-chave: Programa Jovem Aprendiz. Iniciação ao trabalho. Qualificação Profissional. 1 1 – INTRODUÇÃO Desde a década de 40 a juventude brasileira tem se tornado uma preocupação para o governo, em virtude dos jovens se encontrarem em situações de vulnerabilidade social que os remete à marginalidade, violência e à criminalidade. Como forma de retirá-los da rua e mantê- los longe de riscos, crianças e adolescentes foram submetidos a trabalhos precários e informais consistidos em jornadas duras de trabalho e salários baixos. Esses menores não eram considerados como cidadãos sujeitos de direito, uma vez que atuavam como trabalhadores adultos informais e não como jovens, que poderiam estar na condição de aprendizes e que são pessoas em desenvolvimento físico e sócio-psíquico. Com base neste cenário, pode-se observar a tentativa do governo à proteção do trabalho e emprego de crianças e adolescentes. Há mais de uma década foi promulgada a Lei n° 10.097/2000 que prevê a aprendizagem de adolescentes e jovens que hoje são inseridos no mercado de trabalho formalmente através de registro na carteira de trabalho, onde inclusive recebem formação profissional composta por atividades teóricas e práticas, com intuito de abrir um leque de oportunidades de inserção no mercado de trabalho formal. Observa-se que o emprego tem se tornado um das maiores preocupações da juventude, nos dias atuais, em virtude da busca por independência e autonomia financeira, porém a inserção no mercado de trabalho tem sofrido mudanças significativas. Devido às novas configurações do mundo do trabalho as empresas têm abordado como principal critério de seleção a procura por profissionais que possuam escolaridade, experiência e qualificação profissional, pois em um mercado concorrido como o atual, cada empresa tem procurado se destacar com os profissionais mais qualificados que, inclusive podem ser formados e capacitados com a participação das próprias empresas. Na tentativa de resolver este problema social, o Programa Jovem Aprendiz destaca como objetivos a garantia do acesso de adolescentes e jovens à qualificação profissional, além de inserção no mercado de trabalho; contribuir para melhoria da qualidade de vida dos jovens aprendizes, e; conceder oportunidades de condições de desenvolvimento de potencialidade individuais. Diante disso, nota-se a necessidade de empresas e entidades de formação profissional aprenderem a administrar bem seus recursos humanos a fim de que estes se tornem bons profissionais no futuro com eficiência e boa produtividade, conforme afirma Drucker (1989, p. 35) “é através da administração que os recursos humanos adquirem a capacidade de desenvolver-se e contribuir”. Com base neste cenário, é importante que os programas destinados à preparação de jovens profissionais possam contribuir com a formação dos seus egressos, atendendo às demandas das empresas com relação à qualificação desses jovens. Dentro desse contexto torna-se importante responder à seguinte questão: O Programa Jovem Aprendiz vem obtendo os resultados pretendidos em sua concepção, segundo a percepção dos seus egressos? Dentro desse contexto, o artigo busca verificar se a participação no Programa Jovem Aprendiz contribui significativamente para uma maior empregabilidade dos jovens egressos participantes no período de 2005 a 2013, e que hoje atuam ou deveriam estar atuando profissionalmente no mundo coorporativo. Destaca-se a relevância desse estudo, pois uma vez que há questionamentos sobre a inserção “precoce” de jovens no mercado de trabalho, apontados em várias pesquisas, e por haver investimentos empresariais no referido programa, é relevante verificar se o jovem que 2 foi inserido no mercado por meio do Programa Jovem Aprendiz, cresceu e se desenvolveu tanto do ponto de vista profissional quanto pessoal. O estudo está delimitado a jovens egressos do Programa no período de 2005 a 2013, os quais atuaram em empresas localizadas na Região Metropolitana de Vitória, no estado do Espírito Santo. O presente artigo está estruturado em seis seções. Além dessa introdução, a seção seguinte abrange a questão das políticas públicas de emprego à juventude, o histórico de juventude e trabalho e a transição entre juventude, escola e trabalho. Já a seção 3 descreve especificamente o Programa Jovem Aprendiz. Na seção 4 descreve-se a metodologia do estudo. A seção 5 apresenta as revelações da pesquisa com jovens egressos e a análise dos resultados. E, por fim, apresenta as considerações finais. 2 - POLITICAS PÚBLICAS DE EMPREGO À JUVENTUDE Segundo Abramo, Freitas e Sposito (2002), a Organização Internacional do Trabalho (OIT) divide a juventude em dois períodos, o período da adolescência e o da juventude propriamente dita. Neste sentido, a adolescência se dá dos 15 aos 19 anos. Adotam-se os 15 anos como ponto inicial da adolescência porque se supõe que com essa idade o jovem já terá alcançado um nível de escolaridade que lhe permite acesso ao mercado de trabalho E o fato de se adotarem aos 19 anos como marco final dessa fase é influência dos “teen” americanos. Posteriormente passa-se então para os 20 anos e se inicia uma nova fase, que se estendem até os 24 anos. Pode-se observar a grande quantidade de jovens que atualmente estão inseridos no mercado de trabalho, além dos que ainda estão à procura de uma primeira oportunidade. Observa-se que o trabalho se tornou uma das grandes preocupações da juventude, devido a esses jovens serem diretamente afetados em situações que envolvam desemprego, emprego vulnerável e pobreza. Quando incluso na sociedade, é visto como um ser sem perspectivas educacionais e profissionais, além de vulnerável há situações que remetem à marginalidade e violência, pois segundo Freitas e Pappa apud Máximo (2012, pág. 50) somente a partir da segunda metade da década de 1990 os jovens passaram a chamar a atenção da sociedade como vitimas ou protagonistas de problemas sociais em que nesses e outros casos o trabalho se tornou um antídoto a essas ameaças, pois os mantém afastados dos perigos da rua. Neste cenário observa-se a tentativa do governo em desenvolver políticas públicas voltadas à juventude brasileira junto a parcerias com organizações locais e internacionais como ONU, Unicef, OIT e OIJ, transformando-os como cidadãos de direitos. Castro e Aquino (2008, p. 44) afirmam que em referência às políticas públicas implementadas para a juventude, as Nações Unidas recomendavam que os países implementassem políticas públicas integradas para a juventude que estabelecessem vínculos entre as diferentes áreas prioritárias do Programa Mundial de Ação para a Juventude (PMAJ) e que dedicassem atenção especial aos direitos dos jovens considerados mais vulneráveis. No que se refere às políticas públicas especificadas à juventude, León apud Máximo (2012, p. 58) descreve-as como sendo toda ação orientada à realização de valores e objetivos sociais referentes ao período juvenil, tendo em vista gerar condições nas quais os jovens possam realizar-se como tais e, ao mesmo tempo, participar na configuração da sociedade onde vivem. Isto é, por meio de instituições voltadas ao assunto, procura-se promover a cidadania integral dos jovens. Internacionalmente, a ONU, a OIT, e a Organização Ibero- americana da Juventude (OIJ) mobilizaram-se nos últimos anos no sentido de discutir a juventude e publicar acordos e convenções voltados à defesa dos direitos dos jovens. 3 Neste sentido, a ONU (2000) assegura através da Declaração do Milênio, que consiste em um conjunto de objetivos que buscam a erradicação da pobreza no mundo, como um de seus objetivos a elaboração e aplicação de estratégias que proporcionem aos jovens de todo o mundo a possibilidade de encontrar um trabalho digno e produtivo. Em 2005, foi publicada a Convenção Ibero-americana de Direitos dos Jovens que consiste em um organismo que reúne órgãos de juventude, além de ser um importante instrumento de integração e cooperação na temática da juventude. Esta afirma, segundo Máximo (2012) a necessidade dos jovens possuírem bases jurídicas que reconheçam, garantam e protejam os seus direitos. Assim como o reconhecimento desse grupo como indivíduos com direitos, atores estratégicos no desenvolvimento e pessoas capazes de exercer, responsavelmente, os direitos e liberdades afirmados na constituição, a saber: a educação, o emprego, a saúde, o meio ambiente, a participação na vida social e política e na tomada de decisão, a tutela judicial efetiva, a informação, a família, a habitação, o desporto, o lazer e a cultura em geral. Já em 2009 a OIT lançou o relatório Trabalho Decente e Juventude, que é voltado para jovens da América Latina, constituído na iniciativa de vários países no intuito de realizar as políticas de empregabilidade para os jovens, conforme descrita na Declaração do Milênio da ONU. No Brasil as medidas de políticas à juventude já haviam iniciado desde 1997, pois conforme afirma Castro e Aquino (2008) o clima dominante de percepções que associavam a juventude à violência, aos comportamentos de risco e a transgressão influenciou a maioria das ações destinada a atendê-la. Sposito (2003) destaca que grande parte desses programas tinha como foco os jovens excluídos ou em condições de risco social. Antes disso, em 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) havia sido aprovado, como um marco na proteção da infância e tem como base a doutrina de proteção integral e a Constituição Federal de 1988. Em 2007 é criado o Estatuto da Juventude que define os direitos básicos da população entre 15 e 29 anos e determina à família, à comunidade, à sociedade e ao poder público a responsabilidade para o cumprimento desses direitos. Em seu 2° artigo, reconhece-os como sujeitos de direito e regulamenta que os jovens gozem de todos os direitos inerentes a pessoa humana, sem prejuízo, assegurando-lhes todas as oportunidades e facilidades para a preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento mental, intelectual e social, em condições de liberdade e dignidade. Atribui, ainda, a obrigatoriedade de assegurar aos jovens a efetivação do direito à vida e saúde, cidadania e participação social e política, dignidade, profissionalização, trabalho e renda. Com o objetivo de articular os programas federais de juventude existentes, em 2005 foram criadas a Secretaria Nacional de Juventude (SNJ) e o Conselho Nacional de Juventude (CONJUVE), Castro e Aquino (2008) afirmam que logo o grupo ministerial criado desde então identificou a frágil institucionalidade, fragmentação e superposição das políticas de juventude. Além disso o grupo identificou desafios que deveriam estar descritos na Política Nacional de Juventude, a saber: erradicar o analfabetismo entre jovens, preparar para o mundo do trabalho, gerar trabalho e renda, promover a vida saudável. Castro e Aquino (2008) relatam que tais programas de juventude, se bem administrados e mantidos continuadamente podem contribuir consideravelmente para melhorar as condições de vida da população atendida, o que consequentemente elevaria os índices de alfabetização e escolaridade que resultariam em uma melhora na inserção desses jovens no mercado de trabalho. Contudo, essa condição só será alcançada de fato quando as áreas de direito dos cidadãos como educação de qualidade, políticas de transferência de renda, 4 habitação adequada, saneamento e acesso a serviços de saúde, cultura e lazer forem asseguradas. 2.1 - JUVENTUDE E TRABALHO Segundo Máximo (2012) o trabalho em forma de emprego possui um papel fundamental na construção dos jovens enquanto cidadãos. Apesar da transição da juventude para a idade adulta não ser marcada como antes, alguns elementos permanecem como sendo de fundamental importância para a sociedade atual. Abramo, Freitas e Sposito (2002) destacam que o conceito de juventude muda, uma vez que este se definia a partir do momento em que o indivíduo mostrava condições de sobreviver e constituir uma família, o que seria o começo de inserção no mundo adulto. Porém, atualmente, este conceito tem se modificado devido às mudanças da sociedade, pois ainda que a iniciação na vida sexual e o casamento tenham se dado de forma precoce os jovens não dependem mais de autonomia financeira ou da saída da casa dos pais, conforme afirma Máximo (2012). O que se confirma, pois além da iniciação precoce, considera-se que os jovens terminam o ensino médio ou superior e continuam vivendo na casa dos pais, mas neste cenário o trabalho tem se tornado uma exigência dos pais. Segundo Abramo, Freitas e Sposito (2002) alguns jovens constroem toda sua identidade no fim da sociedade do trabalho e consideram este como um meio que dispõem para manter sua dignidade. Porém Máximo (2012) relata que exigências e elementos em torno da colocação profissional, onde no conceito atual, empresas buscam por profissionais capacitados, qualificados e com experiência adequada para assumir responsabilidades podem trazer certas implicações que terminam por dificultar ou adiar ainda mais a contratação dos jovens, além de poder impedi-los de alcançar certa autonomia profissional e até financeira. Vale observar que o jovem que não conseguir alcançar este patamar profissional em virtude do mercado fechar as portas de inserção no trabalho, além de negar a eles este direito, poderá atingir níveis estressantes ou se tornar um indivíduo causador de problemas diante das impossibilidades e do sentimento de fracasso. Ainda segundo Abramo, Freitas e Sposito (2002), observa-se que estes jovens atribuem a si o motivo de seu fracasso e se esquecem de que além do desemprego ser consequência da mudança dos padrões produtivos, é resultado também da ausência do Estado no processo de regulamentação do mercado e das relações entre trabalhadores empresas. Outra ideia predominante neste momento é que para conseguir uma boa colocação no mercado, não tem bastado somente uma qualificação profissional específica, mas também é preciso ter qualificação. 2.2 - TRANSIÇÃO ENTRE JUVENTUDE, ESCOLA E TRABALHO Em virtude de o emprego ter se tornado uma das maiores preocupações da juventude e do governo, políticas públicas foram criadas para que atendam aos jovens e proporcionem a parte desses indivíduos formação para o trabalho e emprego como citado na seção anterior. Observa-se que devido esses jovens se encontrarem em situações de vulnerabilidade o que remete à marginalidade e violência, esses quando inclusos na sociedade são vistos como um ser sem perspectivas educacionais e profissionais, desta forma reafirma-se a ideia do trabalho como um antídoto a criminalidade. Segundo Máximo (2012) na década de 40, do século XIX, o Estado, Casas de Educação e Igrejas eram responsáveis por formar crianças, adolescentes e jovens moral e intelectualmente no intuito de diminuir a criminalidade e vagabundagem presente naquela 5 época. O estado por sua vez era responsável pelo custeio de todos os processos e declarava posteriormente os indivíduos como aptos ou não ao trabalho. Estes jovens então aprendiam ofícios que não possibilitavam a inserção em empregos bem remunerados, além de muitas vezes terminarem por circular em ocupações de baixa remuneração e curta duração. A autora destaca, ainda, que no século XIX houve uma grande demanda de força de trabalho nas fábricas e com isso crianças e mulheres se submeteram a estes postos recebendo remunerações baixas e submetidos a condições de trabalho iguais a de adultos. Máximo (2012) relata que o ingresso precoce no mundo do trabalho fabril remete-se a questão da infância e adolescência desamparada, o que amplia os problemas do século XX. Já no Brasil a figura do jovem trabalhador se inicia na primeira metade do século XX, mas somente para jovens de raça branca, pois os negros ainda continuavam na condição de escravos. Já nas décadas de 1960 e 1970, sobre vários aspectos, os jovens são considerados uma geração individualista, egoísta, consumista, indiferente, que participa dos movimentos estudantis, além de estarem sujeitos a problemas relacionados à violência, sinalizando problemas comuns da contemporaneidade, surgindo a necessidade de providências sócio- educativas, segundo Abramo, Freitas e Sposito (2002). Neste sentido, o processo de transição para a vida adulta é visto não só como uma passagem natural da escola para o trabalho, mas como algo mais completo que envolve os jovens, a família, a escola, a sociedade e o poder público, pois fazer um indivíduo considerado problemático em potencial tornar-se um adulto qualificado em condições de atender as complexidades das empresas modernas, mesmo em funções mais simples, demandam um esforço muito grande de todos os atores anteriormente citados. Através dessas perspectivas busca-se evitar o que acontecia e ainda acontece em diversos cantos do Brasil, que é o uso da força de trabalho da criança e do adolescente para o início precoce, sem a devida qualificação e expostos a jornadas duras de trabalhos. Crianças e adolescentes que começavam sua carreira profissional muito cedo, mesmo com a pouca idade, eram submetidas a grandes responsabilidades até mesmo para tentar ajudar sua própria família. Esses jovens largavam os estudos para seguir a vida com o trabalho pesado, assim obtendo uma renda para de alguma forma ajudar a família. A partir desse problema, procurou-se incentivar programas nos quais os jovens sejam capacitados para estar aptos à entrada no mercado de trabalho e, ao mesmo tempo, receba uma remuneração e ainda possa estudar, conciliando trabalho e estudo de forma adequada, pois como afirma Abramovay (2002) muitos estudantes abandonam os estudos para trabalhar, comprometendo, por muitas vezes seu processo de capacitação profissional. Máximo (2012) afirma que a passagem da escola para o trabalho que antes se dava de forma natural, tem se tornando cada vez mais difícil devido as novas configurações do mundo do trabalho. Antes, a maioria dos jovens eram submetidos a trabalhos precários, informais e de curta duração, além de presenciarem transformações econômicas e sociais nas décadas de 80 e 90 através de novas tecnologias, precarização do trabalho e reestruturação de empresas. Tal contexto passa a exigir do trabalhador uma constante atualização, flexibilidade a adaptabilidade diante das novas demandas do mundo do trabalho, aumentando a vulnerabilidade e a instabilidade enfrentadas no mercado de trabalho, especialmente pelos jovens menos qualificados que enfrentaram uma redução significativa na demanda por trabalhadores poucos qualificados. O que se afirma, pois segundo Abramo, Freitas e Sposito (2002), o jovem deve inicialmente conseguir entrar no mercado de trabalho, e para tanto é 6 necessário ter uma escolaridade mínima exigida, que não é mais o ensino fundamental, pois hoje já é solicitado o ensino médio completo. Diante do exposto, a necessidade de ampliar a permanência dos jovens no sistema educacional ou facilitar o emprego se tornou um dos principais desafios para o Estado, pois segundo a Constituição Federativa do Brasil (1988) é seu dever visar o pleno desenvolvimento do indivíduo e sua qualificação para o trabalho. A escola como representante do Estado, tem por dever o desenvolvimento intelectual e a vinculação da educação escolar ao mundo do trabalho. Neste contexto, é importante informar aos indivíduos que após ou durante o período de aprendizagem escolar será possível conhecer o ambiente de trabalho, possibilitando a esses jovens a oportunidade de retirar suas dúvidas, estando cientes que existem diversas formas de trabalho e exigências que as empresas têm em relação às profissões. 3 - O PROGRAMA JOVEM APRENDIZ Diante do histórico de trabalho infantil e sua exploração no Brasil no decorrer dos séculos, houve a emergência na criação de leis e decretos que protegessem os direitos dos novos jovens trabalhadores. Em resposta às exigências crescentes por experiência em determinadas funções, de qualificação profissional e às poucas oportunidades no mundo do trabalho, programas governamentais vem sendo criados com intuito de contribuir com o futuro ingresso dos jovens no mercado de trabalho, destacando-se entre eles o PROJOVEM Trabalhador, o Programa Nacional de Estimulo ao Primeiro Emprego e o Programa de Aprendizagem, conhecido como Programa Jovem Aprendiz, sendo este último objeto deste estudo. O Programa da Aprendizagem é resultado da busca por direitos, inclusive através do Estatuto da Criança e do Adolescente, criado em 1990 que passou a enxergar a criança e o adolescente como indivíduos em pleno desenvolvimento sujeitos de direito. O Programa foi estabelecido pela Lei n° 10.097 de Dezembro de 2000, para reestabelecer e aperfeiçoar princípios e regras nos Decretos de Lei n° 4.481 e Lei n° 8.622 homologados nos anos 1940. Esta Lei alterou dispositivos impostos na Consolidação de Leis Trabalhistas (CLT) a fim de inserir normas protetoras a jovens menores de dezoito anos, necessárias a sua capacitação profissional e ingresso no primeiro emprego. No entanto, Máximo (2012) afirma que tendo em vista à necessidade de unificar as faixas de idade, voltadas a formação e inserção no mercado, em Junho de 2005, foi sancionada pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Proposta de Medida Provisória que ampliou a faixa etária do “menor aprendiz” na CLT, passando a ser de 14 a 24 anos. A nomenclatura, desde então mudou de Adolescente Aprendiz para Jovem Aprendiz. A aprendizagem profissional prevista na referida Lei, consiste em formação técnico- profissional metódica que permite ao jovem aprender uma profissão e obter sua primeira experiência como trabalhador, não podendo exercer funções que não estejam adequadas ao seu desenvolvimento profissional. A Lei obriga os estabelecimentos de qualquer natureza, excluindo microempresas e empresas de pequeno porte e entidades sem fins lucrativos, a empregar e matricular nos cursos de Instituições Formadoras, número de aprendizes equivalente a 5%, no mínimo, e 15% no máximo, com base em suas funções que demandem formação profissional. Considera-se a Classificação Brasileira de Ocupação (CBO) para o cálculo e o número de aprendizes a serem contratados terá como base o total de trabalhadores existentes em cada estabelecimento, cujas funções demandem formação profissional para o exercício. Neste caso, ficam excluídas as funções que exijam para o seu exercício habilitação 7 profissional de nível técnico ou superior, ainda que sejam caracterizadas como cargos de direção, gerência ou de confiança, além de empregados que executem serviços por contrato de trabalho temporário. Segundo Máximo (2012) o público do Programa de Aprendizagem são jovens sem experiências provenientes de famílias menos favorecidas, que são contratados por empresas pelo prazo máximo de dois anos e neste período recebe capacitação na área de atuação da empresa, através de cursos teóricos e atividades práticas na empresa. A Lei n° 10.097/00 intitula o contrato de trabalho como sendo de caráter especial, ajustado por escrito e com prazo determinado, em que o empregador compromete-se em assegurar ao maior de quatorze e menor de dezoito anos, inscritos em Programa de Aprendizagem, formação técnico-profissional compatível com seu desenvolvimento e prevê o comprometimento do aprendiz ao executar com zelo e diligências as tarefas necessárias a essa formação. A Consolidação de Leis Trabalhistas (CLT) garante aos aprendizes direitos trabalhistas e previdenciários semelhantes a todos os demais empregados, como: remuneração mínima por hora prevista em Lei; férias que coincidam com o período escolar; décimo terceiro salário; Fundo de Garantia por Tempo de Serviços (FGTS) recolhido á alíquota de 2% e sua Carteira de Trabalho e Previdência anotada em condições de aprendiz no prazo máximo de 48 horas. Além de determinar que a carga horária máxima seja de seis horas diárias independentemente de atividades práticas ou de aprendizagem teórica. Destacam-se como objetivos do Programa, dentre eles: garantia do acesso dos adolescentes e jovens a qualificação profissional, além de inserção no mercado de trabalho; contribuir para melhoria da qualidade de vida dos jovens aprendizes; conceder oportunidades de condições de desenvolvimento de potencialidade individuais. Para que haja a inserção destes jovens no mercado, a empresa, após mensuração da quantidade de aprendizes necessários, deve contratá-los e inscrevê-los no Programa de Aprendizagem ministrado pelos Serviços Nacionais de Aprendizagem estratificados por setores econômicos como: Industrial (SENAI), Comercial (SENAC), Rural (SENAR), Transporte (SENAT) e Cooperativista (SESCOOP). Ainda segundo a Lei 10.097/00, na hipótese dos Serviços Nacionais de Aprendizagem não oferecerem cursos ou vagas suficientes para atender a demanda dos estabelecimentos, esta poderá ser suprida por outras entidades qualificadas em formação técnico-profissional metódica. Para isso, se faz necessário que todas estas entidades sem lucrativos estejam inscritas no Cadastro Nacional de Aprendizagem, assumindo a responsabilidade pela qualificação de jovens no âmbito da aprendizagem e capacitação profissional adequada para mercado de trabalho. 4 – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A metodologia utilizada na presente pesquisa classifica-se, de acordo com Vergara (2014), segundo dois aspectos: quanto aos fins e quanto aos meios. Quanto aos fins, classifica-se como exploratória e descritiva. Exploratória porque a bibliografia sobre este tema ainda é escassa, principalmente no que tange à avaliação do desempenho do Programa Jovem Aprendiz e suas contribuições aos jovens egressos. Descritiva, pois conforme Vergara (2014, p. 42) “expõe características de determinada população ou determinado fenômeno, podendo também estabelecer correlações entre variáveis e definir sua natureza”. Quanto aos meios, caracteriza-se como uma pesquisa bibliográfica, pois segundo Vergara (2014, p. 43), caracteriza-se como “[...] um estudo sistematizado desenvolvido com 8 base em material publicado em livros, revistas, jornais, redes eletrônicas, isto é, material acessível ao público em geral.” A pesquisa possui caráter qualitativo, pois segundo Fraga (2009, p.2), [...] Privilegiam estudos teóricos e análises de documentos e textos. Suas propostas são críticas e geralmente têm marcado interesse de conscientização dos envolvidos na pesquisa e manifestam interesse por práticas alternativas. Buscam revelação entre o fenômeno e a essência e se opõem a corrente positivista, para afirmar que algo só pode ser entendido a partir do ponto de vista das pessoas que o estão vivendo e experimentando. Dessa forma, foi possível compreender e identificar a realidade da situação profissional atual dos jovens egressos e as contribuições do Programa Jovem Aprendiz em sua formação profissional, além de possibilitar o acesso a questões mais complexas explorando-as em profundidade. A pesquisa também trouxe revelações do campo do objeto pesquisado, a fim de avaliar se os jovens egressos do programa adquiriram a formação prevista em lei. Foram entrevistados dezenove aprendizes egressos, residentes na Região Metropolitana de Vitória, no estado do Espírito Santo, selecionados pelo critério de acessibilidade, verificando a disponibilidade e interesse em participar da pesquisa, considerando como critério de seleção o fato de que tenham participado do Programa de Formação e que já tivessem concluído sua participação no programa. Para as entrevistas, realizadas no mês de janeiro de 2015, foi aplicado um roteiro de perguntas semi-estruturadas com questões abertas, cujo objetivo foi verificar a contribuição do programa na formação profissional. As temáticas deste roteiro eram: dados dos jovens e do Programa Jovem Aprendiz; aprendizagem nas entidades formadoras; aprendizagem nas empresas e pós- Programa Jovem Aprendiz, contendo ao todo 62 questões. As entrevistas foram realizadas individualmente em locais previamente acordados e duraram, em média, entre 40 a 50 minutos. As entrevistas aconteceram na residência dos egressos, no local de trabalho ou em um shopping. Os dados foram tratados de forma qualitativa, para identificar a trajetória de formação e inserção do jovem no mercado. 5 – REVELAÇÕES DA PESQUISA COM JOVENS EGRESSOS Participaram deste estudo dezenove aprendizes egressos, cujas idades variavam entre 19 e 25 anos. Dez aprendizes eram do sexo masculino e nove do sexo feminino, sendo que quatro se consideraram negros, dez pardos e cinco brancos. Quatro já haviam concluído o ensino médio, onze estavam cursando o ensino superior e um já havia concluído. Dezoito aprendizes eram solteiros e somente um casado. Do total de aprendizes entrevistados, treze moravam com os pais, dois moravam apenas com a mãe, um somente com a avó, irmã e tio, um com a mãe e irmão e outro com sua esposa. As mães que trabalhavam exerciam funções de chefe de cozinha, doméstica, merendeira, enfermeira, cuidadora de crianças, professora e costureira. Dentre as atividades profissionais dos pais estavam a de gerente administrativo, pedreiro, vendedor, enfermeiro, operador de máquinas, aposentado, bombeiro hidráulico, representante comercial, mecânico, empresário, caldeireiro e caminhoneiro. Em relação à renda familiar, esta variava entre R$ 600,00 a R$ 9.000,00. Dois jovens ajudavam a família com sua renda total e muitos, em certo período da vida, tornaram-se provedores diante das situações financeiras difíceis vividas por seus pais e/ou irmãos. 9 Constatou-se, como aspectos que motivaram a participação desses adolescentes no programa, a possibilidade de se tornarem-se independentes financeiramente e possuir uma renda própria, bem como aquisição de experiência profissional para o ingresso no mercado de trabalho. Dessa forma, a inclusão como aprendiz fez com que o jovem quisesse buscar não apenas uma renda própria, se manter na empresa, com a carteira assinada, mas evoluir em termos de formação e futuro profissional. Observou-se que as contribuições que o programa trouxe aos jovens não se referem somente à experiência profissional e à remuneração, mas também à qualificação profissional e ao desenvolvimento interpessoal. Neste item, os aprendizes associam suas mudanças de comportamento ao programa, como citou um dos aprendizes: “O programa trouxe de contribuição conhecimento e responsabilidade. Hoje me acho uma pessoa mais competente e responsável graças ao programa.” Quando perguntado aos egressos se quando concluiu o programa se sentiu capacitado, onze dos dezenove afirmaram que sim, um não se sentiu totalmente, quatro afirmaram que “de certa forma sim para exercer funções básicas”, dois se sentiram mais preparados e uma se sentiu capacitada, mas não concluiu o programa. Um dos jovens da pesquisa destaca a necessidade de continuar em formação, pois somente o curso de aprendizagem não é suficiente para se sentir capacitado. Constatou-se que durante e depois do programa os aprendizes perceberam mudanças de comportamento, tornando-se jovens que interagem socialmente, mais concentrados, maduros, responsáveis, altruístas, dedicados, comprometidos, com iniciativa, assíduos, que adquiriram crescimento pessoal e profissional, organizados e pontuais. Com relação às entidades/instituições qualificadas em formação técnico-profissional metódica, foram entrevistados no total dez jovens que fizeram aprendizagem pela instituição CESAM - Centro Salesiano do Menor, seis pelo CIEE – Centro de Integração Empresa e Escola, dois pelo COEP – Centro de Orientação e Encaminhamento Profissional e SEST SANAT – Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte. Observa-se que dentre estes jovens entrevistados, todos os dezenove realizaram o curso de caráter Administrativo e informaram que durante as aulas haviam disciplinas voltadas para o preparo do jovem para o futuro ingresso no mercado profissional, onde realizavam provas, trabalhos, dinâmicas, etc. Identificou-se que os cursos eram ministrados durante a semana e possuíam matérias específicas, mas que se diferenciavam conforme a entidade de ensino. Destes assuntos abordados, consideram mais importantes para auxilio em sua formação profissional em primeiro lugar a informática, segundo administração e em diante a ética profissional, matemática, português, rotinas administrativas, competência profissional, empreendedorismo e por último, meio ambiente. Conforme afirma um dos aprendizes: “É muito importante tratar com os aprendizes sobre à pró-atividade em seu ambiente de trabalho. Essa orientação cria a cultura de ser um profissional que enxerga o problema e procuram meios para solucioná-lo, desta forma, a ética no trabalho foi fundamental.” Com relação ao conteúdo e aos assuntos abordados os jovens entrevistados apontaram que estes os auxiliaram na prática na empresa como, por exemplo, na execução de atividades que precisaram utilizar conhecimento de informática, em seu comportamento em diversas situações, no atendimento ao cliente, nas rotinas administrativas, atendimento telefônico, 10
Description: